segunda-feira, 25 de abril de 2011

FRASES DE UM LIVRO LIDO (48)

UM LIVRO LIDO NO ENGARRAFAMENTO ESTRADEIRO DE PÁSCOA

Domingo foi mesmo de morte. Uma viagem para endoidecer gente sã. Saímos do Rio de Janeiro por volta das 13h30 e chegamos em Bauru por volta das 2h30 da manhã, adentrando a madrugada de segunda. Paradas mil, engarrafamento gigantesco na Dutra e um sono que não queria me abandonar de jeito nenhum. Num dos angarrafamentos li quase em voz alta dentro do carro (para Ana Bia e meu filho, Henrique Aquino), um livrinho (diminutivo só no tamanho, de bolso, papel jornal, 104 páginas) muito propício para esses dias ditos santos. "JESUS HOMEM", peça e teatro de PLÍNIO MARCOS, que além da religiosidade do escrito em 1981, prova continuar no submundo. "Seu Jesus é o Cristo original, dos mendigos, prostitutas e desempregados. Desvalidos de toda espécie, enfim. O Nazareno da peça é mais aquele que expulsou os vendilhões do templo e defendeu Madalena da hipocrisia. Cristo - segundo Plínio - está voltado para a conscientização dos seguidores, preparando-os para reivindicarem organizadamente seus direitos. Ele faz uma interpretação moderna, ideológica do personagem: todos os que organizam pacientemente o povo estão certos e todos os que radicalizam estão errados e atuam objetivamente como provocadores", está escrito na apresentação do livro. Do grupo teatral dele, O BANDO, algo surreal para os dias de hoje, pois assumiram o princípio de dispensar qualquer ajuda governamental para bancar as apresentações (quem agiria assim hoje, me diz?, pergunto eu). As frases, uma mais saborosa que a outra resume um pouco do Cristo que sempre idelizei como o que acredito ter existido. Confiram:

- HERODES: "Temos soldados, não temos? E para que servem os soldados? Os soldados existem para proteger os que têm contra os que não têm. E é assim que resolvo os problemas sociais. Não temam. Sei ser duro e impor com energia a paz social".

- JESUS: "Não pensem que eu vim para trazer a paz. Eu vim trazer a espada. Vim para por em dissenção o homem. Assim é que o inimigo do homem será o próprio homem. Vim chamar todos os que sofrem. Os que estão se sentindo cansados, os oprimidos, que me sigam. Deles é o reino de Deus".

- SUMO-SACERDOTE: "Não...não. Prender ou matar um maluco desses não é bom negócio. Ele vira herói. Vai servir de bandeira para movimentos subversivos. Nesses casos da desmoralização do líder é muito mais eficiente. Entendem? Subornamos o maluco. Gastamos algum dinheiro, mas desiludimos o povo. Um líder corrompido é sempre um motivo de descrença para o povo. Eles ficam gerações e mais gerações sem crer em nada e em ninguém. É dessa forma que se anulam líderes e profetas carismáticos. Corrompendo eles. (...) E tudo que não for organizado por nós, é de baixo, logo subversivo e passível de ser punido com a morte na cruz. Agora, cuidem dos entendimentos com Jesus".

- JESUS: "Ai de voces doutores da lei, ai de vocês, que tiraram a chave da ciência e nela não entram. Ai de vocês, doutores da lei, que sobrecarregam o povo com fardos pesados. (...) Muitos outros tem dito coisas certas, mas poucos aprendem com eles. Amam mais os privilégios que tem junto aos poderosos e temem perdê-los. Amam a glória da matéria mais do que a glória do espírito".

- JESUS: "Ninguém liberta ninguém, Judas. Quem quiser ser livre, que se liberte".

- PLÍNIO MARCOS NO DEBATE PÓS APRESENTAÇÃO DA PEÇA: "O Brecht nos ensina num poema que 'se o gado falasse, não iria tão mansamente para o matadouro'. E nós temos que começar a falar. Temos que correr o risco de falar. (...) O fundamental é que se mude o sistema. Se quisermos realmente resolver problemas, temos que atacar as causas e não as consequências. Se concluirmos que o sistema capitalista corrompe o homem, que o impele para a competição, só respeitando o campeão e medindo os valores pelo poder de compra de cada um, percebemos que isso tudo é que impede que o homem seja fraterno com seu semelhante. Se o sistema não permitem que se levem em conta os verdadeiros valores humanos, ele é mau e deve ser mudado. (...) O homem tem que perceber que muitas das coisas pelas quais ele foi induzido a trabalhar para conseguir são exatamente grilhões deum cativeiro absurdo. despertando para isso, ele pode se libertar. Liberto, ele pode escolher seu próprio caminho. (...) O homem luta sempre para ganhar mais, por melhores salários e não pela sua libertação desse sistema que o escraviza. (...) O homem desperto não fica pedindo luz a cego. O estado de miséria de nosso povo é tão grande que ele ainda precisa de animadores. (...) A outra coisa é que conversando uns com os outros, a gente se aproxima. Se desperta. O homem com dignidade não se deixa escravizar. Eu creio que sempre é hora de se falar. O importante é sabermos que as revoluções se fazem através das consciências, cada uma por si, até formarem a opinião pública. (...) É preciso que nós tomemos cuidado para não acabarmos ajudando o colonizador contra nosso povo"

Topo emprestar, desde que assumam antecipadamente a devolução. Quem se habilita?

2 comentários:

Anônimo disse...

aproveita a maré cristã e leia 'o evangelio de Barrabás' por certo darás boas gargalhadas.um abraço lazaro carneiro

Anônimo disse...

Véio, tu vai acabar virando padre de uma igreja ainda a ser inventada, a difundir a liberdade de fazer o que quiser debaixo do teto do templo. Pensa nisso. Junta isso que o Plínio Marcos dizia e casca a coisa. Vi ele vendendo seus livros em feiras na capital e hoje nenhum dos escritores atuais se atreve a fazer isso. Ele era livre, não se vendia e nçao se deixava vender. Uma lição isso de sua companhia de teatro não aceitar dinheiro de governo para atuar. As de hoje não vivem sem esse dinheiro e se dizem as gostosonas. Quero uma igreja igual a que ele pregava.

Francisco Bonadio