sexta-feira, 15 de abril de 2011

RETRATOS DE BAURU (99)

MARCIA NURIAH, A BAILARINA BATENDO AS ASAS
Querem um nome aqui em Bauru a representar a ética profissional por excelência? Marcia Nuriah é um dos que primeiro me vêem à mente. Ela é autêntica em tudo que faz, profissional como poucos, vai atrás, sua a camisa, faz e acontece. Sempre foi assim e não sabe fazer de outro jeito. Uma batalhadora essa singular pessoa, idealizadora do Grupo Folclórico Nuriah e do Festival Internacional de Danças Árabes de Bauru, que desde a criação acontece na cidade, mas nesse ano, bate asas, assim como ela. Marcia literalmente cansou, vai embora na próxima segunda junto do marido e dos filhos para a Holanda, onde fixa residência. A professora, bailarina e coreógrafa condecorada e reconhecida perdeu as esperanças e porque não dizer, a calma, para continuar esperando pelo algo novo. Segue a vida, deixa seu curso ministrado a anos na sede do Ballet Vitória Régia, que agora será ministrado pelas ex-alunas Mariana Piccirilli Oliveira e Patrícia Tsumoto. Vai continuar fazendo tudo o que mais gosta na vida do outro lado do oceano, no país de seu marido. Além de nunca ter seu nome envolvido a modismos, galgou e conquistou o que é hoje com trabalho sério, resumida numa fala ontem quando ministrou a última aula para suas alunas: “Minha dança é alicerçada num monte de conhecimento técnico. Estudei muito, aprendi a dançar valorizando a história do mundo árabe, onde está inserida a minha dança. Malhei vocês no ferro aqui na escola, mas sempre com humildade. Não tem nada pior do que as pessoas que se acham. Vivemos num mundo em que a ética morreu. No lugar do humanismo entrou o hedonismo, o consumismo. Com a contracultura pregávamos valores solidários e hoje predomina a conveniência, o eu, o egoísmo exacerbado. Levo em conta que o colonizador nunca valorizou a cultura do colonizado e quando me vêem somente como dançarina de dança do ventre, repudio a erotização que procuram fazer. Eu sou uma artista que não produz metal, produzo pensamento, passo idéias. Aqui na escola, digo que aprendemos ‘hesbollah’ e não a rebolar”.

OBS FINAL E CONCLUSIVA: Ontem, deixei outras tarefas e fui assistir uma parte de sua última aula noturna, tendo o privilégio de presenciar sua fala às alunas. Da angústia da despedida, muitos desabafos e a constatação de se estar diante de uma pessoa diferenciada. Por fim a notícia de que o Festival de Dança não ocorrerá em Bauru nesse ano: “Ele vai para a Barra Bonita. O nosso teatro está sem condições e não terá nunca se a grande reforma feita ali não começar pela própria avenida Nações Unidas. Gastando dinheiro só no teatro e nenhum na Nações, na primeira chuva tudo se perderá. O Rodrigo sabe disso e acredito não jogará dinheiro fora. Não posso deixar um festival dessa magnitude a mercê de picuinhas, não ser valorizado. Cheguei a ouvir de um funcionário do teatro que para ele pouco importava, acontecendo o festival ele teria que vir e trabalhar e não ocorrendo, ficaria em casa. Falta compromisso. Falta tanta coisa. Três gestões com problemas e nos rescaldos acho que o melhor foi o Vinagre. Um dia acredito que o Festival possa voltar para Bauru. O pessoal da Barra estavam atrás de mim faz muito tempo, chegou o momento de mudar”. Recuperando-se de uma cirurgia a viagem será de navio, com tempo para contemplações e reflexões. A despedida de Bauru é na próxima segunda, 18/04 e ainda dá tempo de lhe dar um forte abraço, como fiz questão de fazer na noite de ontem. Para finalizar assistam o vídeo com uma pequena amostra de sua emocionada fala, antes da despedida preparada por suas alunas.

OBS MAIS DO QUE FINAL: Marcia sabe que sou um péssimo fotógrafo, uma das deficiências desse mafuento escrevinhador. Eu tento e ela deve compreender isso, como boníssima pessoa que é.

7 comentários:

Anônimo disse...

AMIGO

PARABÉNS...

VC VAI PARA ITU???????

EDUARDO LOPES

Anônimo disse...

Henrique,

Uma grande pena a Márcia estar indo embora. Tudo o que já fez pela cultura bauruense não dá para esquecer. Ela é daquelas que fazem de verdade.

Escrevo para comentar algo que li e acho que precisa de gente a querer modificar isso. Ela diz de funcionário público tratando com desleixo o trabalho dos artistas, com indiferenca. Isso não é privilégios do pessoal lá do teatro. Já vi isso por lá, mas ocorre em vários outros lugares da Prefeitura. Aliás, não só na Prefeitura, vejo isso também no governo estadual e federal. É duro dizer isso, mas o funcionário público se acha, alega ter estabilidade e alguns denigrem todos fazendo corpo mole. Vejo muitos trabalhando e muito, mas muitos também agindo iguaizinhos aos que Marcia cita na sua fala. Uma vergonha. E ela chegou a comprar equipamentos que faltavam lá no teatro para poder apresentar seus espetáculos. Fez isso e deixou lá o material. E não iam repondo.

Marcia é uma imensa pessoa.

Valerinha

Mafuá do HPA disse...

MEUS CAROS

Explico o que o meu primão Eduardo quiz dizer com o "Vc vai para Itu??????". É que nesse domingo o Noroeste joga contra o Ituano, o último jogo do campeonato decidindo se permanece ou cai para segunda divisão e empresários da cidade bancaram dez onibus com ingressos gratuitos para torcedores irem apara Itu no p´roximo domingo. Respondo a ele aqui: "Sim, vou".

No mais, continuemos falando da Marcia.

Henrique, direto do mafuá

Anônimo disse...

Mais uma lastimável perda para nossa cidade...
Fazer o que???
É assim que Bauru compreende e aceita seus artistas...
Eu ainda estou aqui por motivos pessoais, mas se pintar uma nova
oportunidade eu me mudo tbm...
Estou decepcionadíssima com nossa Cultura... Será q existe isso aqui???
Márcia Nuriah foi minha professora pela Oficina Cultural em Agudos e
na Faculdade, qdo ela nos dava Expressão Corporal .
Uma pessoa super especial...
Vou sentir saudades dela, das meninas que são um encanto e do marido,
gente mto boa...
Beijos....estou com saudades de vc, Henrique...

madê correa

Anônimo disse...

Adorei o que voce escreveu da corajosa Marcia Nuriah. Sim, ela é diferente, fala e faz algo diferente, comprovadamente.

Gostei demais do trecho da gravação onde ela relembra algo de quando da criação do teatro. Ele chegou a ser discutido de ser levantado onde é hoje acho que a FIAT lá na praça Portugal. Não deixaram, ela diz, imagine a elite, ela diz isso, querer que o povo viesse até o seu reduto. Mas vieram de qualquer jeito e hoje estão lotando as ruas da Getúlio e o próprio shopping, ela continua.

Aurora

Uma mulher assim é dessas a fazerem uma bruta falta por aqui. Quantas vocês aí poderiam me listar a fazer o mesmo discurso, usar da mesma fala? Tá faltando coragem em muita gente. Essa sempre teve. Uma pena sua despedida.

Anônimo disse...

HENRIQUE,
também fico triste.
Fui prof. da Dalva, mas a Márcia tem que procurar o melhor para a família dela.
Aqui artista tem poucas chances...e muitas na Holanda.
Abs.
MURICY

Anônimo disse...

caro H.P.A.

li lá no mafuá o adeus da Marcia, nao é a minha praia mas nao sou tão otario a ponto de nao entender e reconhecer o valor artistico dessa fantastica pessoa que sem duvida é uma grande perda para a cultura Bauruense.

mas nem tudo está perdido, pois a partir de primeiro de maio haverá mais um rostinho bonito na tv. começa meu programa de cultura popular na tv preve. srsrsrsrsr.

um abraço lazaro carneiro