quinta-feira, 28 de abril de 2011

OS QUE SOBRARAM e OS QUE FAZEM FALTA (20)

UM QUE ESCREVIA, NELSON WERNECK SODRÉ E UMA QUE CANTA, NANA CAYMMI
1. O historiador, sociólogo, militar, escritor marxista e jornalista NELSON WERNECK SODRÉ é autor de obras fundamentais para a compreensão do país. Os mais famosos deles são “A História da Literatura Brasileira” (1938), “Formação da Sociedade Brasileira” (1944), “História Militar do Brasil” (1965) e “Capitalismo e Revolução Burguesa no Brasil” (1990). Ele completaria 100 anos hoje, dia 27/04. Algumas indispensáveis para quem quiser ter um bom entendimento dos meandros de nossa história. Dele tenho uma verdadeira obra prima aqui no mafuá, o “História da Imprensa no Brasil” (1966), um catatau de 506 páginas, comprado por indicação do também jornalista e escritor bauruense Gilberto Maringoni (em 28/07/2007, na presença de Darcy Rodrigues). Ali, um apanhado do que hoje vemos como a “Grande Imprensa”, toda a formação dos grandes grupos familiares donos da imprensa nativa, a maioria consolidados e os monopólios. Mais que isso, percebe-se desde o nascedouro que essa grande imprensa pensa igualzinho aos detentores do poder e assim sendo, a pergunta que não quer calar é: Como pode existir isenção no momento de produzir o texto jornalístico, se existem interesses imensos nos bastidores? Werneck é tão preciso e dele reproduzo frases da introdução do livro: “A imprensa tem sido governada, em suas operações, pelas regras gerais da ordem capitalista. (...) A grande imprensa capitalista compreendeu, também, que é possível orientar a opinião através do fluxo de notícias”. Tinha outro, “A Coluna Prestes”, mas sumiu anos trás como num passe de mágica. Tenho seu texto como fonte permanente de minhas leituras e consultas. Esse faz muita falta.

2. A cantora NANA CAYMMI é uma das grandes vozes brasileiras. Está mais do que inserida numa família tradicionalmente musical, o patriarca Dorival e os irmãos Danilo e Dori, além da mãe Stela Maris. Tenho comigo que de todos do clã, ela é a que possui a melhor voz e uma interpretação impecável. Comprava até bem pouco tempo tudo o que saia dela em LPs e CDs. Ouço-os com freqüência e naqueles dias onde bate um nervosismo ou por algum motivo as saídas me são dificultadas, coloco sua voz ao fundo e divago. Viajo no tempo e no espaço, saboreando tudo e sempre ao final lambendo os beiços. Tenho as minhas preferidas: ela, Leny Andrade, Elza Soares, Beth Carvalho, Clara Nunes e uma que poucos reconhecem, Fátima Guedes. Nana completa 70 anos em 29/04 e nessa semana a ouço em profusão, doses até excessivas, sem que isso me canse. No Rio na semana passada por pouco não fui assistir ao filme que fizeram sobre sua trajetória, passando na Estação Botafogo, o “Nana Caymmi em Rio Sonata”, do francês Georges Gachot, uma pena, oportunidade que talvez não se repita novamente. Qual sua melhor qualidade? A voz. E que voz. E nesses dias, enquanto chove e faz frio lá fora, me tranco aqui no mafuá, ligo a vitrolinha e curto ela em algo para endoidecer gente sã: a boa música ainda existe, ela uma de suas mais dignas e significativas representantes. Essa uma das que sobraram.

OBS COM TUDO A VER: Quando bato na tecla da música de péssima qualidade propagada por aí, os exemplos me vêem aos borbotões. Sou um chato de galocha nesse assunto. Veja o caso dessas feiras agropecuárias. Todas, sem distinção, só trazem atrações para um certo público. Antes, procuravam atender a variados gostos, até os mais requintados, com alguns astros da MPB. Hoje, merda destilada e jogada na cara de todos nós. A FACILPA de Lençóis Pta, abrindo hoje traz como atrações André & Matheus, Fernando & Sorocaba, Michel Teló, Rosa de Saron, Matão & Mathias, João Carreiro & Capataz e aí por diante. Passo bem longe.

Um comentário:

Anônimo disse...

HENRIQUE
Posso fazer uma brincadeira me latinoamericana contigo?
Prefiro Mercedes Sosa e Pablo Neruda.
Gosto muito também dos dois que voce cita no texto.
Sobre a programação da Facilpa, não difere nem um pouco de todas as outras exposições agropecuárias, festas de rodeio, tudo merda, como voce mesmo já escreveu aqui.
Adoro quando voce pega no pé do Marcelo Borges. Ele é merecedor.
Daniel Carbone