sábado, 3 de dezembro de 2011

MEUS TEXTOS NO BOM DIA JAÚ (07, 08 E 09)

PRODUTO "ULTRAFRIO" RESISTINDO AO TEMPO - publicado no BD Jaú, edição de 20/11/2011
Numa animada conversa num bar aqui de Bauru, nem me lembro direito dos motivos, mas num certo momento o dono do estabelecimento, descendente de japonês, que bebia junto ao meu grupo (sim, alguns donos de bares bebem com fregueses), quis mostrar seus balcões, sua câmara frigorífica, a mesma comprada desde que abriu o negócio, exatos 22 anos atrás. “Tudo continua funcionando maravilhosamente, com muito pouca assistência técnica nesses anos todos”, dizia todo pimpão. Fez questão de mostrar a placa fixada junto a algumas das peças e lá estava gravado um nome conhecido do jauense: “Ultrafrio”. Conferindo um algo mais na placa pediu para que todos conferissem o número de telefone e se viam nela algo de diferente. Sim, todos, mesmo com alguma cevada já circulando e fazendo efeito pelos lados do cerebelo viam que ali constavam somente três dígitos. Bota antiguidade nisso. Em muitos bares, armazéns, lanchonetes uma repetição da mesma cena, nem sendo preciso circular muito para a constatação do que o japa queria nos mostrar com tamanho orgulho. Voltando para a mesa contei a todos uma história que vivenciei em Cuba, ano de 2008, quando conversando com um maquinista daquele país ele me mostrava uma velha locomotiva russa, em pleno funcionamento há mais de 40 anos, imponente e resistindo a tudo e a todos, com poucos reparos de percurso. Num outro canto, numa espécie de estaleiro, parada já há certo tempo, outra, bonitona, mas tendo que ser deixada de lado com pouco mais de três anos de uso. Disse-me ser chinesa e a partir daí tecemos loas e loas sobre os produtos antigos, muito mais resistentes que os atuais. Com as câmaras da Ultrafrio a mesma coisa. Sei que lá nos altos da rua Quintino Bocaiúva está o reduto jauense dessas empresas e nem sei como essas câmaras, que também são balcões de atendimento ainda são feitas. O que sei é que essa nem a fórmica foi trocada. Mesmo com a infinidade de copos que já circularam sobre sua superfície, um tanto desgastada, resistiu ao tempo e a clientes de todas as espécies.

HERÓIS DA RESISTÊNCIA – publicado no BD Jaú, edição de 27/11/2011
Viajo muito pelas estradas de nossa região e em todas as cidades um dos primeiros lugares que aporto é uma lojinha a vender CDs, objeto de antiga apreciação. Na qualidade de colecionador, desde os áureos tempos dos LPs (tenho ainda mais de 1500 em casa) sou inveterado aficcionado. Esses recintos são objeto em extinção, num tempo onde poucos como eu ainda consomem música diretamente da compra desse produto diretamente fabricado pelas gravadoras, preferindo baixá-los via internet, em algo que ainda não consegui e com certeza, não conseguirei fazer nunca. Em Jaú sempre encontrei bons lugares para poder continuar praticando essa excentricidade de colecionador. Sou do tempo do Center Som, do Jaú Som e de uma loja muito saborosa que o J. Murgo mantinha bem defronte a praça Siqueira Campos, ao lado de um sorveteria. Comprava num desses pontos um belo exemplar de algo musical ao meu estilo e desfrutava da abertura do invólucro lendo as letras com um sorvete nas mãos. Também adentrava a rodoviária, dava aquelas voltas todas até alcançar a loja A Sertaneja e lá vasculhando suas prateleiras era difícil sair sem nenhum novo CD. O tempo foi passando e muita coisa foi se transformando para pior. Colecionador não perde suas manias e assim sendo, uma das minhas é vasculhar uma cidade até me deparar por um lugar onde possa continuar consumindo música. Na Jaú de hoje existe um lugar dos mais apetitosos e está localizado no mesmo endereço desde a década de 70, resistindo ao tempo e as modernidades todas. Falo do Studio Som, que com esse nome existe desde 1998, mas já existia no mesmo local com o nome de Comunica Som. Não existe ida minha até Jaú sem que não dê por lá rápida passada, conferindo as promoções do Eduardo e o Ricardo e acabo sempre voltando para casa escutando no radinho do carro um novíssimo CD ali comprado. Prestigio mesmo essas lojas de calçada, com gente que verdadeiramente entende de música e insistem em continuarem dando murro em ponta de faca, verdadeiros heróis da resistência.

IMPRENSA ANTI-DEMAGOGIA – publicado no BD Jaú de amanhã, domingo, edição de 04/12/2011
O Programa Minha Casa Minha Vida instituído pelo Governo Federal é na sua essência um primor. Veio para preencher uma secular lacuna no quesito “deficiência em habitações populares”. Belo no papel e o lado ruim, o nefasto ocorre quando de sua aplicação, a execução. As pessoas envolvidas nessa ponta deixam a desejar. Daí em diante pipocam problemas mil, seguidas denúncias e algo a desvirtuar sua finalidade. Em Jaú não ocorre nada diferente de algo muito singular a ocorrer Brasil afora. Em quase tudo a envolver liberação de verbas públicas, sejam elas municipais, estaduais ou federais, mesmo com toda fiscalização existente, desvios ocorrem aos borbotões. O sistema capitalista é corrupto na sua essência, favorece isso e misturar o público com o privado passou a ser algo mais do que natural. O BOM DIA Jaú teve um papel fundamental nas matérias que fez acompanhando a trajetória de um parlamentar da cidade, Dema, o responsável pelo Programa na cidade e suas muitas contradições. Com o sugestivo título de “DemaGOGIA”, escancarou a história nos seus detalhes e produziu algo para entrar na história do jornalismo jauense. Uma dessas capas para serem emolduradas e não mais esquecidas. Além da manchete arrojada e corajosa, algo mais, com um texto objetivo e definitivo, praticamente sem contestação. A imprensa em cidades do interior precisa muito disso. Ela sempre esteve atrelada à sobrevivência financeira e de dificuldade em dificuldade, acaba por se abrigar sob as asas do poder municipal, o maior anunciante da cidade. A grande maioria dos órgãos de imprensa no interior limita-se a relatarem ocorrências, de trânsito a policiais, inaugurações e a descrição do que ocorre no dia a dia dos poderes Executivo e Legislativo. Tudo sem aprofundamentos. Quando esmiúça, investiga, instiga, escava, busca e expõe com clareza detalhes nunca antes revelados, primeiro surpreende, depois se qualifica e ganha credibilidade. Esse o verdadeiro papel da imprensa.

3 comentários:

Anônimo disse...

É bem verdade que os produtos antigos possuem melhor qualidade que os novos e os made in china...
Pena que, como estamos na era do "descartável" ninguém liga muito pra isso.
Eu conservo até hoje uma máquina de lavar que foi da minha mãe... E ela ainda funciona...
Abraço fraterno,
Maria Regina.
www.mariaregina.com.br

Anônimo disse...

Cuca, Cuba, Cuba, vc enfia Cuba em tudo o que escreve. Por que?
Jão

Mafuá do HPA disse...

Sim, sempre e sempre CUBA. Ela é uma espécie de paraíso dentro de nossas parcas possibilidades terrestres, cheias de imperfeições e atalhos.

Nos EUA, o lugar onde ouço dizer seria outro paraíso, uma repressão imensa para desalojar os acampados de Wal Street, por lá também uma massa indo buscar exatamente em Cuba um tratamento gratuito de saúde, jornais e imprensa dos EUA dando só vazão ao pensamento do Tea Party e uma visão distorcida do mundo. E se isso que vemos fora de Cuba é o paraíso da liberdade, ela, a pequena ilhota do Caribe continua nadando de braçada e demonstrando para o resto do mundo que existem saídas outras. E é por elas que continuo querendo escapar e sobreviver. Em Cuba uma real possibilidade de viver a vida e dela usufruir o que de melhor ela nos dá, sem os sobressaltos do sistema capitalista. Mas sem alarde, deixem eles lá e como preferimos, contiemos dando murros em ponta de faca por aqui e insistindo numa democracia e num sistema mais do que falido. Mas que tenho saudade da ilha, isso tenho e muita.

Fique com seu Deus e eu com os meus, todos vivos e latentes.

Henrique - direto do mafuá