quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

MÚSICA (81)

A RESISTÊNCIA DE MADÊ CORREA É PARA ASSOMBRAR ESSA CIDADE - DESESPERAR JAMAIS
Viajei para São Paulo e perdi algo que não posso deixar de comentar. Uma atriz bauruense, MADÊ CORREA, da Cia Celeiro da Arte está fazendo de tudo para ter um Natal agradável, com algum trabalho rentável, mas o inconcebível tem agido e ela tem batido muita cabeça. Está driblando um problema de saúde e buscando espaços para dispor sua arte, trabalhar e ganhar algum. As adversidades tem se mostrado constantes, mas a vendo resistindo, percebo o quanto se pode ser forte nessa vida. Vendeu semanas atrás mais de 400 ingressos de sua peça, “La Vita Passa”, quase lotando o Teatro Municipal, mas no último momento, a atriz que participaria com ela, grávida de alguns meses é hospitalizada e tudo é cancelado. Devolve todo o arrecadado e tenta criativamente produzir algo para conseguir ao menos ter uma festa digna por esses dias.

Ao abrir meus e-mails ontem pela manhã, já em São Paulo, quase choro ao ver o que havia bolado. Ela na noite de ontem, quarta, 21/12, apresentou um espetáculo criado na última hora, dentro desse espírito natalino, o “HISTÓRIAS DE VOVÓ NOBEL”. O Nobel é pela Livraria Nobel ter-lhe cedido o espaço e o e-mail é quase um apelo. Ao ler um release, não sei se choro ou dou risadas, pela sapiência de Madê em tentar contornar tudo o que lhe acontece. Leiam só um pequeno trecho: “Especialista em Teatro Infantil, esse espetáculo se passa em uma sala de visita da Vovó Nobel em um dia próximo ao Natal, relatada através de conversas improvisadas com as crianças e canções. Como isso sempre acontece onde tem avós, não foi difícil para a autora contar mais esse “causo”. Como o tempo não muda, quem muda são as avós e os netos”. Se tivesse lido isso antes, teria mudado meu Cartão Natalino aqui no mafuá, o do Vovô Viola e colocado lado a lado esses dois batalhadores, bravos guerreiros pela sobrevivência, desses que não se vergam, aroeiras puras, Madê Correa e Zé da Viola. Não deu tempo, mas a homenagem está feita, aos dois, meus heróis de final de ano. Meu Natal só não é totalmente triste, por observar como esses dois conseguem se superar a cada tentativa de insistir, de renovação de forças para continuarem na labuta. Mais feliz fico ao ver pelo facebook que ela se oferecia como "Papai Noel No Natal - Na sua casa...em Bauru" e uma chique residência da cidade já a contratou para ser a Mamãe Noel lá deles. E assim ela estará trabalhando e mais feliz.

Para que tudo não se encerre de forma muito triste e melancólica, homenageio aqui nesse espaço mais uma pessoa, Leandro Gonçalez (http://www.desenhogoncalez.blogspot.com/.com/). Junto comigo produzimos o Guardião, super-herói de Bauru e hoje faz uma festa no seu ateliê. Esse rapagão é um bravo, resistente a fazer o que gosta e como gosta. Nem sei como consegue, mas ele insiste e fico grato por conhecer gente assim. Mora e dá suas aulas num pequeno espaço, seu mundo particular e suas coisas pessoais todas ali. Vibro com sua luta para conquistar fatias cada vez difíceis nesse insano mercado. Finalizo com um PARABÉNS COLETIVO para a Secretaria Municipal de Cultura, que após duas tentativas com administrações desastrosas (Pedro e Janira), todas nessa Administração Municipal, acerta a mão e parece ter reencontrado o caminho com a produção cultural local. Vibro muito com a nova caminhada, ou seja, a busca do caminho até então perdido e agora recuperado. Que em 2012 novos espaços sejam criados, principalmente para essa classe artística tão injustiçada e precisando botar o bloco na rua, como nos dois exemplos citados.

E em homenagem a todos esses (Madê, Zé da Viola, Gonçalez e SMC), relembro aqui uma música que não tem nada a ver com Natal e com Final de Ano, mas tem tudo a ver com a luta deles todos, o “DESESPERAR JAMAIS”, do IVAN LINS, de um LP que tenho aqui guardado no mafuá desde que o comprei nos anos 80, o “A NOITE” (Emi/Odeon, 1979). Sua letra é a cara deles e é de chorar: “Desesperar jamais/ Aprendemos muito nesses anos/ Afinal de contas não tem cabimento/ Entregar o jogo no primeiro tempo/ Nada de correr da raia/ Nada de morrer na praia/ Nada! Nada! Nada de esquecer/ No balanço de perdas e danos/ Já tivemos muitos desenganos/ Já tivemos muito que chorar/ Mas agora, acho que chegou a hora/ De fazer Valer o dito popular/ Desesperar jamais/ Cutucou por baixo, o de cima cai/ Desesperar jamais/ Cutucou com jeito, não levanta mais”. Vejam Ivan nesse vídeo: http://letras.terra.com.br/ivan-lins/258963/

6 comentários:

Anônimo disse...

HENRIQUE

Torço muito pela Madê.
Sei de sua luta e de sua resistência.
Ela é uma brava pessoa.
Precisamos muito de gente igual a ela na luta por dias melhores.
Ela é a cara da classe artística bauruense.
Aurora

Anônimo disse...

Henrique

Por que voce acha que essa administração da Secretria Municipal de Cultura acertou a mão e as duas anteriores, citadas por ti, não o fizeram?

Qual a diferença...

Também vibro com gente igual a essa Madê, que não conheço, mas percebo a força da resistência.

Daniel Carbone

Anônimo disse...

"olá, meu querido...agradeço por todas as suas palavras...é parece que ainda tem gente que pensa com carinho em meu trabalho...vc é um deles...obrigada...beijos...FELIZ NATAL...Madê."

Mafuá do HPA disse...

caro Daniel:

Respondendo sua pergunta.
Sim, a atual gestão da SMC está reencontrando um caminho até então perdido. Trabalhei por 4 anos como diretor nela (secretário Vinagre) e busquei, na área de minha atuação, produzir algo em relação aos museus do qual me orgulho muito. Fiz, trabalhei intensamente e hoje, passados três anos, percebo e dou razão a algo que ouvi do vereador Roque: "Falta um programa para a SMC. O que ela quer ser?". Isso ficou entalado comigo e reconheço meus erros, mas se ocorreram não foi por falta de tentar.

E depois de nós, ou seja, depois do governo Tuga, os dois secretários seguintes, o Pedro e a Janira, trabalharam isolados, fechados em si mesmo, sem acreditar nas pessoas, desconfiados até da própria sombra, sem receber artistas, com baixíssima produção. Tudo ficou estagnado, paradeira total.

E quando isso acontece, reparar ou retomar é sempre mais difícil e trabalhoso. O Elson Reis vem tentando fazer isso e acerta muito, pois algo bom de ser visto é o retorno ao incentivo ao artista local, a valorização do que é feito aqui e não tem espaço para se apresentar. Falta muito, como a diversificação para outros espaços e locais, principalmente os periféricos, mas algo de muito bom já está acontecendo e agora, o mais importante é colocar uma pá de cal na inoperância dessas duas gestões passadas e olhar sempre para a frente e tendo um programa a ser seguido, uma meta, um alvo e dele não se afastar.

Teria muito mais a escrever e o faço qualquer dia desses num texto longo aqui mesmo no blog.

Henrique - direto do mafuá

Anônimo disse...

Henrique, o questionamento do Daniel é pertinente, faz extrair dele um reflexão mais profunda.

Porque se parte do princípio que o ponto não são os nomes, se um era xucro, outra arrogante ou um com mais lábia. A questão é estrutural.

Veja que tem artista conhecido seu que saiu publicamente para defender o antigo secretário justamente porque teve seu projeto agraciado pelo mesmo, os beneficiados apoiam, os excluídos criticam.

Cultura não é clientelismo, balcão de negócios, tem que ser olhada de forma mais ampla, perceber em que ponto da história mazelas do sistema fizeram com que ela perdesse o rumo, entender o ambiente social que forma essa consciencia vazia dos tempos atuais, Marx e Engels exploram de forma inteligente isso na Ideologia Alemã.

Cultura não pode ser olhada por um grupo com os olhos voltados para dentro e muito menos esperar que transformações venham de dentro da estrutura do sistema, pois fica um círculo vicioso, uns querem se pendurar na verba pública e os que a controlam desejam continuísmo político, para isso se sujam, pulam de partido em partido de acordo com a conveniencia, fazem aquele populismo de sentido weberiano, cheios de clichezinhos, e aceitam ser subordinados a bandido.

O artista não pode e não deve prender sua expressão artística ao sistema, pois ela é a chance de subversão do âmbito social.

Cultura está ligada ao fator educacional e não a mero trabalho de promoters, isso é fazer como disse, para dentro, e infelizmente hoje tudo fica fragmentado em cada segmento, se todos percebessem que o problema é a estrutura da sociedade estariam a provocar sua ruptura e estabelecer novos conceitos sociais de estado.

O artista de verdade não quer viver na humilhação, não quer esmola, quer viver uma sociedade de arte para que sua expressão possa ser compartilhada, sentida e entendida por toda uma nação.

No Brasil brochante, criou-se essa merda de "lei de incentivo" onde se prende a cultura e cria o vício de jogos políticos de interesses.

Como atacar o sistema, criar subversão se temos que ficar como patinhos sorrindo e dando tapinhas nas costas destes que só pensam em continuar nesta estática política????

Parabens e felicidades a querida Madê que essa com certeza gostaria como nós que tudo fosse diferente hoje nesta nação.

Marcos Paulo
Comunismo em Ação

Anônimo disse...

Henrique,

Como você perguntou, achei bom avisá-lo. Chegou o certificado da U.B.E. Em ordem, certinho. Só demoraram um pouco (o Aran vive repetindo que hoje é normal, é normal. Eu sou mais antigo...).

Abraços.

Um Feliz Natal e um excelente Ano Novo.


José Carlos Brandão