terça-feira, 6 de dezembro de 2011

PERGUNTAR NÃO OFENDE ou QUE SAUDADE DE ERNESTO VARELA (57)

A OBRIGATORIEDADE DO DIPLOMA DE JORNALISMO VOLTA À BAILA
“Diploma de jornalismo volta a ser pauta de votação no Senado - O Senado aprovou nesta quarta-feira (30), em primeiro turno, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 33/2009 que restabelece a exigência de diploma para o exercício da profissão de jornalista. Foram 65 votos a favor e sete contrários à proposta”, essa a notícia e saiu publicada nos mais diferentes órgãos da imprensa brasileira. O vai e vem da obrigatoriedade do diploma, assunto mais do que requentado volta à baila.

Querem saber como penso. Ipsis litteris ao que Gianni Carta publicou recentemente na semanal CARTA CAPITAL, com o título "DIPLOMA DE JORNALISTA É IDIOTICE” e reproduzo alguns trechos, os mais significativos: “O Senado acaba de aprovar uma proposta de emenda constitucional para tornar obrigatório o diploma de nível superior para o exercício do jornalismo. Haverá outra votação no Senado. Se a emenda for aprovada será analisada pelos deputados. Claro, o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubará a medida (se aprovada pelos deputados). Em junho de 2009, vale recapitular, o STF acabou com a exigência do diploma para jornalistas. A norma era incompatível com o princípio de liberdade de expressão. Mas o senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), autor da proposta, não concorda com o STF. “Todas as profissões têm o seu diploma reconhecido, menos o diploma de jornalista, o que é uma incoerência, uma distorção na legislação brasileira”, declarou. (...) E aqui aproveito para fazer uma sugestão: já que jornalistas precisam, segundo os senadores, de diploma, por que não aplicar a mesma proposta para os senadores brasileiros? Os debates, quiçá, se tornariam mais fecundos. Certo é que, de forma geral, os colegas formados por universidades de jornalismo a pipocar Brasil afora, quase todos a trabalhar para a mídia ultraconservadora, não têm contribuído para melhorar o nível da mídia. Os grandes diários brasileiros, com colegas com canudo de jornalista ou não, são ilegíveis. (...) Eis a questão: o nível das escolas de jornalismo é baixo, ou seriam os patrões que limitam o trabalho de apuração dos repórteres – e principalmente dos colunistas? Seriam as duas coisas? Como dizia o grande jornalista italiano Enzo Biagi (outro que não tinha diploma de jornalista): “Meus únicos patrões sempre foram meus leitores”. (...) Vale acrescentar: o jornalismo se aprende indo à rua. “É preciso tirar a bunda da cadeira”, martelava Reali Jr. O repórter tem de continuar a praticar esse método inclusive para entender o que escreve. Precisa usar os fatos com honestidade, mas ao mesmo tempo tem de entender que o jornalismo tem seus limites, não é uma ciência. Ah, e sempre que possível o senso de humor ajuda. O diploma de jornalista só serve para enfeitar parede”.

Eu, esse HPA que escrevinha essas mal traçadas, me considero um autêntico jornalista, da linhagem dos SEM DIPLOMA (meu guru no quesito sempre foi Mino Carta). Meu diploma (possuo um) é o de Professor de História, que me é muito útil para entender tudo o que tento colocar no papel. Para mim esse assunto deixou de ser polêmico, virou besteira e com a decisão na mão dos políticos brasileiros,verdadeira brincadeira. Toco meu barco, escrevinhando aqui e ali e com a carteirinha da FENAJ no bolso (justo ela que é favorável ao diploma), com validade de mais três anos. Para fechar a tampa do caixão reproduzo uma mensagem encontrada na internet, um posicionamento de quem ministra cursos de jornalismo: “Viúvas de Gutenberg atacam novamente! Propõem no Senado obrigatoriedade diploma Jornalista que caiu em 2009 e não faz falta! O que interessa não é obrigatoriedade do diploma é formação diferencial. Diploma obrigatório acabou em 2009 e formandos da ECO/UFRJ passam bem! O fim do diploma em 2009 trouxe um grande beneficio: quebrou as universidades ruins que "vendiam diploma obrigatório" Na ECO/UFRJ formamos jornalistas, publicitários, editores, profissionais de rádio e TV. Nenhuma dessas áreas precisa de diploma obrigatório! A internet explodiu a reserva de mercado para jornalista! Diploma obrigatório só serve para manter sindicatos em crise. Senado vai afrontar o STF? Saudações!" -- Ivana Bentes - Profa. e pesquisadora da Escola de Comunicação da UFRJ (ivanabentes@gmail.com e Diretora da Escola de Comunicação da UFRJ.

4 comentários:

Anônimo disse...

Henrique

A Fenaj precisa rever alguns velhos conceitos. Tô contigo, com Mino, Gianni, Ivanna e sempre acreditando que para escrever bem não se faz necessário de diploma algum, vide meu pai, que teclava como desvairado, lia de tudo e publicava (quando o deixavam fazer) muito, sem nunca ter passado por banco escolar de jornalismo. Sigo os passos do velho.

Sérgio, SCRP

Anônimo disse...

Publiquei quando caiu o Diploma, na Carta Capital, os argumentos continuam. A questão e o cenário são bem mais complexos...

Está no link do blog Trezentos: http://www.trezentos.blog.br/?p=1839

Fim da exigência do Diploma de jornalista abre novas formas de lutas pós mídias digitais

(Ivana Bentes para Carta Capital) Finalmente caiu o diploma de jornalista! Em votação histórica no Supremo Tribunal Federal.
O fim da exigência do diploma para se exercer o jornalismo no Brasil (como em tantos paises do mundo inteiro) abre uma série de novas questões e debates sobre o campo da Comunicação pós-midias digitais, bem mais interessantes que o velho muro das lamentações corporativas. Agora, será necessário constituir novos “direitos” para jornalistas e não-jornalistas, free-lancers, blogueiros e midialivristas terão que inventar novas formas de lutas, comuns.
O fim do diploma tira da “invisibilidade” a nova força do capitalismo cognitivo, as centenas e milhares de jovens free-lancers, autônomos, midialivristas, inclusive formados em outras habilitações de Comunicação, que eram impedidos por lei de fazer jornalismo e exercer a profissão e que, ao lado de qualquer jovem formado em Comunicação, constituem hoje os novos produtores simbólicos, a nova força de trabalho “vivo”.
Vamos finalmente sair do piloto automático dos argumentos prontos “de defesa do diploma” que sempre escamotearam alguns pontos decisivos:
1. O fim da exigência de diploma para trabalhar em jornalismo não significa o fim do Ensino Superior em Jornalismo, nem o fim dos Cursos de Comunicação que nunca foram tão valorizados. Outros cursos, extremamente bem sucedidos e disputados no campo da Comunicação (como Publicidade) não tem exigência de diploma para exercer a profissão e são um sucesso com enorme demanda. A qualidade dos cursos e da formação sempre teve a ver diretamente com projetos pedagógicos desengessados, com consistência acadêmica, professores de formação múltipla e aberta, diversidade subjetiva e não com “especificidade” ou exigência corporativa de diploma.
2. As empresas de jornalismo e comunicação são as primeiros a contratarem os jornalistas com formação superior. NA UFRJ, por exemplo, os estudantes de Comunicação e Jornalismo são “caçados” pelas empresas que dão preferência aos formados, com nível superior em Comunicação, por que mudariam?
3. Esse papo de “quem é contra o diploma faz o jogo do patrões”, é uma velha ladainha, repetida no piloto automático da frases feitas. Raciocínio que é bem mais conservador e retrógrado que o próprio discurso das empresas/mercado que precisa empregar quem tem formação de qualidade. Que precisa de profissionais qualificados,capazes de entender os novos ambientes pós-digitais, capazes de fazer redes e de inovar em diferentes campos.

continua

Anônimo disse...

4. Os jornais já burlam a exigência de diploma pagando os MAIORES salários da Redação aos não-jornalistas, cronistas, articulistas, editorialistas, muitos SEM diploma (a exigência de diploma nunca alterou esse quadro!). As Universidades não precisam formar os “peões” diplomados, mas jovens capazes de exercer sua autonomia, liberdade e singularidade, dentro e fora das corporações, não profissionais “para o mercado”, mas capazes de “criar” novos mercados, jornalismo público, pós-corporações.
5. Nada justificava a “excepcionalidade” do diploma para os jornalistas que criou uma “reserva de mercado” para um pequeno grupo e que diminuía a empregabilidade de jovens formados em cinema, rádio e TV, audiovisual, publicidade, produção editorial, etc. proibidos pelo diploma de exercer…..jornalismo.
Até agora, nenhuma entidade corporativa defendeu nem pensou em uma SEGURIDADE NOVA para os free-lancers, os precários, os que não tem e nunca terão carteira assinada. É hora das associações, federações, sindicatos mudarem o discurso do século XIX e entrarem no século XXI buscando uma nova forma de SEGURIDADE PARA OS PRECÁRIOS, OS NÃO DIPLOMADOS, OS MIDIALIVRISTAS, o fim do diploma aponta para essas novas lutas.
O raciocínio corporativo constituiu até hoje uma espécie de “vanguarda da retaguarda”, discurso, fabril, estanque, de defesa da “carteira assinada” e “postos de trabalho “, quando no capitalismo cognitivo, no capitalismo dos fluxos e da informação o que interessa é qualificar não para “postos” ou especialidades (o operário substituível, o salário mais baixo da redação!), mas para CAMPOS DO CONHECIMENTO, para a produção de conhecimento de forma autônoma e livre, não o assujeitamento do assalariado, paradigma do capitalismo fordista.
A idéia de que para ter “direitos” é preciso se ‘assujeitar” a uma relação de patrão/empregado, de “assalariamento”, é uma idéia francamente conservadora!
O precariado cognitivo, os jovens precários das economias criativas estão reinventando as relações de trabalho, os desafios são enormes, a economia pós-Google não é a Globo fordista, não vamos combater as novas assimetrias e desigualdades com discursos e instrumentos da revolução industrial.

continua

Anônimo disse...

Devemos lutar não por cartórios do século XIX, mas pelos novos movimentos sociais de organização e defesa do precariado, lutar pela AUTONOMIA fora das corporações, para novas formas de organização e seguridade do trabalhador livre do PATRÃO E DA CORPORAÇÃO.
A General Motors nos EUA e as fábricas fordistas não vão falir sozinhas, levarão juntos o capitalismo fabril, patronal, corporativo e o arsenal conceitual, os discursos, que não conseguem mais dar conta, nem explicar, as mudanças.
Acabou o diploma de Jornalismo, mas o diploma/formação de Comunicação nunca foi tão importante! Vamos agora pensar o jornalismo público, o jornalismo do comum! E, antes que eu me esqueça: isso não tem nada a ver com “neoliberalismo”, vamos parar de repetir duas ou três frases clichês!
Existem hoje “revoluções do capitalismo” (titulo do belo livro de Mauricio Lazaratto, inspirado em Antonio Negri e Gilles Deleuze).
Não é a toa que a garotada prefere ir para as Lan Houses ao invés de entrarem para as corporações.
A Comunicação e o jornalismo são importantes demais para serem “exclusivas” de um grupo de “profissionais”. A Comunicação e o jornalismo hoje são um “direito” de todos, que será exercido por qualquer brasileiro, com ou sem diploma.
O capitalismo cognitivo está constituindo um novo processo de acumulação globalizado, que tem como base o conhecimento, as redes sociais, a comunicação, o “trabalho vivo” (Negri. Lazaratto. Cocco), existem, claro, novas formas de exploração e assujeitamento, mas também novas formas de luta!
Adeus ao proletariado fabril, diplomado ou não, viva o precariado cognitivo, os Pré-Cogs que estão chegando e são a base da comunicação, base das tecnologias da informação, base da economia do conhecimento, que alimenta a inovação e as novas lutas.
Viva a formação superior em Comunicação, em Jornalismo, viva as Escola Livres de Jornalismo e as novas dinâmicas mundanas de ensino/aprendizado e trabalho “vivo”.

Ivana Bentes é professora e diretora da Escola de Comunicação da UFRJ, é formada em Comunicação com habilitação em jornalismo, especialização em Filosofia, autodidata em audiovisual e estuda novas mídas on-line. Twitter @ivanabentes