segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

CHARGE ESCOLHIDA A DEDO (63)

FINALMENTES DE FINAL DE ANO, UM QUE VAI, OUTRO QUE CHEGA 
FINALMENTES 01
- UMA NOVIDADE TRISTE E OUTRA ALEGRE. Primeiro a alegre, sexta, 28/12, no Rio de Janeiro, último dia útil do ano, uma festa no final do dia na mais movimentada avenida do centro da cidade, a Rio Branco, 20h, carnaval na rua com o pessoal do Bloco BOLA PRETA, patrimônio histórico da Cidade Maravilhosa. Foi uma festa e lindo ver toda a avenida com gente nas ruas, tudo lotado e cantando marchinhas e velhos sucessos carnavalescos. Eu, Ana Bia e sua prima Angélica marcamos presença. O ruim foi que ao chegar num restaurante, pronto para jantar, por volta das 23h, não encontro mais meu velho celular no bolso. Ou caiu no embalar da incontida alegria ou alguém enfiou a mão no bolso do caipira e o levou. Foi-se 014-91163540. Tento recuperá-lo junto à operadora Claro no retorno à Bauru (a tal da portabilidade demora três dias úteis e assim sendo estou sem celular por esses dias, com um provisório que não vale a pena nem divulgar).

FINALMENTES 02 - O ANO NOVO está logo ali na curva da esquina. Nunca fui e nunca serei um cara dos mais certinhos, aprumado e andando nos trilhos. 52 no lombo, deixem-me continuar vivendo na irreverência e extraindo dessa única vida algo prazeroso. Ser politicamente correto não bate com meu modo de ser e estar. Portanto, seguindo o desenho do mestre LAERTE, podem me chamar de careca, ceguinho, branquelo, barrigudo, canela fina e desengonça a vontade. Num mundo onde as liberdades individuais estão cada vez mais a perigo, arrisco em continuar insistindo nos rumos por um mundo novo. Tá tudo bem comigo (com o país e o mundo nem tanto) e que continue assim. Boas entradas e saídas para todos (as) são os votos desse arteiro HPA 


FINALMENTES 03 – INVETERADO REPARADOR, paro constantemente nas andanças que faço por aí para ver algo que me chama a atenção. Ontem quase bati o carro ao passar de carro subindo a rua Antonio Alves, no cruzamento com a Rodrigues Alves e ali junto ao Ponto de Táxi, no primeiro banco uma criança deitada, demonstrando ser mais uma dentre as abandonadas na rua, vivendo ao deus dará. Fixo melhor os olhos e percebo não ser uma criança de verdade e sim, um grafite dos mais reais. A sensibilidade do autor, que ciente da região central da cidade ser foco para abandonados de toda natureza, me fez parar o carro e ir lá tirar a última foto do ano, uma que sai aqui publicada por dois motivos. Primeiro pelo belo registro e em homenagem ao artista anônimo e depois, uma referência explícita para uma chaga brasileira, demonstrando que o capitalismo quando permite algo desse tipo, caminho no sentido contrário de resolver os problemas do ser humano. Resolve o de alguns e não os da maioria da população. Com tudo o que pode nos possibilitar o desenho no banco, uma despedida desse ano. Com a Ana, minha alma gêmea longe de mim, permaneço esses dias ao lado de meu pai, seu Heleno, 84 anos, do filho, Henrique, 18 anos e de alguns parentes e amigos mais próximos. E toco o barco... 

FINALMENTES 04 – MIGUEL REP é um muralista e desenhista argentino. Seu traço eu conhecia desde quando botei os olhos pela primeira vez num dos melhores diários latino-americanos, o Página 12 (um jornal do jeito que gostaria que existisse algum aqui no Brasil). Em julho, criei coragem e na passagem por Buenos Aires liguei e nos conhecemos. Depois consegui emplacar sobre ele um textão na Carta Capital. Tento fazer com que o amigo Paulo neves o convide para participar do próximo Encontro Latinoamericano do Colégio D’Incao, em março de 2013 e para fechar e começar o ano deixo aqui um desenho dele dos mais simples, representando como o pessoal do teatro te deseja boa sorte: MERDA PARA TI E OS SEUS. Assim sendo, sintam-se todos "esmerdeados" para esse começo de ano.

domingo, 30 de dezembro de 2012

ALFINETADA (105)

NÃO SE BRINCA COM MACUMBA – publicado na edição nº 87, de 28/10/2000.
No número passado comentei sobre a árvore chorona plantada defronte minha casa. Pois, nessa semana, ela foi palco demais um acontecimento. Estava lá, bem no pé do frondoso tronco uma macumba das mais chamativas. Uma cerveja pela metade, um copo cheio da mesma, um prato cheio de canjica, umas fitinhas com lacinhos e uma vela branca. Percebi a coisa numa manhã, não quis por a mão. A vizinhança toda comentou o fato, todos foram espiar de perto. As crianças da escola, muito arteiras, mexem em tudo, mas a tal permanecia lá intacta. Os dias foram passando e o despacho lá, já fazendo parte da paisagem. Ficou até um tanto esquecido. Até mendigo desviva. No carteado do final de semana, a conversa girou em torno de quem seria o alvo da encomenda. Muito se discutiu, mas nenhuma conclusão foi alcançada. O povo daqui não costuma ter inimizades, mas desavença sempre existe e a preocupação era geral. Todos falavam com certo desdém, mas ninguém se atrevia a ir lá destruir o aparato. Rimos muitoda lembrança da desgraça ocorrida com o técnico Luxemburgo (“Luxemburro”), segundo notícia do jornal, devido ao fato de não ter pago devidamente um acordo firmado num terreiro. Acreditar a maioria não acredita, mas também não desacredita, pois ninguém é besta de meter a mão em coisa desse tipo. Mudamos o jogo, que sempre era realizado debaixo da árvore, para outra sombra, a de área menos perigosa. Dia desses choveu forte e quando todos já havia se esquecido do assunto, veio a enxurrada forte e desmontou tudo. Quando demos por conta, nossa árvore estava liberta e todos poderiam circular livremente pelo local. No mesmo dias, as crianças subiam sem medo nos galhos e os cachorros voltaram a fazer xixi em seu tronco (cachorro não é bobo). O carteado já voltou ao seu lugar de origem e por aqui. Certamente não deveria ser endereçada para nenhum de nós, mas que todos cruzaram os dedos, pois pelo que sei, ninguém no pedaço tem o corpo fechado. Com a questão encerrada, surge seu Libório, bebedor inveterado de cerveja, corajoso como poucos, afirma categoricamente que se outro despacho aparecer e com cerveja cheia, não vai perdoar, entornará tudo, sem medir as consequências. Não acreditamos muito, nem prolongamos muito o assunto, pois tínhamos coisas mais importantes para discutir no momento: “truco!”.
SAUDADES DO BOM E VELHO VINIL – publicado na edição nº 88, de 04/11/2000.
Com a entrada do CD no mercado mundial na década de 80, muita gente apostou na morte do vinil. As próprias indústrias fonográficas pararam de produzir os antigos discos, conhecidos também como bolachas. As fábricas substituíram a montagem de pick-ups e vitrolas, voltando-se para a ampliação do setor de microsystem. Mas duas décadas depois (quem diria?), com a popularização do CD, o vinil passou a ocupar lugar nobre de lojas especializadas, com exemplares chegando a custar R$ 50,00. Correndo por fora, algumas indústrias europeias se especializaram na reprodução de discos de vinil, apostando em pesquisas para o avanço tecnológico do setor. Para os puristas, a iniciativa veio mesmo a calhar. Fala-se até que o som do vinil é superior ao do CD, que não consegue reproduzir os graves. Chegam a afirmar que o CD não lê com precisão todos os elementos musicais. A verdade é que estamos presenciando um verdadeiro revival do velho e bom long-play, com destaque para a Inglaterra e os Estados Unidos. No Brasil, quem não pode comprar a cara aparelhagem, moderna e específica dos CDs, mantém suas vitrolas funcionando e ainda continuam comprando discos e sebos. Ainda se encontra muitos balcões de vendas de discos em muitas lojas por aí afora. Tem muita cidade mantendo em lojas e praças públicas, feirões de discos em vinil.Para quem gosta, esses lugares são por demais saborosos. Lugar de bate papo, troca de informações e muito saudosismo. Nas cidades pequenas vemos muitos camelôs vendendo vinil a preços dos mais convidativos. Eu mesmo, não consegui abandonar o vício de continuar minha coleção do velho e bom vinil. Assim como eu, muitos outros não possuem intenção nenhuma de se desfazer de suas coleções. Mesmo com todo o avanço tecnológico, felizmente, continuamos ouvindo música no velho aparelho de som. De uma coisa não podemos negar: como tem sido difícil continuar encontrando as agulhas desses aparelhos? Mas nem isso é motivo para desmotivar colecionadores e adeptos. Quem gosta, não largará esse hábito tão cedo.
VOCE ACREDITA EM PESQUISAS DE OPINIÃO – publicado edição de 07/10/2000.
As eleições aqui em Bauru terminaram com uma surpresa. O candidato que esteve toda a campanha em 3º lugar, o atual prefeito Nilson Costa – PPS, atropelou na reta final seus dois outros concorrentes, TugaAngerami – PSB e Pedro Tobias – PDT, ganhando o pleito com margem de 1300 votos do segundo lugar e 16 mil do terceiro, Pedro Tobias. Foi uma alegre surpresa, pois pelo visto conseguiu-se vencer o poderio econômico, com alto investimento e mesmo assim perdeu a eleição. Durante toda a campanha, o candidato Pedro Tobias esteve respaldado por diversas pesquisas de opinião, que lhe garantiam um folgado primeiro lugar. O comentário era somente um: ninguém tiraria essa eleição de Pedro Tobias. Por outro lado, era difícil encontrar pelas ruas esses eleitores do Pedro, por mais que se rodasse, fizessem perguntas, não se encontrava os eleitores que dariam essa vitória folgada. Começa a desconfiança e a suspeita geral. Tudo foi confirmado com a aberturas das urnas. Pedro termina num modesto terceiro lugar e com uma brutal diferença do segundo. Como isso pode acontecer? Como é possível não se detectar diferenças tão grandes nas pesquisas? As explicações vão surgindo, mas não convencem ninguém. Uma coisa é certa. Pesquisa de opinião ainda é utilizada de forma enganosa, favorecendo esse ou aquele candidato.  Tenta-se até a última hora influenciar no resultado, pagando para serem os favoritos. Daí nem sempre quem está em primeiro lugar nas pesquisas ganha. Algumas vezes, mesmo contrariando as evidências, o povo deixa de ser besta e dá o troco na medida certa. Foi o que aconteceu aqui. Manipular a vontade popular dá certo até certo ponto. Tem momentos em que a situação chega a um patamar onde transparece a leviandade e a resposta só pode ser essa mesma dada: pau neles. Mas nem tudo é tão rui assim. Voltamos a ter um deputado, que agora, “deve” voltara tender toda nossa região. Vamos agora, cobrar dele para que cumpra seu restante de mandato até o fim, pois é isso que sempre quis a maior de todas as pesquisas de opinião, “a voz do povo”.
OBS.: Esses três textos publicado no semanário O Alfinete, da vizinha Pirajuí SP, no ano de 2000 mostram bem claramente como em apenas doze anos muita coisa muda na vida das pessoas. Relendo todos, com certeza, hoje os reescreveria de forma diferente, mas não altero nada. Valem para registro de uma época. Acredito ter evoluído na escrita e na forma de pensar.

sábado, 29 de dezembro de 2012


MEUS TEXTOS PUBLICADOS NO BOM DIA BAURU (207, 208 e 209)

OS “ISMOS” JÁ ERAM, CULPA NOSSA – texto publicado em 14/12/2012.
Cada vez acredito menos nesses “ismos” todos, como capitalismo, socialismo, comunismo, humanismo, existencialismo, pois tudo foi corrompido e colocado fora dos eixos. Considero-me doido até demais, mas não a ponto de insistir em continuar dando murro em ponto de faca e de forma despropositada. Cansei, mas não como aquelas mulheres paulistanas e abastadas, resolvendo se rebelar contra os únicos atos até então feitos de concreto contra o que elas representavam. Meu cansei é porque vejo que o capitalismo é até bom, mas o homem o torna ruim. Do socialismo e do comunismo então nem se diga, melhor impossível, mas o bicho homem encontrou um jeito deles não darem certo. Tudo foi feito para que essas teorias fossem desviadas, desvirtuadas e transformadas em algo ruim, causando até malefícios aos seres humanos. Teoria linda e prática horrorosa. Culpa de quem? Do ser humano, só dele. Diante disso faço sempre uma pergunta para mim mesmo: O ser humano é bom? Na sua essência sim, nas na prática um fiasco, desviou-se de tudo o que pode ser considerado como caminho recomendado para suas vidas. Tinha tudo para dar certo, mas não dá, pois nada do que lhe é colocado às mãos consegue ter um resultado como no papel. O meio em que vivemos hoje já está totalmente corrompido e nele não ocorrerá mais transformação nenhuma, tudo ficará dando voltas e mais voltas. Reeducar tudo e todos, essa a única solução. Resultado de gerações e gerações já irremediavelmente perdidas, irrecuperáveis, pois já conheceram o lado manipulador, a engrenagem do desvio e não mais darão jeito e conserto pra nada. Todos nós fazemos parte dessa geração sem salvamento, pois quando em contato com qualquer teoria salvadora a destruiremos. Estamos c
ontaminados e não sabemos. Essa teoria é velha e me foi apresentada pelo filho, 18 anos, num bate papo de final de ano. Parei o carro num acostamento e ali proseamos por quase duas horas. Ele pensa, age e voa sem minha interferência e eu deliro. Com ela um desejo de muita reflexão para todos nós. Estamos precisados disso.

A MENTIRA DO (NO) NATAL – texto publicado em 22/12/2012.Escrevi aqui semana passada sobre os “ismos” e exagerei propositalmente num ponto, algo para provocar reações. Era sobre provável lado bom da teoria capitalista. Sabemos pela prática diária que essa conta nunca bate. Nele alguns sempre irão nadar de braçada e a grande maioria estará a se afogar. Na reação percebi nem tudo estar definitivamente perdido, nem todos se afundarem num mar de insensibilidade. Mostrei a meu filho uma das respostas recebidas: “Todos os direitos conquistados até agora pelos homens, estando ou não no poder são vitórias do socialismo, comunismo, trabalhismo e outros ismos. Pelo sugador capitalismo estaríamos no escravismo, sem direitos, portanto somos vitoriosos e a luta continua”. Emendamos outro assunto, fechando o ciclo de conversações natalinas e de final de ano. “Pai, você acha que a mentira é importante, essencial no mundo de hoje?”, me pergunta. “Aonde você quer chegar com isso?”, devolvo. “Não é nada para imensas reflexões. Vejo que não se vive sem mentiras. Não há como negar isso. Em alguns casos é até benéfica. Quem é não deu, recebeu elogios e na verdade sabe serem falsos? Patrões e autoridades vivem disso. Vidas são salvas por causa de mentiras”, explica. Divagamos sobre o tema e chegamos até o evento natalino. Aprendi a vivenciar essa época não com festa e pompa, mas para descanso, reposição de energias e reflexões. Nem guirlandas na porta de minha casa, muito menos árvore cheia de bolinhas coloridas e nem por isso fujo de tudo o que nos envolve. Impossível ser indiferente. Só não caio de boca no festim. A festa a reverenciar o consumo desenfreado, com um velhinho de mangas compridas, suando em bicas não faz nossas cabeças. “Que grande mentira isso tudo, hem pai? Estudei sobre isso. O Natal foi criado para preencher um vácuo comercial no calendário de datas voltadas para vendas em massa. Virou isso visto hoje, endeusamento do comprar acima de tudo. Tudo baseado no consumo”, me diz. Diante disso, decidimos ler na passagem do ano e fomos juntos gastar o que ainda tínhamos em livros.

DOR NA COLUNA – texto pubicado hoje, 29/12/2012O ano se finda e eu aqui com dor de coluna. Sento em confortável cadeira no meu escritório/residência, porém me levanto a cada recomeço do incomodo e espaireço na cozinha. Não consigo decidir nada sob efeito de intensa dor. Temo por tomar ações fora do prumo, evito assim arrependimentos futuros. Prefiro não arriscar e depois constatar ter dado desconto demais (ou de menos) nos produtos que revendo via internet. Posso falir minha já combalida firma, ou mesmo, criar inimigos, ao invés de bons e fiéis clientes. Isso me faz lembrar nas agruras por que passa o intrépido ministro e presidente do STF, Joaquim Barbosa, com confessadas dores durante os julgamentos que conduz. Ele levanta, dá voltas em volta da cadeira, fica em pé atrás da mesma, contorce a face, mas não se afasta da intermitente leitura e até, pasmem, decide sob efeito perceptível da incômoda dor. Na missão da qual se diz investido, ele se arrisca, porém dela não abre mão. Sabe correr riscos, pois algum advogado pode até ousar levantar uma tese na defesa dos réus por ele condenados, a de que um juiz submetido a dores não está em condições de emitir sentenças com tranqüilidade. O ministro já sofre demasiadamente por outros motivos, pressões variadas e sendo negro, muitos o vêem como uma espécie de reparador de todas as injustiças e agruras sofridas pelos seus. Acerto de contas ou não, deve se padecer para não exceder limites, ainda mais por julgar nesse exato momento alguns personagens que, quer queiramos ou não, lutaram contra o status quo vigente. Comprovados seus erros precisam pagar por eles, porém sem excessos. Pior será o risco de passar para a história como um arauto da UDN. Seria muito triste, diante de tão edificante tarefa, do ineditismo de seu mandato, mesmo coincidindo com seus problemas de coluna e ainda por cima sair marcado como aquele que em nome dos melhores propósitos fez as vontades da cruel e insana oligarquia brasileira, uma que só pensa nos seus botões. É sabido representar algo bem diferente disso, mas corre sérios riscos. Haja dor se isso ocorrer.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

FRASES (98)

AINDA A SITUAÇÃO DA RÁDIO VERITAS E DA TV UNESP, COM FOTOS DE UMA SITUAÇÃO MUITO VISTA EM NOSSAS RUAS
Fora de Bauru por alguns dias tento escutar rádio por onde ande. Na estrada Bauru/São Paulo poucas são as audíveis. A grande maioria toca música inaudível (além das criminosas pregações religiosas), ao estilo de uma ótima definição do mestre Zuza Homem de Mello para a revista Brasileiros (nº 65, dezembro 2012): “Uma jornalista me pediu para definir Michel Teló. Eu disse: É um pum. Uma coisa mal cheirosa, que incomoda as pessoas e que desaparece dali a cinco minutos”. Disse mais uma coisinha sobre essa percepção de música boa, aproveitável e outra desprezível: “Então, com o passar dos anos, as pessoas vão dar conta de que aquilo que estavam ouvindo era uma coisa passageira, e vão começar a perceber quanta música boa existe e existiu, nas quais eles precisam se ligar.Isso é inevitável”.

 
Lembro de tudo isso na estrada e sinto uma saudade danada da programação da Veritas FM Bauru, com uma primorosa programação de qualidade e que, sua direção, de forma capciosa decidiu dar um breque. O que quero mesmo fazer com a USC é o que vejo muito aqui no Rio de Janeiro, as pessoas que saem na rua e se transformam no ‘BLOCO DO EU SÓZINHO’. Elas sozinhas são o próprio protesto, com uma fantasia e um cartaz botam a boca no mundo. É o que pretendo fazer e instigar outros a fazerem comigo no primeiro dia de aula na USC, alguns blocos do eu sozinho espalhados pelos corredores da universidade protestando contra o fim de algo que dava tão certo. Junto a tudo isso uma outra mensagem lançada ao mar, como nessas garrafas que viajam de um lugar a outro até encontrar o seu destino. Vejam o texto do que recebi pelo e-mail:

“Caros, eu sei que o momento é um tanto inoportuno, mas eu não conseguiria sair em férias sem externar tal preocupação. Creio que a situação da TV UNESP não será resolvida apenas pela ação do dep. jurídico da Reitoria. Também pressinto que os setores da Universidade que são contrários à manutenção da emissora conseguiram um argumento concreto para extinguir o projeto. Portanto, a manutenção do mesmo só será possível se houver mobilização política e social ampla, a partir de iniciativas lideradas conjuntamente pelo Curso de Comunicação e pela Diretoria da FAAC. Do contrário, teremos o mesmo fim silencioso e trágico, que ocorreu com a Rádio USP/Veritas. Afinal, não vejo uma preocupação social ou política concreta e voluntária com o desenvolvimento e a manutenção das rádios e tevês públicas”, professor Antonio Francisco Magnoni, FAAC Unesp Bauru.

A situação da Veritas foi premeditada e com o texto do Magnoni, uma sugestão de que algo nesse mesmo caminho possa estar ocorrendo lá pelos lados da TV Unesp. Tem algo de muito estranho pairando no ar nisso tudo.

OBS.: Todas as ilustrações do texto de hoje são fotos tiradas por mim, sentado num bar na grande São Paulo, saindo da avenida Paulista, descendo a Augusta, na primeira à esquerd. Um barzinho com cadeiras na calçada, onde a cidade passa a sua frente. Num certo momento um senhor com um terno puído, circula de mesa em mesa vendendo crucifixos e deixa todos meio acabrunhados. Expõe a todos das dificuldades de sobrevivência no meio da selva de pedra que é o nosso mundo, principalmente aos mais idosos. As fotos dizem por si mesmo e são mais tristes ainda quando vividas ao vivo.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

PALANQUE – USE SEU MEGAFONE (34) 

“VENCEU O CONLUIO IMOBILIÁRIO!”, ESPALHEM ESSE TEXTO PARA O MAIOR NÚMERO DE PESSOAS POSSÍVEIS

Na seção Opinião, página 2, do Jornal da Cidade, edição de 26/12, o arquiteto e professor da UNESP Bauru, também especialista em questões ambientais, JOSÉ XAIDES DE SAMPAIO ALVES emite uma contundente opinião, que precisa ser entendida na sua essência. Na íntegra o texto está aqui: http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=226696. Vive-se em Bauru, como ele diz no seu texto a incessante corrida, onde “venceu o mercado imobiliário das elites”, em detrimento de tudo o que já foi discutido e aprovado sobre essas questões. Não me canso de afirmar isso, para fazer valer os seus interesses, os “donos da cidade”, conseguem aprovar tudo, passar por cima de tudo e só respeitam uma coisa, o “deus dinheiro”. O texto do Xaides é ótimo e serve não só para o caso do Alphaville, os tais poderosos intrusos, mas também para os poderosos locais (perniciosos com a mesma ou até maior intensidade), todos agindo da mesma forma e jeito: 

“No dia 20/12/2012, anunciou-se com pompa e status o início das vendas de mais um dos ditos “condomínios fechados” em Bauru. Foi incrível a corrida especulativa até o local da abertura. Teve gente transformada em haste de bandeira e em setas de sinalização, uma coisificação de tudo! De valores e pessoas! Que se danem os mais críticos preocupados com a sustentabilidade social e ambiental! Que se danem os direitos sociais de participação e transparência necessárias para mudanças de zoneamento! Que se danem as normas jurídicas e urbanísticas conquistadas pela participação popular, definidas pelo Estatuto da Cidade. Venceu até aqui o mercado imobiliário de elite, que poderá rir atrás das ações dos seus “parceiros” políticos e jurídicos, “organizados” ao que se pode depreender pelas publicações dos jornais e em visitas técnicas às obras, num verdadeiro “conluio” imobiliário jamais visto em Bauru - A terra sem limites. 

“Conluio quer dizer combinação entre pessoas para enganar alguém”- (Segundo o dicionário online de português). No sentido aqui exposto, foi “enganada” a sociedade que participou das discussões do Plano Diretor; que acreditou no Estatuto da Cidade, que impõe a obrigatoriedade da participação popular, com realizações de audiências públicas nas diversas regiões da cidade, quando da modificação de zonas de uso, sob o risco de improbidade administrativa dos gestores quando assim não feito; que acreditou nos órgãos de defesa dos direitos sociais, urbanísticos e de cidadania que deviam primar e cobrar pelo correto cumprimento das leis e a defesa dos cidadãos; que acreditou na Câmara Municipal, não como um local em defesa dos interesses especulativos e das elites econômicas, mas como espaço público de avanço da democracia participativa; que acreditou na prefeitura, nos secretários e no seu prefeito, que defendia o meio ambiente e que participou (ou usou politicamente) das inúmeras “leituras comunitárias” e audiências de discussão popular do Plano Diretor. Grandes enganos!

À “boca pequena”, se comenta nomes de vereadores que lutaram pelas aprovações intempestivas desses empreendimentos, sem a participação popular, que parecem ser sócios ou possuírem lotes nos mesmos – coisa a quem de direito investigar. Para um técnico e estudioso em planejamento e agente público, ficam evidentes os “benefícios urbanísticos” dados pelo Estado, aos donos de terras e agentes imobiliários, quando duplica apenas um trecho especulativo da Bauru/Ipaussu, sem muitas travessias e bairros pré-existentes para além dessa rodovia, provavelmente pagando desapropriações das terras agora valorizadas e ainda realiza três viadutos de transposições dessa rodovia, ligando a cidade a “terras improdutivas” e vazias, promovendo antecipadamente esses projetos imobiliários, sem que os mesmos, ao que parece, estivessem sequer, até então, devidamente aprovados em cartório ou na Câmara Municipal. Um desses viadutos liga ainda terras vazias e a rodovia a uma empresa parceira da prefeitura e o Estado em pavimentação de ruas e estradas e também promotora de um dos empreendimentos imobiliários. Há um empreendimento com acesso e entrada por Bauru, mas que se situa no município de Agudos, que não consta no seu Plano Diretor e cuja discussão para aprovação naquela cidade, não cumpriu com as formalidades de participação popular previstas no Estatuto da Cidade, neste caso, pergunta-se ainda, seus impactos sociais, ambientais, de trânsito etc. ficarão para Bauru resolver?

Quanto “privilégio” ao mercado elitista, enquanto bairros como Vila São Paulo, Pousada da Esperança, Jardim Pagani, Colina Verde etc., totalmente adensadas, vem a mais de vinte anos solicitando transposição adequada da rodovia e mesmo tendo mortes por acidentes todo ano, não teve melhorias. Pior é que se comenta que estes empreendimentos fechados em boa parte estã
o sendo comprados por outros especuladores, ou seja: não possuem função social eminente ou prioritária.

Nesta ação, em grande parte promovida ativamente pela Seplan (que deveria ser investigada), há outros esclarecimentos a serem feitos: A legalização posterior de uma situação irregular e/ou ilegal não tira as responsabilidades de possíveis desvios de condutas dos agentes públicos no processo de aprovação; o caráter social reivindicado à posterior para o caso das aprovações dos loteamentos de moradia popular em áreas de ZICs, mantém o “erro” jurídico de origem e não serve como forma de se fazer aprovar os loteamentos especulativos elitistas – Estes não possuem caráter social como previstos no Estatuto da Cidade. Por fim, este “conluio” criado ficará na história urbanística de Bauru como a maior ação especulativa de todos os tempos e é a maior derrota dos direitos sociais até aqui, pois para esta vitória especulativa derrotaram-se os cidadãos, a democracia participativa, a Lei 10257/2001, as leis de proteção e crimes ambientais... A justiça não é cega!

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

UM LUGAR POR AÍ (33)
RENASCENÇA, O CLUBE DO SAMBA INCRUSTRADO NO MEIO DA ZONA NORTE CARIOCA
Em Bauru várias iniciativas já foram feitas para a criação de clubes de samba e pelo que sei nenhum deu certo. O motivo é sempre o mesmo, ao invés de reforçarem algo com somente samba, tentam impor outros ritmos e daí para frente vira um “deus nos acuda” e tudo degringola de vez. Uma iniciativa que deu a entender que o samba é mesmo um bom negócio foi o promovido pela Secretaria Municipal de Cultura lá por 2008/2009, quando no espaço onde funciona a cantina, lá junto ao Teatro, num tempo onde ainda ocorria o recesso do Carnaval, o grupo de samba de raiz Quintal do Braz conseguiu colocar naquele diminuto espaço mais de 500 pessoas. Nenhum incidente e algo que marcou época. Daquilo ali pode ser sentido o quanto o samba é forte e movimenta as pessoas. O Quintal do Braz deslanchou depois disso e lotou várias casas. Ninguém teve a feliz idéia de montar um espaço de valorização do samba na cidade. Por aqui já existem muitas casas só com sertanejo, como o Rastro do Cowboy e na vizinha Arealva, a Chácara Du Tadeu. Eles não mudam de ritmo e sempre se deram muito bem. O próprio Quintal tentou fazer um samba numa casa nos altos da rua Floresta, mas que nos demais dias era toda voltada para o sertanejo universitário e não deu outra: deram com os “burros n’água”. Samba é samba e possui um público específico, o de quem gosta de algo de qualidade, desses que todos cantam de cor e salteado.
Fui conhecer uma casa dessas no Rio de Janeiro semana passada, o Renascença, quase na beirada no rio Joana, quase no meio da vila Isabel e Andaraí, rua barão de São Francisco  Filho. Quem chega vê um paredão na frente e vai se surpreender ao entrar seu portão. A festa mais famosa da casa é o Samba do Trabalhador, que acontece todas as segundas, começando na parte da tarde e só terminando quando o “arroz secar”. Fez fama, pois na segunda todos os músicos descansam e daí a idéia de juntar todos num dos maiores redutos cariocas de samba.
Lugares assim pelo Rio são um festim, sempre alegres e lotados de gente. O que me surpreendeu no Renascença foi que estive por lá num sábado, pouco antes do Natal e por volta das 19h. Pouco movimento do lado de fora, mas dentro, uma lotação de surpreender e animação sem fim. Gente pelo ladrão. Muitos jovens e todos cantando sambas da antiga. No meio de um grande quintal descoberto, uma lona montada num dos cantos e debaixo dela uma imensa mesa, rodeada de músicos, todos devidamente microfonados e fazendo um samba ritmado pela palma da mão. Babei-me todo, parei diante daquilo tudo e fiquei a pensar sobre o que poderia ser feito em prol do samba em Bauru, algo ainda não pensado e feito.
Além do imenso quintal, tendo de um lado uma construção em dois andares, sendo o de cima uma espécie de camarote, onde tudo pode ser visto com visão privilegiada e num dos cantos a cozinha. Isso tudo do tamanho quase de um quarteirão e na seqüência a quadra, onde nesses dias não ocorre esporte nenhum e sim, são montadas algumas barracas, como uma de acarajé e de artesanato afro. Enfeitando tudo dois imensos banners, tendo num deles a imagem do ministro negro do STF, o indefectível Barbosa. Cabem muita gente naquele espaço e ouço dizer que lota sempre. Acredito, pois ao verificar os nomes dos que por lá já passaram, só a nata do samba. No dia seguinte, pleno domingo, 16 teria o lançamento de um CD com um novo intérprete de samba e os seus convidados eram nada menos que Moacyr Luz e Ivone Lara.
Guardadas as devidas proporções de espaço, Bauru bem que merece um local só para reverenciar o samba de qualidade. A experiência que o Quintal do Brás teve anos atrás mostra que tudo pode dar certo. O que não pode, mas ainda acontece são os caras ficarem inventando, colocando “chifre em cabeça de bode”, misturando alhos com bugalhos, pois daí o público percebe e foge, bate asas. O Renascença é uma espécie de paraíso do samba. Pergunte para qualquer carioca o que acha daquilo tudo e verás a resposta. Eu já virei adepto e daqui para frente “bato cartão” e quando me perguntarem tenho uma resposta pronta e na ponta da língua: Não tem igual. Se duvidarem, leia isso publicado dia desses no site da Agenda do Samba & Choro: http://www.samba-choro.com.br/casas/443.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

BAURU POR AÍ (77) 

DIA 25/12 RELEMBRO DOS INVISÍVEIS E CITO UM QUE TEMPOS ATRÁS NASCEU HOJE
Passei pela cidade do Rio de Janeiro antes do Natal e na praça da igreja da Candelária, avenida presidente Vargas quase com avenida Rio Branco, um chafariz. Paro o carro no meio fio só para observar mendigos tomando banho com uma lata d’água. Mergulham a mesma na água e se banham, com sabão e tudo em plena praça. Tudo acontece sem que ninguém nem os percebam. Na tarde de ontem, já em Sampa, sentado num botequim, hora do almoço, suculento almoço chegando e do outro lado da rua um senhor de uns sessenta anos, sentado sob a sombra de uma frondosa árvore, descansa tendo ao lado uma imensidão de travesseiros, que revende pelas ruas. Almoço olhando para ele, que num certo momento, junta tudo, ficando meio escondido diante de tantas peças e sobe a ladeira da rua, em busca de clientes e caraminguás para suprir suas necessidades. Não dá para ficar indiferente à tudo isso e também por causa da repetição disso a cada nova olhada pelas ruas desse nosso mundo capitalista, sou um homem TRISTE. 

Reproduzo abaixo algo de minha lavra sobre um que se foi, dentre tantos invisíveis ao nosso redor. “Domingo, é um dia que o bauruense gosta muito de freqüentar seus parques públicos. No maior deles, o Vitória Régia muitos ficam a observar a sujeira espalhada pela área verde, outros os animais vivendo no seu lago, convivendo de uma forma pouco pacífica com os seres humanos. Junto disso tudo e do turbilhão de pessoas, dentre os quais muitos comerciantes, uma população pouco comentada e passando imperceptível para a maioria dos freqüentadores: mendigos, moradores de ruas, pedintes, guardadores de carro e varredores de rua. Estão ali, alguns até vivem ali e dali. O homem que morou durante muitos anos no buraco é um ser que por décadas foi pouco percebido. Vivia enfiado no pouco de mato existente no parque Vitória Régia, num local cercado, com uma mina d’água ao fundo, difícil acesso, quase em frente da barraca do batateiro Fiu Fiu. Barba crescida, roupas em andrajos, circulava pelas sombras, passava batido. Alguns poucos comentavam de vez em quando de sua existência. Poucos demonstravam preocupação. Alguns tentaram retirá-lo dali, mas sem sucesso. Nos últimos tempos até um documentário, feito por estudantes da UNESP foi realizado e alguma evidência lhe foi dada. O holofote durou pouco e foi intensificado quando o descobriram morto, dentro do buraco, sua morada. Deu no jornal, fotos foram espalhadas via internet e uns poucos descreveram histórias onde havia protagonista. De onde veio, dos motivos reais de ali estar, como vivia, pouco se sabe. Esse personagem das ruas é o exemplo vivo de como essas pessoas são mesmo invisíveis. Comia-se batatas e tomava-se de tudo ao seu lado, sem que fosse sequer notado. Ele se foi, outros devem estar a ocupar seu lugar, tudo continua sendo feito como dantes, a freqüência do parque continua alta e nesse cenário inserido muitos iguais a ele. Vejam isso dele:http://www.youtube.com/watch?v=SmVJf8vBxrg”.

“Neste dia 25 é meio que uma obrigação lembrar daquele homem que nos ensinou tanto, que mostrou ao mundo novas ideias, que ajudou a enterrar antigas ideias, um homem que mesmo não sendo muito lembrado, com muitas de suas palavras esquecidas e algumas de suas leis quase detestadas, se faz presente em nosso dia a dia. Muito obrigado Sir Isaac Newton...”, esse o escrito mais valoroso encontrado nas andanças feitas por mim hoje pelo facebook. O texto é do amigo SILVIO SELVA, que nos últimos tempos tem se transformado numa espécie de irretocável frasista, com tiradas curtas e profundas. Ele me pede para acrescentar isso: “Newton nasceu no 25 de dezembro do calendário juliano, vigente na Inglaterra da época, pelo calendário gregoriano, seria dia 4 ou 5 de janeiro, não lembro”. Queria ter o poder de concisão de gente igual a ele, mas ainda escrevo laudas e laudas para conseguir me expressar sobre coisas tão simples.

“Tudo posso naquele que me financia”, frase lapidar de outro que regularmente leio, LÁZARO CARNEIRO, meu nietzista de plantão.OBS.: As três fotos do Homem do Buraco são do Schubert, um como eu, que circula por Bauru com uma máquina fotográfica a tiracolo. Clica tudo e tem um rico arquivo em seu poder.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

CARTAS (94)

UM PROVEDOR, UMA SANTA CASA E A CONSCIENTIZAÇÃO DE UMA CIDADE, PEDERNEIRAS – publicado hoje, segunda, 24/12/2012 no Painel do Leitor, seção especial do Jornal da Cidade – Bauru SP*
Maurício dos Passos é desses a não desistir facilmente daquilo que acredita. Desde quando foi convidado para ser o provedor da Santa Casa de Pederneiras empreende uma verdadeira batalha consigo mesmo e tudo para conscientizar sua cidade a entender dos reais motivos da existência de um hospital aos moldes do que administra, sem manter dependências e atrelamentos que o inviabilizariam e da importância de assumirem o papel de seus reais mandatários.

Tornou-se um apaixonado pelo que faz e defende com unhas e dentes algo realmente a encantar todos os predispostos a uma paradinha para ouvi-lo. Pederneiras possui um hospital de quase oitenta anos, levantado com o suor de muitos dos seus históricos munícipes. Cada tijolo daquele prédio possui uma particularidade, cada pessoa que possibilitou o levantamento da edificação tem algo registrado nos seus anais. Tudo está registrado em algo único na história da cidade, talvez o seu mais bem organizado e definido arquivo. Uma riqueza pouco conhecida, de inestimável valor.

A riqueza disso tudo, a reunião de toda essa vasta documentação move Maurício num único objetivo. Poucos na cidade conseguem compreender da real necessidade da Santa Casa continuar sendo mantida pelos munícipes. Existe hoje uma contribuição mensal, valor irrisório, porém com poucos participantes dentro do universo da atual população da cidade. Primeiro ele deseja que todos entendam o que venha a ser uma Santa Casa, como é constituída, a participação do Estado e a da cidade na sua manutenção e existência. “Existe muito de desinformação. Muitos acreditam que o Estado deve prover tudo. Se isso ocorre, a cidade perde muito, pois fica dependente total e não gere mais nada. Nós temos condições de fazer uma administração compartilhada e a cidade só ganha com isso. Tudo continuará sendo só nosso, como o foi até hoje”, conta Maurício.

Ele constata que o Hospital Amaral Carvalho, da vizinha Jaú possui na cidade mais colaboradores do que os que contribuem com a Santa Casa. Não tem como desmerecer o que hospital jauense faz, tanto que deseja chegar no mesmo patamar e para isso se faz necessário uma ampla campanha. Pensa longe e para isso quer conseguir recursos para editar um livro sobre a história da Santa Casa, praticamente entrelaçada com a da cidade. A intenção é contar tudo nos mínimos detalhes, desde o envolvimento inicial, como foram levantados os recursos para construção, as histórias dos seus provedores, seus pacientes, a vida intensamente acontecendo dentro dos seus corredores e tudo o que já foi possibilitado pela cidade e pelos seus profissionais. Imagens, fotos e ilustrações a motivar isso tudo. Com isso quer sensibilizar toda a cidade da necessidade de uma união, tudo para não deixar esse sonho esmorecer, nem fenecer.

“Primeiro explicar o que é o sistema das Santas Casas, depois relatar tudo o que já foi feito aqui, o que está sendo feito e o que pode ser perdido se a cidade não ajudar e valorizar o que já temos. Isso aqui é de uma riqueza tão grande e poucos entendem isso. A cidade possui um hospital só dela e isso não têm preço. Quero fazer isso chegar a todos. Ninguém vai contribuir se não acreditar, se não ver a seriedade com que tudo isso é feito e com o livro quero fazer isso chegar a todos”, conta um emocionado Maurício.

Esse barbudo e inquieto administrador é dessas pessoas que transpiram trabalho, revelam sinceridade nos gestos, na fala emocionada e tudo isso pode ser comprovado pela forma como pensa transformar uma já proposta de sucesso em algo duradouro, permanente e onde toda a cidade esteja envolvida, participe de fato e de direito dos destinos de algo só seu. Divulgar essa vontade e dar uma pequena contribuição para a realização desse sonho, que deverá ser coletivo é valorizar algo único de uma cidade, é vê-la decidindo sobre o seu próprio destino, impondo sua força e ela mesmo conseguindo mover os moinhos da história.

Essa busca por um pertencimento só dela a livra desse estado de dependência coletiva vivido hoje, onde abandonamos tudo para que outrem o faça e se eximindo de nossas responsabilidades, ficamos só a criticar, vendo a “banda passar”. A proposta de Maurício é que sua cidade, mantenha ela mesma a sua Santa Casa, receba os benefícios provenientes do Estado, mas continue sendo independente e só de Pederneiras. Tudo compartilhado. Isso é tão lindo e único que precisa ser incentivado e divulgado. Maurício precisa ser empurrado para a frente, fazer vingar esse projeto e mostrar para o país como é que se cuida de fato e de direito das coisas a nós pertencentes. Essa minha contribuição na divulgação desse projeto.

Henrique Perazzi de Aquino, jornalista, professor de História e descobridor/desvendador/divulgador de histórias como essa. * Eu me emocionei ao tomar conhecimento da história do Maurício e do cuidado com que cuida do hospital de sua cidade, algo que se cada um fizer a sua parte, pode vir a se transformar em algo tão grandioso, uma experiência única, a de toda uma cidade estar envolvida nos destinos de algo só seu. Esse escrito nasceu de uma única conversa com Maurício e o JC, felizmente comprou a idéia, reproduzindo o texto com um destaque mais do que especial. Se tudo já nasce assim, esse sonho tem tudo para se tornar realidade, prosperar, vingar e se eternizar. As fotos foram todas gileteadas da internet.

domingo, 23 de dezembro de 2012

MEMÓRIA ORAL (133) e DIÁRIO DE CUBA (59)

UMA FESTA CUBANA NO RIO, ENCONTROS E REENCONTROS
O convite chegou por e-mail e o evento acontece pelos menos duas vezes ao ano. Trata-se da “Festa Cubana” e quem a patrocina é a Associação Cultural José Martí (www.josemartirj.webnobe.com), uma entidade carioca de congraçamento entre cubanos residentes, em trânsito e simpatizantes da causa cubana na cidade do Rio de Janeiro, com apoio da ANCREB – Associação Nacional dos Cubanos Residentes no Brasil. Algo marca definitivamente esse motivador a unir gente em torno da causa cubana, uma frase no rodapé do convite: “Cuba não está só! Junte-se a nós!”. Convites vendidos a R$ 50,00, com direito a um jantar, com comida típica cubana, mojito, sangria e muita dança com o Conjunto Salsa Klave. O local é sempre o mesmo, a sede social da SEAERJ, rua do Russel nº 1, Glória, muito próximo do famoso Hotel Glória. Junto a tudo isso, um detalhe significativo a mais, sempre boníssimo em se tratando de Rio de Janeiro, o estacionamento foi gratuito.

Na portaria um dos associados mais famosos, reconduzido recentemente como tesoureiro da Associação, Pasqual Macariello, militante da esquerda ao seu modo, conduz todos ao salão. “Não gosto da esquerda que baba ovo para a situação atual, nem posso concordar com aquela que desmerece tudo. Prefiro o meio termo”, diz cheio de orgulho, apresentando o jovem militante, Arthur Alves, 15 anos, uma espécie de revelação da novíssima geração do velho e ainda valente PCB. Numa distração, meio de uma conversa, as siglas são confundidas e o próprio Arthur rebate de bate pronto: “PC do B não, não fazemos o que eles fazem. Somos aqui do PCB”.

O predomínio no local era de gente a admirar Cuba e repudiar o embargo dos EUA. Na camiseta de um militante petista (Pasqual faz questão de lembrar: “Sujeito muito bom, bravo guerreiro, mas ainda não conseguiu se desligar do PT”), a inscrição sobre os cinco heróis cubanos detidos injustamente nos EUA. Quem chegou tarde perdeu a convivência de gente ilustre, como Anita Prestes, a filha do velho líder comunista Luís Carlos Prestes e de João Luiz Pinaud, nome dos mais famosos ligados à causa dos Direitos Humanos no estado e no país. Gente dessa envergadura circulou pelo salão e abrilhantou a causa de defesa da pequena e instigante ilha caribenha.

Entre os convidados, o cônsul geral cubano, Lázaro Méndez Cabrera, lotado na capital paulista e no Rio especialmente para rever patrícios queridos, militantes e pessoas com grande apreço por seu país. “Essa reunião me traz grande contentamento. A causa cubana é das mais nobres, por tudo o que conseguimos fazer não só para nosso povo, como para muitas outras nações”, diz embalado pelo som da famosa música reverenciando os feitos do “comandante Che”. A comida era servida ao estilo self-service e repetida várias vezes. Num balcão na entrada do salão, um barman preparava na hora, com uma folhinha de hortelã em cada copo, os bem aceitos mujitos. O balcão manteve-se sempre muito movimentado, tanto que a bebida foi um dos primeiros itens a acabar antes do previsto.

Um grande simpatizante da causa é o jornalista Arthur José Poerner (www.arthurpoerner.blogspot.com), com seu inconfundível cabelo despenteado e grisalho, escritor de textos antológicos sobre a América Latina e os movimentos sociais mundiais. Pasqual diz dele: “Um baluarte das esquerdas brasileiras. Hoje, bate cartão no Fiorentina, no Leme onde produz a maioria dos seus textos”. Arthur confirma tudo: “Ando com um bloquinho, escrevo tudo a mão, praticamente indico onde vai se encaixar no contexto do livro. Uma assessora bate para mim no computador e me apresenta o texto final, que revejo e só depois autorizo a publicação”. Faz questão de mostrar sua ficha no DOPS, quando, como diz, era “considerado um elemento dos mais perigosos”. Estar ali, falar de Cuba, rever amigos e conversar é algo que não abre mão. “Ainda mais quando tenho a possibilidade de conhecer novas pessoas, idéias próximas”, conclui.

Outro na mesma situação era o também escritor e jornalista Mário Augusto Jacobskind, um conhecido nome na imprensa nacional, desde os áureos tempos da resistência à ditadura militar. Fez fama na Tribuna da Imprensa e hoje escreve regularmente para o Direto da Redação (www.diretodaredacao.com). Na irreverência da noite não se fez de rogado e chegou a dançar embalado pela salsa. Muitos seguiram os mesmos passos, como Rita Alves, funcionária do Banco do Brasil e diretora do Sindicato dos Bancários do RJ. “Além de reencontrar pessoas, o clima alegre cubano, uma união de gente pensando na mesma direção. Uma conversa é engatada em outra, tudo produtivo”, diz.

No final da apresentação musical, um dos músicos, o cubano e hoje professor de Química Analítica da UFF – Universidade Federal Fluminense, Sérgio Jerez, 49 anos  é um dos poucos ali com algo destoando do discurso predominante no local, pois mesmo não sendo um dissidente, diz ter tido problemas nos retornos à ilha. “Fiquei dez anos sem poder retornar e hoje, não posso mais lá residir. Posso permanecer no máximo um mês, com pequena prorrogação. Vou agora, rever meu filho e parentes. Cuba mudou muito, eu também. Canto junto do grupo, pois os laços nunca se desfazem. Aqui têm cubano e brasileiro, nossas reuniões são em festas, encontros e todos sempre dançam bastante”, diz.

A festa tinha hora para terminar e alguns passaram do previsto, luzes foram apagadas e permaneceram mais um tempo no estacionamento, papeando e terminando conversas iniciadas e já remarcadas para outros reencontros. Arthur Poerner foi um desses, o garoto Arthur e Rita, sua mãe outros. Quem fecha o salão, faz os acertos finais e praticamente apaga a luz é Pasqual. Na despedida de todos, já na calçada, um grupo saiu caminhando a pé no sentido do Palácio do Catete, outros se juntaram em caronas e todos com a certeza de Cuba ser mesmo um bom motivo para continuarem se revendo. É o que fazem várias vezes ao longo dos anos.
Em tempo: A festa ocorreu no último 21/12,sexta, das 19 às 23h30.