NEVES E NINO: REENCONTRO QUASE 40 ANOS DEPOIS
Esses dois são da pá virada e desses a mover o moinho sem o auxílio do vento. Fazem e acontecem. Wilson das Neves é baterista, tem 76 anos de idade e quase o mesmo tempo de estrada. Tocou com tudo quanto é cobrão da MPB e um dos que não grava sem ele, figura essêncial em seus discos e shows é Chico Buarque. Uma das baquetas que mais está sintonizada com a batida do samba carioca. De uns tempos para cá, além de bater resolveu cantar e hoje se diz contente com a nova função, a de "canário". Veio para Bauru durante a Virada Cultural e voltou quarta passada compondo a Orquestra Imperial, uma amalucada reunião de músicos, gente que toca com os monstros sagrados da MPB quando em dias de descanso, s[o que não descansam e saem para tocar juntos num agrupamento de quase 20 músicos.
Sabendo que Wilson passaria por aqui e passando por Jaú semana passada estive na casa de outro baterista, o Nino, esse com 60 e poucos anos, professor de redação, expert em grego e uma das baquetas mais significativas desse país. Tocou com monstros sagrados, pertenceu ao agrupamento de Dick Farney e chegou a se apresentar para nada menos que Dizzie Gillespie. Teve a carreira interrompida e veio morar em Jaú, de onde não mais saiu, constituiu família e hoje dá aulas de redação, pratica sua capoeira e tem um estúdio divinal nos fundos de sua casa, onde bate forte e doído. Meses atrás perguntaram para o baterista Luiz Chaves, do Zimbo Trio em quem se espelhava e ele de bate pronto: “No Nino”. Toda vez que passo por Jaú perco a linha e o carretel, pois de pasta na mão resolvo dar uma passadinha para cumprimentar o Nino e ele me arrasta para seu estúdio e de lá perco a noção do tempo. Ele começa a bater na bateria nova, importada e sai cada coisa que endoideço, esqueço do trabalho. Faço o convite para ir rever Wilson das Neves.
Pois os dois, que não se viam há quase quarenta anos acabaram por se reencontrar no SESC ao final do Show da Imperial. Wilson foi de uma simpatia com todos, percebendo uma movimentação de gente à sua espera veio ao encontro de todos e foi rodeado pelos músicos locais. Dentre eles Nino e o bate papo ao pé do ouvido, algo intimista, lembranças de tempos vindouros e algo pinçado ao léu, Wilson cedeu sua bateria para Nino tocar num show com Elis Regina, deácadas atrás. Os dois se abraçaram e papearam por longos minutos.
De uma noite com muito calor, do encontro o que mais se sobressaia era as camisas de ambos, suadas e coladas ao corpo. Ambos, de uma geração meia que perdida para nós, calças sociais e camisas de manga longa, mesmo no inebriante calor e algo mais em comum, dois monstros sagrados das baquetas. Ter a possibilidade de poder registrar o reencontro foi algo que guardarei comigo como de grande felicidade por ter sido agraciado e conhecer pessoas com dons além do natural, que os diferenciam e os tornam pessoas além da conta. O som de Wilson eu curto pela internet, nos poucos shows e pelos seus CDs, já Nino, privo de sua amizade e encho seus picuás toda vez que passo por Jaú. São o suprassumo de tudo o que gosto em matéria de boa música. Pelas fotos dá para sentir como foi o show e o reencontro.
PERGUNTA DE FINAL DE DOMINGO: Ontem, 01/12 o Oeste de Itápolis, time de uma modesta cidade, 30 mil habitantes, distantes 100 km de Bauru ganhou em casa o título de campeão da série C do Brasileirão, em feito inédito, ganhou o direito de disputar a série B ano que vem e comprovando algo a se repetir por anos e anos: o profissionalismo com que os dirigentes do Oeste tocam o futebol. Como seria isso? O que fazem de diferente? Qual o segredo? Devemos todos perguntar isso e muito mais para o dirigente, o bauruense Mauro Guerra, manager do Oeste: Onde é que você acerta, que todos os outros erram? Tem receita esse negócio?
2 comentários:
Sou amigo dos dois, de outros carnavais! Abração Henrique!
George Vidal
"MEstre Nino em todos os sentidos. Figura Singular!"
Magrão Lopes
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