Mafuá do HPA

ALGO DA INTERNET (65)

O FACEBOOK E MEUS PERSONAGENS SEM CARIMBO – O LADO B DE BAURU

Sei que o facebook hoje é algo onde o que rola é pura tentativa de diversão (não seria perversão?). Na maioria das vezes banalidades, coisas fúteis, brincadeiras, onde poderia prevalecer algo mais sério, até contribuindo na conscientização de um número cada vez maior de pessoas. Não sei mensurar direito, mas acredito que por volta de 80% são coisas sem proveito e cada vez mais participamos de algo assim. Não sou diferente de ninguém, cada um age do seu jeito e modo. Eu pensando nisso tudo iniciei em 29/11/2012 um projeto novo. Estou tentando manter um post diário com personagens de Bauru, mas não os representantes da elite da cidade. Trata-se do “Personagens sem Carimbo – O Lado B de Bauru”. Na explicação inicial postei isso: “Começo hoje e tento publicar uma foto por dia de um personagem bauruense, gente da melhor laia, estirpe em extinção, fotos tiradas por mim e representativas de uma Bauru resistente e que insiste em dar murro em ponta de faca, ou seja, faz e acontece, os sem medo de buscarem a felicidade ao seu modo e jeito”. Tenho conseguido esse intento até então com a publicação dos seguintes personagens: Zé da Viola (29/11), pipoqueira Inês Faneco (30/11), timbeiro Tiãozinho (01/12), o Baiano dos Ratinhos (02/12), cantora Audren Victorio (03/12), ex-goleiro Luís Carlos (04/12), radialista Maria Dalva (05/12), João Dez e Meia (06/12), hippie Celsão (07/12), Neizinho do ARCA (08/12), jornalista Maria Inês Ferreira (09/12), advogado Arthur Monteiro Jr (10/12), Adilson da Banca (11/12), Corintiano Guardador de carros do SESC (12/12), Rubens verdureiro de Carriola (13/12), militante Eliza Carulo (14/12), azulzinho Marco Labão (15/12) e hoje o corredor Alberto Goiaba (16/12).

Imprimi cada um numa folha e estou juntando-os para não sei o que. Virei colecionador dos meus personagens. Comprei até uma pasta para guarda-los e o texto original deixei salvo numa pasta no computador. Esses personagens, sabia desde o início, seriam os que, pelo meu crivo, mereceriam um destaque e uma palavrinha de incentivo, reconhecimento, essas coisas. Nada mais que isso. Sempre vejo que para enaltecer os personagens do LADO A  daqui existem muitos meios, porém poucos para dizerem algo dos do LADO B. Vou reproduzir abaixo dois desses textos, sendo que o da Maria Dalva, Luizão e Celsão já estão inseridos em algum texto do blog e outros tantos farei um resumo do que já publiquei aqui como Memória Oral.

O mais polêmico deles foi publicado ontem, o MARCO LABÃO, DE ESCREVINHADOR DE CARTAS À AZULZINHO DA EMDURB - Está mais do que comprovado, pobre paga mais impostos que os ricos. Rico renega, repudia, rejeita, negocia e faz de tudo para não pagar o que lhe é devido. Toda Bauru sabe quem são os maiores devedores do DAE, assim como vi pessoalmente numa blitz meu velho Palio ser abordado e permanecendo por mais de meia hora sendo autuado, comentei com o comandante da operação: “O sr só para cara velho”. Não era uma pergunta, mas uma constatação. Já vi carro novo descer do guincho após algumas certeiras ligações, carro velho nunca. Nas rejeições à atuação dos “azulzinhos” das ruas, os fardados fiscais de trânsito de Bauru encontram de tudo, mas os mais problemáticos, os que criam mais problemas nas autuações, sempre com a fatídica pergunta, “você sabe com quem está falando?” são os mais abastados, o lado A de Bauru. MARCO LABÃO escrevinhou cartas e mais cartas para os espaços dedicados aos leitores nos jornais locais, fez fama, ora na defesa do lado mais abastado da população, ora tentando se fazer entender como cidadão. Participou ativamente dos Consegs, os Conselhos de Segurança, uma espécie de elo entre a comunidade e a Polícia Militar, mas depois de tanto tentar se fazer entender dessa forma, hoje pratica o contrário. Está efetivado como um dos famosos Azulzinhos da Emdurb na cidade e vivencia na pele o outro lado, o da aplicação das multas e do contato direto com o provável infrator. Escrever, diz que ainda o faz, mas de forma mais comedida, pois pegou gosto pelo lado funcional da nova função. Aberto ao diálogo, fico a observá-lo numa manhã com seu bloquinho nas mãos, sem ser notado. Nada de anormal, o registrado foram os que estacionavam em locais proibidos e principalmente os que dirigem falando ao celular, com latinhas nas mãos ou com lanches. Risonho e franco, porém resoluto, cumpre sua missão sem receio de enfrentar os mais exaltados. Labão está menos alfinetador, como nos tempos das missivas aos jornais e hoje é um digno membro dos fardados (ou seria uniformizados?) representantes da aplicação das leis de trânsito na cidade. Aos 56 anos, demonstra estar feliz e sabendo discernir muito melhor, agora na prática e na observação do dia a dia, o que acontece no relacionamento entre os lado A e do B na conflituosa Bauru. Enxerga tudo com novos olhos.

O publicado hoje é sobre um velho conhecido das ruas bauruenses, um corredor de rua, o: GOIABA É A MINHA MAIS GRATA RECORDAÇÃO DE UM CORREDOR - Tem personagens que marcam a vida da gente de forma decisiva. Não são assim incisivos, mas pela postura adotada e praticada ao longo de toda uma vida tornam-se inesquecíveis. Na maioria das vezes são pessoas populares, tipos das ruas, expressões de labuta e persistência. São aqueles que ao bater os olhos te fazem lembranças de algo ou expressam significativamente algo. Existem muitos assim por aí e pouco valorizados. Eis a oportunidade de destacar um desses. ALBERTO é um retinto senhor, que durante minha vida toda não consegui descobrir nada sobre como ganha a vida, seu ofício, mas algo o torna uma figura das mais populares, trata-se de um corredor. Mas conhecido pelo apelido, GOIABA, 60 anos, desde meus tempos de moleque corre pelas ruas e tenta fazer o mesmo com muitos que foi encontrando vida afora. Seu local de treinamento preferido é a pista da Nuno de Assis, junto ao rio Bauru, ali bate cartão quase que diariamente, sempre com trajes de atleta, correndo de um lugar a outro e fazendo exercícios nos poucos equipamentos postados junto à avenida, quase debaixo do viaduto da Treze de Maio. Pessoa muito simples, faz isso como uma espécie de compromisso seu com a vida. Foi nosso representante em diversas corridas São Silvestre e esse ano estará novamente indo à São Paulo no último dia do ano. Ganha as passagens da empresa de ônibus e o resto paga do próprio bolso. Um abnegado, desses possuidores de algo diferenciado dos demais, o amor desmedido pelo que faz. Um amor que muitos não conseguem entender, decifrar, mas algo que o torna uma pessoa cheia de luz própria, irradiando isso para todos os que o conhecem.

O do Labão gerou algumas ligações telefônicas e uma explicação minha no espaço dos comentários do face (reproduzidos nos comentários desse blog) e não era para menos, pois confesso ser o que menos se enquadra na proposta inicial. Quero continuar fazendo isso, com erros e acertos (mais acertos que erros) e conto com a ajuda de todos para dicas, sugestões, críticas, incentivo, discussões, tudo com o intuito de trazer algo sobre gente que merece ser lembrada e discutida. Façamos isso juntos. Topam?