UMA FESTA CUBANA NO RIO, ENCONTROS E REENCONTROS
O convite chegou por e-mail e o evento acontece pelos menos duas vezes ao ano. Trata-se da “Festa Cubana” e quem a patrocina é a Associação Cultural José Martí (www.josemartirj.webnobe.com), uma entidade carioca de congraçamento entre cubanos residentes, em trânsito e simpatizantes da causa cubana na cidade do Rio de Janeiro, com apoio da ANCREB – Associação Nacional dos Cubanos Residentes no Brasil. Algo marca definitivamente esse motivador a unir gente em torno da causa cubana, uma frase no rodapé do convite: “Cuba não está só! Junte-se a nós!”. Convites vendidos a R$ 50,00, com direito a um jantar, com comida típica cubana, mojito, sangria e muita dança com o Conjunto Salsa Klave. O local é sempre o mesmo, a sede social da SEAERJ, rua do Russel nº 1, Glória, muito próximo do famoso Hotel Glória. Junto a tudo isso, um detalhe significativo a mais, sempre boníssimo em se tratando de Rio de Janeiro, o estacionamento foi gratuito.
Na portaria um dos associados mais famosos, reconduzido recentemente como tesoureiro da Associação, Pasqual Macariello, militante da esquerda ao seu modo, conduz todos ao salão. “Não gosto da esquerda que baba ovo para a situação atual, nem posso concordar com aquela que desmerece tudo. Prefiro o meio termo”, diz cheio de orgulho, apresentando o jovem militante, Arthur Alves, 15 anos, uma espécie de revelação da novíssima geração do velho e ainda valente PCB. Numa distração, meio de uma conversa, as siglas são confundidas e o próprio Arthur rebate de bate pronto: “PC do B não, não fazemos o que eles fazem. Somos aqui do PCB”.
O predomínio no local era de gente a admirar Cuba e repudiar o embargo dos EUA. Na camiseta de um militante petista (Pasqual faz questão de lembrar: “Sujeito muito bom, bravo guerreiro, mas ainda não conseguiu se desligar do PT”), a inscrição sobre os cinco heróis cubanos detidos injustamente nos EUA. Quem chegou tarde perdeu a convivência de gente ilustre, como Anita Prestes, a filha do velho líder comunista Luís Carlos Prestes e de João Luiz Pinaud, nome dos mais famosos ligados à causa dos Direitos Humanos no estado e no país. Gente dessa envergadura circulou pelo salão e abrilhantou a causa de defesa da pequena e instigante ilha caribenha.
Entre os convidados, o cônsul geral cubano, Lázaro Méndez Cabrera, lotado na capital paulista e no Rio especialmente para rever patrícios queridos, militantes e pessoas com grande apreço por seu país. “Essa reunião me traz grande contentamento. A causa cubana é das mais nobres, por tudo o que conseguimos fazer não só para nosso povo, como para muitas outras nações”, diz embalado pelo som da famosa música reverenciando os feitos do “comandante Che”. A comida era servida ao estilo self-service e repetida várias vezes. Num balcão na entrada do salão, um barman preparava na hora, com uma folhinha de hortelã em cada copo, os bem aceitos mujitos. O balcão manteve-se sempre muito movimentado, tanto que a bebida foi um dos primeiros itens a acabar antes do previsto.
Um grande simpatizante da causa é o jornalista Arthur José Poerner (www.arthurpoerner.blogspot.com), com seu inconfundível cabelo despenteado e grisalho, escritor de textos antológicos sobre a América Latina e os movimentos sociais mundiais. Pasqual diz dele: “Um baluarte das esquerdas brasileiras. Hoje, bate cartão no Fiorentina, no Leme onde produz a maioria dos seus textos”. Arthur confirma tudo: “Ando com um bloquinho, escrevo tudo a mão, praticamente indico onde vai se encaixar no contexto do livro. Uma assessora bate para mim no computador e me apresenta o texto final, que revejo e só depois autorizo a publicação”. Faz questão de mostrar sua ficha no DOPS, quando, como diz, era “considerado um elemento dos mais perigosos”. Estar ali, falar de Cuba, rever amigos e conversar é algo que não abre mão. “Ainda mais quando tenho a possibilidade de conhecer novas pessoas, idéias próximas”, conclui.
Outro na mesma situação era o também escritor e jornalista Mário Augusto Jacobskind, um conhecido nome na imprensa nacional, desde os áureos tempos da resistência à ditadura militar. Fez fama na Tribuna da Imprensa e hoje escreve regularmente para o Direto da Redação (www.diretodaredacao.com). Na irreverência da noite não se fez de rogado e chegou a dançar embalado pela salsa. Muitos seguiram os mesmos passos, como Rita Alves, funcionária do Banco do Brasil e diretora do Sindicato dos Bancários do RJ. “Além de reencontrar pessoas, o clima alegre cubano, uma união de gente pensando na mesma direção. Uma conversa é engatada em outra, tudo produtivo”, diz.
No final da apresentação musical, um dos músicos, o cubano e hoje professor de Química Analítica da UFF – Universidade Federal Fluminense, Sérgio Jerez, 49 anos é um dos poucos ali com algo destoando do discurso predominante no local, pois mesmo não sendo um dissidente, diz ter tido problemas nos retornos à ilha. “Fiquei dez anos sem poder retornar e hoje, não posso mais lá residir. Posso permanecer no máximo um mês, com pequena prorrogação. Vou agora, rever meu filho e parentes. Cuba mudou muito, eu também. Canto junto do grupo, pois os laços nunca se desfazem. Aqui têm cubano e brasileiro, nossas reuniões são em festas, encontros e todos sempre dançam bastante”, diz.
A festa tinha hora para terminar e alguns passaram do previsto, luzes foram apagadas e permaneceram mais um tempo no estacionamento, papeando e terminando conversas iniciadas e já remarcadas para outros reencontros. Arthur Poerner foi um desses, o garoto Arthur e Rita, sua mãe outros. Quem fecha o salão, faz os acertos finais e praticamente apaga a luz é Pasqual. Na despedida de todos, já na calçada, um grupo saiu caminhando a pé no sentido do Palácio do Catete, outros se juntaram em caronas e todos com a certeza de Cuba ser mesmo um bom motivo para continuarem se revendo. É o que fazem várias vezes ao longo dos anos.
Em tempo: A festa ocorreu no último 21/12,sexta, das 19 às 23h30.
Em tempo: A festa ocorreu no último 21/12,sexta, das 19 às 23h30.
7 comentários:
Muito bem retratado. Legal mesmo!
abraço , boas festas e feliz 2013
mario augusto jakobskind
e voce ta ai feito um pinto no lixo.
lazaro carneiro
HENRIQUE,
estive em Cuba, fui apresentar trabalho na Universidad de Matanzas, aliás autorizei a edição de meu livro de metodologia das ciências na Universidad de Pinar del Rio.
Abs.
MURICY DOMINGUES
ps - conheci Cuba onde turista pode ir.
fiquei a imaginar essa festa!! conversas infinitas....
Bruno Lopes
Henrique,
O texto postado em seu Blog, www.mafuadohpa.blogspot.com, é muito oportuno. Abre mais um canal para prestar solidariedade a Cuba. Agradeço imensamente sua presença, de sua namorada e prima, na festa que fizemos. Pela mensagem, percebe-se que o sacrifício de vir de Bauru para o evento foi amplamente compensador. A lamentar, minha impossibilidade de maior atenção a vocês. Teriam contatado pessoas dignas do maior respeito e carinho, a começar pela presidente da ACJM-RJ: professora Zuleide Faria de Melo. Ela sim, a grande regente da festa. Felizmente, apesar do cansaço, Morritos e Skol, aconteceu a saideira, pelas madrugas, no Buxixo, quando então pudemos papear um pouco. Retomaremos em breve nossas conversas.
Por fim, já que você nominou todos que teve oportunidade de conversar, informo que o bravo guerreiro filiado ao PT, chama-se Ricardo Quiroga e, também, que estou repassando aos amigos citados para, se o desejarem, opinar em seu Blog.
Abraço fraterno.
Pasqual Macariello
AINDA SOBRE O JANTAR CUBANO:
obrigado pelo seu comentário referente ao Niemeyer, que já postei no meu blogue. Também já li e gostei muito do que você escreveu sobre o jantar cubano aqui no seu blogue. Espero agora que você venha logo para que eu possa abraçá-los e autografar o(s) livro(s). Com os fraternais abraços para ambos do
Artur Poerner - Rio
caro Artur
Enquanto lia essa sua resposta corria os olhos por uma estante aqui em casa, onde possuo quase todos os livros da Codecri e como bem me lembro, o "Nas profundezas do Inferno", de sua autoria tem uma capa preta e foi fácil de achar por aqui. Na primeira página, como fazia com todos na época, está grafado quando o comprei, "fevereiro de 1982". Eu tinha 19 anos quando o comprei. Na parte interna da orelha, última página estão as datas onde os li, 1982, 1993 e 2004. Anotei algo ali: "lindo o capítulo 8, onde o preso presente que o soldado não entende dos motivos da prisão de um "dr", simplesmente por querer reformar o mundo".
Seu livro me impressionou muito e a capa foi uma das coisas que eu tinha realmente como uma imagem do inferno, a lança pronta para decepar o pescoço de um algoz.
Será um grande prazer estar contigo e levar o livro para o seu autógrafo, exatos 30 anos depois de comprado. Ainda estou hoje em Bauru, viajo terça à noite para o Rio e gostaria de te ligo no fone que me deixou no cartão.
Um grande abraço do Henrique Perazzi de Aquino - Bauru SP
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