segunda-feira, 25 de março de 2013

AMIGO DO PEITO (77)

SEU TONINHO DA AVE MARIA DE AYMORÉS E O PIMENTÃO ENVENENADO
Tem uns por aí que dizem não ter mais nada a aprender nesse mundo. Eu sempre tenho. Na beirada dos 53 sou um semianalfabeto, pouco sei, mesmo com tanta informação aqui do meu lado, uma infinidade de livros e essa internet sempre me proporcionando descobrimentos outros. Sábado passado, 23/03, visitei pela enésima vez o Assentamento de Aymorés, um local que antes até podia ser denominado “acampamento de sem-terras”, mas hoje com tudo legalizado, todos os mais de 400 lotes são todos dos que por lá resistiram até verem vingar a tal da reforma agrária. Ali ela aconteceu de fato e de direito. Existem problemas por lá, como em todos os outros desse torrão varonil, mas existem experiências valorosas de bom uso da terra e é sobre um desses casos que escrevo aqui. Lá estive com dois estudantes, a Débora e o Celso, irmãos, ela de Design e ele de Jornalismo. Não são de Bauru, são de uma cidadezinha vizinha de Piracicaba e os levei para conhecer o lote onde mora um personagem do local, o seu Toninho da Ave Maria. Um mineiro com 68anos, desses que quando se encanta com o oponente abre logo o coração e o papo não para mais. Foi o que aconteceu com a gente. Ele, depois de tentar várias frentes de trabalho, a última criando cabras, hoje tem 20 cabeças de gado e está enfiado praticamente o dia todo dentro de uma estufa, erguida por ele e o filho, o Zé Maria, um dos mais atuantes do local, peça principal do projeto Bambu/Taquara. Seu Toninho nos conta ter aprendido tudo nos cursos, tipo os que o Senai patrocina por lá e hoje é um especialista em sementes orgânicas. Planta tudo seguindo os ditames ensinados pelos técnicos e tira bons proveitos, pois hoje praticamente planta só por encomenda. Sua revolta é pelos belos cursos, gente de fora e especializada indo até lá e poucos se interessando. E depois, quando o calo aperta vão atrás dele para ver vomo as coisas se resolvem. Já tendo visto de tudo nessa vida, pra alguns ensina, pra outros espera padecer um bocadinho, para só depois dar a dica facilitadora.

Todos sempre saem encantados com tão magnífica pessoa. Quero ser breve e conto dessa vez só um causinho, ou melhor, uma dica dada por ele. Lá na estufa tem semente de quase tudo e disse para nós que o pimentão que é vendido por aí é o mais perigoso de todos. “Aqueles lindões, grandões, bem vermelhos, brilhantes, pode ter certeza são os mais envenenados. O pimentão é o que mais pega agrotóxico. É o que nos envenena mais, pois naquela casquinha linda, o produto do mal entra e não sai mais. Quando forem comprar pimentão comprem os mais pequenos, os mirradinhos, pois nesses os produtinhos não conseguiram o mesmo efeito dos demais. Façam isso com tudo, com as maçãs, as beterrabas, os chuchus, laranjas, e principalmente com os tomates. Depois os camaradas morrem tudo cedo, câncer que não acaba mais e não sabem o motivo. Eu sei”, relata. O susto foi grande e saímos todos de lá querendo mudar de vez os hábitos alimentares.

Seu Toninho pode muito bem ser o Consultor para Assuntos Alimentares de todos nós, mas não podemos abusar de tão ocupada pessoa. Por isso vou lá só de vezem quando. A Débora se encantou e já decidiu que irá fazer o seu TCC com ele e o irmão quer fazer uma grande matéria com ele, um documentário propiciando aos restantes dos mortais conhecerem tão edificante pessoa. É o menestrel do pessoal Com Terra lá de Aymorés, título conseguido não numa eleição como outra qualquer, mas pela sapiência dos anos vividos na labuta, uma enciclopédia ambulante e em constante ebulição. Pimentão daqui para a frente só com o crivodo seu Toninho, o da Ave Maria, o de Aymorés, o mineiro de Botelho.

9 comentários:

CUT/SP - SUBSEDE DE BAURU: disse...

Caro amigo Henrique: Conheço esta figura fantástica. Sr. Antônio da Ave Maria e sua família, assim como muitos outros neste assentamento,fazem valer a pena a dura luta pela conquista destas terras. Aproveito seu post para convidà-lo a participar de um Seminário que vai acontecer no dia 14 de abril, lá no Barracação de Bambu, com objetivo de debater agricultura orgânica em questões como certificação, geração de renda e preservação do meio ambiente (e dos nossos órgãos..rsrsrs). Outros assuntos como experiências locais (projeto viverde e outros) e previdência rural também serão apresentados. Ao final, um churrasco de confraternização em comemoração (antecipada) pelo Dia Internacional dos Trabalhadores e das Trabalhadores), ao som da boa e velha viola. A atividade faz parte da programação do Primeiro de Maio 2013 que terá como tema "Desenvolvimento Econômico e Sustentabilidade". Aparece lá.

Anônimo disse...

Henrique,
me desculpe, mas esse senhor entender pouco ou quase nada de agricultura.
Voce está comendo gato por lebre.
Viriato

Anônimo disse...

Ei Henrique, assim vc me mata....rsrsrsrsrsrsr

Eu sempre tive um carinho muito grande por aquele assentamento. Nesta semana santa, quando por aqui as coisas são tão diferentes
Meu querido amigo, Deus lhe abençoe muito. Sua postagem hoje, foi uma RESPOSTA DO CÉU para meu coração. Obrigada!

Abraço fraterno
Rosa Morceli

Anônimo disse...

ele tem razão. um sem terra nunca deixa de ser sem terra é como o povo ebreu formou uma nova classe enquanto ouver um sem terra seremos sem terra diz a Lurdinha da reunidas. não existe a categoria com terra esta é uma idéia da burguesia rural para negar a categoria sem terra que é milenar.

padre Severino leite Diniz - Promissão SP

Anônimo disse...

Henrique, tudo que comemos é envenenado, ja faz um tempão escrevi isso sobre a laranja.

transgenia

Das escarpas que debruçam sobre mim,
Ou de um relevo que existe e não conheço,
seria das planices desfraldadas sem ter fim?
que vem morte lenta pela qual eu tenho apreço.

Quando sedento, se te encontro és saborosa
Toco-te com carinho e com desejo
És fofa, lisa ,adocicada e caldalosa
Destila em mim o seu veneno que não vejo

Corpo frágil que aperto, chupo e amasso
Beijo mortal que me envenena e me alucina
Lentamente eu também viro bagaço

Seja laranja, mexerica ou tangerina
Vou sorvendo minha morte passo a passo
Eis ai a minha rosa de Hiroshima

lázaro carneiro

Anônimo disse...

na proxima vou contigo...

JOSÉ EDUARDO ÁVILA

Anônimo disse...

Entender pouco ou quase nada de agricultura? Me desculpe você Viriato. Um homem que passou a vida toda na roça, conhece muito mais do que qualquer técnico que só reproduz os ensinamentos da monocultura, do lucro a qualquer preço e da exploração do meio ambiente sem medir consequências. Ou não é exatamente isso que as faculdades de agronomia tem ensinado por aí? Qual o melhor agrotóxico? Qual o melhor herbicida? Soja é que dá lucro! Eucalípto é o futuro! Como definir ações de sustentabilidade para certificar empresas que de sustentáveis não têm nada! Como convencer comunidades rurais a parar de plantar para "alugar" suas propriedades para se tornar verdadeiros desertos verdes por meio de monoculturas degradantes: Cana, eucalípto... Sua impressão sobre o Sr. Antônio da Ave Maria está carregada de preconceitos: Um senhor semi-analfabeto, pobre e sem terra e que passou a vida inteira na roça sem ganhar muito dinheiro, não pode entender nada de agriculutura! Pra mim está claro quem é que está comprando gato por lebre.

João Andrade

Anônimo disse...

é preciso ter humildade e não ensino ou dinheiro pra aprender com seu toninho. nem todas as pessoas dispoem desta disponibilidade. vale o caco.
ana bia andrade

Henrique disse...

Meus amigos, eu até iria responder ao tal do Viriato, mas diante do que o João Andrade e a companheira Ana Bia já o fizeram, prefiro me calar, pois me sinto totalmente contemplado pelas respostas dadas a ele.

Aos demais que comentaram por aqui, meu respeito e consideração e olhando bem para os pimentões consumidos daqui para a frente.

Abracitos do

Henrique - direto do mafuá