BAURUENSE E CIPRIOTA VIVENDO NO CHIPRE, OLHO DO VULCÃO, RELATOS DO CAOS
Cartas demoravam tempo indeterminado para atravessar o Atlântico. Hoje tudo é num vapt-vupt, como um raio cruzando os céus e já estamos lendo o que nos postam do outro lado do mundo numa rapidez inimaginável no século passado. Ontem ao ouvir alarmantes noticiários, que a situação na ilha de Chipre estava um caos, batuco um texto para a bauruense lá residente, a fotojornalista Luciana Franzolin. Ela havia optado por morar na Europa décadas atrás, escolheu Londres como porto seguro e por lá tocou a vida, conheceu um cipriota, o também fotojornalista Alex Mita. Ano passado retornou de passeio à sua aldeia, Bauru SP, trazendo consigo Alex e era nítida a reclamação de ambos sobre a situação europeia, fruto das injustiças cometidas pela insensibilidade da cruel trinca a dominar a Europa atual, a Troika, junção maligna contendo o FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia.
Envio um e-mail, querendo saber notícias e recebo como resposta isso: “Sim, a situação no Chipre é de entristecer, e acabou adiantando a nossa volta ao Brasil, dia 16 de abril, de vez. Estive morando lá nos últimos três meses. Encaminhei pra você um relato que o Alex fez na terça, 19, hoje até piorado”. O sonho europeu nunca acaba, mas o retorno a um país em ascensão é algo que muitos gostariam de fazer. Eles o fazem.
O relato de Alex está na íntegra e não deixa dúvidas, a Europa está se esfacelando, sendo derretida a fórceps por alguns poucos possuidores de mais valia, em detrimento da maioria detentora de menos valia. Leiam:
“Fotojornalista Cipriota casado com bauruense relata através de imagens a atual crise na Ilha do leste do mediterrâneoChipre é o quinto pais do bloco Europeu a pedir ajuda.O meu pais já passou por sua quota justa de sofrimento. Da revolução contra os Britânicos na década de 50, à violência interna entre grego-cipriotas e turco-cipriotas, e finalmente à invasão turca na década de 70 que resultou na divisão da ilha entre a parte ocupada pela Turquia no norte (não reconhecida internacionalmente) e a Republica do Chipre ao sul (desde 2004 parte da União Europeia).
Como fotojornalista, tive a sorte de cobrir acontecimentos em tempos melhores. Estive presente quando duas passagens da zona ocupada pela ONU que divide o país, a Green Line, foram abertas pela primeira vez para os dois lados, grego e turco, em 2003. Fotografei também a ocasião da queda definitiva do muro que dividia o centro da capital Nicósia em 2008. As pessoas eram felizes nesta época.
No momento atual, os cipriotas estão passando pela pior crise financeira desde a Guerra de 1974. Os bancos do país estavam perigosamente expostos à Grécia, que recebeu por sua vez resgate financeiro em duas ocasiões.
A união europeia ofereceu um pacote de 10 bilhões de euros para resgatar o Chipre e salvar o país da falência. O acordo foi feito apos reuniões em Bruxelas entre os ministros e o Fundo Monetário Internacional. Em retorno, foi pedido ao Chipre que cortasse o seu debito, encolhendo o setor bancário e aumentando os impostos. Os cidadãos cipriotas entraram em pânico. Houve filas imensas em caixas eletrônicos e todos tentaram sacar o maior valor possível. As notas se esgotaram e os bancos permanecem fechados até quarta. O que chocou os cipriotas foi que como parte deste acordo, teriam que pagar uma percentagem de suas poupanças bancárias.
A união europeia ofereceu um pacote de 10 bilhões de euros para resgatar o Chipre e salvar o país da falência. O acordo foi feito apos reuniões em Bruxelas entre os ministros e o Fundo Monetário Internacional. Em retorno, foi pedido ao Chipre que cortasse o seu debito, encolhendo o setor bancário e aumentando os impostos. Os cidadãos cipriotas entraram em pânico. Houve filas imensas em caixas eletrônicos e todos tentaram sacar o maior valor possível. As notas se esgotaram e os bancos permanecem fechados até quarta. O que chocou os cipriotas foi que como parte deste acordo, teriam que pagar uma percentagem de suas poupanças bancárias.
Na noite de 19 de Marco, o parlamento cipriota rejeitou a proposta da União Europeia. Centenas de pessoas que estavam protestando do lado de fora do parlamento comemoraram quando a decisão foi anunciada. Mas a realidade é que estamos de volta à estaca zero. Na noite passada, rumores indicaram que o pacote revisado provavelmente será aceito, afetando poupanças bancarias com mais de 100 mil euros.
O futuro do Chipre é incerto, mas uma coisa é certa: os bancos do país perderam toda a credibilidade e são os cipriotas que, mais uma vez, vão sofrer as consequências”.
Alex Mita é casado com a fotojornalista bauruense Luciana Franzolin, ex Jornal da Cidade. O casal, que se conheceu e morou por dez anos em Londres, se encontra atualmente na ilha de Chipre em meio à turnê europeia de sua escola de fotografia itinerante, a World Photo School, que passou por Bauru em Outubro de 2012.Todas as fotos são do Alex, tiradas durante o protesto em frente ao Parlamento Cipriota na noite de 19/03 e com autorização de publicação.
4 comentários:
lu e alex sempre queridos. de volta a bauru. esperamos com saudades. beijos da ana bia
Henrique
A situação deles não deve ser confortável. Sabemos tão pouco do Chipre e de uma hora para outra tudo nos é revelado via TV, como mais um país que deve seguir a mesma situação da Grécia. Por que os países mais ricos da Europa não se juntam todos e não deixam isso acontecer? Por que sempre os mais ricos sempre viram as costas para os que mais precisam? A Alemanha não tem nenhuma sensibilidade com isso e parece ter esquecido de todos os problemas por que já passou. Esse casal terá todas as oportunidades na sua volta ao Brasil.
Alvarenga
Solidarizo-me com o casal, parabenizo Alex Mita pelo relato e pelas fotos e lhe agradeço imensamente, caríssimo Henrique, pelo excelente trabalho que Você despeja sem descanso na tela de seus privilegiados amigos e leitores.
Marcos Carlson
O que mais me anima nisso tudo é que em todas manifestações há uma foto do CHE na multidão.
Lázaro Carneiro
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