FAMILIARES REFLEXÕES DE
UM PAI NUM DOMINGO, DIA DOS PAIS
Hoje um dia
muito especial para mim, família quase toda reunida aqui em casa, ao lado de
meu pai, seu Heleno, um jovem ferroviário aposentado, 85 anos (completados no
último dia 06/agosto), comendo nhoque como Helena aprendeu com nossa saudosa mãe, churrasqueando e jogando conversa fora.
Queria muito começar a contar hoje minhas histórias portenhas, após 14 dias na
Argentina, mas no furdunço de minha vida, não consigo encontrar tempo. Ele urge
e o que menos tenho tido é um tempinho livre para divagar. Esse agora busco me
esquivando entre as conversações entre uns e outros. No centro de tudo, meu
pai, um retinto senhor, que tanta coisa me ensinou e ainda me ensina. Dia
desses, vista cansada, continua assinando os jornais da cidade e me disse mais
ou menos isso: “Continuo a ler para ver se encontro um bom concluso para você fazer”.
E a cada dia me apresenta uma sugestão nova. Sua frase lapidar, da qual não me
afasto e repito para tudo e todos é: “Desconfie dos moralistas. Esses os piores”.
Vivo uma sui
generis situação, tudo por causa dele. Vivo em duas casas, uma com ele e outra
com Ana. Tempo lá, tempo cá. Cama lá e cama aqui. Ainda não consegui um meio de
unificar isso tudo e convivo harmoniosamente com essa divisão equitativa. No
mafuá, que nada mais é do que dois cômodos em sua casa, junto minhas coisas,
tralhas para muitos, mas imprescindíveis para mim. Trago novos papéis a cada
dia e ele vai me vigiando, deixo tudo com ele para a primeira inspeção, a
leitura inicial e só depois volta para mim. Alguns retornam com anotações e
flechinhas, frases grafadas. Guardo tudo como uma espécie de tesouro.
Por aqui,
hoje meus irmãos e alguns amigos próximos. Dentre todos esses amigos, meu
filho, meu orgulho (meu e de sua mãe, Cleonice). Esse meninão me dá uma
canseira. Eu corro demais, quero bater escanteio ede fazer gols e já não leio
como antes, enfeitiçado por essa telinha de computador. Ele não, pois soube
dividir as coisas e mais lê do que viaja interneticamente. E como lê. Vem
debater comigo e vem preparado. Passo verdadeiros apertos para acompanhar seu
raciocínio e acho isso lindo. Nunca incutimos nele religião nenhuma, pois se quiser
o fará quando achar conveniente e se o achar. Outro dia me apareceu aqui com um
Alcorão e queria conversar. O decepcionei, nunca havia lido tal lido., Tive uma
aula. Semana passada apareceu com um livro sobre os mórmons e me disse que eles
acreditam que os brancos dominavam a América antes dos índios, que os
expulsaram e depois, foram expulsos por esses. Tudo para explicar a supremacia
branca sobre a nativa. Cada religião cria algo, inventa e depois sacramente num
livro, eis sua teoria.
Ontem a
discussão de horas foi sobre o sistema de cotas. Ficamos horas debatendo e
disse-lhe que duas pessoas poderiam lhe ajudar muito. Roque Ferreira, contra e
Duílio Duka, a favor. Eis que Duka aparece em casa e confabularam de um jeito
divinal. Outro dia, almoçando no centro, nós três, meu pai, eu e ele,
encontramos o professor Rubens Colacino e esse, espírita fez uma defesa estranha
contra o aborto. Quis encerrar o tema afirmando que quem decide sobre isso não
seriam nós, homens e sim, elas, as mulheres, donos do seu próprio corpo. Rubens
fazia uma entusiasta defesa contra e meu filho, escutando e rebatendo.
Permanecemos no restaurante além da conta. O cara queria fechar as portas, o
azulzinho quase me multou e o assunto não se esgotava.
Poderia
falar de mais pessoas, as que estiveram aqui em casa hoje. Meus irmãos, Edson e
Helena, seus filhos todos, namorados e esposas, filhos desses. Da Ana, que me
defende até debaixo d’água, da Rose Barrenha e do Carioca da Banca da Feira do
Rolo, que por aqui almoçaram. Falamos de livros, de viagens, de política, de
sexo, da vida dos outros, de comida, sacanagens, estátuas, filhos, pais,
música, religião, pendengas, frio, etc e etc. Ninguém se alterou, ninguém brigou,
ninguém precisou sair do prumo, rimos muito e quando todo mundo escapuliu,
barrigas e mentes mais do que cheias, fico eu limpando a churrasqueira e
contemplando como a vida pode ainda ser muito bela.
Eu sou um
cara feliz, ranzinza, como meu primo Beto ressaltou outro dia, mas isso é mais
do que normal. Se mudar meu jeito de encarar a vida após tanta água ter passado
por debaixo desse moinho, acho que não seria mais eu, perderia o sentido da
vida. Enquanto escrevo, Ana dorme, papéis se acumulam sobre a mesa, revistas e
livros se avolumam esperando serem lidos, meu filho segue para a rodoviária
(vai estudar em Araraquara), meu pai cochila sentado na sua poltrona preferida debaixo
de um cobertor, a TV está ligada num jogo desinteressante (Santos X Cruzeiro),
um friozinho adentra porta adentro e resolvo parar tudo para dar uma espiada no
presente que ganhei do meu filho. Ele me disse textualmente: “Pai, daqui para
frente decidi, tendo que presentear, só
darei livros”. Ganhei um catatau de 871 páginas, o “Textos Caribenhos – Obra jornalística
– 1948/1952”, do Gabriel Garcia Márquez, editora Record e se não me esforçar
não o lerei num curto espaço de tempo. Vou me esforçar, mas nesse momento,
queria fazer o mesmo que meu pai, entrar em baixo de um cobertor e tirar uma
soneca.
5 comentários:
Henrique
Que gostoso ler um texto desse falando bem da família.
Eu estou com a minha, mas meus pais estão aí em Bauru e eu longe daí, voltando cada vez menos e nesses dias sinto muito falta de todos, meus irmãos, meus primos, minhas tias e principalmente de minha mãe. Meu pai infelizmente já se foi. Tenho lembranças memoráveis com ele e ao ler seu relato, os conselhos que te dá até hoje, tudo foi reavivado na minha memória. Ele fez o mesmo comigo até o último dia de sua vida.
Parabéns pela sua família.
Parabéns pelos seus textos.
Vindo aqui para a região de Prudente me contate, para batermos aquele papo e colocarmos as conversas em dia.
Hoje é um dia muito triste para mim, mas me senti mais alegre ao ler seu texto.
Paulo LIma
Belo texto, Henrique...
Parabéns para vc e para seu pai...
Ana Sanches
Gostei! Parabéns para todos os pais!
Angela Caputo
Ah, que agradeço tanto amor desta familia, especialmente hoje,dia dos pais, sózinha e solitária em casa. Não fossem os amigos, o que seria de mim?
Rosângela Barrenha
Velca Cavalcante Muito bonito Henrique Perazzi de Aquino !! Parabéns pela sua família !! Aproveite seu dia !!
11 de agosto às 13:10 · Curtir
Sônia Brandão Parabéns. Feliz Dia!
11 de agosto às 14:06 · Curtir
Moacir Puga Luz prcês, meus véios!
11 de agosto às 17:52 · Curtir
Helena Aquino Belo trio !!!!!
11 de agosto às 21:32 · Curtir
Agnaldo Lulinha Silva Parabéns Henrique e muito bom ter um pai e ser companheiro e ser uma familia unida
12 de agosto às 07:43 · Curtir
Eliza Carulo linda familia abraços saude pra vcs.
12 de agosto às 19:43 · Curtir
alguns comentários via facebook
Henrique - direto do mafuá
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