segunda-feira, 26 de agosto de 2013

RETRATOS DE BAURU (144)


SEBASTIÃO VENDE AOS 78 ANOS, SORVETE PELAS RUAS E DE BICICLETA
Na última sexta eu passava pela rua aviador Gomes Ribeiro, atrasado para fazer um serviço bancários, momentos antes do banco fechar, mas tentado pelo que vejo, estaciono o carro e esqueço da vida. Faço isso regularmente quando tocado por algo das ruas. Perdi o serviço bancário, mas não perdi a oportunidade de conhecer um personagem das ruas bauruenses, um que perseguia a dias e não havia ainda surgido o momento acertado de conhece-lo melhor. O momento era aquele, o local ali e foi o que fiz.

SEBASTIÃO FERREIRA DA SILVA é um senhor do alto dos 78 anos e pedalando sua bicicleta pela cidade, não como lazer, mas usando-a como complemento de renda. Sai diariamente do Jardim Chapadão e vai até as imediações da Prefeitura Municipal, onde ao lado está a Pinguim Sorveteria (uma das melhores da cidade). Roda diariamente de 22 a 23 kms dia, tudo para vender sorvetes e 30 kms aos finais de semana, quando vai e volta com ela para casa. Fez mais, instalou um velocímetro no seu instrumento de trabalho e ali registrado o pedalar diário, são exatos 7hm30 de casa ao local do trabalho. Com 5 filhos, renda de pouco mais de uma salário mínimo, não se intimida pela idade, mas sim, pela necessidade. Enfrenta tudo galhardamente as agruras da vida, fazendo questão de usar o motor da sua potente só para as subidas. Deixa em pessoas como esse escrevinhador, que aos 53 anos não pedala nada e anda muito pouco, uma mensagem de que algo precisa ser feito. Seu Sebastião é um DIGNO representante dessa cidade dentre os que resistem e insistem. Nada como começar a semana reclamando menos e olhando mais para as dificuldades muito maiores dos nossos semelhantes.

OBS.: Quando paro o carro na rua, eis que surge Sílvio Rodrigues, da revista Já, que também conhecia seu Sebastião. Esse me envia o texto, “Nossa Gente 171”, com o título “Aos 78 anos, ele pedala 23 quilômetros por dia - Aos sábados e nas segundas-feiras, a distância alcança 30 quilômetros”. Um escrito com a mesma visão da minha, que faço questão de juntar ao meu: “Entre a Praça das Cerejeiras e o Jardim Chapadão há uma distância de sete quilômetros e mais trezentos metros. Quem garante a precisão da distância é o sorveteiro Sebastião Ferreira da Silva. Em segundos, ele revela o segredo: em sua bicicleta, há um medidor de distância. E aí vem outra novidade: de segunda a sexta ele percorre, em média,  23 quilômetros. Conclusão óbvia: aos sábados, ele pedala 30 quilômetros. É fácil entender o cálculo: de segunda a sexta, a bicicleta permanece no posto de trabalho da filha, na região da Praça das Cerejeiras. Aos sábados, após percorrer os tais 23 quilômetros, ele retorna para casa pedalando. Assim, são  mais sete quilômetros. Ah! Na segunda-feira pela manhã, ele vai do Jardim Chapadão à região da praça pedalando. Nesse caso, podemos dizer que pedala 30 quilômetros também na segunda-feira.  Por volta das 9 horas da manhã, ele começa seu itinerário que começa pelas ruas Araujo Leite e Aviador Gomes Ribeiro. Na sequência, ele segue pela alameda Octávio Pinheiro Brizola. Aí, sim, ele entra em alguma rua com acesso à região do Bauru Shopping. No roteiro, está a avenida Nações Unidas entre a sede da OAB e o Confiança Flex, com um trânsito absurdo o tempo todo. Sebastião Ferreira pedala em frente ao Residencial Camélias até alcançar a avenida Duque de Caxias pela qual  retorna ao ponto inicial. O mais incrível vem agora: ele tem 78 anos de idade. É isso mesmo! Aposentado por idade, com os filhos criados, ele quer trabalhar ainda mais agora com a temperatura  voltando a subir. É uma forma de ganhar um dinheiro a mais e sentir-se útil, algo fundamental para ele que passou a maior parte da vida trabalhando em Bauru  nas mais diversas atividades. A esposa e os filhos ficam desesperados  diante do trânsito de Bauru. Mas ele garante que dribla os carros e respeita a sinalização”.

Esses textos saem também hoje no facebook, na série Personagens sem Carimbo – O lado B de Bauru, edição 243.

3 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns ao senhor Sebastião. Grande exemplo de vida!
Manoel Carlos Rubira

Anônimo disse...

olá amigo,
esses tipos de pessoas que anteriormente habitavam as cidades, foram por força do "progresso" deixando de existir;.
Tenho na minha lembrança de ainda menino, ser despertado pelo vendedor de sorvete da KIBON, em suas carrocinhas, que se espalhavam pela cidade e que faziam as alegria da meninada da rua. Era uma correria só quando ele apontava e começava a gritar,OLHA O SORVETE , QUEM VAI QUERER SORVETE DA KIBON
Essas e outras figuras vivem muito presentes em nossa lembrança, que raramente podemos encontrar e nos fazer voltar no tempo. Eu era feliz e não sabia....

um forte e fraternal abraço carioca
Paulo Humberto Loureiro - Rio RJ

Anônimo disse...

Parabéns pela matéria do senhor Sebastião,me fez refletir sobre como na nossa correria não notamos as coisas mais simples das nossas vidas,não percebemos a presença das pessoas,temos dificuldades em conhecer até mesmo as pessoas que estão mais próximas,conhecer suas aflições.E se não fizermos isso agora ,não teremos mais tempo...
Susy da Silva