Explico dos motivos. Primeiro, quem me envia texto sobre essa inusitada junção, BAC-NOROESTE e final da Copa de 50 foi o amigo paulistano FRANCISCO BONADIO COSTA. Ele, um aposentado banespiano, fã número 1 de Tito Madi, de rádio, nostálgico por natureza e pirajuiense de nascimento. Resgata esse texto abaixo, me encaminha via e-mail e hoje o reproduzo. Pois é, o BAC jogava com o Noroeste no mesmo dia da final da Copa de 50, algo impensável hoje, mas não nos anos 50. Um belo resgate, podendo ser lido abaixo e do jeito que recebi:
BAC, o time que sorria quando a nação chorava
Há exatos 58 anos, quando o Brasil perdia a decisão da Copa do Mundo, em casa, diante do Uruguai, no episódio conhecido como “Maracanazzo”, um outro escrete, também vestido de azul, celebrava uma importante vitória em Bauru. Com um gol, marcado por Gino Bacchi, simultaneamente ao tento uruguaio que decretou o silêncio no País, o Bauru Atlético Clube vencia o dérbi caseiro contra o Noroeste. Pelas ondas curtas do rádio, a torcida que lotava as rústicas arquibancadas do extinto campo da rua Rio Branco ouvia a “tragédia” da seleção, e, ao mesmo tempo, cantava o triunfo sobre o tradicional rival
Luiz Beltramin
A data é 16 de julho de 1950. O clima de festa se espalha pelos quatro cantos do País, que, precipitadamente, comemora a proximidade do que poderia ser o primeiro título mundial da seleção brasileira. Em Bauru, a euforia é ainda maior. Além dos ouvidos atentos ao que se passa no Maracanã, boa parte dos torcedores locais têm um importante compromisso. No mesmo instante em que Brasil e Uruguai decidem a Copa do Mundo no Rio de Janeiro, a cidade também respira o clima de rivalidade caseira. Em campo, no antigo estádio “Antônio Garcia”, o Bauru Atlético Clube (BAC) recebe seu tradicional rival, o Esporte Clube Noroeste, em partida válida pela segunda divisão dos profissionais no Estado, o que seria, nos moldes atuais, a Série A-2 do Campeonato Paulista.
Enquanto 200 mil torcedores lotam o gigantesco Maracanã, cerca de quatro mil apaixonados abarrotam o campo do BAC. No Rio de Janeiro, a seleção brasileira poderia até mesmo empatar com a Celeste Olímpica, que garantiria a taça do mundo. No “duelo caipira”, apenas a vitória interessava, para ambos os lados. O Brasil inteiro colou os ouvidos no rádio. No estádio do BAC não foi diferente. Com um sistema de som - guardadas as devidas limitações técnicas da época - instalado num setor das arquibancadas, com boa parte delas com estrutura de madeira, os torcedores bauruenses puderam acompanhar o que acontecia em ambas as partidas, simultaneamente. Fim do primeiro tempo. Os dois jogos estão empatados sem alterações no marcador. No Rio de Janeiro, os uruguaios estão com os brios provocados pela euforia antes da hora no Brasil, onde jornais chegaram a estampar a “vitória de véspera” do escrete “canarinho”. “Estes são os campeões do mundo”, bradava o extinto jornal “O Mundo”, um dia antes do jogo que seria marcado como a maior tragédia brasileira em mundiais, o famigerado “Maracanazzo”. Tem início o segundo tempo, tanto no Rio de Janeiro quanto na disputa caseira em Bauru. Logo no começo da etapa complementar, explosão nacional. Friaça, jogador do São Paulo, abre o placar para o Brasil no Maracanã. Tudo caminhava para um desfecho feliz, que seria ainda mais festivo em caso de vitória no jogo de Bauru, seja para celestes ou alvirrubros.
Mas o futebol, ao mesmo tempo em que é apaixonante, tem sua faceta cruel. Sem se deixar abater pela festa precoce do Brasil, os uruguaios pegaram a bola no fundo do gol e levantaram a cabeça. Obdúlio Varela, capitão da Celeste Olímpica que havia forrado o vestiário com os jornais que enalteciam o time brasileiro, logo após sofrer o gol, anuncia, confiante: “Agora sim, vamos ganhar a partida.” Promessa cumprida. Aos 21 minutos, Schiafino empata. Mesmo com o resultado igual garantindo o título ao Brasil, o Maracanã se cala. No campo do BAC, a preocupação também marca presença, embora ligeiramente ofuscada pela acirrada disputa, que teimava em continuar com o placar em branco. Faltavam dez minutos para o final das partidas. No Rio de Janeiro, o golpe derradeiro. Nas costas do lateral brasileiro Bigode, o ponta uruguaio Ghiggia recebe a bola. Na entrada da área, ele ameaça cruzar, mas prefere chutar direto e manda a bola entre o eternamente crucificado goleiro Barbosa e a trave. Uruguai 2 a 1.
Bauru, cerca dos 35 minutos também do segundo tempo. O ponta Gino, do BAC, recebe e parte para o ataque acompanhado pelo marcador noroestino Zulu. O atacante insiste pela ponta e experimenta arriscar. A bola vai para o centro do gol, na parte alta e central, com endereço certo, sem chances para o goleiro Chiquinho, e vai dormir no fundo da rede alvirrubra - BAC 1 x 0 Noroeste. Enquanto uma nação chorava atônita, um pequeno grupo de celestes bauruenses cantava a vitória. No Rio de Janeiro, os uruguaios deixam o estádio, rumo a Montevidéu, com a taça Jules Rimet em mãos, sem dar a tradicional volta olímpica. O clima de velório, proporcional ao “maior estádio do mundo”, não condizia com qualquer tipo de festa, mesmo que uruguaia. Para a fatia noroestina em Bauru então, pior - dor de cabeça dobrada. “Como torcedor do Noroeste saí com a cabeça inchada duas vezes”, testemunha o jornalista e historiador Luciano Dias Pires. Alvirrubro fanático - anos depois tornou-se diretor do Noroeste - Pires foi testemunha ocular dessa partida, que entrou para história da cidade ao contrastar a tristeza do “Maracanazzo” com a euforia dos jogadores e torcedores do saudoso Bauru Atlético Clube. Ele recorda dos tempos de rivalidade, quando os jogadores davam o sangue para vencer o dérbi bauruense. Exemplo dessa abnegação é o do autor do gol do BAC, que jogou improvisado na ponta-direita e não decepcionou seus companheiros e torcedores. “O Gino jogava até machucado”, elogia Luciano, que, rivalidades à parte, cultiva antigo vínculo de amizade com o ex-defensor do Bauru.
Fatídico para os alvirrubros, feliz para os celestes, o gol da vitória do BAC surgiu dos pés do polivalente zagueiro, que, naquele 16 de julho, se tornou atacante. Com a contusão do jogador Demais, o ponta titular, Gino se prontificou a substituí-lo, convencendo o técnico Valdemar de Brito a escalá-lo adiantado. “Fui para o jogo na ponta-direita, sempre marcado pelo Zulu (zagueiro do Noroeste)”, detalha o autor do célebre gol. Bacchi, apesar de defensor de origem, descreve a “vontade” exagerada dos marcadores nesse clássico. “O Zulu era daqueles que batia até na alma”, diverte-se o ex-jogador, que faz questão de narrar o feito. “Sabia que ele (Zulu) marcaria em cima, sempre quando eu tentasse avançar pela ponta. Então, procurava trabalhar mais pelo meio, com o Dondinho (João Ramos do Nascimento, pai de Pelé)”, detalha Bacchi, ao descrever o momento em que enganou a defesa noroestina. “No final do jogo, o Zulu achava que eu tentaria novamente o meio, foi quando, pela primeira vez no jogo, fiz como o de costume, fui pela ponta e chutei. A bola passou entre a trave e a mão do Chiquinho”, recorda o autor do gol, em meio às gargalhadas. Segundo Gino, o BAC abriu o placar contra o Norusca exatamente ao mesmo tempo em que Ghiggia decretava o silêncio sepulcral no Maracanã. “Comemorei muito. Fiquei triste com a derrota da seleção brasileira, mas, ao mesmo tempo, me senti muito feliz com o gol da vitória”, admite Gino, que, anos mais tarde, já com o fim do BAC, também se tornou dirigente noroestino.
O clássico regional, embora realizado simultaneamente à final da Copa do Mundo, não ficou totalmente fora dos holofotes em âmbito nacional. Em sua edição de 17 de julho de 1950, no dia seguinte ao fiasco brasileiro no Maracanã, o jornal paulistano “A Gazeta Esportiva” noticiava, logo abaixo à manchete de página “Uruguai Campeão do Mundo”, a nota : “O Clássico de Bauru - Vitoriou-se o Bauru A.C. pela contagem mínima”. A nota ainda salientava o páreo duro entre os rivais: “... o que serve para atestar o equilíbrio reinante nas duas fases da partida.”, descreveu o jornal paulistano, cujo exemplar é guardado junto a outras edições de um grande acervo, mantido com total esmero por Pires, em seu apartamento. Tanto ele quanto Bacchi, apesar de lamentarem o fim do BAC, concordam que a cidade não teria condições de ter dois times em evidência, anos mais tarde, nos cenários nacional e estadual. “A cidade, a exemplo da maioria, não conseguiria manter dois times. O Noroeste subiu antes para o ‘futebol maior’ (primeira divisão estadual) e deslanchou. Se fosse o contrário, talvez o BAC permanecesse e o Noroeste não”, supõe o historiador.
Mesmo com a fusão da maior parte dos torcedores em torno do Noroeste, com o fim das atividades futebolísticas pelos lados da rua Rio Branco, testemunhas e protagonistas dos saudosos “dérbis” asseguram que ainda é possível encontrar vestígios da antiga rivalidade. “Tem muita gente aqui em Bauru ainda que ‘seca’ o Noroeste”, aponta Pires, citando as provocações entre baqueanos e noroestinos. “Em certa ocasião, o BAC perdeu de nove para a Prudentina e torcedores do Noroeste apareceram com um saco de cobras, já que o nove no jogo do bicho é cobra”, diverte-se, ao lembrar também ocasião em que baqueanos provocaram os alvirrubros com carneiros, em alusão a uma derrota de sete sofrida contra a Ferroviária, de Assis.
O Rei de pés descalços
Provocações à parte, ele confessa “espiadas” em jogos do rival no extinto estádio Antônio Garcia. “Eu, assim como muitos outros noroestinos, íamos assistir aos jogos do infanto-juvenil para ver o Pelé”, confessa, sem deixar de mencionar a vibração para os times adversários do BAC após a preliminar com a presença do futuro “Rei”. Ginno Bacchi também é testemunha do surgimento do gênio, muito antes do mito. Colega de Dondinho, o zagueiro do BAC era acompanhado, quase que diariamente, na saída dos treinos, por um garoto que, poucos anos mais tarde, despontaria como o maior de todos. “Na saída do treino, íamos embora eu, Dondinho e o Pelé, ainda bem moleque, com oito ou nove anos, todos a pé”, recorda Bacchi. “Entre o estádio e o lugar onde morávamos (região da avenida Rodrigues Alves) haviam poucas casas. Ele (Pelé) sempre petecava uma bolinha de tênis. Um dia, disse para o Dondinho que tiraria a bola do garoto (imita o gesto de um tranco com o ombro). O pai concordou e cheguei no Pelé, que, mesmo muito menino, se livrou, petecou a bolinha no pé, joelho, ombro e cabeça, saindo para o outro lado sem deixar a bola cair”, conta, impressionado com a habilidade do garoto que, anos mais tarde, ajudaria o País a celebrar seu primeiro título mundial, desta vez, com alvirrubros e baqueanos entoando o mesmo coro de campeão.
Há exatos 58 anos, quando o Brasil perdia a decisão da Copa do Mundo, em casa, diante do Uruguai, no episódio conhecido como “Maracanazzo”, um outro escrete, também vestido de azul, celebrava uma importante vitória em Bauru. Com um gol, marcado por Gino Bacchi, simultaneamente ao tento uruguaio que decretou o silêncio no País, o Bauru Atlético Clube vencia o dérbi caseiro contra o Noroeste. Pelas ondas curtas do rádio, a torcida que lotava as rústicas arquibancadas do extinto campo da rua Rio Branco ouvia a “tragédia” da seleção, e, ao mesmo tempo, cantava o triunfo sobre o tradicional rival
Luiz Beltramin
A data é 16 de julho de 1950. O clima de festa se espalha pelos quatro cantos do País, que, precipitadamente, comemora a proximidade do que poderia ser o primeiro título mundial da seleção brasileira. Em Bauru, a euforia é ainda maior. Além dos ouvidos atentos ao que se passa no Maracanã, boa parte dos torcedores locais têm um importante compromisso. No mesmo instante em que Brasil e Uruguai decidem a Copa do Mundo no Rio de Janeiro, a cidade também respira o clima de rivalidade caseira. Em campo, no antigo estádio “Antônio Garcia”, o Bauru Atlético Clube (BAC) recebe seu tradicional rival, o Esporte Clube Noroeste, em partida válida pela segunda divisão dos profissionais no Estado, o que seria, nos moldes atuais, a Série A-2 do Campeonato Paulista.
Enquanto 200 mil torcedores lotam o gigantesco Maracanã, cerca de quatro mil apaixonados abarrotam o campo do BAC. No Rio de Janeiro, a seleção brasileira poderia até mesmo empatar com a Celeste Olímpica, que garantiria a taça do mundo. No “duelo caipira”, apenas a vitória interessava, para ambos os lados. O Brasil inteiro colou os ouvidos no rádio. No estádio do BAC não foi diferente. Com um sistema de som - guardadas as devidas limitações técnicas da época - instalado num setor das arquibancadas, com boa parte delas com estrutura de madeira, os torcedores bauruenses puderam acompanhar o que acontecia em ambas as partidas, simultaneamente. Fim do primeiro tempo. Os dois jogos estão empatados sem alterações no marcador. No Rio de Janeiro, os uruguaios estão com os brios provocados pela euforia antes da hora no Brasil, onde jornais chegaram a estampar a “vitória de véspera” do escrete “canarinho”. “Estes são os campeões do mundo”, bradava o extinto jornal “O Mundo”, um dia antes do jogo que seria marcado como a maior tragédia brasileira em mundiais, o famigerado “Maracanazzo”. Tem início o segundo tempo, tanto no Rio de Janeiro quanto na disputa caseira em Bauru. Logo no começo da etapa complementar, explosão nacional. Friaça, jogador do São Paulo, abre o placar para o Brasil no Maracanã. Tudo caminhava para um desfecho feliz, que seria ainda mais festivo em caso de vitória no jogo de Bauru, seja para celestes ou alvirrubros.
Mas o futebol, ao mesmo tempo em que é apaixonante, tem sua faceta cruel. Sem se deixar abater pela festa precoce do Brasil, os uruguaios pegaram a bola no fundo do gol e levantaram a cabeça. Obdúlio Varela, capitão da Celeste Olímpica que havia forrado o vestiário com os jornais que enalteciam o time brasileiro, logo após sofrer o gol, anuncia, confiante: “Agora sim, vamos ganhar a partida.” Promessa cumprida. Aos 21 minutos, Schiafino empata. Mesmo com o resultado igual garantindo o título ao Brasil, o Maracanã se cala. No campo do BAC, a preocupação também marca presença, embora ligeiramente ofuscada pela acirrada disputa, que teimava em continuar com o placar em branco. Faltavam dez minutos para o final das partidas. No Rio de Janeiro, o golpe derradeiro. Nas costas do lateral brasileiro Bigode, o ponta uruguaio Ghiggia recebe a bola. Na entrada da área, ele ameaça cruzar, mas prefere chutar direto e manda a bola entre o eternamente crucificado goleiro Barbosa e a trave. Uruguai 2 a 1.
Bauru, cerca dos 35 minutos também do segundo tempo. O ponta Gino, do BAC, recebe e parte para o ataque acompanhado pelo marcador noroestino Zulu. O atacante insiste pela ponta e experimenta arriscar. A bola vai para o centro do gol, na parte alta e central, com endereço certo, sem chances para o goleiro Chiquinho, e vai dormir no fundo da rede alvirrubra - BAC 1 x 0 Noroeste. Enquanto uma nação chorava atônita, um pequeno grupo de celestes bauruenses cantava a vitória. No Rio de Janeiro, os uruguaios deixam o estádio, rumo a Montevidéu, com a taça Jules Rimet em mãos, sem dar a tradicional volta olímpica. O clima de velório, proporcional ao “maior estádio do mundo”, não condizia com qualquer tipo de festa, mesmo que uruguaia. Para a fatia noroestina em Bauru então, pior - dor de cabeça dobrada. “Como torcedor do Noroeste saí com a cabeça inchada duas vezes”, testemunha o jornalista e historiador Luciano Dias Pires. Alvirrubro fanático - anos depois tornou-se diretor do Noroeste - Pires foi testemunha ocular dessa partida, que entrou para história da cidade ao contrastar a tristeza do “Maracanazzo” com a euforia dos jogadores e torcedores do saudoso Bauru Atlético Clube. Ele recorda dos tempos de rivalidade, quando os jogadores davam o sangue para vencer o dérbi bauruense. Exemplo dessa abnegação é o do autor do gol do BAC, que jogou improvisado na ponta-direita e não decepcionou seus companheiros e torcedores. “O Gino jogava até machucado”, elogia Luciano, que, rivalidades à parte, cultiva antigo vínculo de amizade com o ex-defensor do Bauru.
Fatídico para os alvirrubros, feliz para os celestes, o gol da vitória do BAC surgiu dos pés do polivalente zagueiro, que, naquele 16 de julho, se tornou atacante. Com a contusão do jogador Demais, o ponta titular, Gino se prontificou a substituí-lo, convencendo o técnico Valdemar de Brito a escalá-lo adiantado. “Fui para o jogo na ponta-direita, sempre marcado pelo Zulu (zagueiro do Noroeste)”, detalha o autor do célebre gol. Bacchi, apesar de defensor de origem, descreve a “vontade” exagerada dos marcadores nesse clássico. “O Zulu era daqueles que batia até na alma”, diverte-se o ex-jogador, que faz questão de narrar o feito. “Sabia que ele (Zulu) marcaria em cima, sempre quando eu tentasse avançar pela ponta. Então, procurava trabalhar mais pelo meio, com o Dondinho (João Ramos do Nascimento, pai de Pelé)”, detalha Bacchi, ao descrever o momento em que enganou a defesa noroestina. “No final do jogo, o Zulu achava que eu tentaria novamente o meio, foi quando, pela primeira vez no jogo, fiz como o de costume, fui pela ponta e chutei. A bola passou entre a trave e a mão do Chiquinho”, recorda o autor do gol, em meio às gargalhadas. Segundo Gino, o BAC abriu o placar contra o Norusca exatamente ao mesmo tempo em que Ghiggia decretava o silêncio sepulcral no Maracanã. “Comemorei muito. Fiquei triste com a derrota da seleção brasileira, mas, ao mesmo tempo, me senti muito feliz com o gol da vitória”, admite Gino, que, anos mais tarde, já com o fim do BAC, também se tornou dirigente noroestino.
O clássico regional, embora realizado simultaneamente à final da Copa do Mundo, não ficou totalmente fora dos holofotes em âmbito nacional. Em sua edição de 17 de julho de 1950, no dia seguinte ao fiasco brasileiro no Maracanã, o jornal paulistano “A Gazeta Esportiva” noticiava, logo abaixo à manchete de página “Uruguai Campeão do Mundo”, a nota : “O Clássico de Bauru - Vitoriou-se o Bauru A.C. pela contagem mínima”. A nota ainda salientava o páreo duro entre os rivais: “... o que serve para atestar o equilíbrio reinante nas duas fases da partida.”, descreveu o jornal paulistano, cujo exemplar é guardado junto a outras edições de um grande acervo, mantido com total esmero por Pires, em seu apartamento. Tanto ele quanto Bacchi, apesar de lamentarem o fim do BAC, concordam que a cidade não teria condições de ter dois times em evidência, anos mais tarde, nos cenários nacional e estadual. “A cidade, a exemplo da maioria, não conseguiria manter dois times. O Noroeste subiu antes para o ‘futebol maior’ (primeira divisão estadual) e deslanchou. Se fosse o contrário, talvez o BAC permanecesse e o Noroeste não”, supõe o historiador.
Mesmo com a fusão da maior parte dos torcedores em torno do Noroeste, com o fim das atividades futebolísticas pelos lados da rua Rio Branco, testemunhas e protagonistas dos saudosos “dérbis” asseguram que ainda é possível encontrar vestígios da antiga rivalidade. “Tem muita gente aqui em Bauru ainda que ‘seca’ o Noroeste”, aponta Pires, citando as provocações entre baqueanos e noroestinos. “Em certa ocasião, o BAC perdeu de nove para a Prudentina e torcedores do Noroeste apareceram com um saco de cobras, já que o nove no jogo do bicho é cobra”, diverte-se, ao lembrar também ocasião em que baqueanos provocaram os alvirrubros com carneiros, em alusão a uma derrota de sete sofrida contra a Ferroviária, de Assis.
O Rei de pés descalços
Provocações à parte, ele confessa “espiadas” em jogos do rival no extinto estádio Antônio Garcia. “Eu, assim como muitos outros noroestinos, íamos assistir aos jogos do infanto-juvenil para ver o Pelé”, confessa, sem deixar de mencionar a vibração para os times adversários do BAC após a preliminar com a presença do futuro “Rei”. Ginno Bacchi também é testemunha do surgimento do gênio, muito antes do mito. Colega de Dondinho, o zagueiro do BAC era acompanhado, quase que diariamente, na saída dos treinos, por um garoto que, poucos anos mais tarde, despontaria como o maior de todos. “Na saída do treino, íamos embora eu, Dondinho e o Pelé, ainda bem moleque, com oito ou nove anos, todos a pé”, recorda Bacchi. “Entre o estádio e o lugar onde morávamos (região da avenida Rodrigues Alves) haviam poucas casas. Ele (Pelé) sempre petecava uma bolinha de tênis. Um dia, disse para o Dondinho que tiraria a bola do garoto (imita o gesto de um tranco com o ombro). O pai concordou e cheguei no Pelé, que, mesmo muito menino, se livrou, petecou a bolinha no pé, joelho, ombro e cabeça, saindo para o outro lado sem deixar a bola cair”, conta, impressionado com a habilidade do garoto que, anos mais tarde, ajudaria o País a celebrar seu primeiro título mundial, desta vez, com alvirrubros e baqueanos entoando o mesmo coro de campeão.
3 comentários:
Caro Henrique.
Esse texto retirei do Google, pesquisando BAURU ATLÉTICO CLUBE. Lá há mais informações.
Abraços do Francisco.
16.07.50. Momento de rara felicidade para o BAC...O resto da história só foi Baile... Avante Noroeste...
Nelson Horta
HENRIQUE
Vi o juvenil do BAC jogar em Pirajui. O Pelé estava lá, dando aulas de futebol. Eu morava perto do estádio, e nem imaginava o futuro do Pelé. O Dondinho, pai do Pelé era cliente do Banco Bandeirantes, em Bauru, onde eu trabalhava. Vi o Pelé jogando pelo Santos, virar um jogo contra o Noroeste, em Bauru e ainda causou a expulsão de quatro jogadores do Noroeste. Vi no Pacaembu, o Santos de Pelé e cia. ganhar do Palmeiras por 7 a 6, em memorável jogo, onde brilharam Pelé, Coutinho, Mengálvio, Pepe , dentre outros e pelo Palmeiras Mazola, Chinesinho, Dudu e outros. Belas recordações. Abraços do jobi (João Bissoli).
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