A ELEIÇÃO COLOMBIANA E DOS MOTIVOS DA ESCOLHA DE MORADIA NO BRASIL
No próximo domingo, 15/06, a “segunda volta”, como os colombianos dizem e que para nós, brasileiros nada mais é do que o “segundo turno” de uma das eleições mais acirradas do continente nos últimos tempos, a pela presidência da Colômbia. De um lado o candidato da situação, concorrendo à reeleição Juan Manuel Santos (propondo armistício e diálogo com os guerrilheiros das FARCs) e do outro o candidato uribista (indicado pela liderança sempre presente do ex-presidente Uribe, empedernido direitista) Óscar Zuluaga (propondo confronto diuturno e sem tréguas com as FARCs). Para entender esse pleito e tantos outros ocorrendo e a ocorrer na América Latina fui à busca de uma abalizada opinião, a de um colombiano radicado no Brasil há um ano e meio. De seu depoimento, um bocadinho das agruras até então desconhecidas por nós ou até mesmo, algumas delas, bem próximas de acontecimentos em nossas plagas.
Vim a conhecê-lo num evento cultural numa cidade próxima de Bauru no último 09/06, segunda e ao sabê-lo colombiano começo um diálogo: “E a eleição do próximo domingo? Santos ou Zuluaga?”. De sua resposta, algo quase inevitável para mim, instantâneo, a necessidade de contar sua história e entender dos motivos da escolha por paz e sossego, em ambiente onde possa criar seus filhos distantes do cotidiano de violência de seu país. Vieram em busca de paz, o que no meio de uma constante guerra é algo impossível de acontecer. Não suportou mais as condições de violência tão próximas à vida de sua família, pressão psicológica em um país constantemente amedrontado. “Mas com Santos tudo não melhorou? A violência não arrefeceu? As cidades não estão mais seguras?”, a questiono. “Quem lhes disse isso? De quem obteve essa informação? Eu vim de uma pequena cidade interiorana, todas elas dominadas pelos grupos paramilitares e por todo tipo de bandos mafiosos, pandillas, sicários, guerrilhas e organismos de seguridade do próprio Estado. Eles dominam tudo. A população se vê quase sem saída. Saímos com uma posição consciente e madura, com pleno conhecimento de que as circunstâncias não mudarão da noite para o dia e o tempo de nossos filhos é agora. A contribuição mais humilde e efetiva que vamos fazer ao mundo é pela paz, criando uma família de paz”, começa seu relato.
Vieram morar no Brasil, sujeitando-se a qualquer tipo de emprego, bem distante de suas especializações. Reclamam da necessidade brasileira de revalidação dos seus diplomas para poder aqui atuar, algo não necessário em vários países latinos. “No meu país a gente percebe que o futuro não mais existe. Não temos mais como esperar. É o futuro de todos ao meu lado em jogo, os filhos estão crescendo e o tempo deles é limitado. Mas eu faço o meu trabalho gostosamente e sentindo gratidão pelas oportunidades que nos ofereceram até agora. Estamos dando base ao nosso projeto com a ajuda solidária de pessoas no Brasil, especialmente aquelas que nos empregam e nos permitem ter sustento e até acreditando em nós”, conta.
“Sim, o país sem Uribe é diferente, me parece outro, mas pouca coisa mudou de concreto, pois o sistema de perseguição ao cidadão implantado por ele permanece quase intacto. Vivíamos sob um sistema onde se escutavam tudo o que os adversários falavam e discutiam, tudo usado contra eles, com deturpação dos fatos. Hoje, o candidato Zuluaga faz pior, o ex-ministro de Uribe possui uma equipe de hackers pagos para vigiar tudo, inclusive as negociações de paz com os guerrilheiros. Ouvem uma coisa e divulgam mentiras, verdadeiras aberrações. Alguns acreditam, metade do país não. O fato mais triste e cuja explicação se dá justamente pelo poder da grande mídia na conformação do pensamento coletivo é que a grande maioria da população, especialmente nos setores sociais mais pobres, as pessoas ainda acreditam no projeto Uribista. É um tipo de síndrome, que eu não posso explicar mais que pela ignorância e a manipulação midiática. O facebook colombiano está infestado de coisas desse tipo”, continua seu relato.
“Outra coisa a levar em conta é que, nos processos de eleições atores armados em muitas regiões obrigam as pessoas a votarem pelo candidato que eles apóiam. Paramilitares também apoiaram Uribe com dinheiro e com fraude eleitoral. Foi assim que Uribe foi reeleito no seu tempo. O dinheiro das máfias está sempre presente em eleições e em grandes quantias”, faz questão de salientar. Emoção pura nas palavras de Thania, algo começando a se evidenciar em relatos similares a ocorrerem hoje também Brasil. “Eu gostaria realmente de acreditar numa mudança. O alcaide (prefeito) de Bogotá é de esquerda e no primeiro ano de seu mandato, quando começou a mexer com as estruturas corrompidas de poder existentes na cidade sofre um violento processo judicial, algo que paralisou seu governo e faz, ao invés de governar, permanecer se defendendo de vis ataques, totalmente injustificáveis. A mídia o encurralou com o explícito apoio dos incomodados poderosos da cidade. Esse o clima do país hoje. Todos que querem e lutam por algum tipo de transformação sofrem a ação dos grupos criminosos e também de uma Justiça comprometida com os grupos de poder. Continuamos sendo um país onde é muito perigoso ter opinião contrária ao dos grupos de poder dominante”, conclui.
Em seu país Thania até a produção acadêmica foi bruscamente interrompida, pois existe um latente medo, recio de retaliações, podendo essas ocorrer de variadas formas, desde uma simples intimidação, como na forma de assassinatos. Eis algo de um relato anônimo pela internet“Aos meus amigos brasileiros interessados em saber algo mais da Colômbia, e para aqueles que já escutaram que tudo que acontece no meu pais, toda a guerra e a violência não são só FARC e narcotráfico. Lhes recomendo ler esta nota, para vocês saberem como os nossos governantes e o nosso exército, assassinam civis como parte de uma política de Estado e como conformaram, apoiaram e deram ordens para grupos armados de direita atuando conjuntamente com o exército. Verão também como famílias de narcotraficantes são ao mesmo tempo parte do governo. É bom parar de acreditar em tudo que a mídia oficial traz como informação, aliás informação é o tema mas manipulado no nosso mundo atual e uma das armas mais perigosas”. Eis o texto indicado por ele: http://www.las2orillas.co/capitan-del-ejercito-brazo-derecho-de-jorge-40-rompe-su-silencio-afirma-alvaro-uribe-dictaba-ordenes-para-cometer-asesinatos/
Sua linha de pensamento e ação sempre esteve voltada para os problemas sociais de seu país. “É bom todos saber que estas coisas estão acontecendo. Para não acreditar em toda informação que circula. O critério para mim é simples: se as informações provem da mídia oficial, eu desconfio. Os donos dos médios são comumente os mesmos empresários que financiam as campanhas dos candidatos da direita”, pensando assim num país com um dos maiores índices de assassinato de opositores, sua vida e, conseqüentemente dos seus esteve constantemente em perigo. Por fim, um algo mais sobre sua trajetória. “Conheço como a perseguição do Estado é efetiva e não respeita fronteiras. Muitas famílias vivem em partes graças a certo tato na forma de atuar e a capacidade de mudar para outro perfil quando necessário. Constantemente ocorrem inesperadas mudanças de uma região para outras dentro da Colômbia tudo para os que ainda ousem contestar algo possam se manter vivos. Eu quase tenho mais amigos mortos que vivos e escolhemos o interior paulista em busca de um lugar de sossego”, diz sobre a escolha pelo Brasil.
O interlocutor colombiano prefere não ser a estrela principal quando discute as questões do seu país e também as suas pessoais. Acaba me pedindo para não reproduzir imagens suas, nem possibilite pistas que levem à sua identificação. “Isso tudo é mais coerente com o nosso projeto de vida, não queremos projeção pessoal nesse novo país que agora tão bem nos acolhe, e que, comparado com o nosso, parece-nos uma ilha de paz, mesmo sabendo muito bem que não é bem assim, mas a nossa percepção é essa”. E diante disso tudo, toda essa família, dentre tantas outras na mesma situação e espalhadas mundo afora, estarão com seus olhos e ouvidos bem atentos ao resultado de um violento pleito eleitoral a dividir ainda mais esse conturbado país andino. Domingo é mais um dia crucial na história do vizinho país.
6 comentários:
Henrique
Em época de Copa do Mundo voce me vem com coisa séria e fazendo pensar de problemas outros espalhados por essa América Latina.
Fico mais informado sobre o pleito colombiano no próximo domingo e bem melhor informado sobre o quanto estamos cada vez mais nas mãos de gente perigosa, até com paramilitares nos nossos calcanhares.
E que lugar é esse em Botucatu que nunca havia ouvido falar? Demétria ou Demétrio? Seria uma república dentro da república? Conte mais da história também deles.
Torço por Santos, por Thania e os seus.
Aurora
Colômbia: posição das FARC sobre o segundo turno das eleições colombianas
“Não se trata de escolher entre a guerra representada por Zuluaga e a paz encarnada por Santos. É claro que qualquer dos dois significará a guerra”.
Por Timoshenko
No domingo, dia 15 de junho, ocorrerá o segundo turno das eleições para Presidência da República, que se definirá entre o candidato do Centro Democrático, Oscar Iván Zuluaga, e o candidato da Unidade Nacional, o atual Presidente Juan Manuel Santos. Diversos meios de comunicação e analistas concordam que nesse dia os colombianos se encarregarão de escolher entre a guerra e a paz.
Em grande medida, tal afirmação tem origem nas palavras pronunciadas pelo Presidente Santos, ante seus seguidores, uma vez que teve conhecimento dos resultados desfavoráveis no primeiro turno. Com um tom enérgico, anunciou que a campanha iniciada a partir desse momento aconteceria entre aqueles que se empenhavam em continuar a guerra e os que apostavam na paz. Desde então, comentaristas e imprensa começaram a difusão da matriz midiática, segundo a qual o que será definido nas urnas é, nem mais nem menos, a continuidade ou não do processo de diálogos que ocorre atualmente em Havana.
· Falso plebiscito
Daí a disputa eleitoral, a celebrar-se em 15 de junho, ter adquirido o caráter de um plebiscito, que definirá se a maioria dos colombianos prefere a continuidade do conflito armado, neste caso representado pelo candidato Zuluaga, ou o seu breve término, por conta da reeleição de Santos. Achamos conveniente advertir que tal escolha não corresponde à verdade. O plebiscito mencionado não é mais que uma farsa, um cenário midiático que pretende transferir à imensa maioria de colombianos, a responsabilidade de uma guerra da qual os únicos responsáveis são as duas facções políticas oligárquicas e violentas que disputam hoje o controle do Estado na Colômbia.
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· A diferença entre Santos e Zuluaga
Basta recordar que o Presidente Santos foi o principal Ministro do segundo governo de Álvaro Uribe Vélez, que foi ele quem anunciou orgulhosamente ao país o ataque de 8 de março de 2008, em Sucumbíos, que não pode fugir de sua responsabilidade pelos crimes condenáveis denominados falsos positivos, que foi ele quem, no momento de comunicar a morte do Comandante Jorge Briceño, ordenou furioso a rendição e entrega das FARC, que foi ele quem ordenou o assassinato do Comandante Alfonso Cano enquanto trocavam mensagens sobre um possível processo de conversação, e que, inclusive, reconheceu ter chorado de felicidade ao receber a notícia. Mal pode apresentar-se como o homem da paz.
Inclusive, poderíamos ir mais longe. Seu atual chefe de campanha, César Gaviria Trujillo, o Presidente que submeteu o país às políticas neoliberais impostas pelas entidades multilaterais de crédito, o mesmo que pôs fim ao processo da Casa Verde com um ataque traiçoeiro, o mesmo personagem que colocou fim às conversações de paz de Tlaxcala com o conjunto da Coordenadoria Guerrilheira Simón Bolívar, o mandatário que decretou a guerra integral, pensando colocar fim à existência das guerrilhas na Colômbia em um ano e meio, designou Juan Manuel Santos como seu Ministro de Comércio Exterior, para que fosse ele quem começasse a concretizar e implantar a chamada abertura econômica, entregando ao capital estrangeiro grande parte do patrimônio nacional e retirando dos trabalhadores suas conquistas de quase um século de lutas.
Também lembramos Juan Manuel Santos como Ministro da Fazenda do governo de Andrés Pastrana, anunciando ao povo colombiano um longo período de suor e lágrimas, no momento em que destinava bilhões de pesos do tesouro público para salvar o setor financeiro mergulhado na crise gerada por sua própria corrupção. Não é de agora que o país conhece Juan Manuel Santos como agente do capital transnacional e importante funcionário de governos belicistas. Ele desempenhou importante papel em todas as últimas administrações públicas de caráter nacional, sejam eles conservadores, liberais ou uribistas, sempre desfrutando das benesses do poder, servindo aos interesses das classes mais poderosas, e desprezando e reprimindo os setores populares afetados por essas políticas.
As contradições de Juan Manuel Santos e o ex-Presidente Uribe não são da profundidade apresentada. Os dois guardam identidade e fidelidade absoluta com o neoliberalismo econômico e a doutrina de guerra dominante, inclinam suas cabeças e servem com devoção aos interesses econômicos e políticos da América do Norte, experimentam igual repugnância para os processos democratizantes e renovadores que ocorrem em vários países sul-americanos e, sobretudo, conferem o mesmo tratamento violento às aspirações das grandes maiorias marginalizadas do país. Os dois representam poderosos setores do capital e da terra.
O que os diferencia é o enfoque com que assumem a realidade do conflito interno colombiano, pois, enquanto o primeiro deles, hoje magistralmente interpretado por seu candidato Oscar Iván Zuluaga, decididamente opta pela intolerância absoluta e a solução exclusiva pela força, o segundo aposta, primeiramente, em conseguir a rendição da insurgência na Mesa de Havana, reservando-se paralelamente o direito de esmagá-la pela força. As posições do uribismo, radicalmente sectárias na defesa dos setores econômicos e políticos relacionados com o paramilitarismo, assim como na intangibilidade dos setores militaristas mais cruelmente comprometidos com a violação dos direitos humanos, o conduziram a travar uma luta acirrada com o governo de Juan Manuel Santos, precisando enfrentar as pressões do grupo pecuarista e dos empresários agroindustriais beneficiários da violência.
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O fato de Oscar Iván Zuluaga não se importar em aparecer como defensor da guerra, não faz de Juan Manuel Santos um homem da paz. Assim como seu rival na disputa eleitoral, Santos menospreza qualquer reforma de amplo conteúdo democrático ou que implique na menor mudança na desigual distribuição da terra e da riqueza no país. Em sua recente campanha, preocupou-se em tranquilizar os setores poderosos, esclarecendo que nenhum de seus privilégios ou interesses estava em risco na Mesa de Havana, com a mesma ênfase com que procurou convencer as forças armadas e setores militaristas de que nem um só peso do orçamento militar, do gasto de guerra, das aquisições planejadas ou compromissos adquiridos, nem sequer o contingente ou os planos de investimento sofreriam a menor alteração na eventual assinatura final de um acordo com as FARC em Havana. É claro que a paz, para os setores que representa, implica necessariamente que tudo continue igual. Que não se toquem nas causas que originaram o confronto do último meio século na Colômbia.
Enquanto o Presidente Santos corria o país tranquilizando os donos da fortuna e as camadas beneficiárias da guerra, não escutamos uma só palavra de seus lábios que significasse algum estímulo esperançoso ou que tivesse a aptidão de inspirar confiança nos setores populares afetados pelas políticas de seu governo. Se esteve em Buenaventura foi para dar prosseguimento a seus conhecidos anúncios de mais oferta de trabalho, que garanta de modo absoluto as operações do lucrativo setor portuário ligado ao grande comércio exterior. Nada para as negritudes miseráveis ou os pescadores assediados pela violência atroz que os removem das áreas da cidade, onde se projeta a ampliação das atividades exportadoras. Com posição idêntica no resto do país, era lógico que a votação a seu favor ficaria seriamente prejudicada.
· Ninguém ganhou
Não se pode dizer que Oscar Iván Zuluaga ganhou. Simplemente, como beneficiário da máquina de terror do uribismo, da decadência moral de seus apoiadores políticos e de toda a podridão alimentada pelos oito anos contínuos de governo de seu mentor, ocupou o primeiro lugar nas votações, como consequência do extraordinário desprestígio do governo de Juan Manuel Santos, que não foi isento do clientelismo, da marmelada e da corrupção própria do regime político colombiano. O elevado índice de abstenção, ao qual cabe somar também o voto em branco, coloca em voga a ilegitimidade, a descrença e a falta de apoio real por parte do povo colombiano a todos os candidatos oficiais.
Nessas condições, é preciso dizer, cabe destacar e valorizar a votação obtida pela esquerda, representada pela aliança entre o Polo Democrático e a União Patriótica. Não cabe dúvida que as duas mulheres que postularam seu nome à Presidência e à Vice-Presidência capitalizaram, em meio à putrefação do regime eleitoral e do debate político, uma poderosa corrente de opinião independente, consciente, limpa e livre. Ninguém que tenha escolhido votar nessa opção o fez movido pela ambição pessoal ou pela esperança de regalias. Num país insuflado diariamente pelo ódio e pela polarização promovidos pela ultradireita, adquire um enorme valor o posicionamento dessa reserva moral e política de corte autenticamente popular. Pode ser que sua pureza moral se mantenha intacta ante os cantos da sereia de César Gaviria.
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Marta Lucía Ramírez, candidata oficial do Partido Conservador, coloca abertamente em evidência o caráter oportunista e negociador de sua corrente política. Seu apoio pode ir para qualquer um dos dois candidatos finalistas, o qual dependerá tão somente das garantias e regalias econômicas e políticas oferecidas por cada um. É a velha tática de seu partido, corrupto e alheio a qualquer princípio, graças a qual prosperou em todos os últimos governos. Sua virtude está à venda pelo melhor preço e isso basta para fazê-la ainda pior que qualquer deles. Nem sequer vale a pena falar de Peñalosa. O arquipélago que o rodeou já começou sua dispersão.
· O verdadeiro dilema e as opções no segundo turno
Assim que os colombianos, sim, estamos diante de um verdadeiro dilema. Porém, não o de escolher entre a guerra representada por Oscar Iván Zuluaga e a paz encarnada por Juan Manuel Santos. É claro que qualquer um deles dois significará a guerra. Com Zuluaga é evidente o assunto. Para julgar Santos basta observar sua insistência de que não pactuará nenhum cessar-fogo apesar da existência dos diálogos em Havana e de seus avanços, sua ordem permanente de aumentar o confronto e os ataques até conseguir a assinatura da paz na Mesa, sua repetida negativa em pactuar qualquer reforma econômica, política, militar ou social, sua incessante cantiga de que nada está acordado até que tudo esteja acordado, suas mensagens tranquilizadoras aos poderes estabelecidos. A verdadeira encruzilhada tem uma natureza distinta. Trata-se de escolher entre a continuidade imóvel das políticas de despojo e violência que representam os dois candidatos, e a possibilidade de imprimir mudanças urgentes e profundas na institucionalidade e na sociedade colombianas. Para o primeiro, basta votar em qualquer uma das candidaturas apresentadas, enquanto para o segundo, a gama de opções é mais ampla.
A primeira delas seria a espontânea e maciça votação em branco, capaz de deslegitimar, inclusive juridicamente, as duas opções militaristas e neoliberais. Não existe dúvida de que uma surpreendente votação que superasse os sufrágios de ambas as candidaturas seria capaz de gerar um terremoto político no país. Contra ela, jogariam o curto prazo para promovê-la, da mesma forma que o caráter amorfo, desorganizado, espontâneo e difuso de sua promoção, que teria a dificuldade de expressar-se, conseguindo a vitória numa opção política medianamente definida e unitária. Nesse caso, precisamente, a tarefa consiste em trabalhá-la.
Em segundo lugar, poderia considerar-se um urgente reagrupamento de todos os setores insatisfeitos e de oposição, ao qual se uniria, de maneira firme, o conjunto dos movimentos sociais enfrentando o governo de Santos, numa poderosa coalizão com a esquerda política tão bem posicionada no recente primeiro turno, com o apoio político do conjunto da insurgência, em torno de consignas simples como a solução política ao conflito interno, o cessar-fogo, a assembleia nacional constituinte, o contundente repúdio a todas as formas de politicagem tradicional e pelas reformas urgentes de caráter social, com o propósito de enfrentar, de maneira decidida, com uma força sólida de massas o novo governo, que será empossado em 7 de agosto.
Não há dúvida de que esse governo, qualquer que seja, por baixo de sua cobertura institucional ou legal, assumirá o poder em condições de debilidade política, com sérias contradições com o grupo do candidato perdedor. Uma forte agitação social e política poderia produzir consequências inesperadas, que fossem suficientes para derrotá-lo. Sim, poderiam contar com condições favoráveis para o crescimento de um verdadeiro movimento alternativo capaz, em curto ou médio prazo, de precipitar, de modo ou de outro, mudanças, fundamentais na vida nacional, inclusive a paz.
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Uma fórmula a ser considerada seria, formada essa coalizão, pactuar com um dos candidatos, de maneira seria, um programa progressista de mudanças. Mesmo que a ideia possa soar atraente, parece nascer mais do desejo que de possibilidades reais. É preciso analisar o caráter precipitado da coalizão e do próprio pacto que resultaria na parceria, além da confiança e credibilidade que pode envolver tal aliança com inimigos declarados do povo colombiano.
· A razão da Mesa de Diálogos
E o que dizer da Mesa? Fundamentalmente, é preciso considerar que ela tem toda sua importância na medida em que possibilite, viabilize ou catalise um grande movimento nacional pelas mudanças básicas. O único Acordo que, como revolucionários, podemos aspirar em assinar nela, é aquele que conte com o respaldo desse grande movimento popular que, por sua vez, impeça o seu desmonte. Nos demais casos, poderíamos viver realidades intoleráveis. Um assunto para considerar seriamente.
Montanhas da Colômbia, 27 de maio de 2014.
Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)
postado por Pasqual Macariello - Rio RJ
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