Em Reginópolis, onde ia pintar ao lado de seu amigo, o também pintor Jurandir Montanher, nas margens do rio que mais retratou na vida, o Batalha, produziu belas obras, rodeadas sempre de muito bate papo. As histórias dele contei no livro sobre Reginópolis, lançado três anos atrás, juntamente com o Fausto, que fez uma bela caricatura dele (publicada aqui). Lá mais uma história com Baccan. Numa casa hoje abandonada, Baccan pintou dois quadros diretamente na parede frontal, tendo a porta central da casa no meio. A casa era de um ilustre morador, hoje abandonada e se vendida, podendo ser demolida. Comentei o fato anos atrás com o Fernando, dono do Templo Bar, ele arquiteto e me deu uma aula de como poderia ser recortada e retirado de lá, sendo preservada. Algo que, acredito meio inimaginável para os padrões da cidade e de como entendem esse negócio de preservação de um bem assim. A história dessa casa também está no livro.
Não sei como fizeram para reunir quadros desse artista, mas deve ter sido uma operação com um aparato de pesquisa demorada e cheia de boas nuances. Muito foi disperso ao longo do tempo, passado de mão em mão, com paradeiro incerto e não sabido. A montagem da exposição deve ter tido lances onde um pouco disso foi desvendado e aos presentes hoje, alguma nova revelação do que, mesmo sem saber detalhes, acredito ter sido uma saga. Vou lá mais para ouvir essas histórias. Baccan tem muitas histórias em torno de sua pessoa, algumas boas e outras bem sofridas. Hoje podemos contar várias delas, mas com alguma reserva, para não ferir ninguém. Era um artista nato e queria viver de sua obra, não sabendo fazer outra coisa. Sua filha, a querida amiga Marli Baccan, vai me permitir fazer uma brincadeira com ele.
É o seguinte. A Prefeitura de Bauru teve durante sua longa trajetória, dois importantes inquilinos em suas instalações, desses que entram num lugar para trabalhar e de lá não saem mais. Um deles foi o Sapé, que tinha um jipão e fazia e acontecia na cidade. Entrou dentro da Semel, ali na rua Cussy e só saiu nem bem sei como, uma dureza. Depois morreu assassinado. Baccan foi agraciado com um ateliê dentro do antigo Mercadão, onde hoje é o Teatro Municipal e quando se deram conta já estava morando ali, junto aos quadros, tripés e tintas. Foi seu endereço por um bom tempo. Não tive o prazer de conviver com ele, mas guardo bem nítida a lembrança de sua pessoa e hoje, mesmo que alguns insistam em não dar valor para sua obra, eu dou e muito, tanto que anos atrás quando lançaram a idéia de abrir um Mercadão Municipal ali junto da Feira do Rolo, no barracão da Cia Paulista, ainda sem finalidade definida, dei a sugestão se a coisa vingar de assim ser denominada: MERCADÃO MUNICIPAL BACCAN. Justa homenagem.
Baccan merece de Bauru muito mais que uma exposição. Deveria morar no coração de todo bauruense. Sabe aquela famosa frase do Mario Quintana, “eles passarão, eu passarinho”. Pois bem, tenho convicta e absoluta certeza de que Baccan viveu entre nós como um passarinho, passarinhou um tempo por aqui e depois foi bater asas e viver noutro canto. Sua obra ficou e vendo ela ficamos a nos recordar dele.
4 comentários:
HENRIQUE
Tenho uma "pinturinha" dele: 1,00 X 0,70, feita nos anos 60 o melhor período de sua criatividade quando o Rio Batalha ainda tinha mata nativa em volta.
Silvio Selva
Obrigada Henrique Perazzi Aquino, não deu tempo da gente conversar hoje.. Mas valeu seu texto assim que tiver um tempo podemos conversar sobre as obras 'Baccan".
Marli Baccan
Que legal, Henrique! Fica até quando?
Gilberto Maringoni
Olá Henrique, boa reportagem e obrigado por lembrar de nós. O tempo passa, as coisas mudam, mas a boa lembrança dos amigos perpetua.Valeu.
Hélio Maffei
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