segunda-feira, 30 de junho de 2014
FRASES DE UM LIVRO LIDO (80)
AS FRASES DE “NINGUÉM ESCREVE AO CORONEL”, DO COLOMBIANO GABO - ALGO DE UM JOGO E DO MEU FILHO Estaremos frente a frente com a seleção da Colômbia na próxima sexta, 04/07 e diante de um problemão sem fim. Eles, até o momento jogam melhor do que nós nesse Mundial da bola. Como o futebol é como dizem, uma “caixinha de surpresas”, torço e tento ser otimista. E já que a Colômbia será nosso adversário, volto aos meus alfarrábios e resgato um dos primeiros livros que li de um colombiano, esse “Ninguém escreve ao Coronel” (editora Record, numa edição de 1968), do Gabriel Garcia Marques. O li antes mesmo do famoso “Cem anos de solidão” e aqui o tema é a burocracia de ditaduras que nos assolaram por décadas, com toques de recolher, placas proibitivas por todos os lugares, a morosidade no atendimento público. Livro curto, para ser lido de uma só sentada. Eis o pensamento de alguém enfurnado nos rincões do que antes éramos e que muitos parecem querer que voltemos. Nem o Brasil é socialista hoje, muito menos a Colômbia, que acaba de reeleger um convicto direitista, porém, não tão tacanho como o que por pouco não voltou a governá-los, alguém representando a ultra-direita. Tanto lá como cá, algo disso com: “se com a direita é ruim, imensamente pior ficará com os ultra direitistas no poder”. Se com Obama o caos está estabelecido nos EUA, saibam que Bush Jr está pronto para voltar numa versão ainda mais piorada com os republicanos do Tea Party. E relembrando a Colômbia de antanho, leiam umas poucas frases desse belo livrinho de um dos nossos maiores escritores:
- “Quais são as novidades?, pergunta o coronel ao médico, e este lhe responde: Não se sabe, é difícil ler nas entrelinhas o que a censura permite publicar”.
- “Espere que eu vou esquentar um café. E o médico responde: Não, obrigado. Nego a senhora, terminantemente a oportunidade de me envenenar”. - “Para os europeus, a América Latina é um homem de bigodes com um violão e um revólver. Não entendem nossos problemas”.
- “Toda 6a feira, o correio chega de barco e o Coronel vai esperar o carteiro. Ouve impiedosamente a frase “Ninguém escreve ao Coronel” quase toda vez que pergunta se tem algo para ele”.
- “O coronel comprovou que quarenta anos de vida em comum, de fome em comum, de sofrimentos comuns, não lhe bastaram para conhecer sua mulher. Sentiu que também no amor alguma coisa tinha envelhecido”.
- “Achegue-se, compadre. Quando fui procurá-lo não achei nem mais o chapéu. E ele respondeu: Eu não uso para não ter que tirá-lo na frente de ninguém”.
- “Pobreza é o melhor remédio contra diabetes”.
- “Você também tinha direito a um cargo quando lhe botaram para moer ossos nas eleições – disse a mulher. Também tinha direito a uma pensão de veterano, depois de arriscar a pele na guerra civil. Agora, todos estão com a vida assegurada e você, morrendo de fome, completamente só”.
Terminei de ler esse livro em 23/06/1980, dia do meu aniversário de 20 anos. Tinha por hábito transcrever minhas impressões sobre o que ia lendo e anotar frases, hábitos não perdidos e felizmente, passados ao filho. Eu grifo todos meus livros com essas canetas marca textos, ele não, anota tudo num caderninho à parte. O que me conforta, 34 anos depois dessa leitura é que continuo o mesmo (agora com 54), esgrimando em busca dos mesmos ideais e mais ainda, por ter conseguido transmitir o espírito libertário ao filho. Não os abandonei, não mudei de lado, nem me deixei vender e incuti isso em pelo menos mais um. Sempre na luta e assim estarei até que, um dia tudo se finde. Ele, assim como eu, não temos a Colômbia como um inimigo a ser batido, tripudiado, mas só alguém a ser vencido no campo de jogo e depois tudo continuará como dantes. Eu e ele amamos esse Gabriel, o autor desse livro.
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