DUAS OU TRÊS COISINHAS SOBRE O RÁDIO – LEMBRANÇAS DA 710
Começo convidando para a leitura de um ótimo texto de LALO LEAL, publicado na revista mensal REVISTA DO BRASIL, edição de abril de 2014, com o título, “O RÁDIO, UMA FORÇA ESQUECIDA”. Leiam clicando a seguir: http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/94/o-radio-uma-forca-esquecida-6675.html. Num trecho ele escreve exatamente isso: “Como o gato, que dizem ter sete vidas, a resiliência do rádio é histórica. (...) Se tecnologicamente o rádio evoluiu, o mesmo não se pode dizer em relação ao seu conteúdo. (...) Ouvimos pregações, músicas de gosto duvidoso, noticiários que misturam jornalismo com propaganda política disfarçada, ressaltando-se as exceções de praxe representadas, quase sempre, pelas emissoras públicas. (...) os chamados comunicadores populares falam para milhões de pessoas todas as manhãs (...), decodificam para seu público os textos dos jornais impressos, geralmente acompanhando e enaltecendo as opiniões invariavelmente conservadoras nele publicadas. (...) A abrangência territorial e cultural do rádio evidencia o poder do seu papel político-eleitoral. Seus controladores fazem política todos os dias... O caminho mais eficaz para o equilíbrio de forças é a existência de uma legislação que abra espaço no rádio para as mais diferentes correntes políticas existentes na sociedade”.
Tarcizio Mazzei e eu no programa do Esmeraldi, na 710 |
Que bela discussão essa, uma que nem o PT no Governo conseguiu resolvê-la, pois hoje, mais do que nunca nossas rádios, com raríssimas exceções, continuam pequenos feudos. E agem como se fossem donos absolutos do negócio, esquecendo-se que são meras concessões governamentais. Quebrar isso não é fácil, ainda mais porque o cenário está tornando-se cada vez mais centralizado, nas mãos de uns poucos. Olhem para o passado de Bauru e constatem a quantidade de rádios existentes antes e as hoje em funcionamento. Diante disso repico aqui uma indagação que recebo de um amigo paulistano, o FRANCISCO BONADIO COSTA, viajando freqüentemente via rodovia para sua Pirajuí e, como eu, fuçando dials diferenciados e à procura de rádios que sumiram.
“Henrique, saudações pirajuienses de São Paulo. Você poderia me informar o que aconteceu com a Rádio Emissora Terra Branca, AM 710, aí de Bauru? Depois que o Damião Garcia desistiu de arrendar a emissora, parece que ela sumiu. Quando passo por Bauru, não consigo mais sintonizá-la. Sabia que ela estava mergulhada em dívidas. Como sempre fui radiomaníaco, guardo saudoso a lembrança adolescente das três AMs da cidade. Embora o rádio de hoje não tenha, para mim, mais aquele apelo de antes, ainda quero manter a lembrança daqueles belos tempos, assim como também da ferrovias. Abraços do Francisco”, esse seu questionamento.
Respondo pelo que sei e deixo o restante para quem souber mais a respeito. Sim, a rádio feneceu no meio de suas intermináveis dívidas. Depois do Damião, Marília, herdeira do velho homem de rádio, José Nelson de Carvalho (que conheci dos tempos quando a rádio era em cima da também falida Padaria Santa Izabel, na rua Primeiro de Agosto), tentou repetir o que muitos fazem desbragadamente até hoje, ou seja, repassá-la integralmente para uso religioso (o fim mais pernicioso que se pode dar a uma rádio). Nem isso deu certo e as dívidas foram se avolumando. Fechou as portas funcionando na rua São Paulo, comecinho do Bela Vista. Sei de um amigo radialista que levantou os valores da dívida, acalentando o velho sonho de recolocar aquilo para funcionar, mas o valor visualizado o assustou. Nem sei se a família Carvalho ainda é a detentora do sinal de transmissão ou se já o perdeu. O fato é que mais uma seria algo oxigenante, porém, cada vez mais difícil e se ocorrer (toc toc toc), a maior viabilidade, com grandes probabilidades será para tornar-se mais uma com caráter religioso. Carlutti, Beto Pampa, Esmeraldi, Jota Martins, Roque Ferreira e tantos outros por lá estiveram. Tenho também saudade de muitos programas, radialistas e pluralidade de informação, mas isso só acontecerá nesse país com uma grande transformação no quesito utilização na mídia nesse país. Talvez aos moldes do que ocorreu na Argentina e sabiamente Lalo Leal resvala. “Equilíbrio de forças e espaço para diferentes correntes políticas”, vaticinou ele, do contrário, cada vez pior.
Leiam essa carta da Tribuna do Leitor, do JC, de 14/10/07, sobre os estertores da rádio, a ‘SR DAMIÃO, CADÊ A 710?!...’: “Estava no trânsito. Liguei o rádio do carro para ouvir a partida valendo vaga para a Copa do Mundo de 2010, entre Brasil e Colômbia. O que ouvi: “Tinha câncer, agora estou curada, quero deixar aqui meu testemunho... blá, blá, blá...” Liguei para outra emissora... mesma coisa. Irritado, desliguei e fiquei pensando aqui comigo quando em uma ocasião assistia pela rádio 710 uma transmissão de um jogo do EC Noroeste aqui em Bauru. Meu amigo, o J. Martins, repórter de campo, falava a um seu colega: “Nossa emissora é a única a transmitir este jogo. As outras estão empenhadas em dar oportunidades para o povo dizer que foram curados graças a esta ou aquela religião.” Gostaria de ver a cara do meu amigo J. Martins, uma pessoa inteligente, correta e que sabe tudo sobre futebol. Na certa, não diria nada, pois tem que preservar seu emprego... e está certo. Amigão, você me desculpe por mencioná-lo aqui. Tenho certeza que seus pensamentos são: “Logo ficarei sem emprego, a não ser que me torne pastor, bispo ou coisa que o valha.” Sei que essa não é sua praia e entendo sua preocupação pois logo ligaremos o rádio e não teremos mais opção. Na verdade, vemos compras de emissoras de TV, rádios FM, todas imbuídas no sentido de transformar o povo em “religiosos fanáticos?!”... Vemos templos serem construídos num piscar de olhos... e em lugar nobre da cidade. Basta o lugar ser amplo e coberto... pronto... Colocam-se cadeiras e o povão comparece para dar seu testemunho de “milagres acontecidos com seus familiares”. Vão-se aumentando patrimônios, com malas de dinheiro correndo de lá para cá nos aeroportos. Vemos políticos corruptos “que pegam o bonde” na religiosidade e dominam até cidades inteiras, principalmente no nordeste, onde o povo é mais humilde, sem escolaridade e desinformado. Sr. Damião Garcia: “Volte com aquela rádio 710, ávida de informações sobre política, polícia e futebol. Volte com a retransmissão em conjunto com a Jovem Pan de São Paulo, de jogos importantes do nosso Campeonato Brasileiro. Deixe o nosso amigo J. Martins expressar toda sua competência, nos informando com toda sabedoria os bastidores do esporte, inclusive do nosso querido e sofrido EC Noroeste. Luiz Carlos Pasquarelo”.
7 comentários:
A C O N T E C E U R E A L M E N T E .
Em Aquiraz, pertinho de Fortaleza, CE, Tarcília Bezerra começou a construir um anexo em seu cabaré e a igreja neopentecostal fez forte campanha contra a construção, com orações contínuas. Uma semana antes da inauguração, um raio incendiou o cabaré. Tarcília processou a igreja e o pastor, responsabilizando-os pela "intervenção divina" que destruiu a obra. A igreja alegou que não houve prova de intervenção divina a partir das orações.
Comentário do juiz, na audiência de abertura: "Pelo que li até agora, temos de um lado a proprietária de um prostíbulo que acredita firmemente no poder das orações e do outro lado uma igreja inteira que afirma que as orações não valem nada".
Zequinha Saab
Henrique
Concessão cancelada no último mês do governo Lula. Perdemos um canal.
wELLINGTON LEITE
É meu caro Aquino, infelizmente o que foi postado é a realidade do rádio , principalmente o AM. Pelas ultimas informações, a concessão da 710 , ainda pertence a Marilia Carvalho. O que pega é a dívida . Grande como está ninguém mais se arrisca. Obrigado pela lembrança . Tbém sinto saudade dos velhos tempos;Abços...
Carlos Alberto Soares - Carlute
Caro Henrique, todas as concessões de rádio que estão nas mesmas condições da antiga Terra Branca, deveriam ser retomadas pela União, e aberto um novo processo de licitação. As dívidas ficariam na conta dos concessionários que devem pagar por elas. Abraço Carlute.
Roque Ferreira
Pior que PT piorou muito as outorga de rádios comunitária. Só autoriza para políticos e igrejas, virou moeda de barganha política. Temos um processo "andamento" desde 2002. O Ministério das Comunicações está a serviços dos políticos, essa é a pura verdade.
Tião Camargo
Meu caro Henrique, opotuníssima, e, como sempre, erudita, a sua intervenção. abs.
João Francisco Tidei de Lima
Tb acho que o correto seria o governo tomar pra si novamente a concessão e fazer nova licitação. O problema é que as concessões deveriam PROIBIR que as emissoras fossem sub locadas, ou loteadas, pra essas "micro empresas religiosas". Óbvio que é muito mais cômodo e lucrativo esse tipo de prática do que montar-se um departamento comercial pra vendfa de publicidade, oferecendo-se, inclusive, mais oportunidades de empregos na cidade. Afinal, ao que eu saiba, uma concessão de rádio implica na OBRIGATORIEDADE de inserir-se diariamente: jornalismo local, entretenimento, utilidade pública e prestação de serviços, ao menos em 70% das 24 horas de programação.
José Esmeraldi
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