QUANTAS BAURUS TEMOS?*
* Texto de minha lavra e responsabilidade publicado na edição especial da revista mensal AZ!, Agosto 2015, nº 28, comemorando 5 anos da revista e os 119 anos de Bauru:
Quero cada vez mais estar junto de uma Bauru, a escolhida por mim para ao seu lado caminhar, já que é sabido por tudo, todas e todos da existência de várias baurus coexistindo dentro da mesma região administrativa. Mas que negócio é esse de muitas baurus? Nada de tão anormal. Longe de cada um ter a sua, pois isso é coisa de ego inflamado, mas de insuflar a que mais se parece contigo dentro da cartografia existente, essa imensa fronteira mal delimitada de uma cidade em constante construção e mutação. Precisas jogadas, dentro desse incerto tabuleiro de xadrez.
A cidade navega conforme a influência dessa ou daquela jogada, poucas ocorridas ao bel prazer. Muita coisa engendrada por detrás do pano, esse encobrindo a peça teatral que é a vida em si. O tal Mercadão Municipal sendo insuflado na Estação da NOB, local mais propício para outras atividades e não na Estação da Cia Paulista junto da Feira do Rolo diriam que é o que? Pura movimentação dessas baurus em disputa. Ali mesmo, na área da avenida Pedro de Toledo quase sai o restauro da estação da Sorocabana e é implantado um conjunto residencial em área abandonada e hoje inservível. Não saiu e não sairá. Foi pura queda de braços dos interesses de algumas baurus em disputa. O tal do Residencial lá na rodovia, o Pamplona, na imaginária divisa cartográfica com Agudos. Ali alguns poucos já imaginavam subverter os limites de todas baurus e repassá-la ao vizinho. Dessa vez não deu certo. Outras tantas deram.
Enquanto uns brigam pelos seus limites, subvertem até o existente como na época das Capitanias Hereditárias, construindo onde antes existiam ruas, praças e documentação vigente de outrem, as peças se movem e uma bauru cresce, horizontalmente e verticalmente, eliminando onças, sugando o aquífero e passando com moto-niveladora por cima de reserva ambiental e moral. Não existem mais limites, em algo que até o atual papa combate, mas sensibiliza pouco os donos do poder (daqui e de alhures). Máquinas não são mais desligadas, funcionam ininterruptamente, transformando a antes terra branca em totalmente sem limites. Abusada e insansa.
Enquanto essa tem vida cega, tendo como objetivo o tal do “progresso”, a maioria vive numa outra, uma dentre tantas, pegando mais leve, sem levar tudo a ferro e fogo, sonhando em se banhar no ribeirão Bauru, em ver restaurada a praça da Feira do Rolo, lugar da maior concentração humana da reunião de todas as aldeias existentes dentro da grande cidade. Uma que sonha com um Sambódromo mais humanizado, um caminhão palco percorrendo todos os bairros, a saúde no estilo privada sendo praticada no lado público e pulverizada levando em conta o ser humano. Existe uma Bauru com H maiúsculo saindo pelos poros nos bairros populares, ocupando espaços nas praças, fervendo suas feiras, sambando nas quebradas, se reunindo na moita, assando suas carnes nos quintais e aos finais de semana, escarafunchando um lazer inventado por elas e assim por diante.
A periférica Bauru marca presença nesse aniversário, pede passagem, avisa que algum dia poderá invadir a avenida e promover o samba a seu modo e jeito, conforme suas conveniências, com os seus adereços, fantasias mais que próprias e estilo só seu. Se essa Bauru resolver tomar conta da cidade, ocupar o asfalto será algo grandioso, deslumbrante, demarcatório de uma nova possibilidade, enredo ainda em elaboração e sob a batuta de milhares de mãos. Talvez um dia isso ocorra e se chegar, veremos raiar um novíssimo dia, virada técnica colocando em xeque-mate as tradicionais relações de poder que marcaram o percurso até hoje. Sonho é com essa Bauru, com outros olhares, saberes e viveres.
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História.
OBS.: A AZ! desse mês está linda e com duas impecáveis matérias escritas pela jornalista Amanda Rocha, principalmente a "Machado de Dois Gumes e o Faroeste Bauruense", antecipando como uma premonição algo ocorrido por esses dias na Câmara Municipal, quando da votação do nome do viaduto, a necessidade de parte de sua história ser recontada/reescrita. Amanda acertou na mosca. Parabéns do colega aqui, que babou no seu escrito.
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