quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

COMENDO PELAS BEIRADAS (10)


O QUE AINDA PODERIA ESCREVER DESSE E NESSE FINAL DE ANO - TRÊS COISIQUINHAS DAS MAIS IMPORTANTES

1 – O MELHOR LUGAR DO MUNDO PARA PASSAGEM DO ANO – Manuel Hector FernandeZ é argentino de Córdoba e reside em Bauru faz um bom tempo. O sotaque ainda perdura, mas a integração é evidente, porém, lenta e gradual. Trabalha lá na unidade do SESC e o vejo ontem pelas redes sociais todo pimpão ao lado da família e amigos em algo onde os argentinos são mestres, acampar. Sim, Manuel juntou os seus e foi fazer aquilo que todo “hermano” gosta muito, montar barraca e flanar por uns dias. Escolheu a vizinha Brotas, 100 km de Bauru. Num passado já distante, tínhamos mais campings, íamos mais em lugares assim, hoje bem menos. Como todo bom argentino, ele não perdeu o gosto e nos mata da boa inveja, com um vídeo montando a barraca e dizendo para tudo, todas e todos: “Mesmo com essa chuva toda nenhuma gota entrou dentro da nossa”. Experiência comprovada. Vou me inteirar com ele como posso dar início a algo da mesma laia para 2016. Enfim, acampar é preciso, até para sair da fervura desse nosso conturbado e desajuizado mundo. Manuel sabe muito bem tocar a vida. Cliquem a seguir e vejam a belezura dele montando a barraca: https://www.youtube.com/watch?v=jHr9HOPAv20

2 – COMO REVIVER O ELO PERDIDO DE UM PARTIDO – Tião Camargo é radialista dos mais conceituados na cidade. Sertanejo de raiz é com ele mesmo. Tem uma rádio comunitária praticamente aprovada no nome da associação onde participa, mas a autorização de funcionamento está encalacrada em algum órgão público. Vira-se com uma pelas ondas internéticas. Tião foi petista, comandou o partido na cidade, militou de forma contundente e acabou por se afastar quando notou que as forças locais impediriam qualquer avanço de algo novo, renovador e oxigenador. Preferiu cair fora, mas nunca abandonou a cancha de luta. Muitos fizeram o mesmo. Por esses dias, com mais tempo livre, está a escrever mais e mais pelas redes sociais. Num dos escritos algo de muitos, centenas, milhares que assim como eles querem fazer e acontecer nesse novo momento. Vamos ler juntos seu desabafo: “Assim como não se pode dizer que todos os islamitas são terroristas, não se pode dizer que todos os petistas são corruptos. Bandidos, corruptos, filhos da puta, entre outros tantos adjetivos aos quais podemos enquadrar certas pessoas, existem em todos lugares, em todos os partidos. Basta um filiado ao PT, ou um parlamentar do partido ser citados em qualquer ato ilícito para aparecer os comentários dos filiados da Rede Globo para classificar todos os petistas como corruptos. Desfilei-me do PT em 2010 apenas por questões locais. Sou um dos fundadores do PT e já estive na Presidência do partido em Bauru por diversas vezes; inclusive em 2002 e 2006, nas duas eleições do Lula, e não sou corrupto. Por favor, tenham mais respeito com as pessoas de bem. Sinceramente, tudo isso está me aguçando a vontade de voltar para o PT e defender minha ideologia e o partido que ajudei a criar. É preciso expulsar os corruptos do partido, a começar por Bauru. (...) Decididamente, vou me refilar ao PT”.

3 – OS 20 MELHORES DISCOS DE 2015 – Bruno Emanuel Sanches é um bauruense quase uruguaio e vice-versa, ou as duas coisas ao mesmo tempo. O fato é que além de poetar maravilhosamente, gosta também da boa música, bem variada, num estilo mais do que inebriante, radiante e delirante (uai!). Pois não é que o gajo junto de outro amalucado criou algo para nos fazer ferver o cerebelo. Elencou os 20 melhores discos de 2015 e eu, que adoro música como ninguém, da lista toda só tenho um. Entrei em decepção e depressão profunda e sorumbática. Peço a todos que façam como eu, entrem no site criado pelos entendidos do assunto, esse aqui: https://escutaessablog.wordpress.com/…/os-20-melhores-disc…/. Depois de lerem como tudo foi sendo consolidado, a seriedade da coisa, espiem a lista abaixo e vamos discutir um pouco com eles, pois se não houver xingamentos, admoestações e nem provocações desvairadas, eles dizem aceitar debates sobre o assunto. Eis a lista:
Ava Rocha – “Ava Patrya Yandia Yracema“: 02’24”
Titus Andronicus – “The Most Lamentable Tragedy“: 04’38”
Leon Bridges – “Coming Home“: 06’41”
Jair Naves – “Trovões A Me Atingir“: 08’46”
Deafheaven – “New Bermuda“: 11’16”
Halsey – “Badlands“: 13’22”
Roberta Sá – “Delírio“: 15’19”
Sufjan Stevens – “Carrie & Lowell“: 17’54”
Ian Ramil – “Derivacivilização“: 21’06”
Hiatus Kaiyote – “Choose Your Weapon“: 22’36”
Steve Hackett – “Wolflight“: 24’27”
Steven Wilson – “Hand. Cannot. Erase.“: 26’48”
Barock Project – “Skyline“: 29’59”
Fito Paez & Paulinho Moska – “Locura Total“: 33’15”
Lenine – “Carbono“: 36’44”
Alafia – “Corpura“: 40’26”
Björk – “Vulnicura“: 43’07”
Tame Impala – “Currents“: 45’31”
Kendrick Lamar – “To Pimp A Butterfly“: 50’00”
1. Father John Misty – “I Love You Honeybear“: 56’04”
1. Elza Soares – “A Mulher do Fim do Mundo“: 1h01’10”
1. Kamasi Washington – “The Epic“: 1h05’05”

Boas entradas e saída para tudo, todas e todos...

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

AMIGOS DO PEITO (113)


OS TAIS QUE CAIRAM NO MUNDO – CAIXEIROS VIAJANTES DO SÉCULO XXII
Eu adoro contar histórias de amigos e amigas. Por esses dias reencontrei dois deles assim do nada, ele no meio da feira e a ela na entrada de um supermercado. Ambos não são mais figurinhas fáceis por aqui, pois estão um tanto longe da aldeia bauruense, mas voltam sempre que podem. E nesse final de ano, cá estão. Conto, com muito gosto, algo deles.

HAMILTON SUAIDEN é o popular Turco, apelido recebido por causa da procedência libanesa dele e de toda sua família, com ramificação também com os Madi. Estão espalhados por esse país afora. Seus pais residiam em Pompéia e para cá veio quando esses fecharam uma loja no centro da cidade. Um irmão reside aqui, advogado como ele (Turco nunca advogou), pendendo para os tucanos e o outro irmão, residindo em Pederneiras, pendendo para os petistas. Ele no meio do fogo cruzado, ouvindo a ambos. Trabalhei com ele no Bradesco, tempo em que também foi candidato a vereador, tendo conseguido uns 200 votos. Turco é bom de conversa, papo envolvente, aglutina todos à sua volta e após casar, nascer os filhos, descasou e caiu no mundo. Conheceu um ofício aqui, o de vender assinatura de revistas e dele fez seu negócio. Começou como simples vendedor, depois foi a supervisor e chegou a coordenador de equipes, o que o faz viajar país afora. Uma loucura, ora em Salvador, ora Belém do Pará, Cuiabá, Petrolina, Rio Branco, Palmas e por aí afora. Virou pessoa do mundo, sem parada. Ganha bem, mas gasta também bem, pois gosta de um joguinho e isso, sabemos, consome grana adoidado. Assume isso de ser caixeiro viajante, cidadão do mundo, de cidade em cidade, hotel em hotel, sempre com gente nova pela frente e em cada novo momento uma história diferente. Algumas de arrepiar, outras mais amenas. Sentei com ele na barraca do sanfoneiro do chopp, lá na feira dominical e proseamos um pouco. Aventura é o que não falta em sua vida e elas terão prosseguimento caso resolva começar o ano em alguma cidade por esse imenso país continente. Tomou uma decisão, a de parar com tudo e voltar a residir por aqui. Quer estar mais perto dos filhos, ou seja, a saudade bateu. Diz que fica, mas seu celular não para de tocar. São sempre os diretores das editoras de revistas insistindo para que continue e lhe oferecendo mais e mais. O cara é bom de venda, chega já vai proseando fácil com o futuro assinante e dificilmente sai de uma visita sem algo estar fechado. Gente assim não se encontra fácil por aí. Domingo que vem Turco vai me contar se fica ou se cai na estrada. E se ficar, vai fazer o que por aqui? Nem ele sabe.

ROSANGELA BEATRIZ MONGE é uma hoje quase senhora, alta, morena, cabelos longos, sorrigo gostoso e com casa montada na vila Cardia, mas residindo bem longe de Bauru, na verdade, com nada fixo, tudo dependendo do fluxo do seu negócio. Décadas atrás foi casada, nasceu seu filho, hoje residindo em Dublin, coração da Europa. O casamento não deu certo e ela ainda insistiu um tempo por aqui, mas quando ingressou de vez num negócio artesanal, viu que para fazer a América teria que bater asas. Nada mais a segurava por aqui e daí para ganhar estrada foi um pulo. Uniu-se a um grupo de organizados artesãos e em conjunto viajam de cidade em cidade, montam o aparato todo, ou seja, as barracas nas praças centrais e ficam um tempo em cada lugar. Quando o movimento começa a rarear levantam voo e vão para outras paragens. Dessa forma já conheceu uma infinidade de cidades. Nem saberia dizer o nome de todas. Dificuldade, claro, ela tem algumas e quando a reencontro na entrada de um supermercado na semana passada, relaciona algumas. A principal é ter que utilizar banheiros públicos, banhos nesses lugares e até na casa de gente que vai conhecendo nessas cidades. Dormir não é problema, pois já está mais do que acostumada com a cama desmontável e armada no centro da barraca. Com todos ali juntos, os perigos diminuem. É lindo ir vendo as fotos de cada praça, cada novo lugar por onde circule. A gente acaba viajando junto do lado de cá. Quando a pergunto sobre voltar, ela nem pensa muito e me diz que se o fizer, não sabe o que poderia fazer por aqui, pois seu negócio está nas idas e vindas, na novidade em cada novo lugar que chega. Volta mesmo só para rever os parentes, amigos e esse ano, aguardando a chegada do filho, algo que já deve ter acontecido. Curte esses dias pela cidade, mas noto que o brilho dos seus olhos está no que faz, nessa liberdade conquistada. Pode até trocar isso tudo por uma vidinha mais tranquila, mas que vai ser algo difícil, isso vai. Por enquanto, curte os dias de férias e sempre sorrindo, algo peculiar no seu jeitão gostoso de tocar a vida.

Esses meus amigos são mambembes, de causar inveja, únicos no que fazem. Tiveram coragem, escapuliram e se deram bem. Vivem ao modo e jeito só deles, sem arrependimentos. Queria contar isso para vocês. Pronto, contei.

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

RELATOS PORTENHOS (22)


O QUE SEI DE MAURÍCIO MACRI, O ATUAL PRESIDENTE ARGENTINO – CRUEL, INSANO E TAMBÉM TIRANO – SEUS PRIMEIROS ATOS GOVERNAMENTAIS COMPROVAM ISSO


Tenho tido o prazer de voltar para a Argentina, mas precisamente Buenos Aires nos últimos seis anos. Ana, a companheira de todas as horas vai todo ano entre final de julho e começo de agosto para um Internacional Congresso e Encontro de Diseño, como lá denominam o Design e vou junto. Neste ano até me arrisquei e apresentei um trabalho acadêmico, minha estreia internacional e acredito o repitirei por lá e em novas oportunidades. Amo demais da conta as coisas dessa América Latina e a cada dia, mais e mais me interesso por coisas e causas de todos os países que compõem esse bloco surrealista e quase sobrenatural. Somos o que somos. Escolhi um diário, um jornal que, na impossibilidade de lê-lo na versão impressa, o faço diariamente na eletrônica, o Página 12, editado em Buenos Aires (www.pagina12.com.ar). Fiz um cadastro e religiosamente me enviam por email um lembrete para adentrar e navegar na edição diária. Meu encanto maior é por lá encontrar algo não só da Argentina, que passei a entender melhor e admirar, mas também de todos os países latinos, algo quase impensável nos jornais brasileiros. Buenos Aires me encantou desde que por lá aportei em 2007 pela primeira vez com o amigo Marcos Paulo, só para assistir a um comício com Hugo Chávez no estádio Ferrocarril, nas beiradas de outra adoração, os trilhos ferroviários (leiam texto clicando aqui: http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search…).

Depois voltei as tais seis vezes com Ana e a cada retorno só aumentou a paixão pelas andanças buenaristas, incursões feitas com os olhos bem abertos, atenção mais que desmedida. Um personagem sempre me chamou muito a atenção no cenário argentino, MAURÍCIO MACRI, primeiro como presidente do Boca Juniors, depois prefeito da capital e agora presidente da nação platina. Tento escrever sobre as impressões que tive dele desde o primeiro momento e nunca se dissiparam, ou melhor, se confirmaram. Hoje, olhando para trás, a certeza que sempre tive, seu projeto foi vitorioso, pois tanto lá como cá existem, como bem acertamente disse certa vez Fito Paez, o cantante que tanto gosto, sobre os tais 50% de cada lado, algo igualzinho aqui no país:http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search…. Macri sempre soube fazer muito bem o jogo do lado conservador, o que defende o neoliberalismo e do sempre presente conservadorismo existente e latente em boa parte de Buenos Aires, mesmo com todo arrojado projeto de modernismo existente na maior metrópole argentina. Elite não suporta ver vingar qualquer tipo de avanço social, isso lá , aqui e alhures. Pensam só nos seus botões, interesses de ter cada vez mais e mais, relegando tudo o mais para o segundo plano. Sempre tive bem nítido que, se com Cristina a coisa não estava boa, com Macri iria piorar mais. Em três semanas do novo Governo o que se vê é uma Argentina piorando a olhos vistos para o lado do trabalhador, do pobre e do assalariado.

Macri nunca escondeu esse seu lado durão, grosso quase que na maioria das vezes, antipático em outras, desses que só de bater os olhos, a plena certeza: dificilmente aceita posições contrárias as suas e muito menos opiniões de terceiros. Aparenta ter muito de um pedantismo dos que se acham ungidos pelo próprio céu, tipo predestinação. Passa isso. Desde os tempos da presidência do Boca Juniors isso sempre esteve muito presente em tudo o que fez. Ficou mais salientado quando na Prefeitura de Buenos Aires, num confronto diário, direto, ininterrupto e duro com o Governo Federal, no caso, os Kirchner, primeiro Nestor e depois com Cristina. Quando eleito, deu uma demonstração disso ao ser chamado por ela para uma reunião em Olivos, a residência oficial, para tratarem da cerimônia oficial de transmissão do cargo. Resolveu tudo aos gritos, com ela ainda na presidência. Prepotência daqueles que não respeitam nada e só se vergam sob a força popular e sob intensa batalha. Outra demonstração foi quando do último dia de mandato de Cristina e praticamente exigiu na Justiça que tudo dela fosse retirado de lá até no máximo meia noite, não passando um só minuto depois desse horário, quando então já seria ele o mandante. Ela o ironizou acertadamente no mais original palanque do país, a sacada da Casa Rosada, poucas horas antes da tal meia noite, quando disse que teria que se apressar, pois poderia se transformar em calabaza (abóbora):http://www.pagina12.com.ar/…/elpais/1-287943-2015-12-10.html.

Ele, após sua eleição escolheu o Brasil para sua primeira visita. A visita ao Planalto foi algo do qual não poderia mesmo escapar, pois existe entre os países acordos comerciais de grande monta. Mas mal saiu de lá e foi se encontrar com a mais cruel oposição à Dilma, Paulo Skaf e tudo o que representa a FIESP hoje em relação ao golpe em curso no Brasil. Até passeou de mãos dadas com Skaf pela avenida Paulista, reeditando em primeiro plano algo nefasto da história brasileira, que foi o financiamento da Operação OBAN, quando empresários bancaram a linha dura contra Jango Goulart. Ciente de que Skaf segue na mesma linha de 64, não é de bom alvitre estar ao seu lado nesse momento, a menos que se pensa da mesma forma. Macri pensa, age e é a cara brasileira de Skaf, ambos neoliberais até medula, mas o que de pior existe nesse quesito conservador e tacanho. Quando no poder fazem mal a um país de forma desmedida, diria mais do que incontrolável. O fazer mal a um país não é retórica e sim, em pouco mais de duas semanas de Governo uma sucessão de fatos a demonstrar o que ele fará com a Argentina. Primeiro já encurralou a Lei de Médios, que regula e controla a ascensão do jornal Clarín, um que quer dominar sem escrúpulos o meio comunicacional. Como segunda medida foi na reunião do Mercosul e se indispôs com a consulesa da Venezuela, quando afirma aquele país não respeitar os Direitos Humanos. Na verdade, Macri defende o assassino ex-candidato derrotado Caprilles, gente da mesma laia. Depois propõe trocar juízes por outros, todos do seu lado, numa clara intenção de ter amenizada sua vida jurídica. Enxerga os males de todos os outros, nunca os seus.

Não parou por aí. Dois dias atrás um outro acontecimento muito estranho ocorre na Argentina e merece uma explicação no mínimo plausível. Quando da eleição do Governo da Província de Buenos Aires, o candidato de Cristina foi acusado por uma quadrilha presa num presídio de segurança máxima de terem feitos algo em conjunto. Uma deslavada mentira para prejudicar o candidato dela na disputa, o que de fato ocorreu, pois perdeu o pleito. Veio o desmentido, mas já era tarde. E agora, os irmãos Lanatta, esse o tais que fizeram a acusação fogem misteriosamente dessa prisão, assim do nada, sem armas, numa troca de plantão e tudo bem. Transparece algo macabro nisso tudo, como se a liberdade fosse o pagamento por um serviço prestado. Enquanto isso ainda fervilha na cabeça dos argentinos o país é acometido por uma enchente sem precedentes e Macri, alega estar em descanso, mesmo tendo assumido há duas semanas. Foi visitar os desabrigados só após muitas cobranças públicas. Algo ainda pior é anunciado no dia de ontem. É intenção dele aprovar uma legislação especial que para se fazer qualquer tipo de protesto no país será necessário uma autorização governamental. Que nome se pode dar a isso? O já dizem que os Fundos Abutres, bonito trabalho de resistência argentino contra a ingerência e subserviência externa deve também ser algo de modificação. Macri quer pagar os que estão a comer a carniça do país. Acredito que os vizinhos Hermanos estejam adentrando um novíssimo período de trevas em sua história. Encerro com algo que ouvi e até dou crédito. Lula, Evo, Correa e alguns outros da esquerda poderiam ter dificuldades em futuras campanhas políticas, mas com Macri fazendo o que faz no momento, metendo os pés pelas mãos, facilitará a vida deles nos próximos pleitos, sendo o maior cabo eleitoral de todos, pois demonstrará por A + B que a direita é uma péssima opção quando no Governo. Se ele continuar assim, o dito servirá como certo programa de campanha: “Somos o oposto de Macri".

OBS.: Desculpem pela pressa, foi escrito numa sentada. Poderia incluir mais fatos, observações mais detalhadas, porém o tempo urge. Mesmo assim, acredito o resultado tenha sido satisfatório.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

O PRIMEIRO A RIR DAS ÚLTIMAS (16)


UM TEXTO SOBRE A LAVA JATO E DANDO NOMES DOS BAURUENSES ENVOLVIDOS – E DOS MOTIVOS DA IMPRENSA LOCAL SE FAZER DE BOBA E FINGIR QUE O TEMA INEXISTE

O envolvimento de bauruenses com a LAVA JATO não é coisa de petistas, mas de gente da outra banda, uma onde a mídia nativa bauruense se finge de boba e não divulga quase nada, como se o tema não existisse. Quero citar aqui um texto que está circulando na internet e com algo bem explicadinho sobre como tudo se seu aqui em Bauru. Saiu no Diário do Centro do Mundo, uma publicação que merece antes de mais nada a divulgação de sua idoneidade. Saiba o que é isso clicando a seguir: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/sobre/. Quem faz parte do seu Expediente:http://www.diariodocentrodomundo.com.br/expediente/. Para saber mais deles é só pesquisar, pois ali existe a responsabilidade pelo que se publica, o nome de todos está declarado e exposto.

O que farei a seguir é simplesmente reproduzir um texto publicado em 27/12/2015, com o título “O ELO ENTRE A LISTA DE FURNAS E O MENSALÃO TUCANO”, escrito pelo jornalista Joaquim de Carvalho. O texto não é muito curto, mas esmiúça com uma riqueza de detalhes toda a trama a envolver alguns bauruenses, inclusive empresas mais do que conhecidas com o esquema de Furnas, em Minas Gerais, o então governador Aécio Neves e merece não só a leitura, mas a divulgação, pois a verdade precisa vir a tona. Leiam o texto na integra, inclusive com os comentários anexados ao mesmo clicando a seguir:http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-elo-entre-a-list…/.

Vou citar abaixo parte significativa do texto, toda entre aspas, justamente onde algo sobre a cidade, bauruenses e empresas, como a própria empreiteira Bauruense e a Rádio Auri-Verde. É a oportunidade se tomarmos conhecimento do que até então estava oculto sobre a trama a envolver Youssef, Aécio Neves e Bauru. Depois de ler isso tudo, não dará mais para ficar insinuando que corrupção é coisa do PT, pois está claro que os dito impolutos fazem e acontecem, ainda acobertados, mas todos indiciados. Vamos ao texto:

“Na semana passada, eu fui para Bauru, no interior do Estado, para levantar informações sobre uma das empresas que se destacam na Lista de Furnas como doadora de recursos de caixa 2 para os políticos. Para testar a credibilidade de Nilton Monteiro, tirei foto da casa onde o dono da Bauruense, Airton Daré, morou, uma mansão que ocupa um quarteirão inteiro, e enviei por mensagem a Nilton Monteiro. Você conhece esta casa? Perguntei. “É a casa do Daré, em Bauru.” Você já esteve aqui? “Muitas vezes” Fazendo o quê? “Pegando malas de dinheiro, para entregar a políticos que o Dimas indicava.” Por conta própria, Nilton acrescentou: “E eu viajei muito no avião dele, com um pau mandado do Daré, o Carlos Braga, que era genro dele””.

O genro e o avião faziam parte das minhas anotações, citados em entrevistas que fiz com pessoas que conviveram com Daré, mas eu não havia comentado nada com Nilton Monteiro. Daré morreu no dia 19 de junho de 2011, mas a empresa que fundou continua ativa e muitos dos diretores que o auxiliaram nos negócios da empresa continuam no mercado. Alguns até dão entrevista, sob a condição de anonimato.

Comecei a levantar informações sobre a Bauruense depois que o doleiro Alberto Youssef contou, em delação premiada na Operação Lava Jato, que a empresa repassava mensalmente propina a dois deputados federais, José Janene, do PP, para quem ele trabalhava, e Aécio Neves, do PSDB, ambos da base de sustentação política do presidente Fernando Henrique Cardoso.

Youssef diz que o dono da Bauruense repassava pelo menos 100 mil dólares por mês (390 mil reais pelo câmbio atual) a Janene e uma quantia não especificada para Aécio Neves. O vídeo com o trecho dessa delação foi vazado e se encontra disponível na internet.

Nesse vídeo, Janene, de camiseta cinza de mangas curtas, demonstra muita tranquilidade e, com as mãos sempre cruzadas, pressionando e afastando os dedos, conta como soube do envolvimento de Aécio no esquema.

O dono da Bauruense, ao discutir valores de propina com José Janene, na presença de Youssef, dizia que não podia aumentar a quantia porque “ainda tem a parte do PSDB”. Youssef era o operador de Janene e o procurador pergunta quem era o operador do PSDB.

“Sei por ouvir dizer que era a irmã do Aécio”, afirma. No vídeo, ouve-se o procurador dizer que tinha uma foto de Andrea Neves e fazer menção de mostrá-la a Youssef, que diz não poder reconhecer. “Estamos falando de coisa de vinte anos atrás”, diz. O procurador insiste se ele teve contato com Andrea, e Youssef diz: “Não.”

O que Youssef demonstra não ter dúvida era sobre a divisão da diretoria de Furnas: “Ele (Janene) dividia essa diretoria com o então deputado Aécio Neves”. O procurador pergunta se a propina entregue à irmã de Aécio era em espécie, assim como para ele: “Acredito que sim”.

Dinheiro em espécie existia na casa de Airton Daré. “O Daré era um homem muito discreto e muito inteligente”, conta Nilton. Ele esteve na casa de Daré em Bauru, levado de avião particular, para recolher mala. Diz que foi lá em nome do Dimas Toledo, então diretor de Construção, Engenharia e Planejamento de Furnas.

No mesmo endereço, à rua José Salmen, número 28 da quadra 4 (os números em Bauru são diferentes, contados por quadra) os vizinhos se recordam de que, em 2006, entraram policiais federais, para uma operação de busca e apreensão.

“Os homens estavam armados e com colete preto, com Polícia Federal escrito”, recorda um vizinho. “Igual a essas cenas que a gente na televisão”, acrescenta. Só que, ao contrário dos tempos da Operação lava Jato, a apreensão na casa de Daré não passou na televisão. Os policiais estiveram nesta casa, na sede da empresa e no apartamento do dono da Bauruense, no condomínio Mônaco, na Vila Universitária.

Os policiais encontraram no apartamento mais de 1 milhão de reais em espécie e cerca de 350 mil dólares, também em espécie. Em sua defesa, Daré disse que era dinheiro para pagar funcionários de suas fazendas, mas não conseguiu provar o saque das contas.

Entre 2000 e 2005, a Bauruense recebeu cerca de meio bilhão de reais por serviços prestados a Furnas. A Corregedoria Geral da União, criada em 2003, investigou os contratos da Bauruense e, segundo a procuradora da república Andréia Bayão, encontrou indícios da existência dos crimes de corrupção passiva, peculato e de fraude a licitação, “antecedentes aos de lavagem de dinheiro”.

Entre os fatos suspeitos citados, está o superfaturamento de preços, o pagamento por reajustes e vantagens que caberiam exclusivamente à empresa e até a contratação pela Bauruense de um irmão do funcionário responsável pelas licitações da estatal.

A procuradora diz ter encontrado nos relatórios da CGU e também do Tribunal de Contas da União “evidências de que Furnas estava inserida dentro de um esquema criminoso voltado para obtenção de vantagens ilegais em benefício de funcionários públicos e políticos”.

Daré é apontado pela procuradora Andrea Bayão como beneficiário do “esquema criminoso” e, para sustentar a acusação, a procuradora solicitou à Receita Federal um estudo sobre a evolução patrimonial dele, a partir da quebra do sigilo fiscal. Em 2002, Daré declarou bens e direitos no valor aproximado de 35 milhões de reais. Em 2006, seu patrimônio declarado era de R$ 58 milhões.

“Sua evolução patrimonial ou é superior aos seus rendimentos ou fica no limite dos seus rendimentos, o que lhe impediria de fazer quaisquer outros gastos com moradia, lazer, consumo”, escreveu a procuradora na denúncia à Justiça, em que pede a condenação de onze pessoas, entre elas o diretor de Furnas Dimas Toledo e o empresário Daré.

Daré e Dimas Toledo são dois lados da mesma moeda, cada um de um lado do balcão, mas unidos por negócios em estatais, que só a corrupção política pode proporcionar. Dimas começou a trabalhar em Furnas no ano de 1968, logo depois de se formar em Engenharia pela Faculdade de Itajubá, Minas Gerais, o mesmo ano em que Daré fundou a Baruense, para prestar serviços em Ilha Solteira, inaugurando um longo e duradouro relacionamento com a estatal paulista de energia CESP.

Daré também era formado em Engenharia pela Universidade de Londrina, só que no ramo florestal, o que lhe permitiu fazer negócios de reflorestamento no Estado do Mato Grosso antes de entrar no setor de energia.

Segundo o inquérito da Polícia Federal, Dimas, quando ausente, era chamado de Gordo pelos empresários que prestavam serviços em Furnas. Daré também tinha muitos quilos além do peso ideal. Ambos investiram em imóveis. Dimas é dono de uma fazenda na Serra da Bocaina, Minas Gerais, seu Estado Natal, e comprou muitos imóveis em Resende, no interior do Rio de Janeiro.

Segundo pessoas que trabalharam com ele em Bauru, Daré adquiriu mais de 150 imóveis urbanos e comprou algumas fazendas, entre elas uma às margens do rio Tietê, onde criou uma espécie de clube de campo para seus mais de mil funcionários. No local, todo fim de ano, realizava uma grande festa de confraternização.

“Ninguém saía sem presente da festa”, conta um ex-diretor do grupo. E eram presentes caros, de televisores a carros. Mas a forma como ele realizava o sorteio revela como conduzia seus negócios. “Os ganhadores dos carros eram escolhidos antes. Todos os nomes estavam no saco, menos aqueles que ganhariam os carros. Estes estavam na mão do próprio Daré. Ele colocava a mão no saco, mexia, mas não pegava nenhum papel. Ele já estava com ele na mão”, diz.

Ninguém percebia e, se percebesse, havia motivos para não ligar. Daré era um homem de hábitos simples e generoso, não só com empregados. Quando o genro, Carlos Braga, quis ser deputado estadual, em 1998, pelo PP de Paulo Maluf, Daré bancou a campanha, ao custo de quase 70 reais o voto.
Era conhecido o patrocínio que dava às campanhas do vereador Paulo Madureira, embora não tivesse negócios significativos com a administração pública do município. Não que ele não quisesse. Chegou a comprar 28 caçambas, na expectativa de assumir a coleta de lixo na cidade, mas teve que destinar a frota a outro município onde já prestava o serviço, Campinas.

Apaixonado por esporte desde seu tempo de pessoa simples em Pederneiras, onde nasceu e ajudava o futebol amador, bancava o time do Parquinho, de Bauru, e financiava uma escola de samba.

Tentou fazer do filho, que também se chama Airton, uma estrela da Fórmula Indy, mas Darezinho não chegou a obter grandes resultados, embora patrocínio não lhe faltasse, inclusive um do Banestado, o banco público do Paraná, que protagonizou na época das privatizações de Fernando Henrique Cardoso um dos maiores escândalos de evasão de divisas do Brasil.

Os vizinhos de sua casa da rua José Salmen, Jardim Estoril, lembram que ele dava grandes festas, inclusive uma com a dupla sertaneja César e Paulinho. Perto desta casa, ele comprou na planta quatro apartamentos de um andar inteiro, no edifício Marselha, o metro quadrado mais caro de Bauru. Lá moram seu filho, o Darezinho, e a ex-mulher Cláudia. A Bauruense tem cinco aviões, sendo um deles o jato Citation.

Na década de 90, comprou uma rádio Auri Verde, de Bauru. Mas a emissora foi parar em suas mãos por caminhos, digamos assim, tortuosos. O prefeito de Bauru era Antonio Tidei de Lima, e a rádio Auri Verde, AM de grande audiência nas classes populares, o apoiava. Mas ainda não pertencia a Daré.

Em troca do apoio, conseguiu dinheiro da prefeitura para reformar todo o prédio. Um locutor lembra que, para driblar a restrição da lei eleitoral, a rádio noticia que haveria evento em determinado lugar. No encerramento do boletim, o locutor informava: “Tidei a dica.”

O relacionamento entre Tidei de Lima e o dono da rádio, azedou e as verbas deixaram de ir para a rádio, que ameaçou fazer oposição. Para evitar desgaste político e a perda de popularidade, o prefeito telefonou para amigos no Palácio dos Bandeirantes, onde o chefe era Luiz Antônio Fleury Filho, também do PMDB.

Tidei pediu ajuda, a solução encontrada foi propor a Daré comprar a rádio. “Uma pessoa ligada ao governador ligou para o Daré e disse que ele deveria comprar a rádio”, conta. Daré teria dito: “Mas eu não entendo nada de rádio e por que vou gastar dinheiro comprando a rádio?” O governo viabilizou a compra, autorizando Daré a interromper o pagamento de propinas a três autoridades do Estado, incluindo um dirigente da CESP.

Na rádio, era proibido dizer o nome de Daré. Quando Daré bateu um carro, a caminho do aeroporto, a rádio ignorou o fato, e funcionários da Bauruense pressionaram os jornais a não dar a notícia. A informação foi publicada no Jornal da Cidade, o maior de Bauru, mas sem nenhum destaque, como queria Daré.

Quando ele morreu, em 2011, um executivo da empresa telefonou e disse que não era para noticiar a morte. A ordem não foi acatada, em razão da relevância da notícia. “Todo mundo em Bauru sabia que ele era o dono da rádio. Como é que não íamos dar?”

No aspecto pessoal, assumia ser mulherengo. Certa vez, na companhia do genro em um avião, telefonou para um amigo e disse que queria vê-lo em seu escritório, em Bauru.

O amigo foi até lá e ele o recebeu na companhia de uma mulher muito bonita e bem mais nova do que ele. Daré pediu que o amigo aguardasse na antessala. Pouco depois, ele voltou, sozinho, com uma revista Playboy na mão, e mostrou a capa, dizendo, baixinho: “É ela”. O amigo viu que a mulher que lhe fora apresentada minutos antes era a mesma da capa da revista.

As pessoas com quem conversei fazem relatos com detalhes, como do dia em que um deles foi até o Café Photo, conhecido prostíbulo de luso em São Paulo, para entregar a um intermediário mala de dinheiro. “Parecia filme do 007”, afirma.

A orgia de malas e contratos fraudulentos que uniu a Bauruense de Daré a Furnas de Dimas Toledo, sob a proteção de um esquema político, é muito bem contada na investigação da Procuradoria da República no Rio e confirmada sem muita dificuldade com o levantamento de informações em Bauru. Mas esta é uma pequena parte da história.

Eu procurei a Bauruense e fui orientado a enviar as perguntar por e-mail ao diretor jurídico, Rinaldo. Foi o que fiz, na terça-feira, dia 22 de dezembro e até agora não recebi resposta.
Além da Bauruense, há outras empresas envolvidas no esquema de Furnas e uma penca de consultorias de fachada que celebravam contratos milionários com os prestadores de serviços da estatal apenas com o objetivo de desviar dinheiro para as malas da corrupção.

O ex-superintendente administrativo da Toshiba do Brasil, José Antonio Csapo Talavera, contou à Polícia Federal que a multinacional utilizava “notas frias, retratando serviços de consultorias inexistentes por empresas de fachada com a finalidade de esquentar recursos não declarados pela Toshiba ao Fisco.”

Talavera ouviu de um colega da Toshiba, Dieickson Barbosa, superintendente técnico comercial, que a usina termelétrica que a Toshiba construiria para Furnas em 2001, em um contrato obtido sem licitação, já trazia embutido em seu preço o valor da propina que seria paga a políticos que controlavam Furnas.

Detalhe importante: contratos como estes foram assinados sem licitação em razão de uma medida provisória editada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, que alegava o risco de apagão para acelerar a contratação de empresas, sem a necessidade de concorrência pública.

Com o depoimento recente de Alberto Youssef, envolvendo Aécio Neves no esquema de corrupção de Furnas, a Polícia Federal consultou o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, para saber se não seria o caso de abrir inquérito.

O procurador, única autoridade com poderes para investigar um senador da República, entendeu que não era o caso, em razão da dificuldade de levar adiante a apuração, já que o deputado José Janene e o dono da Bauruense estão mortos.

Minha apuração em Bauru, com a localização de testemunhas que conheceram os negócios de Daré por dentro, e a simples leitura da denúncia da procuradora Andrea Bayão, com os nomes e os fatos que levam à conclusão de que houve um grande esquema de corrupção em Furnas, mostram que compor este quebra-cabeças não é uma tarefa difícil. A primeira prova já está pronta. É a Lista de Furnas, com a assinatura autêntica de Dimas Toledo, o Gordo".

domingo, 27 de dezembro de 2015

CARTAS (152)


ARAUTOS DO CONTORCIONISMO*
* Carta de minha lavra e responsabilidade publicada na edição de hoje, Tribuna do Leitor do Jornal da Cidade - Bauru SP:

Cada um pode achar o que quiser a respeito de tudo, mas quando sua definição envolve a História (com H maiúsculo) alguns cuidados devem ser tomados. Opinar sempre fez e fará parte do negócio humano. Mas quando algo resvala em tentar reescrevê-la ao bel prazer e conforme conveniências de plantão, o alarme é ligado, alerta máximo para não ocorrer aberrações conceituais. Sempre se tentou escrever a história pela visão de vencedores, mais fortes, espertos, ladinos e sabichões. Isso pode até colar por um determinado período, mas historicamente não tem valor nenhum. Lixo da história para eles. Entendimentos distorcidos e defendidos como definitivos não possuem valor além da própria opinião da pessoa ou grupo, nunca como regra de definição de conceito.

O exemplo maior é o que ocorreu no Brasil em 1964. Durante todo o período de exceção, obrigados pelos mandatários de plantão vigorou o nome Revolução para o ocorrido. Isso não se sustentou além do período de força. O que de fato ocorreu, mera quartelada, a denominação acertada, portanto, Golpe de Estado. Pronto, sem tirar nem por, termos bem distintos um do outro, assim como água e o vinho. Saudosistas ainda utilizam Revolução, mais por devoção ao autoritarismo, mera subserviência, alguns por medo do que representou o poder militar e outros por ainda não entenderem nada.

O tempo passou e hoje algo no ar como no período de 64 tenta desanuviar mentes e, consequentemente conceitos. Ninguém impede ninguém de defender o que lhe aprouver. Que assim o seja. Nada como assumir o que se vai na cabeça e sem a necessidade de justificar com termos onde não existe a mínima possibilidade de aceite, encaixe inconcebível. Hoje nova tentativa de se rasgar novamente a regra, passando por cima de conceito universalmente aceito, para desdizer da existência de um golpe em curso. Aberrações são utilizadas na defesa deste nada seleto agrupamento de ideias e interesses. A democracia só é questionada quando se afirma no sentido da legalidade que se quer driblar. A questão da História não é agradar ou desagradar pessoas ou grupos, pois aqui os “fins não justificam os meios”. Se antes, para o Golpe de 64 foi necessário chamar os militares para sacar um presidente legalmente eleito, hoje quem cumpre esse papel é Eduardo Cunha, o Judiciário e parte da mídia.

Já no caso do dito impeachment, algo prescrito em nossa Constituição, simples demais. Quando não segue o que lá está contido, impossível ocorrer impedimento sem denomina-lo de golpe, de manobra insana e totalmente ilegal. Pedaladas ocorrem nesse país de norte a sul, em todos os municípios, praticamente institucionalizada, porém quando o intuito é fazer de tudo e mais um pouco para sacar alguém do qual se discorde, daí vale tudo. Esse vale tudo tem nome: é Golpe, a História demonstra bem isso. Não existe em sã consciência nenhum historiador sério defendendo o contrário, pois estaria agindo contrário a tudo o que aprendeu até então. Daí, a existência de um algo mais no imbróglio atual. Alguns estando inseridos no que está em curso, se omitem de dar opiniões e cientes da inconsistência do movimento se calam. Estão entre a cruz e a espada. Ou jogam na lata do lixo tudo o que aprenderam ou dão a denominação correta para o que está a ocorrer no país. A História não julga como sérios profissionais a serviço de grupos de interesses, de poder e quando cientes da má utilização de termos históricos não os denunciam. Reside exatamente aí o grande poder do Historiador, o de nunca, doa a quem doer, falsear a História. Temos um papel a cumprir nesse exato e histórico momento.

Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História.
O chargista LAERTE é mais que ótimo ao explicar tudo desenhando.

sábado, 26 de dezembro de 2015

UM LUGAR POR AÍ (76)


O INCÊNDIO NA LUZ E AS RECORDAÇÕES QUE TENHO DA VELHA ESTAÇÃO
Não compro mais os jornalões. Leio quando os encontro pela aí, como hoje no saguão do hotel na despedida da sogra voltando para Sampa. Ali na recepção os dois paulistas, Estado e Folha. Vou direto nos cronistas e na edição de ontem, sexta, encontro um desses textos a me arrebatar. Trago o Caderno 2 na algibeira, dobrado dentro de um livro, tudo por causa do belo texto de um velho conhecido, Ignácio de Loyola Brandão (fez uma apresentação antecipada para um livro que um dia publicarei) que ali escreve sexta sim, sexta não. Dei sorte e ontem foi dia dele. O título já me chamou a atenção, “Uma vida vivida à sombra da Estação da Luz”. Claro, são reminiscências ocorridas após o incêndio que, nessa semana vitimou o Museu da Língua Portuguesa, no andar superior da citada Estação. Eu também chorei ao ver aquele telhado ruindo e vindo abaixo com o poder das chamas. Loyola também morre de amores pela velha estação e conta na crônica de outro incêndio ali ocorrido, 1946. Emocionante ler sobre como os ferroviários todos gostam muito daquela estação. Seu pai certa vez saiu com a família de sua Araraquara só para mostrar aos filhos os detalhes todos do lugar, o encanto em sentir o cheiro do lugar, palmilhar cada cantinho. Sempre que passo por lá, até hoje, sinto esse inebriante efeito. Leiam clicando a seguir a tal crônica:http://cultura.estadao.com.br/…/geral,uma-vida-vivida-a-som….

Não possuo a mesma verve do manejado e calejado escritor, mas tentarei ao meu modo e jeito escrevinhar algo sobre a Luz. Minhas lembranças mais remotas talvez denotem algo com quase a mesma idade que a dele quando lá esteve pela primeira vez, seis anos. Meu pai era da Cia Paulista Estradas de Ferro e o de Ignácio da Cia Araraquarense. Íamos muito para São Paulo, sempre de trem e a chegada era sempre lá na Luz. Ficávamos sempre nas casas de parentes na Capital, primeiro o de uma tia, a Zoel e Henrico Trombetti, ali na rua conselheiro Nébias, perto da antiga estação rodoviária, aquela com o teto todo colorido. Um amplo apartamento, pés altos, área ainda não problematizada com a cracolândia. Quando não ficávamos lá, descíamos na Luz e dali todos íamos de subúrbio para Franco da Rocha, ou melhor, duas estações depois, uma de nome Paradinha, onde tia Helena e tio Carlos, ela irmã de minha avó Olívia tinham uma casa ao lado de um morro. Naquela época o lugar era reduto de pequenas moradas como a deles. Hoje, dizem, o lugar está pra lá de perigoso e nenhum dos antigos moradores mora mais lá. Outras poucas vezes íamos para a casa de um tio de meu pai, o Cassiano, lá pro lados do Ipiranga, ele a cara e o jeitão do Adoniran. Essas minhas lembranças do uso da estação como chegada e partida. Ocomeço de uma paixão eterna e duradoura.

Anos depois quando atingi a maioridade, já trabalhando em Bariri e Jaú pelo Bradesco, pegava o trem e vinha sozinho para São Paulo fazer minhas primeiras incursões boêmias. Passei a conhecer melhor a estação, os horários dos trens, o bucolismo do lugar e tudo ao seu redor. Saia dali e seguia adiante para pegar a Ipiranga ou ia dar uma volta no Parque da Luz do outro lado. Seguindo para a esquerda tinham ruas de comércio, a da Noivas até hoje é naquela imediação, São Caetano. Na outra direção, comprei muita roupa na rua José Paulino. E inesquecível a caminhada até a antiga rodoviária e sempre passando de cabeça baixa diante do prédio do famigerado DOPS. A Luz, como bem escreveu Loyola exerce algo de magnetismo aos que amam a ferrovia. Sua história é longa, bela, uma formosura. Encantou mais do que uma, mas várias gerações. Sabia de cor do nome de todas as estações de Bauru até São Paulo. Anotava todos os nomes gritados pelos garçons do trem e depois transcrevi num caderno. Decorei aquilo tudo.

Não tenho quase nenhuma história a envolver a estação. Uma só que me recordo. Devia ter entre uns dezenove ou vinte anos e conheci uma garota em São Paulo. Gastei muito de telefone em intermináveis conversas. Num dia criei coragem e marcamos o encontro na estação e tão logo o meu trem chegasse. Por sorte naquele dia o atraso foi muito pouco. Eles vinham bem o trecho quase todo, mas chegando em Jundiaí, quando pegava o ramal junto com o subúrbio, dava uma enrolada. Lembro-me dela me esperando e nós dois procurando um lugar seguro, ainda dentro da estação da Luz para o beijo do reencontro. O tempo passou tão rápido e isso me parece mais do que uma eternidade, tanto que, nem me lembro mais do seu nome, muito menos de sua fisionomia. Mas me recordo do lugar do beijo. Subi os degraus que ligavam a plataforma até o saguão e ao atravessar aquela passarela sob os trilhos, feita toda de ferros rebitados, linda, grandiosa, virei á direita num corredor entre uma grade de metal, de onde se via a plataforma lá embaixo e do outro um paredão, a divisa com a calçada da rua defronte a estação. Lembro também das vezes em que meus pais cuidavam da prole toda para que nada lhe acontecesse por ali. Dizia que a malandragem rondava o lugar e eu queria mesmo era conhecer um pouco dessa tal de malandragem. E nós todos, eu até mais, olhava aquilo tudo como se fosse algo de outro mundo. Impossível não olhar para o teto e ver aquelas ferragens todas, os trilhos, sentir o cheiro, o clima abafado, o ar pesado.

A Luz me seduzirá sempre. Senti pelo incêndio e mais entristecido fico quando noto que não é o primeiro dentro do atual governo paulista. Desmandos de quem parece querer descartar algo onde muitos deram à vida. Esse tal de Estado Mínimo teleguiado por Alckmin é o descarte de tudo o que está em nome do Estado, repassando tudo e mais um pouco para a iniciativa privada. Se bobear ele passa tudo, inclusive os museus, lugares onde pessoas como ele enxergam gastos denecessários. Gente assim deixa tudo ao deus dará e mais dia, menos dia ocorrem as tragédias como essa do fatídico incêndio. Pouco retorno hoje para aquela região e a última vez que o fiz foi para visitar o Museu da Língua Portuguesa. Eu, Ana e o meu filho. Tenham certeza, toda vez em que estiver passando ali por perto, baterá a saudade de antanho e mesmo na pressa, terei que ir espiar como anda a Luz. Ela mora no meu coração ferroviário.

E NÃO É PARA CHORAR PELA ESTAÇÃO DA LUZ?

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

PERGUNTAR NÃO OFENDE ou QUE SAUDADE DE ERNESTO VARELA (106)


STAR WARS – FUI SENTIR O PODER DA FORÇA E AQUI CONTO DUAS HISTÓRIAS

Dia 25/12, final da tarde, 18h30, eu e o filho no Boulevard Shooping Bauru e adentrando uma das salas do Cinépolis. Ele para rever e eu para ver pela primeira vez o mais novo filme da saga STAR WARS, o O DESPERTAR DA FORÇA, sob direção de J. J. Abrams.

Dois breves comentários sobre, primeiro algo no entorno do filme e depois o que extrai assim de cara do que vi na telona grande.

1.) Quase tudo fechado em Bauru no dia natalino. Talvez um dos poucos dias do ano onde as convenções trabalhistas ainda consigam ser cumpridas a favor do trabalhador. O outro shopping totalmente fechado e no Boulevard quase tudo (do Alameda nada sei), só os cinemas funcionando. Adentramos seus corredores atrasados e com o filme quase começando. Ele me puxando pelo braço e eu querendo ver uma cena defronte uma loja toda colorida, neons piscando. Um jovenzinho sentado no meio fio e chorando copiosamente, ladeado por dois seguranças e uma outra funcionária uniformizada do lugar. Tentavam lhe explicar que sozinho e naquela idade (devia ter uns doze anos, por aí), não poderia adentrar o cinema. Quase assumi o imbróglio para mim, mas me omiti e segui em frente, com aquilo não me saindo da cabeça. Na virada do corredor que dá acesso para a sala outro grupo deles, todos da mesma idade e sozinhos ali dentro, todos sentadinhos num canto, olhando para a entrada dos cinemas com aquele olhar perdido, querendo fazer o que todos os demais estavam a fazer naquele lugar e momento: ir ao cinema. Também não podiam, pois estavam igualmente desacompanhados. Passar por eles e ver a carinha de desolação é dessas coisas para se certificar de que algo está mesmo muito mais do que errado na face do mundo onde vivemos. Talvez tivessem até o dinheirinho contado para o filme e para ali foram com o único intuito de verem o tão falada saga. São andantes dessa cidade, muito novos, já conhecendo muito mais dessa cidade do que, por exemplo, meu filho, que aos 21 anos também anda pela aí, mas não com a desenvoltura desses meninos cujos únicos GPs são o maravilhamento de já saberem tão cedos irem e voltarem para suas casas sem ajuda de nenhum adulto. Se perderem e se acharem são meros detalhes de suas vidas. A imagem deles não me sai mais da cabeça. Como me diz uma querida mestra: "Não são invisíveis, Henrique, são é ignorados". Pode ter a mais absoluta certeza, a imensa maioria ali presente nem deve tê-los notado.

2.) Assisto ao filme com um daqueles óculos tridimensionais. Gosto do que vejo, muito bem feito. Nem me lembro direito de todos os outros sete anteriores. Sou da época de Star Wars com George Lucas e meu filho me explica de como se sucedeu a venda da ideia para o grande estúdio e dali por diante outros diretores assumindo a continuidade da saga. No final de tudo, frigir dos ovos, quando tudo se encerra, ficamos a conversar sobre isso de filmes dentro dessa nada inovadora concepção da eterna luta do BEM contra o MAL. O tempo passou, o mundo intergaláctico é deslumbrante, pois lá no filme tudo transcorre no entorno de um país que se transformou no depósito de sucatas de naves variadas e múltiplas, mas a disputa segue firma e forte. Qualquer semelhança com países periféricos e o lixo das grandes metrópoles dos ricos não é mera coincidência. E os catadores desse lixo, depois indo revender o coletado nos postos de reciclagem, sendo ali enganados, tripudiados e quando com algo de valor, lesados descaradamente. A luta empreendida dentre duas poderosas forças, a Primeira Ordem, algo de cunho ditatorial, conduzindo as massas de forma domada e só pensando em destruir, ter mais e mais, poder concentrado nas mãos de uns poucos, com alguém acima de tudo a ditar todas as regras. Para combater tudo isso um outro grupo, a República, essa de cunho mais palatável, dita democrática e lutando pela Justiça (sic) e reordenamento das coisas no seu devido lugar. Pelo que entendi, também possui um poder central, sem possibilidades de mudanças, algo vitalício, só que bonzinhos. Quando aparece a versão de um local parecido com um bar, onde por lá uma pluralidade de gente de todas as matizes, vejo como incutem que o ocidente no mundo atual é mesmo o lugar onde tudo isso é possível e nada além disso. Impossível não fazer uma alusão com o que ocorre no mundo de hoje, essa luta do quase unificado Ocidente contra o “dragão da maldade”, ou seja, o Estado Islâmico. Tudo bem que os autores dão a entender que o próprio poderio dos EUA, pode também ser entendido como o totalitário Primeira Ordem, mas quando você liga a TV no noticiário a ocorrer hoje, o que passa mesmo é que as forças ocidentais unidas são a República e o Estado Islâmico é a Primeira Ordem. Num certo momento, vi uma velhinha simpática, espécie de conselheira da República apregoar que, assim como esses da Primeira Ordem, outro tanto maldosos e cruéis existiram, todos dia mais dia vencidos. Esse também o seria, não se sabendo só quando e como, depois mais outro e outro, mas a boa e insubstituível República estaria sempre ali para derrota-los e devolvê-los para a insignificância de meros grupelhos truculentos, os tais ogros intergalácticos.

Continuarei a discussão com meu filho sobre mais e mais assuntos extraídos do que vimos e talvez os faça ainda hoje, quando nos reencontraremos logo mais à tarde. Querendo entender mais do que vi, proponho também discutir um bocadinho do filme por aqui, mas por favor, sem altercações como as vistas hoje nas ruas? Enfim, de que lado estaria Chico Buarque e os inconsequentes abordadores de gente pensando contrário dentro da saga? Dá para viajar tendo enxergar o que é República e o que é Primeira Ordem. E teria como criar um algo novo no meio desse imbróglio todo? Já penso nisso, uma Terceira, Quarta ou mesmo Quinta via.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

ALGO DA INTERNET (111)


AS RUAS ME MOVEM O ANO TODO E AGORA TAMBÉM
Essas fotos tiradas a pouco nas ruas de Bauru são as que me movem. Gente a atravessar o continente todo para expor algo nos sinais de trânsito de uma desconhecida cidade, descoberta por eles ao acaso. Esse aqui é uruguaio e está de passagem por Bauru, como tantos outros o fizeram ao longo dessas décadas, enfim, Bauru continua sendo, não como antes, mas um terra de passagem. Se antes recebíamos latinos vindos pelas ferrovias e oriundos dos mais diferentes países, todos por aqui aportando por causa do famoso trem que os trazia e levava. O festim divinal produzido pelos trens teve fim e hoje alguns continuam chegando e saindo, em muito menor quantidade, mas fazendo de nossas ruas algo de seus paradeiros. Como vou me debruçar sobre um amplo estudo sobre esses latinos que por aqui passaram, alguns se fixaram, quando me deparo com a continuidade disso, bate o refluxo do estudo e a cabeça pira. Daí, paro o carro e vou até lá assuntar o que ele faz aqui, como veio, quais os motivos de aqui estar, o que o move, essas coisas instigantes e a me fazer se debruçar sobre os livros, amplo estudo migratório. Os de hoje vagueiam pela aí, sem eira nem beira, sempre em busca de um lugar onde consigam sobreviver de forma mais fácil. Os de ontem iam e vinham por variados motivos, usando Bauru como trampolim para outras paragens. Hoje aqui, amanhã ali e assim passam seus dias, noites, meses e anos. Esse só mais um deles. Esse malabarista do sinal fechado/vermelho é latino como nós e me encanta o que faz, a gana que tem de desbravar esse continente. Ah, se tivesse a coragem e desprendimento, faria o mesmo, mas acredito ter perdido algo pelo caminho e muita coisa hoje me segura por aqui, nesse lugar que já foi de passagem, mas é também de fixação.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

COMENDO PELAS BEIRADAS (09)


UMA DECEPÇÃO GASTRONOMICA E DEPOIS OUTRA, SUPIMPA CONTENTAMENTO
A decepção ocorreu em Bauru quando no último sábado, 19/12, num grupo de aproximadamente umas doze pessoas fomos almoçar coletivamente, bebericar algumas e jogar muita conversa fora num restaurante a nos decepcionar. Em primeiro lugar, caro até a medula, mas não só isso, pois muitas vezes o caro é compensado pelo bom atendimento, pratos saborosos e um lugar agradável. Não foi isso o que aconteceu. Dentro do rol de reclamações que poderia alencar, a pior de todas foi no quesito não saber receber as pessoas a contento e quando diante de um problema, ainda tentar uma saída pela tangente nada agradável. Quando questionado por um dos presentes sobre a forma de atendimento do lugar, uma resposta para um dos presentes, um senhor de 83 anos, veio de forma grosseira, insolente e feita de forma pedante. Gastamos os tubos no lugar, o prato mais caro que comi no ano, a cerveja idem e não sai de lá satisfeito. Enfim, só não cito o nome do lugar para não criar mais problemas do que já os tenho, mas dentre todos os presentes à mesa, como jornalistas, professores universitários, bancários, sambistas, aposentados, estudantes, militantes e outros, a decepção foi generalizada a ponto de todos, num papo ainda na calçada decidirem abolir o tal do vetusto restaurante da lista dos frequentáveis na cidade.

Isso de se decepcionar não é novidade, aliás, em Bauru é rotina. Não sou entendido nesse quesito gastronomico, preferindo os lugares onde amigos estejam na cozinha e os preços são mais ao meu padrão de gastos. Vez ou outra extrapolamos. Poucas vezes. Para compensar o ocorrido, ontem, terça, 22/12, saímos eu, Ana Bia Andrade, minha sogra Darcy Soliva da Costa e seu marido Moacyr Lopes, rodamos exatos 63 km e aportamos na hora do almoço no POLACO RESTAURANTE, ali no distrito jauense de Pouso Alegre de Baixo, 7 km estrada para Bariri. O trivial da casa é uma verdadeira delícia. Porco e frango à pururuca, com arroz, feijão, tomate e polenta. O prato para quatro saiu por R$ 75 e comemos de uma forma que, impossível na saída não ficar papeando com os donos do estabelecimento sobre as benesses de algo bem feito, da forma mais honesta possível, inclusive nos preços. Mesmo com a dita crise uma casa que permanece cheia todos os dias da semana, de segunda a segunda, atraindo gente da região toda. Uma loucura observar isso, como é mágico constatar que da simplicidade saem as coisas mais ricas desse planeta. Não é preciso muito rococó e salamaleques para fazer algo que caia nas graças de tudo, todas e todos.

De uma grande, inenarrável decepção para uma indescritível satisfação. Uma me motivou a escrevinhações desaforadas, contida pelos meus e outra, recebendo incentivo deles para os elogios de praxe.

AVANT PREMIERE DA CIA ESTÁVEL DANÇA BAURU E SIVALDO CAMARGO
Na última segunda, 21/12, uma festa para convidados no Teatro Municipal de Bauru comemora todos os avanços obtidos pela Cia Estável de Dança de Bauru, capitaneada pelo competente diretor Sivaldo Camargo, um que mata a cobra e mostra o pau (ui!). Sim, Siva e a Cia sob sua direção apresentaram uma espécie de retrospecto do ano se encerrando e começaram de uma forma um tanto inusitada, com a exposição para o público presente de como se dão os exercícios diários dele com seus alunos (as). Pau puro, ou seja, ele exige bem, mas todas ali sabem que os resultados aparecem. Foi diferente ver ele demonstrando como deve ser e depois seus alunos executando o riscado. E por fim, alguns dos mesmos alunos se apresentando em solo ou dupla, com o que de melhor tivemos durante o ano na cidade. Um belo registro da competência dessa Cia, um dos belos investimentos feitos de forma pública e cujo resultados são mais do que expostos. Nas fotos um bocadinho disso e em reconhecimento a ele e a todo o staff de bailarinas e, agora finalmente também uns poucos bailarinos. Ótima pedida para encerrar o ano. Adoro reverenciar essa Bauru que insiste em continuar dando muito certo.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

OS QUE FAZEM FALTA e OS QUE SOBRARAM (81)


A AGRESSÃO VERBAL A CHICO BUARQUE E ALGO SOBRE UMA PROFESSORA DAQUI DA ALDEIA BAURUENSE
Chico Buarque foi abordado de forma grosseira no bairro onde mora na Zona Sul Carioca e saiu-se com essa: “Guardemos a nossa energia para discutir com quem possa, ainda que minimamente, nos agregar algo". O caso eu conto, mas melhor mesmo é ler como tudo se deu clicando no link a seguir: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-licao-de-chico-na-discussao-no-leblon-por-nathali-macedo/.

Pensando nisso produzi esse texto de alguém aqui de Bauru, belas recordações de pessoas que sabem dar a exata resposta quando diante de abordagens similares.

PROFESSORA MARIA CECÍLIA NÃO SE CANSA DE QUERER ENSINAR
Acabo de ver pelas redes sociais uns boçais abordarem Chico Buarque com aquela ladainha de doer os ouvidos, cobrando dos motivos dele continuar sendo o que sempre foi e defendendo o que fez uma vida inteira. Misturam alhos com bugalhos e acham que só eles, os que pensam de um determinado jeito e maneira estão corretos. Não aceitam a pluralidade de opiniões e na fala de argumentos, quando se veem num beco sem mais respostas, a saída é a agressão. Agridem que é um beleza e assim demonstram o irracionalismo desses tempos sem diálogo, o do convencimento pela força, enfim, “não acredito que você possa pensar e agir diferente de mim”. Pensando nisso lembrei-me de uma mestra e aqui conto sua história.

MARIA CECÍLIA MARTHA CAMPOS é professora, hoje na UNIP, socióloga por formação, coordenadora do Curso de Comunicação Social naquela instituição. Da militância no movimento estudantil, lendo gente do quilate de Celso Furtado e Caio Prado Junior, caiu de boca na dureza do período militar. Participou da Libelu - Liberdade e Luta e da criação do PT. Uma cabeça pensante, pulsante e contagiante, não só pelo que pensa, mas pela forma como age. Viúva do também sociólogo José Ralph de Oliveira Campos, avó, aos 68 anos, essa não tão velha mestra é baluarte na defesa das liberdades democráticas, entendida de semiótica e sempre pronta para o bom debate, não o irracional, mas aquele em que consiga e possa acrescentar, somar, construir, sem essas altercações com os que chegam com uma ideia preconcebida e não aceitam muda-la nem um centímetro sequer. Em 2008 deu um bela entrevista para o JC, podendo ser lida clicando a seguir: http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php…. Li uma resposta dada por ela sobre a falta de verde-amarelo nas manifestações contra o golpe e o impedimento da presidenta e de tão lindo aqui transcrevo: “No meu entendimento, a nossa bandeira verde e amarelo figura junto às demais, de todas as cores e feitios, na base de um fundo vermelho que as une num só fundamento de classe social, pelo mundo inteiro”. Pelo simples fato de agir assim, não concordar com a linha vigente do pensamento único chegou a ser taxada de comunista, como se isso fosse a pior das coisas. Pessoas como Maria Cecília dão belas lições de como proceder no debate nesses inóspitos tempos. Isso tudo ela aprendeu de uma longa convivência com intermináveis leituras e muita prática de vida, o que falta na maioria dos fechadores de questão de hoje. Por ser o que é, merece hoje o abraço de fé dos que acreditam que algo ainda pode ser feito para modificar e abrir a mente de tantos com ela quase fechada.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

DICAS (143)


MEU NATAL E FINAL DE ANO

Sou um pouco disso tudo visto nessa tentativa de se fazer um cartão de festas e de final de ano. Algumas junções de algo sobre a minha mesa, como umas canetas, frasco de remédio (a fraqueza me domina), a chave do meu meio de locomoção, um botton, a estatueta de uma linda negra representando Ana (a companheira de todas as horas), as alpargatas que não me saem mais do pé, a estrela vermelha sempre na lapela, a carteirinha de estudante aos 55 anos, os brasões do Corinthians e do time de minha aldeia, o Noroeste, depois algo do bloco farsesco, burlesco e também carnavalesco e um clips representando os tantos papéis, livros lidos e a serem lidos para um inesperado e instigante curso de Mestrado em Comunicação ainda inconcluso e necessitando ser "destravado" o mais rápido possível. Faltou algo do meu filho, de meu pai, de uns poucos e sinceros amigos, de uma fidelidade canina aos princípios que sempre me nortearam. É com tudo isso que estou, é com eles que sigo, que vou em frente nessa caminhada. Desejo a tudo, todas e todos felicidades ao meu modo e jeito, exatamente como essa arvorezinha natalina num canto qualquer (ideia sacada de uma foto encontrada nas redes sociais) de um cômodo aqui de casa e diante de tanta coisa por fazer, talvez passe imperceptível, mas ela está aí e o seu tamanho representa maravilhosamente a importancia que dou para essa movimentação toda do lado de fora de minha janela nesse mês do ano. 

Prometo (toc toc toc) para esse ano que vai se iniciar e querendo ser mais compreendido, escrevinhar mais e mais por parábolas. "As pessoas, em geral, adoram não compreender. É bonito ter em casa alguma coisa que não se compreenda. Experimente.Dê uma de Deleuze, Guattari e Michaux. Mande fazer uma mesa esquizofrênica. Uma mesa onde ninguém possa escrever nem colocar coisa alguma sobre ela, feita de um tal jeito que tudo escorregue ou se quebre. Pode ter certeza que todos vão adorar!". Hilda Hilst, a poetisa jauense expressa bem como deve ser mesmo os excrevinhamentos futuros. Se o compreensível hoje serve para afastar as pessoas, decidi, parto para o imcompreensível e dessa forma conquistarei os píncaros da glória (o que seria isso?). 

Não espero muita coisa de 2016, pelo menos, seria bom, mais sensatez nas acertativas, decisões, conclusões, manifestações, admoestações e também escoriações (menos generalizadas, por favor!). Envolvidíssimo com minhas causas (muitas delas perdidas), continuo remando contra a maré, sem medo de ser feliz e de acertar errando. Não vou mudar, justamente agora quando já dobrei o tal do Cabo da Boa Esperança. Aos 55, que mais posso esperar disso tudo? Faço a minha parte, mal e porcamente, mas faço. Dia desses um gajo da mídia tupiniquim, provocado por mim, após várias trocas de conversações nada agradáveis, em um texto me admoestou dessa forma: "Isso não irá nos levar a lugar nenhum. Você pensa de uma forma e eu de outra. Conte com o meu respeito. Espero que haja reciprocidade para que não tenhamos nossos caminhos cruzados de maneira desastrosa. Sucesso! Abraços". A forma como lhe respondi reflete um bocadinho de como andam os relacionamentos humanos nas quatro linhas de jogo nesses tempos de amizades quantitativas via redes sociais, mais cada vez mais diminutas na vida real: "Nunca farei nada de maneira desastrosa, pois não primo pela violência. E se algo um dia precisar noticiar envolvendo meu nome, faça sem medo, pois nada será informado que a cidade inteira já não saiba (ou imagine). Sou de pouca valia. HPA".

Renovando estimas e considerações, fervorosos abracitos a tudo, todas e todos. Como sempre faço, insisto nas "Boas entradas e boas saídas", também para 2016.

HPA, dezembro 2015  

domingo, 20 de dezembro de 2015

ALFINETADA (140)


MEUS TEXTOS DE DOZE ANOS ATRÁS ESTÃO MAIS ATUAIS QUE NUNCA
Queria conseguir reproduzir aqui tudo o que publiquei ao longo de tantos anos enviando textos para o semanal (hebdomadário, como Marcelo Pavanato fazia questão de dizer), O Alfinete (“pica, mas não fere”), da vizinha Pirajuí. Talvez o consiga um dia e o tento da forma como encontro tempo, ou seja, com uns poucos por mês, em forma de conta gotas. Nesse dezembro de 2015, mais seis do período de novembro e dezembro de 2003. Lá se vai um bom tempo e a maioria continuam mais atuais que nunca. Vamos aos desse mês:

Edição 240 – nº 170 – Uma árvore vale uma boa briga –04/10/2003
Edição 241 – nº 171 – Contabilidade criativa – 11/10/2003
Edição 242 – nº 172 – Sobre o “pense globalmente”, aja localmente – 18/10/2003
Edição 243 – nº 173 – Porta de escola – 25/10/2003
Edição 244 – nº 174 – Pequenos gestos de solidariedade – 01/11/2003
Edição 245 – nº 175 – Ser pobre é um bom negócio – 08/11/2003