terça-feira, 29 de dezembro de 2015
RELATOS PORTENHOS (22)
O QUE SEI DE MAURÍCIO MACRI, O ATUAL PRESIDENTE ARGENTINO – CRUEL, INSANO E TAMBÉM TIRANO – SEUS PRIMEIROS ATOS GOVERNAMENTAIS COMPROVAM ISSO
Tenho tido o prazer de voltar para a Argentina, mas precisamente Buenos Aires nos últimos seis anos. Ana, a companheira de todas as horas vai todo ano entre final de julho e começo de agosto para um Internacional Congresso e Encontro de Diseño, como lá denominam o Design e vou junto. Neste ano até me arrisquei e apresentei um trabalho acadêmico, minha estreia internacional e acredito o repitirei por lá e em novas oportunidades. Amo demais da conta as coisas dessa América Latina e a cada dia, mais e mais me interesso por coisas e causas de todos os países que compõem esse bloco surrealista e quase sobrenatural. Somos o que somos. Escolhi um diário, um jornal que, na impossibilidade de lê-lo na versão impressa, o faço diariamente na eletrônica, o Página 12, editado em Buenos Aires (www.pagina12.com.ar). Fiz um cadastro e religiosamente me enviam por email um lembrete para adentrar e navegar na edição diária. Meu encanto maior é por lá encontrar algo não só da Argentina, que passei a entender melhor e admirar, mas também de todos os países latinos, algo quase impensável nos jornais brasileiros. Buenos Aires me encantou desde que por lá aportei em 2007 pela primeira vez com o amigo Marcos Paulo, só para assistir a um comício com Hugo Chávez no estádio Ferrocarril, nas beiradas de outra adoração, os trilhos ferroviários (leiam texto clicando aqui: http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search…).
Depois voltei as tais seis vezes com Ana e a cada retorno só aumentou a paixão pelas andanças buenaristas, incursões feitas com os olhos bem abertos, atenção mais que desmedida. Um personagem sempre me chamou muito a atenção no cenário argentino, MAURÍCIO MACRI, primeiro como presidente do Boca Juniors, depois prefeito da capital e agora presidente da nação platina. Tento escrever sobre as impressões que tive dele desde o primeiro momento e nunca se dissiparam, ou melhor, se confirmaram. Hoje, olhando para trás, a certeza que sempre tive, seu projeto foi vitorioso, pois tanto lá como cá existem, como bem acertamente disse certa vez Fito Paez, o cantante que tanto gosto, sobre os tais 50% de cada lado, algo igualzinho aqui no país:http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search…. Macri sempre soube fazer muito bem o jogo do lado conservador, o que defende o neoliberalismo e do sempre presente conservadorismo existente e latente em boa parte de Buenos Aires, mesmo com todo arrojado projeto de modernismo existente na maior metrópole argentina. Elite não suporta ver vingar qualquer tipo de avanço social, isso lá , aqui e alhures. Pensam só nos seus botões, interesses de ter cada vez mais e mais, relegando tudo o mais para o segundo plano. Sempre tive bem nítido que, se com Cristina a coisa não estava boa, com Macri iria piorar mais. Em três semanas do novo Governo o que se vê é uma Argentina piorando a olhos vistos para o lado do trabalhador, do pobre e do assalariado.
Macri nunca escondeu esse seu lado durão, grosso quase que na maioria das vezes, antipático em outras, desses que só de bater os olhos, a plena certeza: dificilmente aceita posições contrárias as suas e muito menos opiniões de terceiros. Aparenta ter muito de um pedantismo dos que se acham ungidos pelo próprio céu, tipo predestinação. Passa isso. Desde os tempos da presidência do Boca Juniors isso sempre esteve muito presente em tudo o que fez. Ficou mais salientado quando na Prefeitura de Buenos Aires, num confronto diário, direto, ininterrupto e duro com o Governo Federal, no caso, os Kirchner, primeiro Nestor e depois com Cristina. Quando eleito, deu uma demonstração disso ao ser chamado por ela para uma reunião em Olivos, a residência oficial, para tratarem da cerimônia oficial de transmissão do cargo. Resolveu tudo aos gritos, com ela ainda na presidência. Prepotência daqueles que não respeitam nada e só se vergam sob a força popular e sob intensa batalha. Outra demonstração foi quando do último dia de mandato de Cristina e praticamente exigiu na Justiça que tudo dela fosse retirado de lá até no máximo meia noite, não passando um só minuto depois desse horário, quando então já seria ele o mandante. Ela o ironizou acertadamente no mais original palanque do país, a sacada da Casa Rosada, poucas horas antes da tal meia noite, quando disse que teria que se apressar, pois poderia se transformar em calabaza (abóbora):http://www.pagina12.com.ar/…/elpais/1-287943-2015-12-10.html.
Ele, após sua eleição escolheu o Brasil para sua primeira visita. A visita ao Planalto foi algo do qual não poderia mesmo escapar, pois existe entre os países acordos comerciais de grande monta. Mas mal saiu de lá e foi se encontrar com a mais cruel oposição à Dilma, Paulo Skaf e tudo o que representa a FIESP hoje em relação ao golpe em curso no Brasil. Até passeou de mãos dadas com Skaf pela avenida Paulista, reeditando em primeiro plano algo nefasto da história brasileira, que foi o financiamento da Operação OBAN, quando empresários bancaram a linha dura contra Jango Goulart. Ciente de que Skaf segue na mesma linha de 64, não é de bom alvitre estar ao seu lado nesse momento, a menos que se pensa da mesma forma. Macri pensa, age e é a cara brasileira de Skaf, ambos neoliberais até medula, mas o que de pior existe nesse quesito conservador e tacanho. Quando no poder fazem mal a um país de forma desmedida, diria mais do que incontrolável. O fazer mal a um país não é retórica e sim, em pouco mais de duas semanas de Governo uma sucessão de fatos a demonstrar o que ele fará com a Argentina. Primeiro já encurralou a Lei de Médios, que regula e controla a ascensão do jornal Clarín, um que quer dominar sem escrúpulos o meio comunicacional. Como segunda medida foi na reunião do Mercosul e se indispôs com a consulesa da Venezuela, quando afirma aquele país não respeitar os Direitos Humanos. Na verdade, Macri defende o assassino ex-candidato derrotado Caprilles, gente da mesma laia. Depois propõe trocar juízes por outros, todos do seu lado, numa clara intenção de ter amenizada sua vida jurídica. Enxerga os males de todos os outros, nunca os seus.
Não parou por aí. Dois dias atrás um outro acontecimento muito estranho ocorre na Argentina e merece uma explicação no mínimo plausível. Quando da eleição do Governo da Província de Buenos Aires, o candidato de Cristina foi acusado por uma quadrilha presa num presídio de segurança máxima de terem feitos algo em conjunto. Uma deslavada mentira para prejudicar o candidato dela na disputa, o que de fato ocorreu, pois perdeu o pleito. Veio o desmentido, mas já era tarde. E agora, os irmãos Lanatta, esse o tais que fizeram a acusação fogem misteriosamente dessa prisão, assim do nada, sem armas, numa troca de plantão e tudo bem. Transparece algo macabro nisso tudo, como se a liberdade fosse o pagamento por um serviço prestado. Enquanto isso ainda fervilha na cabeça dos argentinos o país é acometido por uma enchente sem precedentes e Macri, alega estar em descanso, mesmo tendo assumido há duas semanas. Foi visitar os desabrigados só após muitas cobranças públicas. Algo ainda pior é anunciado no dia de ontem. É intenção dele aprovar uma legislação especial que para se fazer qualquer tipo de protesto no país será necessário uma autorização governamental. Que nome se pode dar a isso? O já dizem que os Fundos Abutres, bonito trabalho de resistência argentino contra a ingerência e subserviência externa deve também ser algo de modificação. Macri quer pagar os que estão a comer a carniça do país. Acredito que os vizinhos Hermanos estejam adentrando um novíssimo período de trevas em sua história. Encerro com algo que ouvi e até dou crédito. Lula, Evo, Correa e alguns outros da esquerda poderiam ter dificuldades em futuras campanhas políticas, mas com Macri fazendo o que faz no momento, metendo os pés pelas mãos, facilitará a vida deles nos próximos pleitos, sendo o maior cabo eleitoral de todos, pois demonstrará por A + B que a direita é uma péssima opção quando no Governo. Se ele continuar assim, o dito servirá como certo programa de campanha: “Somos o oposto de Macri".
OBS.: Desculpem pela pressa, foi escrito numa sentada. Poderia incluir mais fatos, observações mais detalhadas, porém o tempo urge. Mesmo assim, acredito o resultado tenha sido satisfatório.
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Um comentário:
Tem mais gente enxergando a mesma coisa:
https://www.facebook.com/francicorcosta/posts/1714078705479043?fref=nf
Henrique - direto do mafuá
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