sábado, 12 de dezembro de 2015

PRECONCEITO AO SAPO BARBUDO (97)


MILITÂNCIA E MILITANTES – HOMENAGEM A UMA DELAS E MINHA FALA NO ENCONTRO SINDICAL

A militância desinteressada, feita por se acreditar em algo maior é algo sempre ressaltado em minha linha de ação e textos. Sempre vi isso no PT e em outras agremiações políticas e sociais. Você pode até discordar do MST, mas pouco pode dizer dos abnegados que lá militam e defendem com unhas e dentes a maior organização social brasileira dos últimos tempos. Militância é isso, a defesa incondicional daquilo em que se acredita, um estar presente em todos os momentos, desde os fáceis aos mais difíceis. Nos meus 55 anos aprendi a conviver com uma aguerrida militância social em Bauru e sua ramificação mais forte, na maioria desses anos todos se deu dentro desse partido hoje perseguido e vilipendiado (por dentro e por fora). O envolvimento de muitos foi algo quase natural, questão de formação. A decepção veio ao longo do tempo causada pelos desvios e muitos seguiram por caminhos outros. O bom é quando se percebe o abandono de uma bandeira, mas não o de um ideal e dessa forma, a continuidade da luta. Ruim mesmo quando uns se dizem desiludidos com, por exemplo, o PT e se bandeiam para o outro lado da contenda. Como explicar isso? Sem justificativa plausível e aceitável.

Sei que militância existe de Esquerda, de Direita e de várias outras matizes. Vivencio e escrevo de uma pela qual nunca consegui me desvencilhar (e nem quero), a da Esquerda, hoje tão ultrajada, violentada e agredida. Depois de toda a construção edificante vivenciada com o fim da ditadura militar, ver hoje alguns repudiando e tripudiando com comunistas é para doer, calar fundo. Que raio de bestialidade é essa fazendo com que, o tolerável ontem não mais o seja hoje? Seria esse o cruel papel dessa insana mídia brasileira na cabeça das pessoas, o de desmontar mitos, desestabilizar relações e construir outros seguindo o ideal de vida da Casa Grande & Senzala? Triste demais, mas é o que vejo ocorrer em grande escala no mundo de hoje. Quer saber mais disso? Basta adentrar o facebook e ficar flanando entre as muitas conversações. Está tudo muito explícito ali. Esquerda virou sinônimo de algo a ser combatido e Direita algo palatável, como se a perda dos direitos dos trabalhadores, para citar um só exemplo, seja algo justo, pois atende os interesses do dito mercado, um que comanda tudo hoje em dia. Muitos se deixam levar cegamente e pregam a defesa de interesses que não os seus.

Pois bem, faço esse preâmbulo e vou na veia (não na véia, viu!). Muitos militantes estão por aí e loucos para botarem o bloco nas ruas. O momento é ótimo para isso. O explícito golpe em curso contra o estado de direito e o surreal impedimento contra a presidenta legalmente eleita, Dilma Rousseff demonstram que algo precisa ser feito. Algo que muito me despertou interesse foi ler num post de um amigo algo assim: “Posso ser contra Dilma e seu Governo, mas não posso aceitar o que estão a fazer com ela”. Embutido nisso, uma até então improvável união de interesses em comum. A causa é maior e não podemos deixar a canalhice vencer, um Eduardo Cunha prevalecer e seguir ditando regras sem ser preso. Esse o momento de conclamar militantes para a defesa do duramente conquistado. Esses sabem que, perdendo agora, muitas outras derrotas se seguirão e daí uma retomada muito mais difícil. O chamado das ruas não é para defender só Dilma e seu Governo, mas tudo o que foi conquistado e sendo jogado no ralo. Ficar quieto diante disso é o mesmo que enfiar a cabeça num buraco feito avestruz diante do problema. É isso que você quer?
Nessa foto, a homenageada, PATRÍCIA.

Daí escrevo agora de uma militante e com ela é como se fizesse uma reverência a todas as demais e tudo o mais por vir. Chegou em Bauru faz oito anos, vinda de São Carlos junto com o marido, PKC e é dessas que compra homéricas brigas e boas discussões na defesa do que acredita e defende. Poderia citar outras tantas, mas escolhi justamente ela, uma “forasteira”, para exemplificar a necessidade de não abandonarmos a cancha de luta. Patrícia é dessas que, estando onde estiver estará se informando, lutando, esbravejando, esgrimando e no campo de batalha. Nunca ouviu falar dela? Espere mais um pouco, não dou muito tempo para estar em todas as paradas de sucesso. O motivo? Simples. Ela não se esquiva, enfrenta os dragões da maldade com as armas que possui, corajosamente e sem medo nenhum de ser feliz. A conhecia via redes sociais e na última quinta, quando convidado para participar da Festa Sindical da CUT de final de ano, sentamos juntos, eu, Gilberto Truijo, ela e o marido. Se já a admirava, passei a gostar mais. Adoro pessoas que te empurram sempre para a frente, não te deixam recuar, um incentivo atrás do outro. Esse texto é dedicado a pessoas iguais a ela e aqui em Bauru conheço outro tanto de gente assim. Não cito seus nomes, pois incorrerei em esquecimentos.


Publico três fotos do evento de quinta, quando fui convidado para junto de mais quatro pessoas falar para os presentes. Uma delas eu divirjo politicamente, homéricas discordâncias, mas entendi que a causa nesse momento é maior e nossa divergência teria que ficar para outro momento. Preparei uma curta fala e ao li na presença de todos. Aqui a reproduzo, pois como tenho dificuldade em discursos de improviso, quando avisado, peguei um papel e rascunhei o que iria falar. Eis meu texto:

“Vivemos um momento muito delicado na vida política e social brasileira. Após 8 anos de Governo Lula, onde conquistas sociais até então não conseguidas tiveram êxito, isso serviu para acirrar cobranças do lado mais conservador da nação. Lula com seu poder de negociação conseguiu segurar a barra e conter os segmentos conservadores dentro dos seus redutos e limites. Fez mais, elegeu Dilma e com isso a garantia dos projetos sociais. Fez ainda mais, quando a população compreendeu a necessidade de sua reeleição. Com isso, uma oposição aliada a essa mídia cruel e insana, partiram para o crime e fazem de tudo e mais um pouco para derrubar um governo que ainda consegue assim mesmo atender aos anseios da população e principalmente do trabalhador. Não conseguindo o intento, essa oposição não aceita até agora sua derrota eleitoral e se apega a qualquer fio desencapado para tentar chegar aos seus objetivos. Tudo desagua nesse momento de incertezas no qual se faz necessário uma união de todos com o comprometimento com a legalidade, com a verdade factual dos fatos e contrários a golpes. O momento é de união, esquecimento das diferenças e luta pelo bem comum. O momento é muito mais que a defesa desse Governo ou contra o impedimento da presidente e sim, principalmente contra o que querem fazer com o fim do estado de direito. Todos os contrários a esse golpe em curso, a esse impedimento sem sentido e sem bases sólidas, precisamos nos unir e voltarmos para as ruas. Essa é a linguagem entendida por todos os mandarins mundo afora: povo nas ruas e lutando pelos seus direitos. Não esperemos que algo aconteça continuando sentados esperando algo palatável no horizonte. Algo de bom só ocorrerá quando nos mobilizarmos. Precisamos fazer isso é já. Não é para já, nem para amanhã e sim para ontem. Estou aqui para conclamar tudo, todas e todos para uma luta coletiva contra o despotismo em curso. Somos muito mais fortes que eles todos e temos que provar isso. Vamos! Essa é a mensagem que tenho nesse exato momento, nenhuma outra. Grato e obrigado”.

Guardei meu papel no bolso e passei o restante da noite a conspirar. E hoje continuo fazendo a mesma coisa.

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