segunda-feira, 25 de abril de 2016

RETRATOS DE BAURU (185)


FERROVIÁRIO HELENO E ALGO DA VIDA DE UM SIMPLÃO BOM DE REMO
Ontem recebi mais um lição de meu pai, a quem peço permissão a todos e todas para descrever em poucas linhas, num desses personagens, pois o considero o meu lado B inspirador de todos os outros. Ele adoentado, deitado numa cama de hospital, medicado, com soro na veias, voz embargada, olha para o enfermeiro que o atende e diz em voz baixa me apontando: “Aquele é meu filho. Tô vendo que não tem cama para ele dormir. Te peço, deixe ele dormir comigo, eu fico num canto da cama e ele noutro”. O enfermeiro, depois de ter conversado com ele, vem me dizer que isso tudo quase o fez chorar, por buscar lá no fundo de sua memória lembranças de um pai, que no seu caso, não foi presente e dele nunca ouviria algo assim. Esse velhinho me surpreende a cada novo instante de sua vida.

HELENO CARDOSO DE AQUINO nasceu em 1928 e está prestes a completar 87 anos de idade. Nasceu em Agudos, mas sua vida inteira foi aqui em Bauru. Morou pela primeira vez na cidade lá pelas bancas da Popular Ipiranga e depois, quando veio a se casar com Eni Perazzi de Aquino, vendeu um pequeno sitinho lá pelas bandas da ponte do Cedro e comprou uma casa na beirada do rio Bauru, onde mora até hoje. Foi ferroviário uma vida inteira, tendo trabalhado inclusive num ramal não mais existente, entre Dois Córregos e Barra Bonita. Um de seus quatro (dois homens e duas mulheres, todos nascidos de dois em dois anos) filhos nasceu numa dessas estações, Mineiros do Tietê. Foi chefe de estação da Cia Paulista em diversas localidades e até hoje guarda dobrado um uniforme todo azul marinho, com quepe e tudo. Tem o maior orgulho da ferrovia, tendo se aposentado atuando no guichê central da famosa Estação da NOB, isso há mais de trinta anos atrás. Deu aulas de OSBP, Filosofia e de outra especialidade, a de Contador, aqui e em cidades vizinhas. Certa feita concorreu a vereador, mas pela inexpressiva votação nunca mais se meteu em política. Fez um trabalho de formiguinha, desses não mais possível hoje, quando com o salário da ferrovia, mais os bicos que sempre fez foi adquirindo bens, um para cada filho, seu maior orgulho. Perdeu a esposa anos atrás e não quer sair da casa onde criou todos os filhos. Permanece nela, ao lado de um dos filhos, um mafuento, que lá criou uma espécie de porto seguro, onde ele cuida do velho e o velho cuida dele. E assim tocam suas vidas. Hoje está no estaleiro, na recuperação de umas coisinhas, dessas tantas que nos aparecem ao longo da vida e insistem em querer nos tirar do caminho. Clicando a seguir alguma coisinha já escrita aqui dele:http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search?q=heleno.

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