sexta-feira, 27 de julho de 2018

FRASES DE UM LIVRO LIDO (129)


OS QUE TRAEM ATÉ A SOMBRA, TUDO PARA CONTINUAR NO PODER - “JOSEPH FOUCHE”, livro de Stefan Zweig, Editora Guanabara RJ, 1936, 250 páginas.


Dedicado neste exato momento para Aldo Rabelo, ex-PCdo B, PSB e agora num partideco qualquer e tentando ser vice do SANTO “do pau oco”, Geraldo Alckmin.

Primeiro a história do livro: Publicado no Brasil em 1936, foi presenteado para avô de Ana Bia em 1938 com dedicatória na primeira página. Anotações e grifos feitos na leitura de alguém da família, terminada em 13/04/1952. O encontro dias atrás numa caixa com livros antigos trazidos do Rio, casa de Ana, pertences antigos dela e de dona Darcy, sua mãe. O tema muito me interessou, o autor mais ainda (tudo de Zweig muito me interessa) e comovente o reencontro com um livro lido pela última vez quando ainda não era nem um projeto de vida. Fouché sobreviveu à revolução francesa, escapou da guilhotina, traiu Robespierre e tantos outros, inclusive Napoleão e por fim, com sua queda, aos 56 anos, assume finalmente o poder e ajuda a reestabelecer o reinado na França, mas é traído, esquecido e morre no ostracismo. Um pérfido, desses encontrados por todos os lados. A sua relação com o e no podere é facilmente transferível e aplicada ainda hoje mundo afora. Em Bauru, vários e ignóbeis exemplos.

Prefácio: “Traidor nato, intrigante miserável, natureza de réptil, homem absolutamente sem moral e moralista desprezível, nenhum injúria foi-lhe poupada, ausência admiravelmente constante de caráter. (...) Este homem que foi o mais desprezado e malvisto dos homens da Revolução e do Império. (...) este homem, de rosto pálido, tinha lenta e silenciosamente estudado os homens, as causas, os interesses da cena política; penetrou os segredos de Bonaparte, deu-lhe uteis conselhos e preciosas informações. (...) Soube, enquanto vivo, ficar na história como figura oculta: ele não gostava de mostrar nem o seu rosto, nem o seu jogo. Sua ação é invisível como a de um mecanismo de um relógio. (...) Desta ração intelectual, que ainda não foi completamente examinada, e que é, mesmo, a mais perigosa das que existem no universo. (...) fez parte de uma categoria de homens de muito menos valor, porém mais espertos, quero dizer, aqueles que trabalham nos bastidores. (...) No jogo ambíguo e muitas vezes criminoso da política, não são os homens de ideias largas e morais, de convicções inabaláveis que vencem, mais sim esses jogadores profissionais, que chamamos diplomatas, esses artistas de mãos larápias, palavras ocas e nervos gelados”.

Uma história atravessando séculos. Fouché tem seguidores desde então. Muitos o fazem sem ao menos conhecer o original. Quantos durante a história da humanidade não agem da mesma forma e jeito. Se adequam às circunstâncias, não se afastam por nada deste mundo do poder e para estar sempre nos píncaros da glória fazem de tudo e mais um pouco. Trair é só o começo. Quantos vejo hoje com os pés em várias canoas, mas só opinando quando um desses se torna vitorioso. Daí por diante faz de tudo para continuar até o lado deste, até o exato momento em que esse cai. Seguirá grudado ao poder, mudando de lado com uma facilidade “fouchequiana”. Vejamos as frases separadas do livro, um dos que mais gostei nos últimos tempos. Em tempo: Depois deste, volto para as caixas dos antigos de minha sogra, pois outras preciosidades ali, com certeza, encontrarei e serão devorados com a mesma voracidade deste. Eis as frases:

- “Sua repugnância a se ligar inteira e irrevogavelmente a alguém e a alguma coisa. (...) Como sempre, em cada posição que ocupou, guardou para si a liberdade de recuar, a possibilidade de mudar e de ir para longe. (...) Não se entregará de corpo e alma nem a Revolução, nem ao Diretório, nem ao Consulado, nem ao Império, nem a Realeza: nunca, nem mesmo a Deus, e muito menos a um homem. Joseph Fouché jurou ser fiel toda a sua vida a si mesmo”, pg. 10.
- “O sangue, os sentidos, a alma, estes elementos turvos de sensibilidade, que existem em todo o homem normal, não tem nenhum papel neste misterioso jogador, no qual toda paixão está contida no cérebro. A aventura é o vício desse seco burocrata, sua paixão – a intriga”, pg. 16.
- “Ele não conhece senão um partido, do qual é e ficará fiel até o fim: o partido mais forte, a maioria”, pg. 19.
- “Uma revolução, ele o sabe por experiência precoce, não pertence nunca ao primeiro que a desencadeou, mas sempre no ultimo, que a termina, e que a puxa para si, como um despojo”, pgs. 20 e 21.
- “Vinte e quatro horas, as vezes uma hora, um minuto e até um segundo, bastam-lhe para deitar fora sua fé e desfraldar barulhamente uma outra”, pg. 26.
- “Exatamente como os generais da Revolução perante o inimigo, todos eles sabem que uma só coisa os salvará do cutelo da guilhotina e os justificará: a vitória”, pg. 30
- “É sempre, precisamente, o crente mais puro, o ser religioso e extático, o reformador ansioso por melhorar o mundo, que, com os desígnios mais nobres, dá impulso à matança e aos males, que ele próprio detesta”, pg. 38
- “...a História universal não é, somente, como se diz, a história da coragem dos homens; é também a história da covardia dos homens”, pg. 46
- “Um ano de guilhotina tirou toda a coragem moral a estes homens. Aqueles, que outrora se entregavam livremente às suas convicções com paixão, que se atiravam barulhenta, ousada e abertamente na batalha das palavras e ideias, não mais ousam pronunciar coisa alguma”, pg. 60
- “...nada torna mais vil um homem, sobretudo um conjunto de homens, do que o medo do invisível”, pg. 61
- “...julga que toda opinião contrária a sua é, não somente de qualidade inferior, mas ainda uma traição e, ei porque com o gesto glacial de um inquisidor, ele empurra, como heréticos, todos aqueles que não pensam como ele, para essa fogueira de um novo gênero, que é a guilhotina”, pg. 63
- “A história é quase sempre escrita segundo as aparências”, pg. 72
- “Fouché, imitando o exemplo de mais de um animal, finge estar morto, precisamente para evitar a morte”, pg. 88
- “O exílio é sempre para o homem verdadeiramente forte, não uma diminuição, mas um aumento de força”, pg. 90
- “Pode-se ganhar em tudo, contanto que se tenha mãos ágeis e despudoradas e boas relações com o governo. Mas há sobretudo uma fonte de riqueza de uma magnificência incomparável: a guerra”, pg. 93
- “Mas Fouché nada tinha de sentimental; ele pode, quando o quer, esquecer o seu passado de uma maneiras incrivelmente rápida”, pg. 98
- “Fouché tinha razão: contra homens, é preciso lutar; mas parlapatões abatem-se com um gesto”, pg. 99
- “...joga sempre um jogo duplo, triplo, quadruplo; enganar e iludir toda a gente, em todas as mesas de jogo, torna-se pouco a pouco sua paixão”, pg. 102
- “Ele conhece o fraco da humanidade pelo dinheiro, pelo luxo, pelos pequenos vícios, pelos prazeres pessoais. Seja! Gozem, mas fiquem quietos”, pg. 104
- “Ele guarda, estrita e fielmente, o seu princípio fundamental nunca aprovar nada decisivamente, enquanto não souber de quem é a vitória”, pg. 109
- “...tem um único gozo na terra: o prazer da ambiguidade, o atrativo que queima e o perigo da excitante duplicidade”, pg. 111 e 112
- “Podem rir dele, contanto que lhe obedeçam, contanto que o temam”, pg. 115
- “Os reis não amam aqueles que os viram no momento de suas fraquezas e os caracteres despóticos, não amam também os conselheiros, quando esses se mostrem, sequer uma só vez, mais inteligentes que eles”, pg. 125
- “Porque o poder é como a cabeça da Medusa; aquele que lhe viu o rosto não pode mais desviar daí os olhos: fica fascinado e encantado. Aquele que, uma só vez, provou a embriaguez do poder e do mando não pode mais dispensá-la”, pg. 131
- “Napoleão não gosta de Fouché; Fouché não gosta de Napoleão; cheios de antiapatia secreta eles se auxiliam, um ao outro, unidos somente pela atração dos polos contrários”, pg. 134
- “Quanto mais Napoleão se torna poderoso, mais ele odeia Napoleão”, pg. 140
- “Os governos, a forma do Estado, os homens mudam: tudo cai e desaparece no torvelinho furioso do fim do século; só um homem fica sempre no mesmo lugar, com todos os amos e com todos os regimes: Joseph Fouché”, pg. 151
- “Quando alguém lhe pisa os pés, ele não lhe bate nunca com o punho fechado, mas sempre, e sobretudo quando está mais irritado, empunha o chicote do ridículo, e de tal maneira fustiga o adversário, que o torna quase louco”, pg. 169
- “Sim, é esse o homem que é preciso; é o único que se pode empregar sempre, e para tudo”, pg. 191
- “Este soberbo e apaixonado jogador do espírito tem um defeito trágico: não pode ficar afastado, não pode sequer por um segundo, ser o espectador do jogo do universo. É preciso que tenha sempre as cartas na mão, que jogue, corte, engane, afaste os parceiros, dobre a parada e apresente o triunfo. É preciso que tenha sempre o seu lugar numa mesa de jogo, pouco importa qual seja: a do rei, do imperador ou da república”, pg. 199 e 200.
- “Dez anos de esforçada inimizade ligam muitas vezes mais misteriosamente os homens do que uma amizade medíocre”, pg. 201
- “...de repente aquele homem, que tinha enganado todo o mundo, passa a ser agora considerado o único jogador digno da confiança do jogo da política”, pg. 204
- “Seu gênero não é enganar unicamente a um só homem – fosse embora esse homem Napoleão – seu único prazer é sempre o de enganar toda gente, não se ligar a ninguém, tentar a todos, brincar simultaneamente com todos os partidos e contra todos os partidos, não agir nunca, segundo planos previamente estabelecidos, mas segundo os que lhe exigem seus nervos”, pgs. 206 e 207
- “Toda a gloriosa geração dessa curva da História, que não tem precedente, caiu; só Fouché subiu, graças a sua paciência tenaz, trabalhando na obscuridade e subterraneamente”, pg. 223
- “Tal como Napoleão, Fouché não sabe abdicar um minuto antes que lhe deem o golpe fatal”, pg. 224
- “As astucias, os protestos, as conspirações tudo isso de nada serve: um poderoso deste mundo que não tem mais poder, um político que acabou, um intrigante que esgotou as suas intrigas, são sempre a mais lamentável coisa que há na terra”, pg. 240
- “Aquele que só tinha o favor de todos, porque todos o temiam, é desprezado por todos, desde que lhe perderam o medo: o maior dos jogadores políticos perdeu a partida”, pgs. 242 e 243
- “Seja como for, no seu leito de morte, por um ato de benevolência, nele inteiramente novo, que se diria quase piedade, destruiu tudo o que poderia comprometer a outrem e vinga-lo de seus inimigos; pela primeira vez, cansado dos homens e da existência, procurou assim, não a glória e o poder, mas outra felicidade: o esquecimento”, pg. 248
- “...ele levou consigo, ciumentamente, para a terra fria, seus segredos, para ficar ele próprio em segredo, alguma coisa de crepuscular, que oscila entre a luz e a sombra – um rosto que não se descobre inteiramente”, pg. 249

2 comentários:

Ruslan Queiroz disse...

Estou lendo esse POST, em 18/04/2021
Estou impressionado pelo conteudo sobre o livro do JOSEPH FOUCHE (Stefan Zweig), a riqueza de detalhes, e a localização das citações!

PARABÉNS!!

PERGUNTA: Aqui no BLOG tem mais: “FRASES DE UM LIVRO LIDO” ?

Forte abraço de Maceio - AL

Ruslan Queiroz disse...

Amigo, Sugiro o Livro para esse FORMATO : "FRASES DE LIVRO LIDO"

Eminência Parda
por Aldous Huxley (Autor)