quinta-feira, 19 de julho de 2018
MEMÓRIA ORAL (227)
SOBERANA É A DIFERENCIADA PADARIA DO TONINHO*
*Histórias das pequenas empresas nas pontas de vilas desta insólita cidade e a movimentar um periférico comércio, cheio de muita garra e disposição. Algo de um desses.
Antonio Luiz Ferreira é o Toninho, esse senhor de 62 anos reside no Gasparini desde a abertura daquele núcleo residencial e desde os 12 atua no ofício de padeiro. São 50 anos na mesma profissão e após tudo ter começado na famosa Padaria no Papai, na rua Sergipe, vila Cardia, teve prosseguimento por 7 anos na São Judas Tadeu, uma que atende nos mesmos moldes da sua, a Soberana, essa já com mais de 15 de mercado. Tudo começou numa sociedade com um sobrinho, primeiro na rua Olegário Machado, vila Falcão, depois mudaram-se para a vila Independência e hoje, já completados seis anos, está na rua Boa Esperança 8-15, jardim Bela Vista, quase ao lado da avenida Nações Norte.
Saber do negócio de fazer pães isso é com ele mesmo e depois de ter padarias com balcão, igualzinho a maioria das existentes por aí, preferiu algo diferente. “A minha, como você vê não tem balcão de atendimento e nem vendo nada além dos pães. Optei por isso depois de penar numa época quando o pão estava muito barato. Resolvi arriscar nesse modelo, virei uma espécie de atacadista do pão, mas atendo também no varejo, só que sem aquele formal apresentação”, começa contando sua história.
Sua clientela basicamente é constituída de pequenos comerciantes, a maioria lanchonetes espalhadas pela cidade de Bauru. “O motorista leva de ponto em ponto os tipos de pães solicitados. Ele começa a entrega lá pelas 14h e vai até umas 18h na rua. São aproximadamente uns 30 clientes fixos e outros avulsos que surgem. A maioria são clientes conquistados ao longo do tempo. A gente leva também calote, mas nos dias de hoje se não der um tiro no escuro e confiar nas pessoas não abro mais clientes novos, pois todos estão cheios de dificuldades. Um ajudando o outro, a coisa anda e todos ganham”, prossegue.
O ambiente é muito simples, porém com bastante organização e asseio, tudo no devido lugar. Sabe o que faz e faz bem feito, esse o seu lema. Seu pequeno negócio tem apenas 3 funcionários, além do motorista e seu horário de funcionamento não é o mesmo das padarias convencionais. “Eu não preciso abrir tão cedo como as demais. Chegamos aqui por volta das 7h da manhã quando muitos outros já estão com suas portas abertas e sigo até umas 20h. Trabalho para os moradores da região, mas o forte mesmo são os embalados, desde pães para hambúrguer, hot-dog, francês, baguete, pães variados para festas e o pão família, um grandão que serve quando recheado para até 8 pessoas”, descreve sua rotina.
Relembra sua história com muita nostalgia e carinho. “Eu comecei com uma carrocinha na rua, dessas com um baú e puxada por um cavalo. Minha buzina era conhecida por onde passava e muitos ao ouvir o som já saiam para fora de suas casas. Certa feita, lá pelos lados do Aeroporto, algo machucou o cavalo e ao soltá-lo para ver o que se passava, ele fugiu e foi um atraso danado, mais de duas horas até conseguir acalmar o animal. Já entreguei de bicicleta e pequenos carrinhos. Só hoje consegui ter um bom veículo próprio para agilizar as entregas. São décadas de muito trabalho e nenhum arrependimento”.
Fala também da concorrência existente hoje, quando muitos não tem mais como arrumar novos empregos e fazem pães em casa, com maquinário de padaria, todos em busca da mesma clientela. “Não faço nada diferente dos outros ramos de negócio. Hoje a gente é obrigado a segurar os preços por causa da enorme quantidade de gente nova tentando a vida nesse ramo. Assim como abrem muitas novas barbearias, gente fazendo pão tem de montão em tudo quanto é bairro. Eu faço questão de contar a história do único vendedor externo que tenho. Criou algo próprio, ele chega sempre por volta das 16h, lota o carro e sai vendendo de porta em porta, clientela certa. Vende tudo. Ele entrega em muitos bares lá na região onde mora, um pouco de pães em cada pequena venda e não volta com nada. Descobriu um filão para sobreviver e se virar. O incentivo a continuar e que outros apareçam com a mesma iniciativa”, conta.
Seu ambiente é o mais simples possível. No salão principal um grande mesa e nela as bandejas que saem dos fornos passam por ali e são ensacadas em plásticos, na quantidade definida para cada cliente. No fundo, direita de quem entra a mesa do seu Toninho, cujo escritório fica no mesmo ambiente do atendimento. Ali também o maior forno do local e na entrada uma porta de vidro separando o ambiente da rua. Nos outros cômodos, mais fornos e noutro o depósito, basicamente de farinha. Esse o espaço da Soberana, essa insólita padaria, bem aos moldes de muitas pequenas empresas localizadas na periferia bauruense, sem pompa, sem estardalhaço, mas cumprindo um papel primordial e atendendo uma também especifica clientela, localizados em sua maioria na mesma periferia.
De periferia para periferia, assim sobrevivem muitas delas, da melhor forma possível. Muitos outros Toninhos estão na lida nesta cidade, mangas das camisas arregaçadas e sobrevivendo bravamente diante de tantos grandões no mesmo ramo de negócio. “O sol nasceu para todos. Sei que com meu trabalho estou aqui cumprindo a minha missão, feliz da vida e fazendo a felicidade de tantos outros”, me diz ao encerrar a conversa.
OBS.: Toninho atende pelos fones 14.32362868 ou 997440747 e novos clientes são sempre bem vindos. Quando lhe abordei para fazer o texto, ele se surpreendeu, desconfiado, me mediu de cima embaixo e por fim me perguntou: "Quanto vai me custar isso?". Ao saber que nada, ainda sem acreditar, demorou para baixar a guarda. Ficamos amigos.
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