segunda-feira, 30 de julho de 2018

RELATOS PORTENHOS (53)


A ARGENTINA QUE EU ENCONTREI, RESISTINDO AO NEOLIBERALISMO
A Argentina resiste ao neoliberalismo imposto a fórceps por Maurício Macri, o insano e cruel neoliberal contra o povo de seu país. Sem dó e piedade ele impõe o que de pior existe contra os interesses populares. Nas ruas e nas lutas é mais do que perceptível as muitas formas, não só de resistência, mas de enfrentamento ao baú de maldades despejados contra os costados do povo.

Hoje cedo circulo por uma manifestação de professores da rede pública estatal aqui em Buenos Aires, onde me encontro desde sábado. Todos clamando em alto e bom som contra o fim de feira imposto pelo prefeito Larreta e o presidente Macri, em algo parecido do que fez com os brasileiros os governos de Dória na capital paulista e Alckmin no estado de São Paulo. O tormento vivido pelos professores argentinos é similar ao nosso. Tanto aqui como aí, mais do que perceptível, a intenção de dar cabo em direitos e garantias. Tudo fazem para tornar o ensino público uma espécie de caos estabelecido. A intenção é mais do que evidente. Precarizando tudo reduzem tudo para um verdadeiro inferno. Esse boçais querem se livrar com o neoliberalismo de todas as obrigações impostas para o Estado. Partidários do Estado Mínimo, querem se ver livres de suas obrigações. Tiro uma foto de um professor com uma placa pendurada no pescoço na manifestação de rua e demonstrando toda sua insatisfação contra Macri. Se estivesse no Brasil o alvo, com certeza, seria temer. Ambos não valem nada.

Nas ruas de Palermo, feira de San Telmo, domingo pela manhã algo a mais nas paredes. As inscrições nas paredes dizem muito mais que mil palavras. Com os turistas circulando pelas ruas muito do que realmente pulsa país afora. Quando observo um artesão com um pequeno cartaz contrário às malversações macristas exposto em sua banca, me aproximo e peço permissão para a foto. Eles permitem e se assustam de ver um brasileiro conhecedor da famosa sigla hoje tomando conta do país, a MMLPQLP. Seus relatos são os mais dolorosos possíveis. A situação piorou muito para todos eles, me dizem, mas Macri, com a insensibilidade que lhe é peculiar insiste em continuar culpando e jogando toda a culpa pelo desastre do seu governo nos costado de Cristina Kirchner, a mandatária anterior. Fará isso ad eternum. Cai nessa quem quer. Esses tantos, trabalhadores das ‘calles’ portenhas sabem onde o calo lhes aperta. É com esses que gosto de estar, conversar e me informar. As mais precisas e honestas informações sobre a real situação da Argentina recebo desses.

Defronte onde estamos hospedados, num apartamento via AIRBNB, na avenida Rivadavia, um grafite com quem tirou a Argentina do FMI, Nestor Kirchner. Impossível não tomar partido. Hoje, a imensa maioria dos argentinos já reconhece o erro em ter votado num neoliberal a desrespeitar os direitos dos trabalhadores. O país era bem outro com Nestor e depois com Cristina. Hoje o caos com Maurício Macri. Os tempos atuais, miséria estabelecida são de bruta saudade para o povo, resistindo ao seu modo e jeito. Converso também hoje com um taxista e lhe lhe pergunto sobre essa comparação. Ele me diz já ter apoiado Macri, mas sua ficha caiu. Hoje, com seu salário reduzido, condições de trabalho precarizadas, sente e sabe que foi enganado. Propagandearam que com Cristina a corrupção se dava em altos índices, mas hoje esse índice é muito mais elevado e o povo está numa miserabilidade de intensidade muito maior que antes. O mesmo se deu no Brasil. Culpam Lula de tudo, mas na verdade quem de fato são os piores corruptos são os que vieram depois dele. O taxista se lamenta e sente a crise no bolso. No desalento vê que até as formas de reação são diferentes. Com Cristina as manifestações eram todas permitidas, a polícia Não batia no povo e hoje estão colocando até os militares contra as manifestações. “Estamos encurralados”, me diz.

Esses três exemplos são mais do que latentes de um país que, até para mim, turista, fácil de ser identificado. A Argentina que conheci anos atrás, primeiro com Nestor e depois com Cristina não mais existe. Hoje vejo o medo estampado na face da população e a miséria aumentando a olhos vistos. Como melhor exemplo, hoje são necessário 30 pesos para se comprar um só dólar. No Brasil, a proporção é menor, mas também preocupante, 4 por 1. Se o neoliberalismo continuar a tendência é piorar.

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