TUDO VALE R$ 50
Histórias recolhidas nas e das ruas, retratando algo bem singular desses tempos.
O carro de meu mano Edson teve uma pane nas ruas e morreu. Ele me aciona, vou até lá e juntos trazemos um especialista em bateria. Junto de si o equipamento todo para a devida “chupeta”. Em minutos faz o carro pegar interligando os fios a uma potente bateria. Seu preço, pago ali na hora e em espécie, R$ 50.
Vou abrir a porta do apartamento e enfio no lugar outra, tipo tetra, mas de outra porta. Ela entra, dá um giro e não sai. Tento de tudo, só não rezo. Eram 19h30, lembro-me de um chaveiro na porta do Bauru Shopping. Ele prontamente me socorre. Decide não desmontar a fechadura, mas tentar seu jeito, com um martelinho ir batendo na danada até que ela reencontre seu lugar. Em uns 15 minutos consegue abrir a porta. Seu preço, pago ali na hora e em espécie, R$ 50.
Preciso levar uma geladeira de um local a outro, espaço físico de no máximo um quilometro. A peça não cabe no meu meio de locomoção e aciono um senhor com sua perua Kombi ali perto de casa. Ele ouve minha necessidade e me ajuda a transportar o pinguim, inclusive dizendo sob os cuidados para não tombar a peça. Não demoramos mais que meia hora. Seu preço, pago ali na hora e em espécie, R$ 50.
Meu vizinho me diz recusar pagar o valor pago pelos táxis para leva-lo ao aeroporto e só não vai de ônibus circular por causa do horário. Eles não circulam na madrugada. Consulta o serviço de Uber, mas decide ir por um serviço prestado por um amigo fazendo bicos. Ele não gosta que o chamem de clandestino, pois trabalha colocando seu veículo na lida por pura necessidade. Combina ida e volta. Seu preço, pago por ele ali na hora do desembarque e em espécie, R$ 50.
Essa quem me contou foi um frequentador da vida noturna das Nações Unidas. Diz que as “meninas”, não especificando o sexo, atuam em diversas extensões das calçadas dessa avenida e suas transversais. Algumas atuam durante o dia ali no Vitória Régia e imediações. Todas as demais mais abaixo, pouco acima do viaduto da Duque de Caxias e nas beiradas da avenida. São conhecidas de tudo e todas. Cobram preços variados, dependendo do acordado, mas existe uma tabela mínima. Esse preço, aceito por todos e pago sempre em espécie, R$ 50.
O dono do restaurante onde almoço me diz ter precisado de um borracheiro fora de hora e o chamou pelo fone, tipo Disk Borracharia. Ele demorou meia hora para chegar e quando o fez executou o serviço ali na rua. Além do serviço, um papo dos mais amigáveis e por fim, na despedida o valor pelo serviço executado. Seu preço, pago ali na hora, sem pestanejar, reclamar e em espécie, R$ 50.
O encanador estava fazendo um serviço num condomínio fechado e é chamado com a devida urgência por uma pessoa indicada por um dileto cliente. Para tudo e vai atendê-la. O caso é de entupimento de vaso sanitário. Improvisa um desentupidor com um frasco pet de refrigerante, bomba enquanto puxa a descarga e resolve o problema a atormentar a dona de casa. Ela regateia no preço dado e ele alega a urgência, além de sua sapiência no assunto, acrescido na distância percorrida. Seu preço, pago ali na hora e em espécie, R$ 50.
Essa meu irmão me contou. O sujeito bateu o carro com a chave dentro e não conseguiu abrir de jeito nenhum, desses modernos, cheio de nove hora. Fez de tudo e quase riscou a lataria tentando enfiar um arame. Chama o especialista, esse chega e não demora muito resolve o problema. Não combinam o preço antes e ao fazer a tradicional pergunta, “Quanto fica?”, parece ter tido uma surpresa, R$ 150. Diz que não vai pagar isso, um abuso e coisa e tal. Começa a discutir com o profissional. Esse não entra na sua vibe, simplesmente entra no carro, não tira a chave no contato, aciona um botão, sai rapidamente e bate a porta. Esse fecha e trava tudo novamente. “Mas como, não pode fazer isso comigo”, diz. A resposta: “Como não, vim aqui, fiz o serviço e dei meu preço, você que não quer me pagar. Passar bem”. Virou as costas e foi embora. Esse já cobra bem mais que os tais R$ 50.
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