ALMOÇO ASSEMBLÉIA GERAL ASSENTAMENTO AYMORÉS
Conhecer essas experiências em curso nos arredores de Bauru é primordial na necessária saída do casulo em que nos encontramos, ilhados de tudo o que ocorre nas rebarbas, na periferia, nos subúrbios de qualquer cidade. O incentivado individualismo dos dias atuais, proposta imposta pelo excludente neoliberalismo torna a todos pessoas isoladas e não mais praticantes do coletivismo. Triste ver em comentários via facebook algo sobre essas comunidades e sua luta. Muitos enxergam esses como desocupados, bagunceiros e criadores de problema, quando o que de fato ocorre é exatamente o inverso. A visão passada pela mídia massiva é a de que em assentamentos e acampamentos ocorre algo na contramão do dito progresso que o país precisa. Ledo engano. Essa mídia falseia com a verdade em quase tudo o que faz. Os movimentos sociais hoje em atividade são sinais evidentes de uma resistência necessária e lúcida, diante da balbúrdia deste país hoje dominado por mentes sendo conduzidas como manada para uma espécie de matadouro humano. Estamos cada vez mais desumanizados, essa a realidade e poucos ainda conseguem enxergar na luta do semelhante, algo a engrandecer todos nós.
Aceito sempre com louvor convite recebidos como o de estar presente em atos como esse e o faço com o devido respeito que tenho por essas entidades de luta. O trabalho desenvolvido no Assentamento de Aymorés é mais do que grandioso. São décadas até conseguirem suas terras definitivas e ali, experiências individualizadas de comprovação da real necessidade da ampliação da reforma agrária neste país. Isso se nota em todos os detalhes e o primeiro deles, talvez o mais evidente é como sai para consumo o alimento ali produzido. Seguindo a imposição do uso do agrotóxico e mesmo ciente dos seus malefícios, o que se vê sendo ofertado aos consumidores é uma alimentação com grande risco de ser foco de contaminação. A proposta dessas comunidades é exatamente o contrário, algo artesanal e sendo oferecido sem o uso desse grande vilão dos tempos modernos.
Quando envolvido nas questões dessas comunidades, uma real possibilidade de conhecer um pouco mais desse país que pulsa nos que lutam pelas conquistas sociais. Esse projeto de Aymorés é grandioso, primeiro pelo seu caráter pioneiro. Muitos dos ali atuando hoje comprovam que o pedaço de chão nas mãos de quem de fato vai dele fazer uso é mesmo uma excelente saída para o homem do campo. Ele deixa de ser escravo do campo e do grande proprietário, passa a cuidar de algo seu e a partir daí, com apoio de entidades sérias, vai criando consciência e colocando em prática uma saída para esse mundo cada vez incentivando os grandões e menosprezando as experiências coletivas e de cunho social. Estar com pessoas como o José Maria Rodrigues e sua menina dos olhos, o Projeto Bambu, parceria com a Unesp, barracão todo levantado dentro da concepção do projeto e maquinário ali já a serviço da coletividade é constatar de que algo pode ser feito. Esse o papel da universidade pública, o de fortalecer esses projetos, dar-lhes vida e ir renovando o incentivo. Todos crescem e a pesquisa universitária mais ainda, pois é colocada em prática.
Ontem conheci um pouco mais das dificuldades de quem ali reside e dos endividamentos para continuidade de seus projetos de vida. Na busca coletiva por soluções, sempre a melhor saída. Quando se busca uma saída pelo modo individual, sempre mais difícil, dolorosa, mas quando se pensa pela cabeça de todos, as saídas se mostram sempre com melhores resultados. Circulando pelo local ontem com Milton Dota, ex-vereador bauruense e antigo militante das causas sociais, ele observava a terra árida da região e me mostrava um outro lado da questão. "Imagina se ao invés dessas terras todas divididas em pequenos lotes, fosse feito algo como uma grande cooperativa, com os mesmos proprietários dos pequenos lotes administrando o coletivo. Poderiam plantar, por exemplo, duas ou três culturas, dessas que o resultado final se dá em diferentes meses do ano. Venderiam o ano todo, poderiam adquirir maquinário de foma coletiva e a terra estaria toda ocupada, gerando mais possibilidades do que tudo individualizado. Cada um com seu lote, geram cada um problema dentro da dificuldade de cada um. Falta isso nos movimentos atuais, esse pensamento coletivo, a união dos lotes todos gerando algo coletivo e não individualizando as ações", me disse.
O fato é que estar mais e mais em contato com essa realidade nos faz pensar junto deles. Eu me oxigeno, me revitalizo e me recarrego quando junto deles todos, ouço as conversas, sinto suas necessidades, comungo dos problemas. Ontem passei meu dia junto deles e volto de lá com a cabeça sempre fervilhando, em polvorosa. No contato com o Zé Maria, o Celso Fonseca e todos os demais, sinto que fazemos muito pouco. Eles não gostam de bisbilhoteiros, mas de quem saiba entendê-los e até os ajude a compreender melhor isso tudo à nossa volta. Falta isso nas ações coletivas brasileiras. Criticar de longe é sempre muito mais fácil, estar lá, entender o que se passa e a partir daí emitir sua opinião é outra coisa. Gosto de agir dessa forma e jeito.
2 comentários:
Desde quando MST, INCRA e Zé rainha são entidades sérias?
MST é muito sério.
INCRA já foi mais sério nos tempos de Lula.
Zé Rainha um dia já foi sério, hoje até acordo com golpistas faz. Perdido total, desses irrecuperáveis.
Assentamento Aymorés um sério espaço onde a reforma agrária foi implantada e deu certo.
Henrique - direto do mafuá
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