sexta-feira, 17 de agosto de 2018

DOCUMENTOS DO FUNDO DO BAÚ (119)


OS POSTES E SUAS MENSAGENS
Sou um observador de postes. Vez ou outra trombo com alguns, não de carro, mas a pé. Costumo ler andando e eles insistem em continuar justamente no meu caminho. Quando vejo, ploft! Mas não é disto que quero escrever. Minha tese de mestrado versou sobre esses comunicadores de rua, escolhi três, Carioca da Banca, Inês Faneco e Adilson da Banca, todos bauruenses e criando eles mesmos seus meios mais que próprios de se comunicar, de levar adiante a mensagem do negócio de suas vidas. E o fazem magistralmente, cada um ao seu modo e jeito. Existem muitos meios de burlar a comunicação via mídia massiva e ando fotografando uma dessas formas: a feita através dos postes.
O poste é o outdoor dos menos favorecidos e também dos que não querem gastar muito com anúncios em rádio, TV ou jornais. São também muito ultilizados para protestos e campanhas de todos os tipos. Escolhem meios alternativos de passarem suas mensagens, seus pedidos, clamores, denúncias, campanhas e recados de todos os tipos. Tempos atrás comecei a colecionar fotos provenientes dos mais diferentes lugares e tendo como pano de fundo o poste. Devo ter mais de cem, algumas bem significativas. Nesta semana incrementei a coisa e fotografei algumas em Bauru. Por aqui o campeão de colagens em postes são os Moto Táxis. Seus pequenos cartazes, a imensa maioria no formato de uma folha A4 e colados cidade afora. Em regiões de maior movimento, pontos de ônibus, entrada e saída de algum lugar movimentado, lá estão os tais cartazes, muitas vezes empilhados uns aos outros. São recordistas de aproveitamento dos espaços nos postes.
Procurei diversificar e assim, outro que vi, da mesma pessoa é um de alguém lendo Tarot, Cartas. Esse cartaz em vermelho (uma das cores mais escolhidas para os tais cartazes de postes) está disseminado por todos os bairros. Essa a forma encontrada por muitos para divulgar seus pequenos negócios, como o do empalhador de cadeiras e do lavador de sofá. Pequenos negócios sempre estiveram nos postes e essa a forma mais fácil de tentar divulgar, passar adiante a mensagem do que fazem. Os religiosos, esperava encontrar mais e nas andanças desta semana somente um. Já vi desses em maior quantidade e tendo para todos os gostos, desde quermesses de santos, terreiros de umbanda e curas milagrosas em seitas. Eu viajo observando e juntando isso tudo, pois representam algo de cada região. O colador de cartazes sabe muito o público que espera atingir e a região onde cola é primordial para atingir seu objetivo.

No centro da cidade, principalmente na região do Calçadão da Batista, transversais e ladeando os pontos de ônibus, os postes estão impregnados de cartazes de eventos. São shows de todos os tipos e buscando alcançar a visualização desse público que circula na região. Na maioria dos postes esses cartazes são colados uns por cima dos outros e quando o evento já se foi, o que vem depois nem se preocupa em retirar o antigo. Chega e cola por cima. Neles percebi outra coisa, como o tempo entre a colagem e a realização do show é curta, tem muitos colados com fitas adesivas, dessas envolvendo o poste de um lado a outro. No centro, os postes se tornaram todos coloridos e de tantos cartazes a visualização deles está um tanto poluída.

Tem também o de pessoas se oferecendo para serviços profissionais. Encontrei um, mas sei que muitos recorrem a esses meios para buscar sanar alguma dificuldade e uma colocação no mercado de trabalho. Esse de uma pessoa se oferecendo para trabalhar como faxineira eu encontrei nos Altos da Cidade e numa região com alguns prédios residenciais. Os enxergo como aquela pessoa perdida numa ilha deserta e lançando uma garrafa com uma mensagem ao mar em busca de que alguém o encontre e o salve. Algo doloroso isso tudo, mas bem frequente nos tempos atuais, onde o desespero faz parte do dia a dia de uma quantidade cada vez maior de pessoas. Outro frequente são os de animais perdidos. Deparei com muitos desses e nos mais diferentes lugares. Sempre com a foto do animal e espalhados próximos da casa de onde o bichinho escapuliu. Ou seja, os postes são utilizados para as mais diferentes finalidades. Tempos atrás fui convidado pelos amigos do PCO a participar de uma colagem nos postes da cidade com seus cartazes contrários à prisão do ex-presidente Lula. Encontrei vestígios de alguns em postes próximos da ITE e da Câmara Municipal. Ou seja, quem sai para colar algo nos postes escolhe a região, os locais onde acredita serão mais vistos.

Isso tudo já foi merecedor de longos escritos acadêmicos, facilmente encontrados no google. Vasculhei alguns e também estou juntando alguns, para escrever algo mais sobre o tema. Eu mesmo escrevi um texto acadêmico sobre o muro da Faneco, a nossa querida pipoqueira que faz uso do defronte sua casa como outdoor, antigamente para assuntos variados, mas hoje tão somente para seu negócio. O fato é que os escritos variados das ruas me chamam a atenção, essa grafia produzida de forma espontânea. Muitos consideram isso uma forma de poluir a cidade e que deveria ser mais controlados. Até creio existir um órgão da Prefeitura encarregado disso, mas não conseguem segurar as rédeas de quem, diante de tantos outros cartazes espalhados pela aí, acabam dia ou outro, colando um seu, de um assunto que considere justo, necessário e do qual necessita divulgação. E devem todos obter resultados satisfatórios, do contrário, diminuiriam. Ao contrário, eles se proliferam. No momento continuo juntando fotos dos mais curiosos e peço para quem os tiver e quiser ceder para aumentar minha coleção e tentar fazer vingar lá na frente algo de minha lavra com uns escritos mais rebuscados, que o faça pelas vias de costume.

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