segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

DIÁRIO DE CUBA (229)


TRENS EUROPEUS E O OCORRIDO NO BRASIL
Nasci, cresci e vivo em uma cidade com profundas raízes ferroviárias, com um dos mais importantes entroncamentos ferroviários deste país. Em Bauru, privilégio histórico, convergiam a Noroeste, a Paulista e a Sorocabana. Hoje tudo fazendo parte de seu glorioso passado histórico. Muitos renegam isso e fazem até questão de fingir não existir. Toda a pujança e progresso bauruense, mesmo que não queiram, se deve aos trens. Por aqui também tivemos um dos mais importantes lobbies para a implantação em definitivo do modal rodoviário no país, enterrando de vez o ferroviário. Nosso ex-deputado federal e amigo dos militares, Alcides Franciscato - principalmente o general presidente Figueiredo, dono até bem pouco tempo do Expresso de Prata, foi um dos incentivadores do assassinato da ferrovia. Ele tinha interesses pessoais. Assim foi feito, pagou-se o preço e a ferrovia padeceu e padece até hoje do grande mal causado a ela. A enterraram viva. Tudo foi praticamente destruído. Estações e ramais inteiros foram extirpadas criminosamente do cenário.

A privatização empreendida por FHC foi bestial e seu resultado prático foi a derrocada dos trens e ascenção dos veículos e estradas de rodagem. Demoliram estações e quando não o fizeram, a deixaram à mingua. Tudo o que funcionava maravilhosamente bem foi jogado no lixo. Vejam o estado das estações bauruenses. Estado criminoso de calamidade pública. Daí, viajo pra Europa e constato tudo ao contrário, ou seja, o modelo de trens públicos, ou mesmo privados, funcionando de forma impecável. Neste momento viajo de Madri para TOLEDO e dá vobtade de chorar, diante das atrocidades cometidas com os trens brasileiros. Um crime e até o momento nibguém pagou nada pelo que fizeram. E pra danar ainda mais, leio sempre que, Franciscato foi um dos nossos melhores políticos. O que fizeram é merecedor da mais alta punição e não puxação de saco. O atraso hoje vivenciado no Brasil se deve a estes.

DIA NA CIDADE DE TOLEDO, SUAS RUAS E VIELAS ESTREITAS, ANDANÇAS O TEMPO TODO, DE MANHÃ À NOITE
De carro, nos contam, de Madri para Toledo demora de uma hora até hora e meia, mas de trem rápido, o percurso é de aperoximadamente 20 minutos. Um vapt-vupt, com lugares marcados e saindo no horário previsto. Ninguém viaja em pé e a parte interior é impecável. 

Ouvimos que, os trens espanhóis são os melhores de toda Europa. No que vi gostamos. Eu e Ana, num hotel 2 km do terminal férreo. Embarcamos 9h e aportamos em Toledo. 

Caminhamos a pé até o centro e começamos nosso roteiro de museus e igrejas. Confesso que, em cada suntuosa igreja que adentro, como a mais famosa daqui, a Catedral, me vejo a pensar em como foi construída, quem o fez, erm que condições. Ou seja, a igreja toda poderosa fez e aconteceu pra cima dos trabalhadores, numa época onde o trabalho era executado de forma escrava e sem condições de qualquer tipo de reclamação. A suntuosidade dos templos me assusta e, pasmem, a menos luxuosa é a sinagoga visitada.

Os judeus, mesmos muito endinheirados, não gostam de se expor como os católicos e seus templos são mais modestos. Os católicos parece competiam entre si, pois é um mais suntuoso que o outro. Andamos em todas, percurso a pé, ruas estreitas, onde passa um só carro e nada mais. Algumas ladeiras, mas tudo suportável. Toda história da cidade, que já foi sede do reinado espanhol possui ligação umbilical com a igreja. A cidade respira religião e possui um comércio bastante ativo. Tento conversar, mas o que mais faço é ouvir histórias. Creio, devo começar a utilizar de meu celulatr como gravador, pois ouço cada uma e se não anoto, como tudo passa muito rápido, acabo esquecendo. Aproveito tudo no que posso e assim continuamos. 

Paramos só para almoçar, sem tréguas e descanso - viagem é assim. Retornamos de trem ás 17h25, com o trem saindo no exato horário. Na chegada em Madri, já estamos nos habituando com o terminal férreo e os procedimentos todos. Decidimos não sair hoje, segunda, pois descansando hoje, estaremos inteiros amanhã para a maratona de museus madrilhenhos na terça.
El Greco, o Enterro do Conde de Orgaz, vale a visita.

DAS RUAS FRIAS DE TOLEDO, ESPANHA: "POR ISSO É QUE EU CANTO, NÃO POSSO PARAR"
João Costa, moçambicano, cantava numa esquina de Toledo, tarde muito fria desta segunda, 27/02. Passo e me encanto com sua voz. Me aproximo, conversamos, digo ser brasileiro, ele abre largo sorriso e me dia ser moçambicano, daí ambos falamos português. Quer cantar algo do Brasil e escolhe Caetano Veloso. "Escolho uma versão mais reeguiana, espero que goste. No meu país ouvimos muita música brasileira, canto muito do Brasil pelas esquinas de Toledo", me diz. Adoro, canta mais duas, sambões das antigas, nossos clássicos. Junta no entorno várias pessoas e isso aumenta seu soldo. Tiro fotos juntos e aquela irrefreável vontade de conversar mais, saber mais, mas o trem tem hora pra levar de volta pra Madri, a mim e Ana Bia Andrade. João é gente na labuta da vida, "sangue, suor e lágrimas". Um operário da música.

Eis o link do cantor moçambicano cantando CAetano Veloso:


ANA BIA TIRA FOTOS MINHAS E DE JOÃO COSTA, CANTANTE MOÇAMBICANO NUMA ESQUINA DE TOLEDO, ESPANHA
Eu queria ficar mais, ouvir suas histórias, saber de suas andanças, enfim como chegou até aqui. Em pouco de meia hora, me disse tanta coisa, cantou de memória três canções brasileiras e quando puxou um sambão, fomos rodeados. Dos encantados e encantadores das esquinas do planeta.

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