JOSÉ E PÍLAR*
* Termino hoje a leitura, feita muito rápida, pois leitura inebriante, o livro do filme, JOSÉ E PÍLAR e, como não poderia deixar de ser, venho com minhas citações. Preencho o sábado com elas e me esqueço detudo o mais. Esqueço dos tantos dossiês correndo na penumbra de uma Bauru cada vez idiotizada e domesticada, paralisada diante de tanta iniquidade, daí, nada melhor do que mergulhar em leituras pra lá de edificantes. Foi o que fiz. Gostaria de só ficar aqui postando algo assim, juntando frases e pensamentos encontrados aqui e ali, ir comentando-os, mas isso, por sí só, não move minha vida, pois vivo intensamente o que se passa do lado de fora de minha janela e nela, inserido e atolado até o pescoço, sigo adiante, ora escrevinhando de algo mais ameno, ora mais ácido, mas tudo feito com o que tenho de mais profundo dentro de mim, a crença de estar fazendo a coisa certa.
PÍLAR DEL RIO, ESPOSA DE JOSÉ SARAMAGO SOBRE OS SUÍCIDAS A VIVER DO LADO DOS PRIVILEGIADOS - CITAÇÃO UM"Os países privilegiados são países privilegiados e as pessoas que vivem nos países privilegiados não sabem o que têm e se suicidam de puro privilégio, não é? E não tenho pena dos suícidas do privilégio, porque toda a minha compaixão está esgotada com as pessoas que neste momento estão cruzando o aceano tentando cavar a vida com um bebê nos braços, mortas de frio, está certo? Minha compaixão está com esses, minha compaixão está com as crianças de cinco anos que estão trabalhando treze ou catorze horas. Minha compaixão está com os que estão trabalhando de sol a sol, por um salário miserável, também em Portugal e também na Espanha, explorados por empresários que vão à missa e batem no peito. Minha compaixão está com todos esses, não com os suícidas do Primeiro Mundo, nem com os empresários maravilhosos que têm desgraças pequenas, pessoais, a mulher que lhe põe chifres e todas essas coisas. Desculpe, esses não são problemas meus. Esses não são problemas meus nem tenho e menor solidariedade, é como se machucassem os dedos... Não me interessa o mundo rico. Não posso ter compaixão por eles. (...) ...há muita miséria, muita tragédia no mundo, muito desespero para que estejamos ocupados com nossas pequenas coisas. Eu não estou, não posso estar e não posso me dar ao luxo de estar desesperada nem desesperançada nem triste. Porque tenho tudo. E mais, tenho até a força para lutar, que é o maior privilégio. (...) A gente tem que desdramatizar, ainda mais nós, os privilegiados, temos que desdramatizar de manhã e à noite. Tudo a gente pensa que é um problemaço, e se sente agoniada, e no fim não é nada, nada, não vale nada, é um hormônio louco. (...) A vida é grande. Se fôssemos todos muito mais generosos, muito mais abertos, muito mais solidários, nos daríamos conta que temos tanto trabalho pela frente que não teríamos tempo para nos suicidar. De acordo?", in página 171 do livro "Conversas Inéditas - José e Pilar", de Miguel Gonçalves Mendes (Cia das Letras SP, 2012, trechos de entrevista, que se transformaram num filme sobre a vida a dois do português José Saramago e da espanhola Pílar del Río.
A FELICIDADE SEGUNDO PÍLAR DEL RÍO, NO LIVRO ONDE ELA E SARAMAGO CONTAM ALGO DA VIDA EM COMUM"Vivemos em culturas. E deveríamos aprofundar nossas culturas. Não o fazemos porque quem manda em nós é o dinheiro. é o poder. Não vivemos em democracias. Vivemos em plutocracias. São uns tantos senhores reunidos numa parte do mundo que impõem e ditam, por isso os países se sentem, hum... sem projetos. Temos forma de nos relacionarmos com os outros. Isso não tem cotação em nenhuma bolsa, por isso ninguém defende isso. (...) Pensemos como podemos ser mais seres humanos a partir de nossos condicionantes, de nossas relações. Este é um projeto apaixonante, o processo de humanização. Imagine você humanizar povos. Isso seria maravilhoso. O projeto de aperfeiçoar as relações. (...) Faço-lhe uma teoria da felicidade. Quem pode ser felis neste mundo? Viu as notícias hoje? Realmente, quem disser que é feliz é um inconsciente. Não, rapaz, estou satisfeita e contente de contribuir na medida de minhas possibilidades para tentar que isto seja mais habitável. Pois acho que há gente que vive muito bem com o que tem e é feliz dentro de certos limites, isto é, eu sou feliz, vejo aqui essa paisagem, esse mar, esse verde, mas um pouco adiante, neste momento, com certeza há quarenta pessoas que estão tentando desesperadamente, num barquinho miserável, chegar a essa costa. Então, sou feliz relativamente. Tudo é relativo, dizia o outro. Se você tem ambições desmedidas e não consegue realizá-las, ficará amargo e ressentido, mas se é uma pessoa que sabe o que conta, pois então não tem por que ser mais amargo. Cada dia a mais na vida é um dia a mais que você soma. Que sorte, não é? Que sorte viver um dia a mais e amanhã ter um dia a mais. E ter uma ruga a mais...", in Conversas Inéditas, José e Pilar (livro da Cia das Letras SP, 2012).
SARAMAGO E PILAR E COMO ENTENDEM O PAPEL DA RELIGIÃO NA CABEÇA DAS PESSOAS - CITAÇÃO TRÊS"Há uns sim, possuem grande necessidade de acreditar, têm essa necessidade, outros não. Então, a pergunta seria - por que é que as pessoas, muitas pessoas, têm uma enorme necessidade de crer e tal -, a outra pergunta também seria legítima - por que é que certas pessoas não têm nernhuma necessidade de crer. (...) Não sou capaz de crer na existência de um deus, tudo em mim rechaça essa ideia, se recusa a entrar nesse jogo, um deus que nunca ninguém viu, que não se sabe onde está, um deus de uma certa religião e não de outra. E depois, há coisas que já têm que ver com aquilo a que se poderia chamar de uma consciência moral. Qualquer pessoa que queira enfrentar a realidade dos fatos chega à conclusão - é muito f´pacil chegar a essa conclusão - de que as religiões nunca serviram para nada, porque nunca serviram para aquilo que fundamentalmente deveriam servir - para aproximar as pessoas uma das outras. (...) Quem é que inventou o pecado? A partir do momento em que se inventa o pecado, o inventor passa a dispor de um instrumento de domínio sobre o outro, tremendo. Se tu metes na cabeça de uma pessoa a ideia de que pecou, podes fazer dessa pessoa aquilo que quiseres. E foi o que a Igreja fez e já não faz tanto porque, coitados, já não têm nem metade do poder que tinham. É mais uma farsa, mais uma farsa trágica, que a Igreja representa todos os dias. (...) Realmente é triste como é que as pessoas não puderam, não conseguiram libertar-se dessa superstição paralisante. Deus onde está? Antigamente dizia-se 'deus está no céu', mas o céu não existe, pá. Não há céu, o que é isso de céu? Há o espaço , a treze bilhões de anos-luz. Mas quem quiser crer, crê e acabou. (...) A realidade continua a ser igual à de sempre - nascer, viver e morrer e acabou. Espero morrer lúcido e de olhos abertos", Saramago in "Conversas Inéditas - José e Pilar" (Cia das Letras SP, 2012).
futebol
BOCA JUNIOR EM COPACABANA - EIS O MELHOR DE TUDO
O Fluminense se sagrou campeão pela priimeira vez da Copa Libertadores da América, 2 x 1 no Boca Junior, da Argentina, tudo bem, nada a contestar. Para mim, o melhor de tudo nem foi o título, mas a interpretação da foto abaixo publicada. Isso me move...
Eu, o HPA, gosto e continuarei gostando imensamente de futebol. Assisto aqui pela TV de casa, de tudo um pouco, quase nunca os campeonatos europeus, mas muito dos campeonatos daqui, principalmente o das divisões mais abaixo, a B, C e D. Torço para um time, mas muito mais para o fraco, o oprimido, o injustiçado e o que está na rabeira do campeonato. Neste momento, sou Vasco da Gama, para que escape do rebaixamento e mesmo corintiano, seria de bom alvitre ver o Botafogo se sagrar campeão do Brasileirão 2023, pelo conjunto da obra. Vibro com o Vitória e o Sport na B e fiquei contente em ver um time do Amazonas e do Pará subindo para essa série. E, é claro, continuarei indo ao campo, presenciando as contendas aqui no Alfredo de Castilho, o campo do meu Noroeste, o time de minha aldeia e do meu coração. Tive o prazer de assistir um único jogo no La Bombonera e gosto do Boca, até por circular pelo bairro, o La Boca, reduto de gente que vale a pena, não só a convivência, como entender como se dá o estado de espírito de quem ali vive. No mais, nos bastidores da bola, vejo Macri e Milei, se infiltrando no Boca e querendo destituir Riquelme, o craque hoje presidente, daí torço para que isso não ocorra, pelo bem da bola e do prazer de torcer por um time de massa. Sou corintiano, amo o que representa Sócrates para essa massa e entendo Riquelme, Maradona e outros. Torço pensando nisso tudo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário