sábado, 13 de janeiro de 2024

MÚSICA (231)

OS PIPOQUEIROS DE NOVA YORK

Recebo missão da empresária da pipoca bauruense, Maria Inês Faneco, a de procurar por pipoqueiros aqui pelos Estados Unidos. Sim, eles existem, mas não cruzei com nenhum deles. Em Chicago, cruzamos com um, na porta de um museu, debaixo de neve, vendendo algodão doce. Escrevi dele, foi de cortar o coração. Por aqui, em nova York, a grande metrópole, o que mais existe são os carrinhos de lanche, pouco mais equipados que nos nossos brasileiros. O vendedor não fica ao relento. Tem um espaço interior e ali ele prepara de tudo, desde churros a cachorros quentes, uma das espercialidades das esquinas. Aqui mesmo na esquina do hotel, um destes, quase dentro da Times Square, permanecendo aberto 24h do dia. Não fui conferir, mas devem trocar de turno. Pela fisionomia, creio deva ser indiano ou paquistanês. Hoje, sábado, como iremos jantar num lugar já marcado, Ana me diz que poderíamos comer um hot dog nas ruas. Aceito prontamente e no meio de nossas andanças museológicas, sempre tem um carrinho destes na porta e com as luzes em néon piscando, quase nos chamando.

Outro que vi por aqui foram vendedores de cóco caramelado. Estes sim estão em carrocinhas ao estilo dos nosso pipoqueiros e enfrentando o cortante frio com a cara e a coragem. Por aqui, algo em torno de 8º positivos de temperatura. Não chegamos a um mês de inverno e tudo deve esfriar muito, inclusive com neve, que não pegaremos. E estes, os trabalhadores das ruas são os que mais padecem. Os que vi ontem estão pelas esquinas e nos lugares mais muvucados da cidade, ou seja, grande movimentação. Algo muito parecido com o que se vê no Brasil. A missão a mim dada pela Faneco ainda não foi devidamente cumprida, mais ainda me restam dez dias por aqui e assim sendo, continuo na procura de pipoqueiros. Vejo pouca pipoca por aqui e a maioria industrializada. Vendida em sacos, com marcas estampadas no verso, muitas delas com misturas estramboscópicas, devem ter sabor de arrepiar. Sou tradicional e gosto mesmo é daquela feita ao estilo Faneco, estourada na hora, com o sal sendo colocado a gosto. Dessas não encontrei nenhuma até o presente momento, mas continuo procurando.


O SOM DO METRÔ DE NOVA YORK - SURPRESA SEMPRE MUITO POSITIVA
A estação era bem distante. Havíamos nos perdido na metrópole. Circulávamos pelo Soho, fomos andando, eu assuntando em cada detalhe novo. Passamos por uma rua cheia de restaurantes italianos. Havia bandeirinhas nas ruas e tudo bom motivo para ir parando, fotografando. Numa delas, venda de açai, pitaia e coco, achei pudessem ser de brasileiros e noutra, muitas fotos de Maradona na porta, essa de argentinos, pois vi empanadas como o carro chefe. Deu água na boca, mas Ana não queria parar. Continuamos e quando nos demos conta, estávamos numa das beiradas de Chinatow, porém numa região mais degradada. Numa praça, muitos mendigos e alguns sem rumo, com seringas utilizadas espalhadas pelo chão. O frio aumentou e Ana não quis continuar perdida. Buscou orientação e 200 metros adiante um metrô. Adentramos e assim, o vento frio ficou para trás.
 Estamos com o passe do metrô e o trem mais próximo só dali 10 minutos.

Na plataforma, um senhor negro, creio eu africano, toca um diferente instrumento de corda. Seu som invade o local e alegra o ambiente. Ele toca muito e em alguns momentos canta. Deposito alguns dólares e lhe sinalizo se posso fotografá-lo. Sinaliza sim com a cabeça. Gravo, outros me seguem. Muitos depositam algo em sua sacola. Foram dez inebriantes minutos. O saguão se encheu e o seu som fez muitos sorrirem. Nada sei dele e o máximo conseguido foi uma foto das inscrições ali no chão, Malango Jobarteh - Gabian Kora. Artistas deste naipe são frequentes em estações do metrô mundo afora. Aqui em Nova York, muitos em cada, com um pedacinho de cada canto do mundo em qualquer parada. Isso aqui é uma verdadeira babilônia e um encanto de possibilidades. O trem chega, o deixamos para trás e o vejo só parando de tocar seu instrumento quando o trem já em movimento e a plataforma novamente vazia. Era seu momento de descanso. Com certeza ele iria recomeçar tão logo comece a ajuntar gente. Essa sua rotina, a de quem vive de sua arte tocada nas ruas. Isso me encanta e faz parar tudo. Ana fica atenta, como medo de me ver assim tão descuidado e assim ela me vigia e eu posso continuar ludicamente observando tudo a minha volta. O trem chega perto de onte estamos, aproveito para fazer algo que estava com vontade fazia dias, comer um hot dog. Pago 8 dólares com uma lata de coca cola. A música do cara do metrô não me sai da cabeça e agora, nem sei como fazer pra descobrir de onde veio esse som.

Não demorou muito, pensei um pouco e coloquei seu nome no google. Me apareceram várias gravações feitas pelo youtube. Eis uma delas, ele todo paramentado e tocando seu instrumento: https://www.youtube.com/watch?v=TrZyzhnsmgY . Junto da gravação, uma legenda em inglês: "Gambian Kora virtuoso Malang Jobarteh performs original compositions and traditional West African music as part of his concert "Dialogues" for the closing night of EXTENSITY's inaugural season, 7/31/21". Pouca coisa mais. O instrumento tocado por ele é o alaúde-harpa, também chamado kora. Pode parecer desperdício de tempo, mas me interessei e achei algo mais, escrito por uma pesquisadora brasileira, sobre este tipo de música e sua origem. Gerou um belo trabalho acadêmico, aqui por mim compartilhado: file:///C:/Users/Henrique/Downloads/rosangela,+Gerente+da+revista,+contemporanea_vol10n3_14_esp_1125-1156.pdf. Mais não pude pesquisar, enfim, estou em plena viagem e sem muito tempo para tanto. O encanto pela música tocada no metrê permanece e passo a bola para outros, fuçadores de boas causas e temas, para irmos desvendando dos descaminhos humanos, os que nos levam de um lugar a outro do planeta. Ele veio da África, eu do Brasil e cá estamos hoje nos cruzando num metrô de um outro lugar, Nova York. Que maravilhamento seria este?

OBS FINAL: Histórias como essa, vivenciadas nas estações e vagões do metrô eu poderia ir contando várias, pois como gosto de circular por aqui - e me perder - nos trens, guardo muita coisa na cabeça, sem tempo no momento para ir colocando tudo no papel. Quem sabe num outro momento ou dia, escreva algo mais profundo sobre essas minhas experiências.

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