segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

RETRATOS DE BAURU (284)


A MAIS ABSOLUTA CERTEZA DE SER UMA PESSOA ENCRALACRADA COM O PASSADO
Hoje, após reveses com estes aparelhos portáteis de som, os ainda funcionando como rádio, mas para mim, uso quase exclusivo para tocar CDs, conto algo a respeito. Tenho três, todos desgastados pelo tempo e, simplesmente, para poder continuar ouvindo minha modesta coleção de CDs, com aproximadamente uns 3 mil itens, espalhados em estantes bem organizadas, todos por ordem alfabética e ano de lançamento. Um aqui em casa, outros nos mafuás, 1 e 2. Dois deles pifaram de uma hora para outra. Um, assim do nada, só funciona agora com o som muito baixo, inaudível e o outro, continua funcionando o rádio e o que mais preciso, para ouvir meus CDs, não mais. O amigo Vinagre já me doou dois. O primeiro foi engolido por uma enchente lá nas barrancas do rio Bauru e o outro resiste ainda por lá, onde ainda tenho algo - por pouco tempo. Os outros dois, pifaram e sinto falta de ouvir diariamente meus CDs, ainda comprados. Só dos EUA trouxe uns 12 e domingo passado, por meros R$ 12, trouxe mais oito da banca do Carioca, na Feira do Rolo. São minhas preciosidades.

Ontem percorri algumas lojas do centro, após ouvir do Carioca o conselho para não comprar usado, pois a vida destes é curta e a certeza de problemas. Depois de percorrer cinco lojas no centro em somente uma ainda são vendidos. Virou coisa do passado. Neste ainda vendendo, caro, a atendente me disse: "Muito procurado por velhos, saudosistas e quem ainda gosta de ouvir música à moda antiga". Este deve ser eu, saudosista, velho e persistindo em não se desfazer da coleção. Insisto e leve meus dois aparelhos para ver o que se passa lá na oficina de aparelhinhos eletrônicos, a do Leão, na rua Monsenhor Claro. Ele não tem nenhum pra revender e ficou de me apresentar um orçamento para quarta. Estou nas mãos dele e de quanto vai me cobrar para devolver a alegria musical aos meus dias. Com música tudo fica menos nebuloso.

Daí, um outro com loja estabelecida lá no centro me diz ter a solução para meus problermas e me apresenta um aparelhinho onde posso transferir toda a coleção para um pequeno - diria, minúsculo -, menor que a palma de minha mão. Nem quis saber o preço, pois não me interessou. Ele ficou sem entender. Quem, como eu, ainda tem essas coleções em casa, sabe do que digo. Desapegar é preciso, mas já passo dos 63 anos de vida e se tenho prazer e contentamento com essas predileções do passado, me deixem continuar, pois não sei quanto tempo me resta. Depois, quando se for, estiver num outro plano, verão o que será feito disso tudo, agora ainda não. Disse ao cara: "Você não sabe o prazer que é ouvir música, folheando o encarte, lendo as letras e os textos das capinhas de cada um". Ele fez cara de paisagem e o deixei vendendo suas modernidades, que ainda não me interessam. Hoje, aguardo resposta do Leão com o orçamento dos reparos de meus dois e procuro outros, de baixo custo, para ter de reserva e poder continuar desfrutando dessas maravilhas eletrônicas em meu recanto preferido aqui dentro de casa, o ao lado de meu acervo musical. Ah, como gostaria de dar um breque em tudo e ficar por aqui, em meu canto só lendo livros e ouvindo música. Um dia chego neste patamar...

OBS.: Tudo isso porque ainda não escrevi sobre outra coleção, essa sendo reduzida, a de LPs, os bolachões, que por falta de espaço no novo Mafuá, terei que abdicar de muitos e isso me caua dor inconsertável, irreparável. Carioca, o da banca da Feira do Rolo vai ganhar centenas destes. Isto tudo me dói e tem a ver com a passagem dos anos e essas incontornáveis mudanças eletrônicas. Não estou preparado para ter toda minha coleção num aparelhinho que cabe na palma de minha mão.


COMECEMOS O DIA ENTENDENDO O QUE É ISSO DO GOVERNO LULA NESTE INSÓLITO BRASIL AINDA MUITO NEOLIBERAL
"O BRASIL DE LULA, por Emir Sader, publicado hoje, terça, 30/01/2024, diário argentino Página 12:

Lula ainda tem mais 3 anos como presidente neste mandato. Se concorrer à reeleição, poderá ter mais 7 anos como presidente do Brasil. Seria um período histórico muito especial pela duração e força da liderança de Lula. Seria um período do qual o país poderia sair profundamente mudado, com mudanças estruturais e, na medida do possível, irreversíveis. Seria um marco histórico que definiria um futuro diferente para o Brasil.

Este governo Lula faz parte do processo de superação do neoliberalismo, após o período neoliberal e autoritário de Bolsonaro. O modelo económico atual já é diferente. A prioridade já não é o ajustamento fiscal, mas a implementação de diferentes e variadas formas de políticas sociais. Já não se trata do Estado mínimo mas, pelo contrário, de reforçar a capacidade de intervenção do Estado. Já não se trata de implementar acordos de comércio livre com os EUA, mas sim de desenvolver políticas de integração regional e de intercâmbios Sul-Sul no mundo.

O Brasil de Lula se enquadra perfeitamente nesse processo de saída do neoliberalismo. No entanto, esse modelo continua predominante no Brasil. O eixo da economia continua a ser o capital especulativo. Porque a atração do capital pela especulação se dá pela taxa de juros superior à taxa de lucro, ou seja, aquela que provém do investimento em bolsa e não dos investimentos produtivos.

Contudo, o Brasil de Lula dá passos no sentido da superação do neoliberalismo. O país recebe uma grande quantidade de investimento estrangeiro para sua indústria. Amplia seu mercado consumidor interno, bem como sua força de trabalho. Fortalece sua estrutura produtiva, sua dinâmica mercadológica, bem como o financiamento de investimentos.

Não se pode dizer que as estruturas neoliberais já tenham sido superadas, mas há uma dinâmica económica que caminha nessa direcção. Um período histórico como o atual poderá ser uma linha demarcatória na história do país, caso este alcance uma economia basicamente produtiva, enfraquecendo os mecanismos especulativos.

Esta foi a situação que o Brasil viveu desde o início do século – que coincidiu com os governos do PT – até o golpe de impeachment contra Dilma Rousseff, que impôs um modelo econômico neoliberal. A volta de Lula à presidência do país permite a retomada do modelo antineoliberal.

Mas esta recuperação ocorre em condições diferentes das dos governos anteriores do PT. Em primeiro lugar, o governo não tem maioria no Congresso. Você tem que negociar para que seus projetos sejam aprovados na Câmara e no Senado. Esta negociação não só envolve frequentemente mudanças nestes projectos, mas também pode incluir a nomeação de políticos centristas e mesmo de centro-direita para o governo.

Por outro lado, o legado recebido por Lula no seu terceiro governo inclui um presidente do Banco Central de direita e neoliberal, que preserva uma taxa de juros estratosférica, o que retarda o ritmo de recuperação do crescimento económico. Esta situação afecta os dois primeiros anos do mandato presidencial. Isto é, ainda falta um ano de coexistência de posições económicas anti-neoliberais e neoliberais.

A aliança com as forças de centro e centro-direita continuará até às próximas eleições, ou seja, pelo menos mais três anos. Nessas condições, o governo Lula continuará, até uma possível reeleição, o que projetará um governo em condições diferentes. Teremos o Brasil de Lula por muito tempo".

2 comentários:

Marcos disse...

Tenho um CD desses portátil fechado na caixa que ganhei faz uns 18 anos, nunca foi usado e acredito estar funcionando perfeitamente. Pode levar embora se quiser. Não escuto CD, só vinil.

Mafuá do HPA disse...

Passo pegar. Quero sim. Me avise pelo whatts e busco amanhã mesmo
henrique - direto do mafuá