sábado, 16 de agosto de 2025


NA NOITE REVENDO A TRAJETÓRIA DE OTHON BASTOS TIVEMOS DE TUDO, CULMINANDO COM SEU ENCONTRO COM PAULO NEVES
Descrever a contínua emoção vivida ontem, sexta, 15/08, na apresentação bauruense da peça "NÃO ME ENTREGO, NÃO!", o quase monólogo do ator Othon Bastos, no Teatro Municipal, casa cheia, tudo organizado e bancado pelo SESC, é algo difícil, pois foi uma sucessão de ocorrências, todas seguidas, culminando numa uma memorável noite.
Othon Bastos, dispensa apresentações, um menestrel do teatro brasileiro, comemorando 92 anos de idade e para tanto, obtém do diretor teatral Flávio Marinho, este texto onde reverbera sua atuação teatral e no cinema brasileiro. Durante quase uma hora e meia, ele e a atriz Marta Paret, essa no papel de sua Memória, numa espécie de ponto, quando o relembra de tudo, num contraponto dos mais interessantes. A peça em si é extraordinária, muito reveladora e marcante. Só quem a assiste de fato pode relatar do maravilhamento ali produzido. Othon relembra muita coisa de quase todas suas experiências teatrais e no cinema, deixando de lado as na TV, com as mais de oitenta novelas e isso passa desapercebido pelo público.
Duas pessoas são marcantes na apresentação que o SESC marca acertadamente para ocorrer no Teatro Municipal de Bauru, a presença de dois personagens do teatro bauruense. Primeiro dona Dulce Lagreca, essa maravilhosa pessoa humana, hoje a maior dama viva do teatro brauruense. Ela e a filha estiveram sentadas na segunda fila, chegando uma hora antes para conseguir o lugar de destaque e ali, boquiabertas, viram diante de si, aquela aula magna de teatro. Mais que tudo, foi a forma calorosa como o ator a recebeu no hall do teatro, quando ali tirou fotos e conversou com fãs. Essa foto dos dois juntos é dessas para, olhando para eles, ver ali o quanto de teatro está juntado no mesmo espaço, ou seja, uma verdadeira viagem no tempo.
Por fim, diante de todos que o esperavam para meras fotos, estava Paulo Neves, ali trazido por seus filhos Talita e Thiago Neves. Paulo, como sempre o fez, assistiu tudo lá do fundo, distante do palco, porém de um local onde sua paercepção está mais que nunca, não só sintonizada, como magnetizada com o que ocorre lá embaixo. Paulo aguardou sentado o ator chegar ao hall e quando o fez o encontro deles foi memorável. Consegui captar em imagens e num curto vídeo, com troca de carinhos mútuos, onde vi a história do teatro ir passando ali diante de meus olhos. A história do teatro bauruense de um lado e a do brasileiro de outro, numa junção bem estreita. Essa, com certeza, seria uma conversa para varar a noite e adentrar o novo dia, pois ambos, como baluartes no que fazem, souberam dar muito mais do que um mero quinhão para a construção do que somos hoje no quesito teatral.
E por fim, cometo uma gafe e a corrijo. A atriz Marta Paret é desconhecida para mim. Disse isso a ela em algoassim: "Eu que me achava conhecedor de muita coisa no quesito mundo das artes, reconheço, não te conhecia e saio daqui surpreendido, você é ótima e como a Memória, perfeita". Disse que alguns atores são lembrados uma vida inteira por um detalhe de suas carreiras e via na Memória, isso na dela. Foi quando ela discorreu algo de onde atua, já atuou e continuará atuando. Vou prestar mais atenção em seu trabalho. Para mim, ela que chegou a pouco tempo na peça, substituindo quem nele iniciou, está perfeitamente encaixada, numa atuação onde o público, além dos efusivos aplausos, saíram todos muito emocionados. Belíssima noite e de todas as possibilidades ali dispostas, já me agarro numa e diante de Paulo Neves, me comprometo a ir visitá-lo e ter longo bate papo. Sua resposta é mais que um sinal de como não devemos nos esquecer das grandiosas pessoas que nos cercam: "Venha sim, preciso muito disso".
O final do espetáculo é mais do que uma mera cena de encerramento, quando o ator, diante de tudo o que havíamos ali presenciado, grita em alto e bom, repetindo a fala de Corisco no filmae"Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha - um marco na carreira do ator -, com aquela frase que nos acompanha desde então, como mantra de luta, resistência e indignação contra os perversos e a hipocrisia brasileira: "NÃO ME ENTREGO, NÃO!".

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