domingo, 13 de abril de 2008

UMA FRASE (15)
COMENTÁRIOS EM UM VELÓRIO

Do livro "Na rolança do tempo", do ator, cantor, compositor e boêmio Mário Lago.

Esse livro eu li já faz uma pá de tempo. Nem sei se ainda o tenho em meu mafuá, mas quando o li, fiz questão de guardar esse achado sobre os velórios. Hoje, quando estava no velório de um colega de trabalho, o seu Paulo, motorista lá da Secretaria de Cultura, lembrei-me disso aqui e repasso para todos:

"A imobilidade do morto e sua impotência para defender-se ou revidar a tudo que é feito e dito a seu propósito. Mas é impossível controlar os profissionais de se apresentarem mais tristes do que a própria tristeza. (...) Ah, aquele famigerado desconhecido que se aproxima do caixão, só ergue o lenço que cobre o rosto do já ido, olha-o durante largo tempo e por fim sacode a cabeça, acompanhando o gesto de um suspiro profundo, como se aquela morte lhe estivesse doendo no fundo das entranhas. Ou o prestimoso vizinho que vai a todo momento borrifar água no rosto do indefeso, com aquele galhinho de arruda portador de sorte, comentando com os em volta que o probrezinho parece que está dormindo, não é mesmo? Os oinda os infalíveis amigos da família, que abraçam os parentes do estirado lamentando o duro golpe da fatalidade, "ainda ontem, quando nos encontramos, estava tão contente, e hoje ei-lo aí...". Não sendo de esquecer, também, alguns parentes, que não conseguem agradecer aos abraços sem um lacrimoso, "morreu como um passarinho" ou "apagou-se como uma vela".

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