OS QUE RESTARAM (01)
Crio esse novo espaço para valorizar a luta dos que continuam resistindo e agindo, lutando por um mundo novo, mais justo e igualitário. Uns poucos, diante do que o próprio Martinelli ressalta e eu grifo abaixo. Por esses dias surgirá outro espaço, o "Os que fazem falta", onde falarei dos já se foram, fazendo uma falta danada.
RAPHAEL MARTINELLI, 84 ANOS, REVOLUCIONÁRIO NAS 24H NO DIA
Acontece no recinto da OAB a Semana de Direitos Humanos. Na noite de quarta, 26/08, fui com amigos assistir a um debate com Raphael Martinelli (os outros debatedores não vieram, José Ibrahim e Leopoldo Paulino), presidente do Fórum Permanente dos Ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo, ex-militante da ALN, de Marighella e um declarado e atuante militante ferroviário. Do alto dos 84 anos, quase todos dedicados à militância social, destaco de sua fala:
“Precisamos explicar para a nova geração o que significou a Ditadura e o que é Democracia. Na Ditadura existia a mesma malandragem de hoje e demonstrar isso é um problema da responsabilidade que temos com a nação. A sociedade foi enganada pela Ditadura. Quero contar e mostrar os danos que sofri ao longo dos anos de militância. O poder civil ganhou milhões com os militares, enriqueceu. Que apareçam os traidores do lado de cá, mas que sejam mostrados os colaboradores da Ditadura, quem financiou aquilo, quem bancou o aparato. Hoje eu posso falar, não tem tanque atrás de mim, isso é democracia e o parlamento não pode e não deve ser fechado. O que existe até hoje são algumas formas de impunidade. Ela ainda vigora em algumas delegacias de polícia. Polícia é para prender, não bater. Ela que jogue para o Judiciário fazer a sua parte. (...) A internet está cheia de críticas ferozes ao que fazemos. Quer dizer, a direita continua babando. Ela não pode e não sabe conviver com Democracia. Ela não aceita ver a gente livre e falando o que quer. E eles atuam. Falava lá atrás que Jango foi morto envenenado, hoje isso está mais claro. Marcos Freire, Castello Branco, JK e até provavelmente Lacerda e Costa e Silva, todos morreram deixando dúvidas no ar. A Direita mata até os seus próprios. (...) Eu acabei com as discussões internas dentro do Fórum, quando um acusava o outro em brigas freqüentes, do tipo, você me delatou, foi fraco e não resistiu. Foram todos torturados, sofreram, todos na mesma luta e se matando, acabei com isso. (...) Se existe Democracia no mundo de hoje isso é graças aos 25 milhões de soviéticos na 2ª Guerra. Temos que enaltecer a luta dos soviéticos. Não aceito as críticas feitas a eles hoje. A URSS jogou na luta 18 milhões dos seus melhores quadros para vencer a guerra. E os oportunistas que chegaram depois (os EUA entraram quase no fim do conflito e perderam umas 200 mil pessoas) ainda criticam eles. (...) Não subo mais em palanque do PT, mas não critico nada em público e quando faço, elas ocorrem em grupos internos. Lula não me recebe desde que foi eleito, sou amigo dele e ele sabe que o colocarei na parede na questão das ferrovias, sou fundador do PT e daqui não saio. Não sou de nenhum partido. Sou um homem de esquerda. Hoje ninguém mais levanta a voz no parlamento a favor dos ideais da luta. O cara que é de esquerda tem por obrigação fazer isso. A esquerda hoje têm medo de perder os privilégios, as mordomias. Hoje o movimento sindical não faz nada, não querem mais lutar, estão fracos. (...) Anistia não pode ser para os dois lados. O outro lado foi quem destituíram os eleitos, cassaram, torturaram e ainda querem ser incluídos na anistia. Isso não existe no mundo todo. Preparamos uma Cartilha para as crianças explicando o que é Ditadura e Democracia, Anistia, essas coisas. Eles precisam aprender desde cedo. Essa é a defesa que faço do Brasil”. Saibam mais sobre ele: http://www.youtube.com/watch?v=f7DMOjIU51o
Durante o debate e as perguntas feitas ao palestrante, uma pessoa queria aparecer. Monopolizou nas perguntas. Recebi um cutucão, vindo de uma amiga: “Quem é esse que se acha? O Martinelli fala com categoria, esse já se acha o bom”. Concordei e fomos quietos até o fim, pois o tema era dos mais instigantes, interessantes e o palestrando dos mais lúcidos. Foi ótimo rever Sebastião Pereira da Silva, outro oitentão, perseguido pelos golpistas, deu a volta por cima e dá um belo depoimento sobre seu nome estar até hoje em listas negativistas. Quem também estava por lá era Arcôncio Pereira da Silva e antes da palestra mostrava ter transcrito de próprio punho (aos 93, quase 94 anos) uma matéria do JC, de 01/08 e mostrando aos presentes emocionou a todos: “Está escrito aqui que alguns dos ex-prefeitos de Bauru foram os responsáveis por deixar a cidade com uma dívida de 400 milhões. São eles Tidei, Izzo e Nilson. Só o Tuga está fora disso. Eu fui muito duro com ele e quando ele passou o governo para o Rodrigo, estava lá e não o cumprimentei. Fui sectário, reconheço que errei e faço minha autocrítica. Todos esses outros fizeram empréstimos e Tuga foi quem pagou. Critiquei por ele não ter feito coisas, obras e hoje vejo o papel que ele teve. Reconheço o que Tuga fez e queria muito vê-lo para me desculpar pessoalmente”. Concordei com tudo e vou ver se consigo esse reencontro para os próximos dias.
sexta-feira, 28 de agosto de 2009
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2 comentários:
Brilhante a autocrítica do Arcôncio. Só mesmo uma pessoa sensata e lúcida, corajosa e destemida para fazer algo assim. Ainda ouço numa rádio local ataques diários a Tuga e percebo que eles continuam, pois guardam uma eterna mágoa, a deque nenhum anúncio foi feito com eles durante os quatro anos do seu governo. Tuga foi austero e entregou uma prefeitura governável para seu sucessor, algo que os anteriores, irresponsavelmente não fizeram. Não conhecia esse senhor, mas passei a admirá-lo. Você está de parabéns por resgatar esse detalhe do evento para nós. Quanto a um querer aparecer mais do que os outros. Isso ocorre em todos os segmentos. Tem gente que precisa ficar reafirmando a todo instante que foi, que é, eque não deixou de ser. Outros, somente pela presença, sem abrirem a boca, dizem mais do que estes. Adorei seu Raphael e seu Arcôncio.
com os abraços do
Paulo Lima
Henrique
O importante dessa discussão é que tanto o seu Raphael, como Arcôncio, e o contagiante Sebastião continuam cumprindo o seu papel, de homens de esquerda, à frente do seu tempo, militando com bravura. Outros, sem ação pratica, só o fazem da boca para fora, mas possuem ação pífia. O próprio Raphael Martinello ressalta isso, quando disse que os esquerdistas de hoje não estão com nada. Estão acomodados com cargos, mordomias e altos salários. Deixaram de ser revolucionários há muito tempo. Passaram para o outro lado, sem abandonar o antigo discurso.
Marisa
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