DOMINGO NO VITÓRIA RÉGIA, ORQUESTRA, SINFÔNICA E UMA SENHORA
Fui ao parque Vitória Régia no final da tarde do último domingo, ainda nas comemorações dos 113 anos de Bauru. Dois eventos atraiam minha atenção. No primeiro, uma apresentação da Orquestra Municipal de Bauru, sob a regência de Paulinho Pereira, assistida com um atraso de duas horas. Bem acompanhado, a espera não foi sacrificante e presenciar o trabalho daqueles jovens é sempre gratificante. Na seqüência, a apresentação da Orquestra Sinfônica do Exército Brasileiro, sob a regência do conceituado maestro Benito Juarez. O maestro já é nosso velho conhecido, pois esteve em Bauru diversas vezes com a Orquestra de Campinas. Desconhecia esse trabalho do Exército e se não causou espanto, no mínimo o repertório foi um tanto inusitado, bem eclético e mais brasileiro impossível. Duas músicas chamaram minha atenção, “Homenagem ao Malandro”, de Chico Buarque de Hollanda, um dos tantos perseguidos e censurados pela ditadura militar e “O bêbado e o equilibrista”, de Bosco e Aldir, um libelo pela anistia, justamente em oposição a tudo o que representou o período pós Golpe Militar de 1964, praticado pelo Exército Brasileiro e seus asseclas. Seria a demonstração viva de um novo pensamento dentro do Exército? Não sei a resposta, mas identifico no repertório a cara do maestro, sua postura e convicções. Deve, com certeza, ter quebrado barreiras até conseguir tal ecletismo. Foi lindo observar o verdadeiro sambão no bis, com “Aquarela do Brasil”, de Ari Barroso, recheado de pandeiros e tamborins. Ver aqueles jovens fardados caindo no samba foi contagiante. O maestro também foi ousado nas homenagens aos bauruenses. Duas delas mereceram aplausos generalizados. Na primeira, lembrou de Hélcio Pupo Ribeiro, um dos nossos entendidos em música clássica e na segunda, fez menção a um ex-prefeito, “que muito fez por essa cidade e não me sai da memória”, disse. Nada menos que Edison Bastos Gasparini, o comunista perseguido e foragido justamente no período militar (aplaudi efusivamente a lembrança). Depois vim a saber que, Juarez e Gasparini estiveram juntos na criação do velho e saudoso MDB, justamente no período de resistência ao período militar. O maestro demonstra estar afinado com seu tempo, sem medo de “cutucar a onça com a vara curta”. Mereceu alongados aplausos em algo que superou as expectativas de todos os presentes.
O toque negativo ficou com o festival de impropérios inadequados desferidos por uma senhora, apresentadora do evento no palco principal. No espaço de uns quinze minutos entre a apresentação de uma e outra Orquestra, quando da troca de instrumentos no palco, fez uso indiscriminado do microfone, de forma inadequada e despreparada. Falou além do devido, sendo tratada inicialmente de forma jocosa pelo público. Gerou logo a seguir, apupos e vaias a cada insistência no uso de um improviso fora de hora. Demonstrou claramente nada conhecer sobre o que estava falando. Foram quinze minutos para serem esquecidos. Nesses casos, quando ocorre troca de palco, o cerimonial recomenda uma fala breve, informando o tempo de espera, o anúncio das próximas atrações e em alguns casos, uma música de fundo. Na tentativa de utilização do tempo com encheção de lingüiça, na maioria das vezes, a emenda sai pior que o soneto. A tal senhora trocou nomes de forma seguida, repetia as mesmas frases e se achava (gente que se acha não cai nas graças do povão). Usou o termo orquestra, sinfônica e até banda para designar o agrupamento que iria se apresentar. Recheou a fala com desmedidas gírias e num certo momento desferiu: “Gente, já que no Brasil não existe guerra, nossos militares tocam música. Esse o novo papel deles. Lindo, não? Os anos de chumbo terminaram e eles agora estão do nosso lado”. Faz sentido, mas foi no mínimo, inadequado. Sobre a Parada da Diversidade fez questão de omitir que já tivemos a nossa. “Vocês gostam de Parada Gay? Pois ela vai acontecer em Bauru”, perguntou para a platéia. Pura miopia, pois ano passado mais de 15 mil pessoas foram às ruas na 1ª Parada de Bauru. Se foi miopia, maldade ou desconhecimento de causa, isso não ficou muito claro. O outro apresentador do evento, o competente jornalista Ademir Elias bem que tentou contornar tudo. Com uma postura sóbria, elegante e profissional, salvou a situação, uma verdadeira “saia justa”. Não fosse ele, o caos estaria instalado ali no palco, ao vivo e a cores. O prefeito presenciou tudo dos bastidores. Foi notável a fisionomia de desespero de alguns assessores. No mais tudo correu bem e ambas as apresentações foram muito aplaudidas. Ambas compensaram o atraso e as gafes.
4 comentários:
Henrique
Deixa eu comentar uma coisa.
Acompanho a mudança de governo e tenho gostado de algumas secretarias, mais atuantes que as anteriores. Em muitos, talvez pelo próprio posicionamento do prefeito, mais atuante, vibrante, a coisa funciona mais rápido. Porém, uma coisa tenho que concordar contigo e com outras pessoas. Uma das secretarias que piorou sensivelmente foi a Cultura. Por lá a coisa não anda, está travada e sob a direção de uma pessoa despreparada, alguns avanços que foram conseguidos, foram perdidos num curto espaço de tempo. Muita coisa que estava sob a resposnabilidade da Cultura, deixou de ser e ninguém está reclamando. O que falta para sensibilizar o prefeito, além de tudo o que está mais do que escancarado e comentado pelas ruas.
SL
"Foi no geral muito interessante… mas pecou demais pela escolha dos “mestres de cerimônia”, que eram extremamente ruins, gaguejavam o tempo todo (inúmeras vezes erraram ao tentar falar 113) e eram extremamente irritantes e repetitivos (principalmente enquanto diziam para a população que estavam os enrolando por causa dos atrasos).
Chegou um momento em que as pessoas já estavam pedindo para tirar a tal da Vera do palco pois não aguentavam mais ouvir sua voz… foi triste… mas confesso que eu também queria que ela saísse, pois já estava com dor de cabeça de ouvir a voz dela…
Tirando esse erro na escolha de quem “comandaria” a festa e alguns problemas com o som, estava tudo organizado, não vi brigas e a praça estava bonita. Acredito que não tenha registro de ocorrências graves no fim de semana durante as festividades.
O prefeito Rodrigo Agostinho, a comissão organizadora e os patrocinadores estão de parabéns.
Obs: Por favor, nos 114 anos vamos escolher um pessoal capacitado para ser mestre de cerimônia de evento!"
COMENTÁRIO DE GUSTAVO FERREIRA, NO BAURU BLOG, PARTE REPRODUZIDA AQUI PARA COMPROVAR QUE VOCÊ NÃO ESTÁ SÓZINHO, QUANDO VIU EXCESSOS NO PALCO DA FESTA DIA 02/08.
PAULO LIMA
Deixa eu contar uma coisa. Pode até ser que o local não seja o mais adequado, mas é que o nosso prefeito não merece continuar com o Secretário de Cultura que hoje ocupa a pasta. Ele é muito despreparado. Veja só o que relato. Na abertura da Exposição, lá no Mello Morais, ele apareceu com um bannerzinho embaixo do braço e querendo ficar de tudo quanto é jeito num espaço da Secretária de Agricultura. Armou o maior barraco quando disseram a ele que não poderia pregar aquilo lá. Ligou para uns superiores e não conseguindo o seu intento, espumou ali mesmo. Foi cômico ver a cena dele fazendo o papel de um mero fixado de banner, sem nem saber direito onde pode ou não fixar um mero cartaz com os feitos de sua secretaria. Um papelão. Foi obrigado a enfiar a viola no saco e sair de fininho, naquele estilo grosso e despreparado. Ele só apronta por onde anda. Essa é mais uma e eu estava lá testemunhando tudo. Muito mais gente viu a cena e depois que ele saiu foi só risadas.
S.
Mas este gajo está desesperado por um cargo na secretaria.
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