domingo, 15 de novembro de 2009

DIÁRIO DE CUBA (41)

MANHÃ JUNTO AO MAUSOLÉU DE JOSE MARTI
Chegamos à 22/março/2008, um sábado e antes de sairmos às ruas, o banho com uma ducha das antigas, fixadas na parede. Não me acerto com ela e sempre desço para o café matinal com um gostinho de “quero mais”. Pouca água e não me molha o corpo inteiro (imagina o caso do Marcos, a possuir o dobro do meu tamanho). Neste hotel são sempre cinco opções de “tábuas” diferentes para o café, todas muito parecidas para nós, que estávamos um tanto acostumados a fazer uma forte alimentação matinal, fazendo outra só ao final da tarde. O dinheiro que temos é contado e quando o café servido pela manhã é mais consistente, reduzimos os gastos com alimentação nas ruas. Faço as contas diariamente e de hoje até o final de nossa estada em Cuba, podemos gastar, entre os dois, 41 pesos dia, sendo que já pagamos hotel e ônibus até o retorno à Havana. Vamos controlando tudo, para não termos problemas lá na frente.

“Estas em Cuba. Estas em sua gente” é um anúncio a nos conduzir para as ruas, nesse ensolarado sábado em Santiago de Cuba. Dessa feita, demoramos demais para a saída do hotel. Caminhamos, como fizemos todos os dias passados em solo cubano, dessa vez do hotel até o Cemitério local, uns 3 km. A idéia era visitar o túmulo de José Martí (1853-1895), mas não só isso. O de Martí é uma imensidão logo na entrada, com 22 metros de altura e com seis esfinges representando todas as províncias cubanas. A tumba do grande líder é de cobre, tendo o símbolo de todos os países latinos rodeando-a, além de um pouco de terra de cada país. Em formato de estrela, tudo no mausoléu possui um simbolismo bem próprio. Foi obra do povo cubano, sendo inaugurada em 1951, anterior à revolução. A obra foi resultado de um concurso arquitetônico, com dezoito projetos. No panteão da entrada estão simbolizados os internacionalistas que caíram em combate, ao fundo os combatentes do Moncada e num outro, o das Forças Armadas. O cemitério possui mil tumbas, foi fundado em 1868 e todo o serviço funerário é totalmente gratuito para toda a população. Diariamente, às 18h ocorre o ato da troca da guarda, toda feita por jovens. Marcos fica em estado de êxtase e filma tudo, principalmente a movimentação de jovens oficiais marchando com os símbolos cubanos.

Essas e muitas outras informações foram sendo prestadas pela simpática funcionária do cemitério, Galdys Romagosa Tamesejo, 65 anos de idade e 19 trabalhando por lá, atualmente no cargo de Museóloga do Cemitério de Santa Efigênia. Circula conosco por várias tumbas famosas, como a da família Bacardi, criadores da famosa bebida, o de Cespedes, um dos mais antigos do local, os dos familiares de Antonio Maceo e outros. Conta também que os restos de Marti ficaram inicialmente com seus soldados caídos em combate e familiares, ocorrendo quatro enterros até 1947 e em 1951, o definitivo. Fico encantado com o fruto da árvore Anacayta, símbolo do Panamá, uma casca a se abrir em formato de coração. No seu interior espinhos, necessitando serem removidos antes de qualquer manuseio. Muito utilizados por artesões. Ela me presenteia com algumas para mim e um bocado de sementes. Sempre circulando, passamos pela área dos músicos e o que mais nos chama a atenção é o de Campoy Segundo, cuja tumba fora oficialmente inaugurada no domingo passado, dia de seu aniversário, com a presença de vários familiares.

Trocamos endereços para envio de fotos. Marcos promete enviar da visita de Fidel na posse do presidente Lula. Ela nos diz ter acompanhado oficialmente Fidel por duas vezes ao cemitério, ficando em ambos, mais de uma hora ao seu lado. Com Raul Castro esteve várias vezes, pois quando ainda não era o Comandante, vinha com freqüência. A última foi quando da inauguração da pira no mausoléu de Marti, permanentemente acesa. Relata várias histórias de personagens enterradas ali, como a de um cirurgião que atendeu Napoleão e em Cuba fez muita fama. De Fidel guarda uma fala: “Os norte-americanos não são tão inteligentes assim. Fizeram centenas de atentados contra mim, mas tenho proteção especial e nenhuma contra Raul, que sempre esteve na linha sucessória e nos atingiria de forma também crucial”. Gladys foi uma mestra, nos atendendo com uma presteza fora do comum (isso para nós, pois ela deve agir com todos que por lá passam).

Na volta, outros 3 km de caminhada até o mesmo restaurante de ontem, onde traçamos duas pizzas individuais pequenas, água e refresco de laranja. Relembramos fotos tiradas, rindo muito de algumas situações. Mas isso e meu passeio na parte da tarde e um teatro noturno fica para o próximo relato.

Obs.: Experimente ler esse relato ouvindo a Rádio Relógio: http://www.radioreloj.cu/notiweb/

Um comentário:

Anônimo disse...

Henrique só duas correções:
1- As esfinges estão olhando em direção de todas as provincias de Cuba que são 14 mais a Ilha da Juventude.
2- A troca da guarda ocorre diariamente a cada 30 minutos das 6hs as 18hs.

Saudações Comunistas

Marcos Paulo
Comunismo em Ação