"O ESTRANGEIRO", DE CAETANO VELOSO E FRASES DE CLAUDE LEVY-STRAUSS
Ao ficar sabendo da morte do Claude Levy-Strauss (100 anos, sábado passado), queria muito escrever algo sobre ele, sua importância, essas coisas. O que primeiro me veio à mente foi a música “O Estrangeiro”, do Caetano Veloso, do LP do mesmo nome. Tenho aqui no mafuá muita coisa do Caetano, mas o tenho ouvido muito pouco, talvez por causa do seu posicionamento político mais conservador, se colocando ao lado dos predadores da nação. Com os dois pés para trás, releguei seus discos e eles foram juntando pó. Esse, em especial, é da Philips, de 1989 e conta com Naná Vasconcelos na voz e percussão, muito bom. A letra é longa, um daqueles discursos do Caetano:
“O pintor Paul Gauguin amou a luz na Baía de Guanabara/ O compositor Cole Porter adorou as luzes na noite dela/ A Baía de Guanabara/ O antropólogo Claude Levy-strauss detestou a Baía de Guanabara:/ Pareceu-lhe uma boca banguela./ E eu menos a conhecera mais a amara?/ Sou cego de tanto vê-la, te tanto tê-la estrela/ O que é uma coisa bela?
O amor é cego/ Ray Charles é cego/ Stevie Wonder é cego/ E o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem/ Uma baleia, uma telenovela, um alaúde, um trem?/ Uma arara?/ Mas era ao mesmo tempo bela e banguela a Guanabara/ Em que se passara passa passará o raro pesadelo/ Que aqui começo a construir sempre buscando o belo e o amaro/ Eu não sonhei que a praia de Botafogo era uma esteira rolante de areia branca e de óleo diesel/ Sob meus tênis/ E o Pão de Açucar menos óbvio possível/ À minha frente/ Um Pão de Açucar com umas arestas insuspeitadas/ À áspera luz laranja contra a quase não luz quase não púrpura/ Do branco das areias e das espumas/ Que era tudo quanto havia então de aurora
Estão às minhas costas um velho com cabelos nas narinas/ E uma menina ainda adolescente e muito linda/ Não olho pra trás mas sei de tudo/ Cego às avessas, como nos sonhos, vejo o que desejo/ Mas eu não desejo ver o terno negro do velho/ Nem os dentes quase não púrpura da menina/ (pense Seurat e pense impressionista/ Essa coisa de luz nos brancos dentes e onda/ Mas não pense surrealista que é outra onda)
E ouço as vozes/ Os dois me dizem/ Num duplo som/ Como que sampleados num sinclavier:/ "É chegada a hora da reeducação de alguém/ Do Pai do Filho do Espírito Santo/ amém/ O certo é louco tomar eletrochoque/ O certo é saber que o certo é certo/ O macho adulto branco sempre no comando/ E o resto ao resto, o sexo é o corte, o sexo/ Reconhecer o valor necessário do ato hipócrita/ Riscar os índios, nada esperar dos pretos"/ E eu, menos estrangeiro no lugar que no momento/ Sigo mais sozinho caminhando contra o vento/ E entendo o centro do que estão dizendo/ Aquele cara e aquela:/ É um desmascaro/ Singelo grito:/ "O rei está nu"/ Mas eu desperto porque tudo cala frente ao fato de que o rei é mais bonito nu/ E eu vou e amo o azul, o púrpura e o amarelo/ E entre o meu ir e o do sol, um aro, um elo.("Some may like a soft brazilian Singer/ but i've given up all attempts at perfection")”. Ouçam no Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=uurtwNPyBt0
Lévi-Strauss foi um dos maiores antropólogos de todos os tempos, considerado o fundador da Antropologia Estruturalista, em meados da década de 1950, e um dos grandes intelectuais do século XX. Na década de 30, mais precisamente de 1935 a 1939, Lévi-Strauss lecionou sociologia na recém-criada Universidade de São Paulo, juntamente com uma leva de professores franceses, entre eles, sua mulher Dina Lévi-Strauss. Um livro seu que gostaria de ler é o "Tristes trópicos", exatamente sobre o período aqui no Brasil, passado junto aos índios.
O amor é cego/ Ray Charles é cego/ Stevie Wonder é cego/ E o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem/ Uma baleia, uma telenovela, um alaúde, um trem?/ Uma arara?/ Mas era ao mesmo tempo bela e banguela a Guanabara/ Em que se passara passa passará o raro pesadelo/ Que aqui começo a construir sempre buscando o belo e o amaro/ Eu não sonhei que a praia de Botafogo era uma esteira rolante de areia branca e de óleo diesel/ Sob meus tênis/ E o Pão de Açucar menos óbvio possível/ À minha frente/ Um Pão de Açucar com umas arestas insuspeitadas/ À áspera luz laranja contra a quase não luz quase não púrpura/ Do branco das areias e das espumas/ Que era tudo quanto havia então de aurora
Estão às minhas costas um velho com cabelos nas narinas/ E uma menina ainda adolescente e muito linda/ Não olho pra trás mas sei de tudo/ Cego às avessas, como nos sonhos, vejo o que desejo/ Mas eu não desejo ver o terno negro do velho/ Nem os dentes quase não púrpura da menina/ (pense Seurat e pense impressionista/ Essa coisa de luz nos brancos dentes e onda/ Mas não pense surrealista que é outra onda)
E ouço as vozes/ Os dois me dizem/ Num duplo som/ Como que sampleados num sinclavier:/ "É chegada a hora da reeducação de alguém/ Do Pai do Filho do Espírito Santo/ amém/ O certo é louco tomar eletrochoque/ O certo é saber que o certo é certo/ O macho adulto branco sempre no comando/ E o resto ao resto, o sexo é o corte, o sexo/ Reconhecer o valor necessário do ato hipócrita/ Riscar os índios, nada esperar dos pretos"/ E eu, menos estrangeiro no lugar que no momento/ Sigo mais sozinho caminhando contra o vento/ E entendo o centro do que estão dizendo/ Aquele cara e aquela:/ É um desmascaro/ Singelo grito:/ "O rei está nu"/ Mas eu desperto porque tudo cala frente ao fato de que o rei é mais bonito nu/ E eu vou e amo o azul, o púrpura e o amarelo/ E entre o meu ir e o do sol, um aro, um elo.("Some may like a soft brazilian Singer/ but i've given up all attempts at perfection")”. Ouçam no Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=uurtwNPyBt0
Lévi-Strauss foi um dos maiores antropólogos de todos os tempos, considerado o fundador da Antropologia Estruturalista, em meados da década de 1950, e um dos grandes intelectuais do século XX. Na década de 30, mais precisamente de 1935 a 1939, Lévi-Strauss lecionou sociologia na recém-criada Universidade de São Paulo, juntamente com uma leva de professores franceses, entre eles, sua mulher Dina Lévi-Strauss. Um livro seu que gostaria de ler é o "Tristes trópicos", exatamente sobre o período aqui no Brasil, passado junto aos índios.
Frases de Lévi-Strauss:
"Eu me vejo assim: um viajante, um arqueólogo do espaço, tentando em vão restaurar o exótico com o uso de partículas e fragmentos."
"Escrever é um sofrimento."
"O mundo começou sem o homem, e terminará sem ele."
"O sábio não é o homem que fornece as verdadeiras respostas; é quem faz as verdadeiras perguntas."
“Cada história é acompanhada por um número indeterminado de anti-histórias, cada uma das quais é complementar a outros.”
“A linguagem é uma razão humana que tem suas razões, e que o homem não sabe.”
“Nada se parece mais com o pensamento mítico que ideologia política.”
“A ciência por si só é incapaz de responder todas as perguntas e, apesar de seu desenvolvimento, ele nunca vai.”
“A humanidade está constantemente às voltas com dois processos contraditórios, um tende a criar um sistema unificado, enquanto o outro visa manter ou restaurar a diversificação.”
"Eu me vejo assim: um viajante, um arqueólogo do espaço, tentando em vão restaurar o exótico com o uso de partículas e fragmentos."
"Escrever é um sofrimento."
"O mundo começou sem o homem, e terminará sem ele."
"O sábio não é o homem que fornece as verdadeiras respostas; é quem faz as verdadeiras perguntas."
“Cada história é acompanhada por um número indeterminado de anti-histórias, cada uma das quais é complementar a outros.”
“A linguagem é uma razão humana que tem suas razões, e que o homem não sabe.”
“Nada se parece mais com o pensamento mítico que ideologia política.”
“A ciência por si só é incapaz de responder todas as perguntas e, apesar de seu desenvolvimento, ele nunca vai.”
“A humanidade está constantemente às voltas com dois processos contraditórios, um tende a criar um sistema unificado, enquanto o outro visa manter ou restaurar a diversificação.”
2 comentários:
CAETANO VELOSO
Ouvi daqui, graças a mecanismos que nem sei quais são, o brado de meus poucos mas fiéis leitores:
- Fala do Caetano! Fala do Caetano!
Mas falar o quê?! - fiquei pensando com meus botões cada vez mais esgarçados.
O filho de dona Canô chamou o Presidente da República de "analfabeto", de "cafona" e de "grosseiro". Não reside aí, na própria manifestação de seu pensamento carregado de preconceito e ódio, o lamentável retrato do compositor baiano?
Caetano Veloso está para a política (e para o povo brasileiro) assim como Moacyr Luz está para os botequins (e para o povo genuinamente carioca).
Jogam contra nós (e na mesma direção).
O primeiro, ao andar de mãos dadas com Fernando Henrique Cardoso (com quem anda cada vez mais parecido), o segundo ao andar de mãos dadas com Roberta Sudbrack, ex-cozinheira de FHC e autora de um inacreditável livro com receitas de alta gastronomia para cães (acham que é mentira, não acham? Pois confiram aqui).
O primeiro, ao faltar com o respeito, de forma inadmissível, com o Presidente da República, a quem espinafrou durante uma patética entrevista ao ESTADO DE SÃO PAULO, o segundo ao faltar com o respeito com um buteco da estirpe do BIP BIP, lutando contra sua inclusão na próxima edição do GUIA RIO BOTEQUIM.
O primeiro, ao elogiar o pré-candidato do PSDB na eleições de 2010 - "Serra representa o que tem de realmente bom e as conquistas mais importantes do governo Fernando Henrique Cardoso. Ele teve uma passagem brilhante pelo Ministério da Saúde, tomou atitudes corajosas e obteve conquistas que trouxeram respeitabilidade ao Brasil." -, o segundo ao elogiar a patética matéria da sexta-feira passada no jornal O GLOBO - "Li com orgulho o suplemento Rio-Show aonde nosso querido Guilherme Studart foi capa e mais inúmeras páginas de birosca e baixa gastronomia.".
Ambos, se é que você me entendem, cada um a seu modo (e guardadas as devidas proporções), se preocupam mais com o limão do mictório do que com o limão da casa.
Pra encerrar, uma fotografia do filho de dona Canô, que fala sozinha (ao lado de Antonio Carlos Magalhães - está no blog www.butecodoedu.blogspot.com).
Até.
P.S.: proponho o lançamento de uma campanha... CAETANO VELOSO, DOUTOR HONORIS CAUSA DA UNIBAN
EDUARDO GOLDEMBERG, RIO
Em vez de olhar para o futuro, Levi Strauss escolheu investigar o passado, em busca de entender por que nos tornamos o que somos.
Lu
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