sábado, 13 de fevereiro de 2010

ARTIGOS NO JORNAL BOM DIA (59 e 60)

VIÚVAS DO BATATA - publicado edição de hoje do BOM DIA Bauru, 13/02
Parafraseando a canção de Chico Buarque e Ruy Guerra, "não existe pecado no carnaval". E ele chegou. Adoro essa festa popular, algo a nos tirar do sério, deixando a sisudez de lado. Está reinaugurado em Bauru algo velho e com cara de novo, as Escolas de Samba nas ruas. Os blocos por dois anos seguidos já marcaram presença, mas só na avenida do samba. Blocos na rua é uma manifestação da irreverência do brasileiro. Não falo daquele que desfila num lugar pré-determinado pelas “otoridades”, como um sambódromo, prefiro aqueles que saem em ruas e praças de bairros, defendem idéias, concepções arruaceiras. Pelos jornais leio extasiado o nome de alguns a sair nas ruas e bairros cariocas: Katuca que ela pula, Espreme que sai, Pinto sarado, Vem em mim que sou facinha, Rola preguiçosa, Nem Muda nem sai de Cima, Simpatia é quase amor, Sovaco de Cristo e por aí afora. Sem contar a famosa Banda de Ipanema. Em Brasília o mais famoso e irreverente é o Pacotão e em Olinda, o Quanta Ladeira, ambos com reconhecida acidez crítica. E por aqui, nada nesse sentido. Fiz força esse ano para tentar parir algo com essa conotação. A força não foi suficiente, mas o “Viúvas do Batata”, um que ainda só concentra, mas não sai, aguarda o momento de escancarar sua irreverência e verve afiada. Aos que me pedem explicações quanto ao nome, simples. Trata-se das decepções de quem um dia já confiou no político que leva esse nome (nele e em sua cara metade). Esse, portanto, é o bloco que mais cresce na cidade. E viva o Carnaval!

SANTO DE SANTIS - publicado edição de sábado passado do BOM DIA Bauru, 06/02
Participo na quarta à noite do Ato em Defesa da Reforma Agrária, na Câmara Municipal de Bauru. Dentre todas as falas, algo a me martelar o cerebelo. A Justiça brasileira pende para o lado do capital, em detrimento do lado da grande massa oprimida, a maioria da população. E os policias, esses à serviço de nossas instituições seguem na mesma trilha. E dá-lhe pau no MST, nos sem-tetos, sem-alcova e sem-valia. Juntando a isso tudo, numa obscura época onde a religião é mais importante que a ciência, faço a escolha pelo meu santo de plantão. A escolha não leva em consideração o quesito religioso e sim a atitude do escolhido, sempre dentro de todos os preceitos possíveis da lei. Meramente isso. Trata-se do juiz Fausto de Santis, da 6ª Vara Criminal de São Paulo. De Santis é o alvo no momento dos tribunais superiores e de setores da mídia. Esse juiz não faz nada além de sua obrigação como magistrado, mas toca em feridas meio que intocáveis no cenário brasileiro. Contraria interesses de grandíssima monta, principalmente em dois casos mais do que recentes, contra o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity e do conglomerado industrial Camargo Côrrea. E precisaria mais? Não, pois isso já lhe basta para viver um inferno astral. Quando ouço por aqui de decisões morosas da Justiça, processos se arrastando lentamente quando a decisão esbarra nos menos favorecidos e um vapt-vupt para os Srs Cutrale da vida, penso em De Santis. Querem transformar um santo em réu.

3 comentários:

Anônimo disse...

Henrique

Não seria "Não existe pecado ao sul do Equador", essa de ambos os citados, Chico e Ruy Guerra. Compreo recentemente um DVD homenageando o letrista Ruy Guerra, que ficou mais famoso como cineasta. É lindo demais, lançado pela Biscoito Fino, com interpretações belíssimas da Olívia Hime.

Essa de "não existe pecado no carnaval" eu pratico desde que pulo carnaval, mas deconhecia.

PEDRO PAULO

Mafuá do HPA disse...

AI, QUE VERGONHA!

Parafreaseando a canção de Chico Buarque e Ruy Guerra, não existe pecado no carnaval (*). Está reaberta no Rio terra da Rola Preguiçosa (Ipanema), do Só o Cume Interessa (Urca), do Já Comi Pior Pagando (Tijuca) e do Xupa, Mas não Baba (Laranjeiras) a temporada de blocos de carnaval com nomes safadinhos. Veja alguns da nova safra e os bairros onde desfilam.

SÓ CAMINHA
Botafogo
CALMA, CALMA, SUA PIRANHA
Botafogo
AI, QUE VERGONHA!
São Conrado
KATUCA QUE ELA PULA
Botafogo
BALANÇO DO PINTO
Tijuca
VEM, CAMINHA JUNTO!
Taquara
CUTUCANO ATRÁS
Copacabana
ESPREME QUE SAI
Lapa
BUTANO NA BURETA
Maracanã
DÁ UM CADINHO PARA NÓS
Vila Isabel
PINTO NA PERERECA
Marechal Hermes
OU VAI OU MAMA
Piedade
O NEGÓCIO TÁ FEIO E TEU NOME TÁ NO MEIO
Todos os Santos
ENCOSTA QUE ELE CRESCE
Vista Alegre
PINTO SARADO
Santo Cristo
SE NÃO QUISER ME DAR, ME EMPRESTA
Ipanema
É PEQUENO, MAS BALANÇA
Jardim Botânico
VAI TOMAR NO GRAJAÚ
Grajaú
TÁ NA FRENTE, EU EMPURRO
Bento Ribeiro
PERERECA IMPERIAL
São Cristovão
COBRA SARADA
Laranjeiras
É PEQUENO, MAS VAI CRESCER
Centro
VOCÊ NÃO VALE NADA, MAS EU GOSTO DE VOCÊ
Irajá
BLOCO DE PIRANHAS DO JEFINHO
Pedra de Guaratiba
VESTIU UMA CAMISINHA LISTRADA E SAIU POR AÍ
Centro
BANANA DO BACALHAU
Glória

* A máxima "não existe pecado ao Sul do Equador" ficou conhecida por causa da canção de Chico Buarque e Ruy Guerra para a peça "Calabar". O compositor se inspirou em casa. Sérgio Buarque de Holanda, seu pai, registrou que "corria na Europa, durante o século 17, a crença de que, aquém da Linha do Equador, não existe nenhum pecado". Parece que o primeiro a dizer isto foi o historiador Gaspar Barléu, da corte do príncipe Maurício de Nassau. Mas aí é outra história.


Esse texto reproduzido ao alto foi minha fonte inspiradora para escrever o início do meu. É da lavra do jornalista ANCELMO GOES, e foi publicado em sua coluna no jornal O Globo, 17/01/2010.

Em partes dá uma explicação para sua pergunta, meu caro PEDRO PAULO.

HENRIQUE - direto do mafuá

Anônimo disse...

Li o que o Plínio disse no seu texto lá de cima:

O judiciário precisa aprender a estar ao lado da população e não dos poderosos.

O duro é que quando está ao lado, como no caso das decisões do juiz De Santis, os do alto escalão do Judiciário ainda tentam revogar as mesmas.

Nosso Judiciário está infectato pelo mal que acomete o capitalismo, o vil metal.

Depois criticam o Chávez e Fidel quando tomam as decisões passando por cima de decisões arbitrárias em detrimento do povo.

Só assim mesmo.

De Santis é um só, uma pena.

Cláudia Leme