segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

DIÁRIO DE CUBA (47)

OMAR, DA MUNDO LATINO E UM PARQUE SOB O RIO ALMENDARES
Antepenúltimo dia em Cuba. Quando tudo vai chegando ao fim, parece queremos aproveitar cada minuto como se fosse o último. Pois assim se sucedeu comigo naquele 25/03/2008, uma terça-feira. Acordo lembrando ainda do seu Lázaro, um barman atuando ao lado do hotel. Uma de suas falas serve de reflexão para mim e Marcos Paulo: “Se queremos ter um país realmente marxista, temos que instruir, dar educação e cultura para o povo, pois só um povo que sabe discernir muito bem as coisas pode ser marxista de verdade. Não existe como um povo sem cultura entender e discutir dialética”. Proféticas palavras.

O nosso “desayuno” (café da manhã) foi bom demais. Acabou servindo para todo o dia, exatamente como os ursos fazem quando hibernam. Logo na saída da sala de café uma simpática estudante universitária fazia uma pesquisa sobre o atendimento matinal do hotel. Nada a reclamar, aproveitamos para conversar com uma estudante e a conversa não rendeu mais porque queríamos sair às ruas e o mais rápido possível. Teríamos dois encontros previamente agendados, um para a manhã e outro para a tarde. Pegamos um táxi defronte o Habana Libre Hotel e fomos até a produtora Mundo Latino (calle 41 % 22), pagando meros cinco pesos.

Por lá esperamos pouca coisa, pois nosso velho conhecido do começo da viagem, Omar Olazabal, 45 anos, diretor da Mundo Latino estava em reunião. Enquanto aguardávamos, ficamos a papear com uma estagiaria que diz conhecer brasileiros de Maracatu (sic). Fomos levados a uma sala isolada, nos fundos, fizemos um breve relato ao Omar, que ouviu tudo atentamente, fez perguntas, não se furtou a responder às nossas: “O que temos que tomar cuidado não é com a religião, mas sim com o consumismo” (quando lhe questionamos sobre religião), “proibir algo por proibir é perigoso, pois logo mais outras tantas portas serão abertas. O fundamental é brecar o consumismo desenfreado”, “quando o Período Especial foi necessário, ocorreu uma abertura maior para o turismo e para o consumo, daí surgiu a rineteria. Essa é uma das preocupações que temos. Estamos muito atentos aos que tentam tirar vantagem dos turistas” e “as igrejas em Cuba não interferem em nada nas decisões tomadas pelo estado, aqui existe uma hierarquia e ela é respeitada. A igreja enquanto instituição sabe até onde pode e deve ir”. Tiramos muitas fotos, poucas com ele e várias com as simpáticas funcionárias.

Na saída, por volta das 11h, percebemos estar muito perto da casa de dona Hilda Marin, a mãe da amiga cubana residente em Bauru, Rosa Tolon. Nosso encontro com ela estava marcado para o final da tarde e resolvemos ficar ali por perto, ir conhecendo novos locais nas redondezas. Voltando pela avenida 23, ao atravessar sobre a ponte sob o rio Almendares nos deparamos com uma árvore idêntica aquela vista no cemitério em Santiago de Cuba, cujo nome é Anacayta (árvore símbolo do Panamá) e o fruto é uma caixinha em formato de coração. Para para ver, tiro fotos com três senhoras e peço explicação. Uma delas até nos canta uma canção sobre a mesma. Papeamos por um certo tempo, ouvindo suas histórias. Uma pena foi constatar que todas estavam com pressa. Andamos um pouco mais e localizamos a casa de Hilda, porém como ainda era muito cedo, continuamos nossas andanças.

Voltamos para os lados do rio e descobrimos um parque, quase debaixo da ponte. Muitos barcos circulam de um lado a outro, com gente remando de um lado para outro. Aproveitamos para descansar. Volto até as anacaytas e recolho algumas caixinhas, algumas delas cheias de sementes, pois logo de cara fiquei com a intenção de plantar em algum lugar em Bauru. Vasculhamos o parque inteiro e pouco conversamos com as pessoas. Por volta das 13h30 caminhamos até a casa da querida Hilda, mas isso fica para o próximo relato.

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