segunda-feira, 19 de abril de 2010

UMA ALFINETADA (66)

FRANCISCO E UM ESCRITO SEU SOBRE UM PASSADO GLORIOSO (publicado n'O Alfinete, edição 17/04)

Escrever eu escrevo e muito, mas hoje quero dar vazão aqui a um outro escrevinhador, esse exilado lá em Sampa, pirajuiense de uma safra dos que ainda continuam a brigar e falar de sua cidade natal, para quem tiver disposição de ouvi-lo. Falo de FRANCISCO BONADIO COSTA. Recebo dele um e-mail, com um texto pronto e acabado, que pela singeleza, dessas coisas a tocar fundo. Faço questão de compartilhar com todos:

“Há uns meses, li n' O Alfinete uma bela crônica sua a respeito da torcida do Clube Atlético Juventus. Ali você falava do encanto daqueles velhinhos fiéis, dedicados e uniformizados torcedores do clube da Moóca, e, por isso, de seu comparecimento aos jogos na rua Javari, quando está em São Paulo. Pois bem, ontem de manhã, ao fazer a feira perto de casa, deparei-me com três senhores, trajando camisa e boné do Jabaquara Atlético Clube, de Santos. Não resisti àquela cena incomum e fui abordá-los. Eles se disseram conselheiros do Jabuca, sendo que o mais velho deles se intitulou o torcedor número 1 da equipe. Falavam com entusiasmo e devoção do ex-Leão do Macuco, hoje da Caneleira. O mais interessante é que moram em São Paulo, perto de minha casa. Disse a eles que pensava que o Jabaquara tivesse desativado o futebol profissional, pois, há uns tempos, li uma entrevista de seu presidente, dizendo que não havia condições de manter equipe e se dedicariam a formação de jogadores. Com um brilho fulgurante nos olhos e um enorme sorriso disseram que o Jabuca estava estreando na quarta divisão da FPF e iria jogar, no próximo sábado, dia 8, contra o Nacional Atlético Clube, na rua Comendador de Sousa. Aproveitaram e me convidaram para comparecer também, pois, ainda que houvesse um diminuto público, seria muito divertido. Um deles me deu um cartão de visitas, com o timbre do clube. Disseram que é de 100 o número de associados pagantes (R$15,00 por mês), mas o clube obtém renda de aluguel de quadras e salões de festas e que, hoje, depois de longo período de investimentos, tem um patrimônio em torno de quarenta milhões de reais, com um estádio para 12.500 pessoas. Disseram que o Pelé se associou ao clube, através de sua equipe, Litoral F.C., e com patrocínio na camisa de uma empresa que o "rei" tem em Jundiaí.

Fiquei emocionado com tamanha devoção e entusiasmo, sobretudo em senhores já maduros, de quem, normalmente, não se esperam arroubos próprios da juventude. Ainda mais: pegou bem na minha veia, porque sou um saudosista de um tempo em que tudo era mágico e puro e povoou minha infância em Pirajuí. Sempre gostei dos times pequenos de São Paulo e do Rio: Juventus, Nacional, Ypiranga (hoje só clube social), Portuguesa Santista e Comercial (que não mais existe), Bonsucesso, Madureira, Olaria, São Cristóvão, Canto do Rio (de Niterói e apenas clube social). Da mesma forma, vi entristecido o desaparecimento do BAC e de seu estádio. É doído assistir ao desaparecimento de coisas que encantaram minha infância. Sei que, hoje, em face das mudanças no mundo e no futebol, tais equipes tendem a desaparecer. Mas, nas minhas fantasias, me imagino um milionário que poderia bancar vários projetos, entre eles, um campeonato de futebol varzeano em Pirajuí, com a presença de equipes locais adotando o nome de tais agremiações paulistas. Estou pensando seriamente em me juntar a esse exército brancaleone, e comparecer à rua Comendador de Sousa, quem sabe usando um bonezinho do Jabuca, que um dia, na Vila Belmiro, virou um placar adverso de 3 a 0 para um 6 a 4 retumbante, sobre o Santos de Pelé e tudo, sob a batuta de Don Ernesto Filpo Nunes, com três gosl de Mamão, como me lembrou um dos três torcedores”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Henrique, embora com defasagem de tempo, recebi O Alfinete com a minha/sua crônica. Beleza pura! Hoje de manhã encontrei-me com os três na feira e lhes entreguei "xerox" da página. O jornal ficou de me mandar outros exemplares para eu presenteá-los. Domingo próximo não os encontrarei na feira porque eles estarão em Santos, assistindo à estréia do Jabuca na 4ª divisão.

E parabéns à nossa noroeste que, de uma vez só, alçou dois times à divisão principal de futebol do Estado: Norusca (a maquininha vermelha) e o Linense (o Elefante da Noroeste). Lembro-me que, em 1953, o Linense subiu e, em 1954 foi a vez do Norusca. Naquela época só havia o acesso de um time, mas, mesmo assim, a região dominou em dois anos seguidos. Bons tempos aqueles em que o Linense ostentava: Herrera, Rui e Noca, Geraldo, Frangão e Ivã, Alfredinho, Américo, Washintron, Mauri e Alemãozinho, com Oswaldo Brandão na batuta da agremiação do estádio todo de madeira, com um "big" elefante de madeira pendurado em seu portão de entrada. E o Norusca (agora me falha a memória) trazia Sidnei (gol), Pierre e Gaspar (zaga), Colombo, Zeola, Brotero, Ranulfo e Luís Marini (ataque que aparecia sentado no gramado do antigo Alfredo de Castilho, em reportagem de A Gazeta Esportiva sobre a subida do Noroeste (então não se falava Norusca), comandada por Armando Renganeschi.

Quero fazer um apêndice a essas mal traçadas linhas. Há uns anos, conversei por telefone com o Milton Camargo, que fora um dos expoentes das Rádios Tupi e Difusora (Associadas) e ele me revelou que morara uns tempos em Pirajuí, quando estudava no Olavo Bilac (ele é originário de Marília e, por acaso, teve um irmão casado com uma parente de minha mãe). O Milton me disse que ele foi o primeiro radialista a falar do Pelé em São Paulo. Contou-me o caso: fora cobrir um jogo do Santos na rua Javari.

Anônimo disse...

Naquela época havia as preliminares envolvendo as equipes reservas. Em determinado momento, o locutor principal da Difusora, perguntou a ele sobre o panorama do local, ao que ele comentou que corria a preliminar em que despontava um crioulinho fantástico do Santos, de apelido Gasolina. Para comprovar o que me dissera, pediu-me para conferir a edição da época do Diário de Bauru, que registrou tal comentário dele. Não sei se já comentei isso com você (com o Esmeraldi é certeza). Será que a biblioteca de Bauru tem o acervo dos jornais já publicados na cidade? Lembro-me, na minha época de criança e adolescente em Pirajuí, da existência da Folha do Povo (diário que meu pai assinava), Diário de Bauru (do Nicolinha Avallone) e o Correio da Noroeste (acho que era dos Ranieri das escolas e que depois foi de um sujeito vindo de Marília e que se candidatou a prefeito de Bauru, cujo apelido era o diminutivo de seu nome). Lembro-me até hoje do local e horário em que li, pela primeira vez, o nome Pelé. Voltava da agência dos Correios, e vinha filando as notícias dos vários jornais que meu pai assinava e eram entregues ali (chegavam às 16h,30m na estação da Noroeste e o Dutra, carteiro, ia de jipe pegar os pacotes, ansiosamente aguardados por um legião de leitores. Como os tempos mudaram! As notícias já chegavam defasadas, mas era a forma de termos uma informação mais completa do noticiário que ouvíamos pelo rádio, geralmente o Repórter Esso, pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, na voz de Heron Domingues ou pelo Grande Jornal Falado Tupi, com o Corifeu de Azevedo Marques). No caminho do Correio para casa, abro a Folha do Povo na página central e lá estava a manchete bem grande: Pelé foi para o Santos. Não sei por que, mas a figura do Pelé, de quem nunca ouvira falar, se assemelhava à do Elias (Grissa), de Pirajuí, que também foi um craque de bola. Muito tempo depois, ouvindo uma transmissão pela Rádio Difusora de São Paulo, ouvi o radialista, Ari Silva, comentar: o Santos tem dois crioulinhos infernais; Pelé e (acho) Dorval. Foi uma grande surpresa para mim, pois o comentário me remeteu àquele instante em que tomava conhecimento do nome do "rei".
A esse propósito, na minha estada em Pirajuí por ocasião do reencontro de ex-moradores, conversando com o Hamilton Salles Milanese (tem loja de confecções no Jardim dos Turcos), ele me disse que nascera em Bauru e viera adolescente para Pirajuí, e que ele e seu irmão Adílson, jogaram com o Pelé nas peladas e jogos varzeanos na cidade. Falou que, além de "comer a bola", Pelé era seguidamente artilheiro dos campeonatos. Só que o garoto era conhecido como "o filho do Dondinho".

Anos depois, com Pelé brilhando no Santos e na Seleção, comentou com o irmão que o tal craque seria o "filho do Dondinho".

Abracitos do Francisco