sábado, 18 de setembro de 2010

PERGUNTAR NÃO OFENDE ou QUE SAUDADE DE ERNESTO VARELA (17)

CERRADO, DEVASTAÇÃO, UNESP, POSSEIROS, GRILEIROS, FOGO, TRATOR E A AÇÃO DE UM QUIXOTE
O advogado Amilton Sobreira, presidente da ONG SOS CERRADO é um incansável batalhador pela defesa do que ainda nos resta de cerrado. E a cada circulada pelos arredores de Bauru ele constata que a devastação continua implacável e inexorável. Nessa semana produziu um documento sobre a continuidade de algo de feito de forma indiscriminada. Circulo com ele na quinta, 16/09, por estradas de terra, nos fundos da UNESP, passando defronte o IPMET e seguindo adiante.

Segue falando de duas situações. Uma na APAS da Vargem Limpa – Campo Novo, rica em fauna e flora, onde é permitida a ocupação humana, mas sem loteamentos, só chácaras de recreio, pois trata-se de Zona de Preservação Ambiental. Localiza-se depois da Reserva Legal da UNESP, atrás do Jardim Botânico. A segunda é a da Fazenda Violanta, com loteamentos registrados ilegalmente por volta de 1950, em área do Leprosário Aymorés. Toda aquela área foi comprada em 1927 para ser a Colônia e em 50 aparecem escrituras, sem existir venda para loteamento algum. Na década de 60 a Prefeitura regulariza, faz mapas sem ir ao local e tudo cai na mão de aproveitadores. Ali não é APAS, poucos querem saber de preservação. A palavra lei por ali é negócio e grana.

Amilton está envolvido com esses assuntos há muito tempo. Está familiarizado com o termos e com os nomes dos que estão por trás dos grandes negócios por ali. Cita dois nomes famosos no cenário da especulação imobiliária na cidade, ambos também com atuação ali (onipresentes, estão em todas). Conta histórias de escrituras de posse feitas em Piratininga, declarações na justiça onde grandões dizem não serem donos, mas no processo constam seus nomes e que a intenção é ir ficando, protelando até dar usucapião. Depois tudo poderá ser vendido para a Prefeitura. Negócio da China, para uns poucos.

Tem na ponta da língua uma história de uma peritagem para localizar os lotes, onde um juiz indicou um que cobraria por volta de R$ 3 mil reais, mas a Prefeitura acabou fazendo o serviço por outro cobrando R$ 32 mil reais. Observamos sinais de fumaça no meio da mata. Barulho de foice e evidência de mato sendo derrubado. Não o deixo aproximar-se sozinho, mas no retorno, passando pela área da UNESP, na avenida José Sandrin, bem defronte a um ginásio de esportes construído pela Universidade, um trator devasta o cerrado e mais adiante um placa, com os dizeres “Incubadora de Empresas de Base Tecnológica e Desenvolvimento Industrial de Bauru”.

Ele não se agüenta, liga para a rádio Auri-verde, dá uma entrevista para Chico Cardoso e passa no BOM DIA. Faz disso sua vida, uma luta contra o poder estabelecido, que investe sobre a mata, visando lucros e não pensando nem um pouco em questão ambiental. Para mim, tornou-se uma espécie de Dom Quixote, lutando com suas forças contra grandes dragões, os tais dos moinhos. É uma luta cada vez solitária, mas da qual não se afasta. Quer ir minando, pouco a pouco, a acão predatória desses gananciosos fazedores de dinheiro a qualquer custo.

OBS Complementar: O pessoal do BOM DIA ligou para a UNESP sobre a denúncia de desmatamento e disseram existir autorização para a derrubada das árvores. Tudo contrariando placas indicando "Área de Reserva Legal" e "Área de Preservação Ambiental". Resta-me fazer a pergunta, ao bom e redundante estilo de Ernesto Varela: A razão de que lado estaria? Se do trator, avencemos então sobre a mata, cada vez mais. A cidade precisa crescer e o cerrado vir abaixo. De que valeriam autorizações expedidas por autoridades diversas e de comprovado valor, se existisse dentro de cada um a vontade de preservar? Não serviriam para nada, mas o progresso, em seu nome tudo é permitido.

3 comentários:

Anônimo disse...

cadê o cerrado do interior do meu estado?ja foi serrado.
cade o corrego aonde o tamanduá ia beber e se espojar com seu fucinho alongado?
cadê os ipes quando floridos eram trez cores enchia o sertão de flores deixando o ar perfumado.
cadê o anjico,a fava de sucupira? até eu bicho caipira ja estou vivendo assustado.
tatus, raposas emas,lobos em matilha cairam nessa armadilha foram todos dizimados
a canelera o oleo de copaiba
barba-timão pindaiba.ja foi serrado,cadê o cerr.....lazaro carneiro

Anônimo disse...

Olá Henrique!!!
Hoje li seu artigo no Jornal Bom Dia,e achei muito pertinente sua colocação.
Essas atitudes do nosso prefeito demonstra fragilidade, incompetência e alienação.
Ouvi muitos comentários elogiando seu texto,sei que não faz diferença para seu ego ,mas para a sociedade gera discussão, incomodação e reflexão.
Vc é pimenta na escrita,mas exelente crítico .Parabéns!

Um ótimo final de semana .

Bjs

M.L.G.

Anônimo disse...

Henrique e Amilton, vocês leram a capa do Caderno Regional do JC de hoje, com a manchete POLÍCIA DE BOTUCATO FLAGRA CORTE DE 382 ÁRVORES EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO.

Lá, na vizinha Botucatu cortar é capa de jornal, aqui nenhum dos dois jornais dá a maior pelota. Os interesses daqui não podem ser sobrepostos.

Seu papel é primordial, caro Amilton. Não desista. Insista sempre.

Paulo Lima