quinta-feira, 15 de março de 2012

MEMÓRIA ORAL (117)

A EXTINÇÃO DO ARAN OU COMO VIVER ENTRE BONEQUINHOS
Algo muito difícil na vida das pessoas é conseguir conciliar o ganha pão com o atuar no que se gosta. Poucos conseguem de fato e o normal é encontrar pessoas infelizes e reclamonas. Aran Carriel, 33 anos é um a persistir no caminho da liberdade existencial e sua história, além de peculiar destoa um bocado do trivial. Vivencia e coloca em prática alguns dos ensinamentos aprendidos ao longo da vida. Seus pais, ambos professores, viviam em Santos quando nasceu e lá morou até completar 11 anos. Aprendeu desde cedo a conviver no meio de livros, filmes, música, tudo de gosto apurado e isso, nunca mais o abandonou. “Nas artes tenho um gosto muito parecido com o dos meus pais. Cinema europeu, Pasolini. Um privilégio que soube aproveitar. Não me esqueço, que ainda meninote fui com eles numa das Mostras de Cinema em São Paulo. Soube aproveitar isso tudo e deu no que deu, mas gosto também de coisas muito mais extremas”, começa contando sobre sua trajetória.

Aran possui uma loja no centro de Bauru, a Extinção, uma espécie de empório cultural, onde se pode encontrar desde livros, LPs, roupa alternativa e um brechó. Esse uma de suas fontes de renda, outra é uma banda de rock experimental, a Auto Boneco, mais conhecida como Bonequinho, que acaba de voltar de uma pequena turnê pela Argentina. Ele não para por aí e relata esse algo mais: “Faço outras coisas além disso, como ser free-lance de jornalismo e gravações de áudio e vídeo. Tudo para não ter patrão fixo. Tento me virar ao máximo, pois hoje existe a possibilidade de mais escolhas. Fiz as minhas e não me arrependo. É difícil, mas não deixa de ser uma delícia. Sempre digo que você pode ter cinco patrões diferentes, mas não perca sua autonomia. Eu não me automatizo e tento passar isso para a molecada que vem aqui".

Sua loja não segue o fluxo normal do horário comercialmente estabelecido, pois como trabalha só (os pais ajudam muito, os poetas Brandão e Sônia), uma tabuleta na entrada dá o tom de tudo: “Horário de Funcionamento: Não abrimos geralmente às 8:00 ou 9:00h, às vezes, as 10:00h. Não fechamos as 5:00 ou as 4:00h, as vezes as 12:00h. às vezes, nem abre!”. Isso chama a atenção de todos e Aran dá o tom de como é o seu esquema de trabalho: “Meu horário é alternativo. Não abro muito cedo, porque trabalho muito de madrugada. Faço tudo como posso. O mais fixo é das 12 às 18h e no sábado das 12 às 17h, além da sessão de cinema, sempre nesse dia e às 19h30”.

Sim, na parte superior da loja, com almofadas espalhadas pelo chão, uma sala improvisada de cinema, 15 lugares no máximo e sempre com filmes fora do circuito comercial. “Não passo nada comercial, tudo alternativo, muita coisa experimental, sempre o lado B do cinema e tudo gratuito.A divulgação eu mesmo faço, compartilho pelo facebook, cartazes, Xerox em bares, faculdades e tendo como parceiro o Enxame Coletivo, que trazem toda a parte técnica, como o telão e o projetor. Quando tem sete, oito pessoas já a dá a impressão de casa cheia”, conta.

A movimentação em sua loja é constante e algo sempre presente é um chorinho na hora do acerto financeiro. “Vejam essas roupas, tudo alternativo, uma parte é brechó e outra de pequenas griffes, de Bauru e região. Eu atraio um público muito variado. Tem senhor de idade e engravatado procurando disco de punk e a moçada da Unesp buscando um clássico ou MPB antigo. Não me interessa um nicho fechado, por exemplo, só de rock. Tenho de tudo um pouco. Acho que sou o comerciante mais tempo aqui no quarteirão. Essa quadra mudou bastante. O meu forte sempre foi o vinil, pois sou o único especializado nele. Além do balcão, vendo também pelo endereço do blog e pelo facebook. Viajo muito e por onde passo vou renovando meu estoque. Vou tocando e procurando peças novas para revender na loja”, continua seu relato.

Quando toco no assunto da banda, seus olhos até brilham, pois está nessa desde muito cedo. “A loja é de 2003 e a banda desde 1993. O estilo que tocamos é meio noise, que quer dizer barulho em inglês. Somos quatro integrantes, todos jornalistas e por incrível que pareça tocamos pouco em Bauru, mais fora. Percorremos circuitos independentes, mostras de arte integradas e tudo com um vídeo ao fundo. Da formação original só duas pessoas, eu e Amanda. Temos treze discos lançados, até nos EUa e com entrevista na França e recentemente a passagem por Buenos Aires. Veja isso, esse CD aqui é o último, o Suicídio Narcisista lançado em 11/11/11 e outro, o Gottaz, que é um trocadilho de Dança de Deus, foi lançado em 07/07/07”, conta.

E sobre a passagem pela Argentina relata: “Nosso guitarrista já tinha feito três turnês por lá, já tinha um público e fizemos quatro shows, onde pagamos a viagem e tivemos a hospedagem e alimentação de cortesia. Demos entrevista para uma rádio anarquista, algo meio inconcebível aqui no Brasil e colamos pelas paredes por lá mais de duzentos adesivos do Bonequinho”.

É impossível não ir intercalando os assuntos todos a movimentar sua vida, pois clientes adentram a loja em busca de livros, outros ligam para perguntar algo da banda, recebe clientes interessados nas gravações e isso vai tomando o seu tempo. Um vestido verde no meio da loja desperta curiosidade, pois parece integrado com uma moldura, onde uma foto de pernas femininas foi colocado estrategicamente debaixo do mesmo. Uma miscelânea que é a cara do Aran e do seu negócio. “Essa vontade maior de autonomia é que me faz continuar. Já cheguei a ir revender alguma coisa daqui na Feira do Rolo, tudo porque a loja estava em baixa, estava sem grana e queria ir num show. Fiz muitos trabalho de ambulante na venda de bebidas para levantar grana. Tudo isso porque meu estilo de vida é simples, não sou consumista, moro só, só ando de bicicleta e quando me perguntam como me defino, sou claro: "Sou sem rótulos, sou o Aran da Auto Boneco”. Escrito a mão na saída da loja, último degrau da escada, o recado que deixa a todos: "Volte sempre".

Dados finais: Falar com o Aran ou entrar em contato é muito simples, aqui as dicas. Seu e-mail é museudofuturo@gmail.com, o site da banda é http://www.bonequinhologia.blogspot.com/ e o da loja é http://www.extincaodiscos.blogspot.com/ . Pelo facebook o meio mais rápido é clicando “Post Mejnun Aran”, o telefone da loja é 14.30181733 e o endereço Rua Cussy Jr, 8-17, centro, Bauru SP.

5 comentários:

Anônimo disse...

Ainda tá a postagem original, reveja por favor, insisto!




"Postado por Mafuá do HPA às 05:42 0 comentários"

Anônimo disse...

Eu complerretifico que meus gostos são mais "extremos" e diferentes daqueles dos meus pais, mas tive a sorte na infância dessa variedade artística de cinema europeu e japonês; meus irmãos estão flutuando no subterrâneo e eu nunca fui solteiro.

No mais, valeu pela matéria e pelo convite, uma boa divulgação!

Mafuá do HPA disse...

Aran
Posto textos aqui desde 2007 e tenho certeza de ter feito a correção. Cheguei a ler tudo corrigido e depois fui viajar. Estive em Jaú a tarde toda e só agora, 20h18 volto e vejo que as correções foram desfeitas. Não sei te explicar o que teria acontecido. Alguma falha de minha parte. Refiz e acredito que tudo está sanado. Pode repassar para os seus amigos e peça a eles para comentarem. Acredito ter faltado algo mais sobre esse seu lado "extremado", mas no conjunto da obra, acredito que ficou razoável. Que acha?
Um abraço e espero não ter te causado grandes problemas pela demora nas correções.
Henrique - direto do mafuá

Anônimo disse...

Drama Beat via Amandla Rocha

Post Mejnun Aran do Auto Boneco/Bonequinho.

Pra quem não conhece o projeto e pra quem já conhece, vale a pena ler isso. A vida pode ser diferente daquilo que fazem você acreditar que ela deva ser.
http://mafuadohpa.blogspot.com/search?q=ARAN
mafuadohpa.blogspot.com




Olhaí moçada, o texto sobre o Aran já está rolando no facebook. Confiram como foi postado.

Anônimo disse...

Henrique,

Vc tem problemas com os títulos de seus textos, alguns muito longos. Nesse vc acertou em cheio. Ótima sacada com os trocadilhos. Fiquei muito curiosa e li até o fim.

Belas histórias as contadas por ti.

Regina