DUAS HISTORINHAS DO COTIDIANO CARIOCA - EM CADA ESQUINA UMA NOVA
Começo meu diário texto com algo que li num livro terminado por esses dias sobre a obra do escritor JOÃO ANTONIO, um cronista do submundo da marginália. Esse sabia como ninguém retratar os mais simples, os tipos comuns da rua, aqueles cujos muitos menosprezam e acreditam nada terem de relevante para ser descrito, mas possuem em cada passo um algo novo, uma descrição merecedora de atenção e destaque. É o que tento fazer, é o que gosto de fazer e é o que farei cada vez mais daqui para frente. Sempre
inspirado em João do Rio, Lima Barreto, João Antonio e Plínio Marcos. Nesse ano tudo o que encontrar pela frente desses autores é o que estarei lendo. Esses dois relatos têm muito desses autores, vivência dos personagens das ruas. Essas histórias, as dos mais simples são as que me interessam.
1.) Pego o metrô na estação Saenz Pena, coração tijucano, destino Copacabana. Quando estamos pela altura da Glória, eis que adentra o vagão onde me encontro um grupo de jovens e começam um som dos mais degustáveis. No metrô qualquer tipo de som e venda de
produtos é terminantemente proibida e eles fazem tudo escondidinho, quase na moita, o que me encanta. Achegam-se no meio do vagão, abrem a capa de um violão e a deixam aberta no chão, como que se oferecendo para receber trocados dos que gostarem do que vão ouvir e ver. Com um cavaquinho, um violão, um pandeiro os quatro garotos, todos músicos iniciam uma harmônica
sessão musical, só com clássicos do cancioneiro popular. MPB da melhor qualidade e com algum vocal. São tão atenciosos que, na passagem pelas próximas estações, Flamengo e Botafogo, param com tudo e só voltam para o concerto com o trem em movimento. Encerram cada apresentação musical com muitas palmas e um deles, após tocarem umas três, saca do pandeiro e sai colhendo contribuições entre os passageiros. Não resisto, saio do meu canto lá nos fundos do vagão e vou para perto deles. Dou minha modesta contribuição e tiro fotos deles todos. Vejo que a grande maioria dos passageiros aprova o a
to com palavras de incentivo. Esses atos, pequenos enfrentamentos à ordem estabelecida, às leis do metrô, são transgressões mais do que salutares e necessárias. Juntam várias coisas numa só, o arroubo junevil, a necessidade material ali exposta e mostram uma produção de valor. Vibro com gente que ainda se predispõem a fazer algo nesse sentido, pequenas ações que sejam, para mostrar e ousar, além da evidente necessidade de levantarem algum, pequenas quantias servindo para sobrevivência urbana. Descem em Copacabana e os acompanho com os olhos, quando se dirigem para o retorno interno dentro da estação, procurando retornar agora no sentido contrário, contrariando e burlando mandamentos e imposições, mostrando um bocadinho do trabalho e de algo
que estão aprendendo e muito bem, tocar Música Popular Brasileira. Vibrei e me deu uma danada vontade de segui-los pelos caminhos subterrâneos do metrô carioca.
2.) No segundo momento, ontem à tarde, saio de um
Aqui nesse mafuento espaço o que estará sempre em evidência são as histórias dos mais simples, resistentes, quase esquecidos, porém valorosos. A eles todos, meu reconhecimento, sempre.
5 comentários:
Henrique
Você pode até não acreditar, mas ao ver seu texto aqui hoje no blog, olhei para a foto do Pedro, lojista de CD e o reconheci de cara. Esse senhor, como ele mesmo te diz está nesse ramo faz muito tempo. O conheci décadas atrás e não sabia dessa loja, tão perto de onde eu moro.
Esse mundo é mesmo incrível, pois precisou você ter vindo lá de Bauru, para descobrir o cara, publicar no seu blog e eu aqui tão pertinho dele, descobrir seu paradeiro.
Vou lá comprar CD, bater papo e depois de conto
Pasqual - RJ
É hoje pessoal, o primeiro Baile Seresta do ano
começando às 21:00 indo até às 02:00 da madrugada,
no Clube dos Cabos & Soldados da Rua Alves Seabra,
com a mesa e o estacionamento para a sua caranga,
de quebra, totalmente gratuito. O grande baile será
abrilhantado pela banda do Renildo.
Você vai perder essa Pé de Varsa? (Aldo Wellichan)
Não sabia que estavas aposentado guri.
Falta muito coroa.
Trabalho e muito, venho aqui onde estou para isso e nas horas vagas escrevinho.
Concilio trabalho e lazer, vida dura com boêmia. É a forma de viver que escolhi. Aos 52 não mudo mais, não vim aqui para enricar, ludibriar pessoas, vim para tentar usufruir deste cruel mundo. tento...
Abracitos do Henrique - direto do seu mafuá carioca
caro Henrique
E quem nos contariam essas histórias dos mais simples,dos menos favorecidos, dos renegados, dos postergados, dos bestializados, dos desencontrados, dos desvalidos... Alguém precisa fazê-lo e você o faz maravilhosamente. Imagino lendo algo seu só nesse sentido, as histórias desses todos, desde o mais marginalizado ao que está conseguindo superar a marginalidade, ao sobrevivente, ao que encontrou a luz, o esforço e também aquele que mesmo estando do lado infeliz, discursa como se estivesse do outro lado, faz da boca para fora o discurso do patrão. Vejo nos seus escritos todos esses escritos e gosto muito. Vejo neles uma Bauru que não encontro em nenhum outro lugar, por isso quando leio histórias como essas, mesmo de gente de longe, percebo aí o seu lado mais pungente, algo latente em ti. Queria te elogiar e o faço agora.
Um abracito, como sempre escreve, do Paulo Lima
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