domingo, 6 de janeiro de 2013

MEMÓRIA ORAL (134)

UMA ODE A FEIRA DOMINICAL – O VIVENCIADO HOJE
Quem me conhece sabe que bato cartão na feira dominical aqui do lado de cima de casa, na rua Gustavo e adjacências. Não vou bem à feira e sim no seu espaço compreendido pela rua Julio Prestes e no largo defronte os barracões da Cia Paulista. Ali meu reduto, como fiz hoje, permanecendo por ali aproximadamente duas horas, sem pisar os pés na parte da Gustavo, a feira propriamente dita.

Minha ida tem um motivo, bater papo, rever pessoas, me recarregar. Ficar em casa com esse calor é para doidos e ficar a navegar pelos facebooks da vida mais ainda. Como tem gente conservadora e preconceituosa navegando e expondo de forma insana seu tacanho pensamento. Outro dia vi meu amigo, o advogado Herrera postar uma decisão: “Daqui para frente tolerância zero com os que jogam contra o Brasil, sendo amigos ou não, deletarei”. Preciso fazer o mesmo, pois tem sido pura perda de tempo ficar papeando com quem não enxerga nada diante dos olhos além de sua linha ideológica. Perversão pura. Brochante, diria. Na feira o clima é outro.

Hoje o que predominava por lá era o infernal calor, abrasador. Mas a feira fervilhava e minha parada obrigatória, como sempre é na Banca do Carioca. Já de cara um papo com o jornalista Benedito Requena, quando não me contive e comentei: “Olha como param pessoas interessadas em livros. Lindo isso,não?”. Requena acabou de lançar seu livro, o “Uma história que vem de longe”, sobre sua árvore genealógica e assim como eu, tromba de cinco em cinco minutos com pessoas conhecidas, como o árbitro de futebol amador, o Bigode. Nesses reencontros a conversa flui e o tempo se esvai. “Sumido, hem? Passa lá”, diz Bigode, pedindo para ambos o visitarem no Carimbos Pavan ali na Rodrigues, seu local de trabalho.

Sentado diante da caixa de discos, uma rotineira presença é a do grandalhão, o farmacêutico Quicão, que nos conta algo triste para um começo de ano: “Acabo de perder o emprego”. Trabalhava numa farmácia lá no Mary Dota e um lhe disse: “Olha o lado bom, não podia mais vir aqui aos domingos, por causa dos plantões, agora já pode”. Ele ri e separa um punhado de vinis, os antigos bolachões para levar por módicos R$ 2 cada.  Vendo-me separar um CD da Maria Rita, me pergunta se tinha nesse a música “Encontros e despedidas”. Tinha e foi uma negociação danada para ver quem levaria o acepipe, meros R$ 5 reais. Acabei levando, pos o havia visto primeiro. Ali é assim, viu levou.

Aldo Wellicham chega com uma vistosa camisa do Corinthians de Junqueirópolis, onde jogou quando moleque e recebeu homenagem semana passada junto de outros atletas. “Sou homenageado 400 km de Bauru e ganho uma camiseta com meu nome, tenho que desfilar com ela”. Tiramos fotos e vasculhamos juntos caixas e caixas de livros. Numa delas, Carioca breca o vasculhar e informa: “Essa é a dos brindes, escolham dois cada, pois dela nada está a venda”. Levo dois, um do Carlos Eduardo Novaes, “O menino sem imaginação” e um sobre Educação, já tendo passado pela minha mão um monte de vezes no passado, o “A vida na escola e a escola da vida”, com ilustrações do Claudius Ceccon.

Quem aparece junto da esposa é o Manoel Rubira e lhe mostro o livro do Claudius e ele me cita outros da época. Comenta comigo já ter superado isso dos “ismos” todos, desde capitalismo ao comunismo e que está acima disso tudo, o seu negócio hoje. Tento argumentar, mas deixamos para depois, pois ali nos faltava tempo. Vejo que sem os ismos, procurando outra forma de analisar, já estamos criando um outro “ismo”, que meio termo ou não não, nos força a agir distante de ideologias. Esse o problema e quero perguntar isso a ele. Marcamos novo encontro, pois quem chega assim do nada é o Baiano e sua esposa, ambos de férias, donos do restaurante museu lá do Geisel: “Reabrimos amanhã e hoje é o único domingo do ano que podemos aparecer por aqui. Rever vocês todos aqui é algo que queria pode fazer todo domingo”.

Quem entra na conversa é o companheiro da barraca ao lado do Carioca, um que vende penduricalhos de pescoço e cabeça, artesanatos, pulseiras e anéis. “Que lugar é esse, hem? Faço amigos novos por aqui a cada domingo e só de vocês voltarem isso é uma festa contínua, nem parece trabalho”, diz. Todos riem e Carioca se volta para atender um casal interessado em livros. Não resiste e já mostra a caixa dos brindes do dia e pede para que escolham alguns.  Aproveito e tomo um vinho, servido ali num copo de plástico, pois taça seria demais encontrar por ali.

Saio dali ainda em estado de êxtase e dou a última parada para levar CDs da banca da Roberta, a Rô, uma bacharel em Direito que vive do trabalho da feira e hoje meia reclamona da saúde, aguardando operação para resolver problemas do tipo que todos possuem com a chegada de alguns anos e quilos. “Engordei muito, pois tenho que tomar medicamento para dormir, muita dor à noite. Uma fila que não chega nunca. E venho aqui sempre renovada, pronta para atender a todos e bater longos papos”, se abre. Roberta é o colírio dos olhos de todos os frequentadores da feira, por ser muito boa gente, alegre, divertida, dessas que costumam não reclamar das adversidades da vida e a sua é permanecer no monta e desmonta com sua barraca. O local está sempre cheio e ela com os olhos mais do que atentos para todos os lados
.
Gostaria de escrever de todos, cada um possui uma bela história um diálogo que vale a pena ser contado, descrito e valorizado. Todos os feirantes estão ali não só por necessidade, pois foi a forma como escolheram para ganharem a vida, mas com certeza, assim como eu, sentem-se felizes com a balburdia estabelecida no quadrilátero da feira aos domingos, única a unir trabalho e lazer. São tantos seus personagens, tão vibrantes, tão cheios de gás, disposição, que falar deles me dá contentamento extra, citar seus nomes, reverenciar cada frequentador, os que como eu, não levam quase nada, mas voltam com o embornal cheio de algo, que com certeza, a internet não nos dá com aquelas discussões infundadas e descabidas. Prefiro muito mais estar entre esses do que discutir a relação do que me vai pela cabeça via internet. Na rua sempre estarei melhor acompanhado. Aqui é o meu lugar.

Um adendo: Quando trato aqui os casais Manoel Rubira e esposa e Baiano e esposa, sem citar o nome delas não os faço dessa forma por menosprezar a mulher, longe disso. O fato é que ando esquecido e não consigo me lembrar do nome de nenhuma delas. Coisa de um escrevinhador cabeça dura.

4 comentários:

Anônimo disse...

meu caro H.P.A. você nao suporta mais o foce-book,mas atentai bem,com esse texto riquíssimo postado por você ja era pra ter muitos comentários mas o povo parece que anda meio anestesiado
sem opinião com medo de falar;
lá no tal de feice voce recebe um comentário vai ver é só kkk. é
por isso que eu faço coisas absurdas como essa quadrinha:

não posso me suicidar
por ser um gesto mesquinho
finjo que estou vivendo
morrendo de vagarinho
lazaro carneiro

Anônimo disse...

A feira, meu caro amigo Henrique é mesmo uma boa fuga para muita coisa desanuviada em nossas vidas. Os adeptos do facebook talvez hoje já sejam sem o saber também adeptos do sexo virtual, mas nós, os da moda antiga, o seremos sempre adeptos da forma presencial.

Paulo Lima

Anônimo disse...

Você precisa arrumar um trampo
auhauhuha
forgado

Mafuá do HPA disse...

Essa é para o folgado (ou forgado):

Mais ainda. Não aguentarei. Já trabalho muito. Voce é que não sabe ou não percebe.

Henrique - direto do mafuá