domingo, 27 de janeiro de 2013

RETRATOS DE BAURU (137)

ADEUS HOJE DO BELGA, PETISTA E MILITANTE COMO POUCOS, TRISTAN DIERCKZ
Tristan Dierckz (seu nome é uma sopa de letrinhas), 61 anos completados esse mês, eu conheci na militância, da qual nunca se afastou por um segundo sequer, nem acamado, como nos seus últimos tempos. Um aguerrido belga, criado numa colônia na vizinha Botucatu, esteve sempre preparado para todos os embates que a vida ia lhe sugerindo e em todos a mesma postura, digna, resoluta e firme. Um
 militante na acepção da palavra, desses que não se vergam. Ontem mesmo me lembrei muito dele ao ler uma entrevista na Carta Capital com Gilberto de Carvalho, secretário-geral da Presidência da República: “Me incomoda a gente apanhar tanto e reagir tão pouco. Me incomoda a gente ter a maioria dos meios de comunicação dando essa leitura errada da realidade e a gente não enfrentar um debate público. Nos falta iniciativa”. Tristan não pode ser acusado de passividade, nem de acomodado, pois reagia sempre, numa ficou na defensiva e criou até certos problemas por onde atuou, tudo por causa de seu pavio curto, por excesso de respostas, por ter iniciativa em tudo e para tudo. Não conseguia se segurar e reagia intempestivamente, como todos nós deveríamos fazer e muitas vezes deixamos para depois. Ele queria e dava a reposta já, de bate pronto, criando muitos amigos por isso, mas também muitos adversários e inimigos irreconciliáveis. Que o diga o ex-prefeito de Botucatu, Mário Ielo, seu grande amigo, que o manteve durante seu mandato nas hostes municipais e ciente de suas qualidades, segurou-o até o fim, mesmo com muitos pedindo a todo instante por sua cabeça. Militou muito em Bauru e inesquecível o dia da posse em do mandato do pastor Sakai Pinto como presidente da Câmara de Vereadores de Bauru, 4 anos atrás, quando eu, ele e Ademar Aleixo nos postamos nas galerias com cones gigantes de papel e sal grosso, denunciando a indecência que estava se estabelecendo ali naquele momento. Na tribuna, o vereador Marcelo Borges nos imortalizou com algo, para ele depreciativa, mas para nós, motivo de muito orgulho: “Vocês são os próprios TRÊS PATETAS”. Assumimos a pecha, tanto que Ademar e ele tentaram criar um blog, o www.osspatetas.blogspot.com, que não vingou, mas seu lema serve para continuação de uma luta que nunca se finda: “Patetas são aqueles que não se conformam, protestam, opinam e, justamente por fazerem isso, são considerados patetas. Este é o espaço aberto aos milhares de patetas sem mídia”. Tristan era um mestre, emérito professor de francês, penou muito com empregos na entressafra política, viajava de Bauru a Botucatu caçando alunos e entre as vagas magras e as menos magras, sobreviveu de forma valente, nos seus últimos tempos, tendo ao seu lado a valorosa parceira, Fernanda Dierzkz, que junto dele esteve em todos seus piores momentos, onde sua saúde se agravou. Hoje ele nos deixa, a saúde debilitada não suportou as últimos complicações e ele foi lutar em outras paragens. Pertenceu até o último instante ligado a um dos últimos redutos petistas confiáveis, um que resiste bravamente dentro da sigla e pode ser considerado dos que consegue manter o nome do partido altaneiro, orgulho de defender e ser o do trabalhador brasileiro. Sempre esteve ao lado das boas causas, motivadora de sua existência. Um amigo de quatro costados e alguém, que com certeza não existe peça de reposição, nem jogador no banco de reserva com a mesma garra e fibra para substituí-lo nesse momento na contenda. Vamos ser obrigados a jogar até o fim com um jogador a menos, desdobrando-se para não perdermos mais essa partida. Tristan é desses que fará uma bruta duma falta, sentida ausência. Adoro os criadores de caso, esses são os melhores, Tristan sempre foi um cordial criador de caso e aí é que reside uma de suas melhores virtudes.



7 comentários:

Anônimo disse...

Tristan era um homem de visão aguçada e palavras sábias. Lidava com excelência com os opostos e tinha pertinente foco na ideologia partidária. Aprendi muitas lições com ele. Fique bem meu caro!

Reginaldo Padovani

Anônimo disse...


Boa noite Henrique,me parece ter lido seu testemunho (?) no muro da Fernanda mas nao consigo revê-lo... Gostei. Queria somente agradecer por testemunhar carinho e amizade pelo meu irmao.
Isabelle, Bruxelles

Anônimo disse...

Henrique,
Ainda temos grandes figuras, grandes homens.
Parecem pequenos, mas são gigantes.
Pequenos, minusculos são Lula, Dirceu, Genoino, etc.
Belo perfil o desse belga.
Precisa entrar no livro.
Abraços
Ignacio Loyola Branmão

Anônimo disse...

HENRIQUE

Entro no circuito para comentar algo escrito por ti no seu texto sobre o valoroso Tristan, que não conhecia.

Logo no começo cita a entrevista do Gilberto Carvalho onde ele reclama da falta de apoio, a falta de reação. Os militantes mais antigos, petistas de fato e de direito reagem e esperneiam a todo instante, mas quem não reage é a direção do próprio PT, que fica calada diante de tantos ataques. Tristan representa um PT quase não mais existente hoje, mas resistente e mostrando que os ideais do passado é que eram os bons. O que o Loyola disse aí em cima é o que também acho. Levo em consideração que espetacularizaram os julgamentos, forçando um pouco a barra, mas tenho certeza de que o PT que ele lutava é o que toda a militância quer. Devolvam o PT para seus militantes, por favor.

Pedro Gilberto

Anônimo disse...


Henrique

Reli. Gostei muito do seu texto, me fez sorrir, me tocou.
Ver essas fotos dele em plena forma e depois do AVC me doeu porque nao pensava, lembrava mais dele fisicamente antes ...
Achei, o blog que é muito legal e acessível para mim que leio muito pouco em português.
Obrigada pela amizade e "partage".
Abraços
Isabelle, de Bruxelles

Anônimo disse...

Henrique, meus sentimentos pela morte de seu amigo, o companheiro Tristan. Não o conheci, mas seu texto descreve alguém que eu gostaria de ter conhecido.

Abraços. Heloísa Leal

Anônimo disse...

Estimado Henrique, eu estou em Cuba, participando da lll Conferência Mundial Pelo Equilíbrio Social. Estão aqui, os companheiros Lula e Frei Betto e muitos companheiros solidários à luta do povo cubano. Também comemoramos o 160° aniversário de José Martir. Um momento de muito bons debates em defesa da nossa causa. Aqui, de Havana, leio o seu relato sobre este grande militante Tristan. Me emocionei com a história desse companheiro e com o seu relato ( homenagem) emocionado. São esses gestos de vida que nos faz continuar na jornada. Obrigado por me colocar na sua lista. Como está o companheiro Duca? Aceite o meu fraterno abraço.

Vicentinho.