quinta-feira, 2 de abril de 2015

UM LUGAR POR AÍ (66)


O MESSIAS

Final da tarde de quarta, 01/04, centro velho de São Paulo, capital do estado, andanças de dois velhos amigos por calçadas muito tempo antes devastadas. Bem detrás da Catedral da Sé, mais precisamente na praça dr João Mendes n° 140, ali o objetivo do nosso vasculhar. O relógio marcava 18h, algumas lojas ameaçavam cerrar suas portas. Essa ainda não. Dentro dela ainda reinando certo movimento. Fausto Bergocce, o mordaz chargista oriundo de Reginópolis e morando em Sampa já há uns 40 anos, demonstra conhecer bem o local. Sigo o amigo e adentramos com certo garbo. Estávamos no SEBO DO MESSIAS (www.sebodomessias.com.br), o charmoso reduto de livros novos, usados, raros e não raros. Numa placa na entrada a indicação de quantos anos de portas abertas, “Desde 1970”, portanto, 45 anos em pleno funcionamento.

Passamos a circular desbragadamente pelos corredores à procura de algo de mútuo interesse. Decidimos procurar a prateleira de Humor para ver se havia livros com o traço do Fausto. Nos indicam o andar de cima e lá subimos. Vasculhamos tudo e um me chama a atenção logo de cara. Um do francês Siné. Fausto pega e me diz: “É meu”. Logo a seguir surge com um seu encontrado ali. Tiro uma foto dele ao lado do achado. Vasculha sua primeira página à procura de algo, talvez o autógrafo. Rindo me diz: “Bernard Shaw achou um livro seu autografado num sebo e viu ter sido de um amigo. Compra o livro, faz novo autógrafo e envia para o amigo”. Comento com ele que deve ser sido um constrangimento sem fim. Fausto escolhe outro, esse do Chico Caruso, também autografado para uma amiga, até com caricatura dela ali na segunda página. Um luxo descartado por essa amiga.

Um senhor vem até nós e diz que o andar superior tem que ser fechado, pois precisa ir embora. Descemos tirando fotos. Vamos à sessão de CDS. Uma infinidade e novamente a loja vai se apagando pouco a pouco e não dá tempo de fuçar nada. Dirigimos-nos para o balcão de entrada e acabamos conhecendo o Messias, o dono do estabelecimento. Um senhor muito simpático. “Estou aqui desde 70, resistindo. Se ficaram encantados com os livros desses dois andares precisariam descer no porão, pois a maior quantidade está lá, tudo em caixas e aguardando catalogação. São 1.200 metros quadrados de espaço”, conta. Contamos a ele a história do livro autografado e ele nos conta que algo parecido aconteceu ali na sua frente e com um antigo freqüentador, Jô Soares. “Ele achou aqui um livro dele autografado e fez a mesma coisa”, completa.

Poderíamos ter circulado muito mais por ali, mas quase 19h, Messias e os seus precisavam bater asas. Foram simpáticos demais com esses dois fregueses. Ficamos de voltar, fuçar até cansar, mas durante o expediente normal. Saímos e ainda fomos nos fotografar na frente da livraria. Quem passa assim pela rua e nada sabe das preciosidades ali contidas dentro daquelas duas portas, pode até passar batido, pois pouca coisa a demonstrar se estar diante de um dos sebos mais famosos do centro velho paulistano. Messias continua por lá, sentadinho em sua mesa do lado esquerdo de quem entra e tomando conta de um daqueles lugares onde existe um prazer imenso em passar horas ali mergulhado naquele mar de papéis. O registro fotográfico diz um pouco mais de tudo o que gostaria de continuar escrevendo sobre lugares como esse. Falar de livros, sebos, livrarias e as pessoas que os mantém é coisa melhor de boa.

2 comentários:

Anônimo disse...

Henrique

Esse seu texto me fez lembrar desse outro recentemente lido por mim e também sobre essas andanças atrás de livros.

http://www.cartacapital.com.br/cultura/a-alegria-de-ler-7856.html

Aurora, uma professora em estado de greve

Mafuá do HPA disse...

COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK:

Fatima Brasilia Faria O sebo do Messias é maravilhoso, fuçar por lá é perder a noção do tempo, uma viagem.....
3 de abril às 10:25 · Descurtir · 2

Henrique Perazzi de Aquino Na postagem do blog um comentário que quero compartilhar aqui: "Henrique

Esse seu texto me fez lembrar desse outro recentemente lido por mim e também sobre essas andanças atrás de livros....Ver mais

A alegria de ler
A primeira manhã em Paris, dificilmente a gente esquece
CARTACAPITAL.COM.BR
3 de abril às 10:57 · Curtir · 1 · Remover visualização

Fausto Bergocce Valeu Henrique, lindo texto, mas, aqui vai uma correção: o livro de cartum que comprei é do Sempé e não do Siné ( ambos franceses ), enfim...
3 de abril às 12:47 · Descurtir · 2

Henrique Perazzi de Aquino Verdade, Fausto, já corrigi... Ato falho.
3 de abril às 14:26 · Curtir · 1

Benedito Carneiro · Amigo(a) de Luiz Vitor Martinello
Meu local preferido!
3 de abril às 15:04 · Curtir · 1