quinta-feira, 25 de junho de 2015

MEMÓRIA ORAL (182)


SETE FRAGMENTOS DE HISTÓRIAS RESGATADAS POR ESSES DIAS


1.) VITOR JAHPA FREITAS TATOO, seu nome bem que poderia ser essa mistura do verdadeiro com o acoplado ao longo dos anos. Esse nissei de 32 anos é um touro no que faz, um batalhador, desses que veste a camisa e a sua até não mais poder. Descobriu a tatuagem, trabalhou com muita gente experiente e por fim, estava atendendo em sua casa, no condomínio popular, entre o Distrito Industrial e o Rasi. Deu um nome legal para seu negócio, o Jahpa Dreadlocks Tatoo e aos finais de semana, fazia algo mais para complementar renda, como garçom no Armazém Bar. Jahpa tem uma legião de fiéis amigos, que o admiram e dele não se afastam. No meio deles é também chamado de “Preto”, por causa de um bordão que sempre usa, o “Vai Preto”. E de tanto repetir a palavra, alguns também o chamam assim. Seu trabalho está ganhando corpo, consistência e angariando sempre novos clientes. Hoje, internando num dos hospitais da cidade, Valéria, sua amigo lá do Armazém me diz que já está começando a soltar a mão, mas seu quadro é preocupante, pois “descerebrou”. Forte, resistente, está lá na maior força para continuar vivendo. A força dos amigos vem de todos lugares, amanhã um show todo em prol dele lá no bar e por lá também circulando muitas rifas e outros meios de ajuda-lo, pois os gastos são muitos. Coisa linda ver a espontânea mobilização despontando e vicejando dos mais diferentes lugares, tudo pelo e para o bom Jahpa. Falando dele a cada novo instante estaremos dando aquela forma além da imaginação para seu restabelecimento.

2.) HÉLIO YOSHIMI UCHIDA é de descendência japonesa e atua no comércio bauruense desde que me conheço por gente. Ele também possui parcas recordações dos tempos longe das atividades relacionadas ao comércio da área central da cidade. Aos 14 anos, seu primeiro emprego e na extinta Cooperativa Sul Brasil, ganhando meio salário mínimo. De lá foi trabalhar nas famosas Lojas Americanas, quando da mudança e já no endereço atual, numa época quando possuía mais de 200 funcionários. De lá ficou mais 11 anos na Escarpa Móveis e Materiais de Escritório, quando teve a ideia de montar seu próprio negócio, uma papelaria. Muitos se lembram da sua até hoje, a Hélio Papelaria, sempre na rua 1° de Agosto. Foram 15 anos comandando uma pequena loja no segmento de papelaria, quando adquiriu uma cancha muito grande no ramo papeleiro. Quando não resistiu mais manter a sua aberta, aceitou um convite do Jair Lott Vieira e foi atuar na Jalovi, primeiro como vendedor especializado de balcão e hoje, passados quase 15 anos na loja, já ostenta a gerência da loja central, a mais famosa do grupo, no cruzamento da Rodrigues com a Virgílio. Aos 67 anos, já aposentado, mas sem conseguir abandonar o ramo, continua fazendo o que gosta e sabe, papelaria. Morador da Quinta da Bela Olinda desde seus áureos tempos, não reclama do lugar não ter virado o local paradisíaco de sua idealização, pois diz ser lá um ótimo lugar para viver. Lá, junto da esposa Verali, criou os três filhos e hoje ao voltar para casa, a única coisa que diz não gostar de fazer é mexer com internet e computador (“a esposa reclama que se mexo no seu, tiro tudo do lugar e nem gosto”, diz), mas de papel entende tudo, catedrático no assunto, décadas de acumuladas experiências.

3.) WAINER AÉCIO MINNI morreu em Bauru de forma trágica aos 48 anos de idade, por uma quantidade não exatas de caibradas e facadas, quando morava junto com outros mendigos numa casa não mais existente na quadra um da rua Gustavo Maciel. Wainer tinha um apelido conhecido por muitos, BIRIGUI e quando faleceu lembro que muitos o reconheceram. Ele havia se formado em Engenharia Civil na antiga FEB – Fundação Educacional de Bauru, quando lá pelos lados da vila Falcão e depois atuado na profissão por muitos anos. Meu irmão mesmo, Edson, diz terem cursado matérias juntos. Ele casou e depois pelos descaminhos da vida, perdeu a estima por tudo, largou família e desgostoso não quis mais enfrentar esse baita “touro” diário, que muitos pelejam à unha. Foi viver nas ruas e numa tarde de 2007, briga mais que boba, por causa de alguns pertences mal divididos, perdeu também a vida. O fotógrafo do Bom Dia, Cristiano Zanardi com quem conversei dias depois e viu a cena de perto me disse a época que uma cena como aquela não se apaga mais na cabeça de quem a vê. Trombo com tantos outros na região onde moro e as vezes juntando alguns para trabalhos sobre os Invisíveis (ou seria Ignorados?), me deparo com lembranças de uns que se foram bestamente assim como um vapt-vupt.A casa foi demolida e em seu lugar um barracão, hoje loja de peças automotivas. Birigui já era. Outros tantos circulam cidade afora e diante do meu portão.

4.) RICARDO é um dos corajosos ciclistas dessa terra dedicada muito mais ao bicho de quatro rodas do que o de duas. Magro, estatura mediana, inseparável chapéu de sambista na cabeça, idade por volta dos trinta anos, esse simpático e provocador servidor público envolvido por livros em suas atividades é também devoto da bicicleta. Vai e volta de sua casa ao trabalho diariamente pedalando uma garbosa “magrela”, como a chamávamos no passado. Daí a finesse dos seus traços, sempre em forma. Ontem Bauru bem menos perigosa, hoje muito mais, pois além do aumento do número de carros nas ruas, tem uma desatenção pairando no ar e preocupando a todos. Essa sua função livresca ele começou faz tempo, primeiro lá nas hostes da Secretaria Municipal de Cultura, na famosa e distante Biblioteca da Vila Tecnológica, que foi criada para ser um modelo, mas segundo ele mesmo um dia me disse, era uma espécie de “exílio” para quem lá atuava. Um imenso deserto. Lá ficou isolado de tudo e todos até passar no concurso na Unesp e atuar num lugar mais agitado. Perfeitamente entrosado, cuida bem de acervos e pedala que é uma maravilha. Do serviço, tudo zen, das pedaladas, preocupações evidenciadas e atenção mais do que redobrada. Um jogo de sorte e azar, revivido a cada novo dia. Cena maravilhosa é vê-lo chegando pedalando de chapéu. Ricardo é mais um dos vencedores pedaladores desta cidade, pois tudo são incertezas nos trajetos viários por onde passa.

5.) PAULINHO CUNHA, esse o nome de uma das feras das baquetas, mestre no quesito bateria e não só em Bauru, mas por tudo quanto é lugar por onde ele já tenha circulado. Esse nome, o acoplado ao seu nome SACA é algo que vem de muito longe. Ele ficava lembrando os outros com isso do “sacou, saca aí...” e de tanto fazê-lo quem acabou ficando com a palavra no nome foi ele. Aliás, o melhor mesmo é chama-lo de Paulo Saca, pois o Cunha já é um tanto estranho. Imaginem anunciar isso, por exemplo no jornal, que o baterista vai ser um tal de Paulo Cunha. Ninguém vai saber quem é. O moço é muito rodado na área musical e por muito tempo morou em Londrina, quanto tocava para a Expresso Super Som. Aqui em Bauru já cantou com quase todos os músicos e lugares. Versátil e boa praça, hoje faz parte da Orquestra Tocante, especializada em casamentos e festas chiques, mas sempre está junto da Regina e do Marquinhos na Beck Banda. Quando a Denise Amaral o chama, só recusa quando algo de muito importante já está agendado e é figura marcante com as baquetas nas mãos lá no Makalé e adjacências. De uns tempos para cá está solteiro, morando lá pelos lados jardim Terra Branca é de lá que sai para enfeitiçar e colocar swing nas apresentações mundão afora. Um sujeito cheio de boas histórias e possante marca musical. Saca virou sinônimo de bateria e de música tocada com requinte e sapiência. É catedrático nisso.

6.) HERMANO DE ARAÚJO ALMEIDA, estatura mediana, sempre pouca coisa acima do peso, foi um renomado dentista aqui em Bauru, com consultório e nome inscrito na internet até hoje (clicou lá, sai seu nome), mas não só aqui. Por vários anos cruzava com ele diariamente em viagens de ônibus na Bauru/Pederneiras e vice versa. Encontros diários no terminal rodoviário e os longos papos nos ônibus da Empresa Reunidas. Boas lembranças e ao vê-lo todo dia, sempre com um jornal debaixo do braço e uma certeza, já conhecíamos o trecho de cabo a rabo de tanto fazê-lo (eu seguia sempre para frente, trabalhando em Jaú) e o papo rolava solto. Gostava de puxar conversa e não era desses de vir com papos conservadores, cheios de puritanismo ou algo parecido. Cabeça arejada, sua preferência era sempre pelos bancos frontais e se possível uma janela, daí quando não encontrava parceiro à altura para a conversa sobre o assunto do dia e ninguém ao seu lado, sacava do jornal e ia e voltava lendo. Foram anos de longos papos e uma admiração mútua. Ele trabalhava numa cooperativa por lá ou algo parecido. Parei de viajar diariamente para aquelas bandas e ele, fiquei sabendo, pelas vezes que o via nas trombadas na rua havia se aposentado. Tempos atrás num desses esbarrões muitas histórias revividas. Hoje, ao abrir o jornal tomo conhecimento que, exatamente hoje está sendo rezada uma missa pelo primeiro ano de seu falecimento. Lá se foi um bom contador de histórias.

7.) JORGE DE AZEVEDO não é daqui de Bauru. Veio do Rio de Janeiro e trabalhou quase uma vida inteira dentro da instituição Correios e Telégrafos. Vivenciou seus melhores momentos e por sorte, quando tudo começou a se perder, estava chegando a hora de sua aposentadoria e daí, hoje vê de longe o momento atual. Claro, que se antes tudo girava em torno de cartas, hoje não mais, nada pode ser como antes. Levo isso em consideração. Uma grata recordação que tenho do Jorge nos Correios conto aqui e se deu comigo. Sempre mandei muitas cartas pro jornal criticando isso e aquilo. Certa vez o fiz com o tema dos Correios. Saiu publicada no JC e no dia seguinte logo pela manhã meu telefone toca. Era ele, que fez de tudo para descobrir meu telefone e me me ligava para dar as explicações pessoais da empresa. Eles tinham um setor só para isso, o bom relacionamento com o público. Sua resposta também saiu depois no jornal. Acabei conhecendo-o a partir desse episódio. Sempre o vejo nos bares da cidade, agora de bermuda, curtindo um pouco de boêmia, adora o bom samba estilo gafieira de salão. Já confabulamos sobre aqueles tempos, sem aprofundamentos em papos dessa natureza, pois sei que isso o entristece. Os tempos são outros, muitas administrações por lá já passaram depois de sua saída e evidente, a coisa piorou. Hoje escrevo o que quero, do jeito que quero, faço pirueta na porta das agências e ninguém mais me responde. Isso tudo só para mostrar um bocadinho do que um dia foi e do que está se transformando uma das "Jóias da Coroa". Vida que segue, Jorge, fez a sua parte.

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